Prática que aproxima da
perfeição
A
prática, o exercício constante e o treinamento, enfim, tendem a nos
aproximar da perfeição, seja qual for a atividade a que nos
reportemos. Só não nos faz perfeitos pelo fato dessa condição ser
interdita ao ser humano. Isso também vale, logicamente, quando se
trata de literatura. Quanto mais você escreve, atentando para os
erros que comete e os corrigindo na sequência, melhor haverá de
escrever. Claro, se você tiver talento para tal. Se contar com
mensagens inteligentes e válidas a transmitir. Em suma, se tiver
conteúdo. A forma de dizer as coisas, ou seja, o “como”, dá
para se melhorar com o treinamento. Já o conteúdo, o “o quê”
expressar, depende de sua inteligência, grau cultural e capacidade
de observação.
Sou
favorável à produção diária, mas diária mesmo sem comportar
exceções (ou seja, sem pausas em finais de semana ou em feriados),
de textos literários. Claro que você não irá produzir
obras-primas todos os dias, por mais coisas que você tenha a
expressar e por mais próximo da perfeição que seja seu estilo.
Perfeito, esteja certo, você nunca será. Sempre haverá pontos, por
mínimos que sejam, a melhorar.
Parece
uma tarefa fácil escrever todos os dias, notadamente para os
apaixonados por literatura. Creiam-me, não é. Não são todos os
dias que conseguimos o grau de concentração requerido para a
redação de textos sequer razoáveis, quanto mais excelentes. Essa
qualidade uniforme pode, sim, ser atingida, mas em patamar médio. E
isso requer treino, muito treino, além de muita força de vontade,
de muita autodisciplina.
Haverá
dias em que você acordará eufórico e terá que fazer esforço
imenso para não passar essa euforia para seu texto que, para ter
conteúdo razoavelmente aproveitável, terá que se caracterizar pelo
equilíbrio e pela sobriedade. O diametralmente oposto também ocorre
com frequência. Ou seja, você desperta deprimido, ou irritado, ou
preocupado e, por mais autocontrole que você tenha, dificilmente
conseguirá filtrar essas emoções exacerbadas e impedir que elas
contaminem seu texto. Certamente, de uma forma ou de outra,
contaminarão.
Mas
quem ama, de verdade, a literatura e tem muito o que dizer, deve
persistir, persistir e persistir. Persistência é a palavra-chave, o
gatilho, o mantra dos vencedores. Persistência e autodisciplina.
Reitero, não serão todos os dias que você irá produzir textos
geniais, por maior que seja o seu preparo, quer técnico, quer
cultural e, sobretudo, literário. Se conseguir, todavia, ao longo do
mês produzir, digamos, três textos de razoáveis para bons,
certamente estará no lucro. Haverá dias em que as ideias surgirão
aos borbotões e as palavras brotarão do seu cérebro com
espontaneidade. Mas o oposto (e temo que mais vezes) também, com
certeza, ocorrerá. Ou seja, aqueles momentos em que terá que pensar
muito para encontrar as expressões adequadas para expressar o que
pretende. Ou, o que é pior, faltar-lhe-á clareza nos conceitos de
que quer tratar. São os dias que o redator caracteriza como de
“falta de inspiração. Acredite, estes serão muitos e bem mais
frequentes do que aqueles em que se sentirá plenamente “inspirado”.
Quer
um conselho, caro aspirante a escritor? Não se fie tanto nessa tal
de “inspiração”. Aposte, isto sim, na “transpiração”. Ou
seja, no trabalho árduo, praticamente braçal, concentrando o máximo
de atenção na revisão final do texto que vier a produzir. Não me
refiro, sequer, à correção de eventuais erros de grafia,
concordância ou regência. Cometê-los, em textos literários, é
heresia! Pressupõe-se que, em sendo escritor, você domine a sua
ferramenta de trabalho, ou seja, a gramática do seu idioma.
A
revisão a que me refiro, pois, é a de conteúdo. É no sentido de
evitar incoerências e contradições, defeitos que arruínam bons
textos e para os quais nem sempre atentamos. Deveríamos atentar.
Haverá dias em que suas crônicas, ou seus poemas ou seus contos
(não importa o gênero) sairão praticamente prontos do cérebro,
cabendo-lhe, apenas, a tarefa de acertar uma coisinha aqui e outra
ali. Ou seja, você conseguirá produzir um bom texto em pouco tempo.
Mas não se empolgue. Esses momentos ideais, como é de se esperar,
são raros. São exceções. A regra é ter que trabalhar bastante no
que escreve, notadamente no sentido de cortar excessos vocabulares, o
grande defeito da maioria dos redatores.
Escreva,
escreva bastante. Exercite a magia do texto todos os dias,
principalmente naqueles em que não tiver a menor vontade de
escrever. Como em tudo na vida, em literatura, também, a prática
aproxima-o da perfeição. É verdade que você jamais chegará a
ela, pois é interdita a nós, falíveis humanos. Ainda assim,
compete-nos tentar, e tentar e tentar chegar a ela.
A
exemplo dos músculos, o cérebro também precisa de estímulos, de
ginástica, de exercícios para funcionar melhor. É uma regra da
natureza. O uso desenvolve e a falta dele atrofia, e tanto o corpo,
quanto a mente. Quanto mais o nosso centro de comando vier a ser
exigido, mais ampliará seu alcance e, principalmente, sua capacidade
de retenção e elaboração de informações. Pensar é um ato
saudável.
Victor
Hugo escreveu: "Todo o segredo dos grandes corações está
nesta palavra: 'perseverar'. A constância diz que espécie de homem
há dentro de nós, qual é a nossa personalidade, a dimensão da
nossa coragem. Os constantes são os sublimes. Quem é apenas bravo
tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento,
quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o tenaz, porém, tem a
grandeza". Tenacidade é sinônimo de persistência. Só ela
conduz ao verdadeiro heroísmo. E este consiste em vencermos nossas
deficiências e em conquistarmos os nossos sonhos... Persistir,
persistir e persistir. Este é o segredo dos vencedores. E, no nosso
caso, é o segredo dos escritores que se tornam imortais.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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