quarta-feira, 31 de maio de 2017

Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Onze anos, dois meses e três dias de criação.


Leia nesta edição:


Editorial – A natural inconstância.

Coluna De Corpo e Alma – Mara Narciso, crônica, “Conflitos internos e externos da falsidade”

Coluna Verde Vale – Urda Alice Klueger, crônica, “Além do Norte, lá também é o escrínio da mais preciosa joia”.

Coluna Em Verso e Prosa – Núbia Araujo Nonato do Amaral, poema, “Confesso”.

Coluna Porta Aberta – Jomard Muniz de Britto, poema, “Ó cidade faminta!”.

Coluna Porta Aberta – Jean Lacerda, crônica, “Perda”.

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Livros que recomendo:

Poestiagem – Poesia e metafísica em Wilbett Oliveira” (Fortuna crítica) Organizado por Abrahão Costa Andrade, com ensaios de Ester Abreu Vieira de Oliveira, Geyme Lechmer Manes, Joel Cardoso, Joelson Souza, Levinélia Barbosa, Karina de Rezende T. Fleury, Pedro J. Bondaczuk e Rodrigo da Costa Araújo – Contato: opcaoeditora@gmail.com

Balbúrdia Literária” José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com

A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Boneca de pano” - Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Águas de presságio”Sarah de Oliveira Passarella – Contato: contato@hortograph.com.br

Um dia como outro qualquer”Fernando Yanmar Narciso.

A sétima caverna”Harry Wiese – Contato: wiese@ibnet.com.br

Rosa Amarela”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Acariciando esperanças”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Cronos e Narciso”Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br

Lance Fatal” Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br




Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação. 
A natural inconstância


As palavras soem ser sumamente ambíguas e dificilmente podemos tomá-las rigorosamente ao pé da letra para expressar o que quer que seja. Se você quiser ser bem entendido, sem que restem dubiedades e nem “n” interpretações ao que declara, explique tudo muito bem. Se for por escrito, não se preocupe com a extensão do seu texto, desde que seja objetivo e não fique pulando de um assunto para outro.

A escrita sintética pode servir a caráter ao editor (embora nem sempre), que tem que preencher espaços determinados de páginas de jornais e revistas, sem que haja letras a mais e nem a menos. Mas para o melhor entendimento do que se quer abordar, é a pior das medidas.

Tomemos como exemplo a palavra “constância”. Em primeiro lugar, os dicionários lhe emprestam vários significados, e não um único, o que a torna, liminarmente, “inconstante”. Isso, de cara, leva-o, ao abordar essa atitude, a se explicar bem, para deixar claro o que exatamente pretende dizer. Além dos significados que o termo de fato tem, há outros tantos que não tem, mas que sugere ter. Por exemplo, o constante nos remete ao que é “imutável”, ou seja, o que sempre ocorre de um mesmo jeito.

Nada, mas nada mesmo, todavia, tem essa imutabilidade. Pode haver algo que demore a mudar, mas que um dia muda, disso não tenham dúvidas. Nós mudamos, mesmo que não nos apercebamos disso, e não de um dia para outro, mas de um minuto (ou menos) para outro. Desconhecemos o que se passa no interior do nosso organismo e, notadamente, das nossas células, que estão sempre se alterando: nascendo, crescendo, se reproduzindo e morrendo.

Os dicionários (com ligeiras variações de um para outro), definem assim a palavra “constância”: “qualidade do constante, firmeza de ânimo, perseverança, coragem, duração, persistência, paciência”. Notaram quanta ambigüidade? Como falar, pois, sobre esse conceito, sem deixar as coisas muito bem explicadinhas?

Como ser constante, no que quer que seja, se as circunstâncias estão sempre mudando? Como deixar de acompanhar a volubilidade da natureza e da própria vida? Impossível. Podemos, sim, agir com constância, mas a relativa. A absoluta, posso dizer, sem nenhum receio de incorrer em exagero, simplesmente não existe.

A natureza é constante? De forma alguma. Não há dois seres vivos (e não me refiro somente a humanos ou a animais) rigorosamente iguais, nos mínimos detalhes. Tome uma espécie de árvore qualquer. As variações de espécimes serão infinitas. Escolha uma, aleatoriamente. Você não encontrará nela duas folhas que sequer se pareçam idênticas, quanto mais iguais. A natureza, pois, é inconstante. Absoluta e rigorosamente inconstante.

Reitero que me refiro, aqui, exclusivamente, à acepção de imutabilidade. Os educadores recomendam, por exemplo, que sejamos constantes em nosso processo de aprendizado. Embora não expliquem, claro que só podem estar se referindo à constância relativa, ou seja, à perseverança, à persistência de ação, à paciência.

Você jamais poderá, em todos os dias da sua vida, aprender de forma igual, pois você será diferente. O ambiente ao seu redor, embora lhe pareça o mesmo, estará modificado. As circunstâncias estarão. O tempo estará. A vida estará. Tudo, absolutamente tudo, estará.

Foi nesse sentido que Aldous Huxley afirmou, no ensaio “Sobre a democracia e outros estudos”: “A constância é contrária à natureza, contrária à vida. As únicas pessoas completamente constantes são os mortos”.

Porém, como as palavras são ambíguas, esta declaração requer, igualmente, explicações, para não gerar dubiedades e múltiplas interpretações. O autor de “Admirável mundo novo” não se referiu, aqui, à constância relativa, mas à absoluta, ou seja, à imutabilidade (daí eu ter recorrido a ele para ilustrar estas considerações).

Se quisermos evoluir, quer mental, quer moral, espiritual e até materialmente, devemos ser constantes, sim. E muito. Mas no sentido da perseverança (quando o que estivermos fazendo for positivo e, sobretudo, construtivo), persistentes (se possível às raias da teimosia) e pacientes. Como se vê... tudo é relativo.

Boa leitura!


O Editor.


Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk


Conflitos internos e externos da falsidade


* Por Mara Narciso
 

Mediar conflitos internos, brigar com fantasmas, criar medos, acabar com eles, definindo o que é possível são tarefas árduas, quando não impossíveis. Arrastam-se bolas de chumbo e correntes frutos da insegurança, influenciada pela mídia. As ameaças vêm do macro (bólido espacial), do micro (incontáveis vírus) e da falsidade. Não se consegue ler o que está escrito, porque a intenção não vem com o texto.
 
Conviver em harmonia é tarefa complexa, por isso muitas pessoas preferem largar gente para conviver com animal ou máquina - outra invasão. Do convívio vem o conflito, então entram em cena os políticos, porque fazer política é mediar conflitos. O Brasil sabe que a política é conflituosa e incestuosa. Não pensa no coletivo, apenas no egoísmo. A Política precisa ser reinventada, deixar de ser pessoal e voltar a ser pública.
 
Isso no atacado, no varejo do próprio quintal, a convivência tropeça insegura. Há tantas cobras por ali, dando seus pequenos botes, tirando seus pequenos, médios e grandes bocados, injetando seu pérfido veneno, que alguns não têm imediata consciência dos riscos e, por comodismo, deixam estar. Amores, amigos, funcionários rondam por anos, e acostumam-se com suas maneiras, e muitas delas fazem mal. Debitam-se os tropeços às características pessoais imutáveis e dardos lançados são entendidos como normais. Sinal amarelo: atenção!
 
Está em voga aquele tipo de amigo que disputa tudo, medindo forças como se nunca pudesse relaxar e ser ele próprio. Nem todos conseguem se salvar, fugindo de pessoas envolventes, ardilosas, sinistras, que por detrás do sorriso e alegado rol de bondades, têm objetivo traiçoeiro. Há quem se sinta e queira provar, ainda que com disfarces, que é mais do que o outro em tudo. Usa as pessoas de forma vil, e muitos não se percebem usados. Acabam por acreditar que são menos capazes do que quem os oprime/ dirige.
 
Num tempo em que a palavra “amigo” não diz quase nada, mal serve para diferenciar do inimigo, a qualquer momento pode-se mudar, e até mesmo de forma radical. Bom seria arrumar outra expressão para denominar quem compartilha dores e glórias, sem inveja. Ou resignificar a palavra amigo, não se deixando levar pela vaidade, compreendendo o limite do outro e se afastando das cobras (as venenosas).
 
O que se diz e o que se escreve escondem armadilhas. Não é possível acreditar em palavras, áudios e vídeos. Os sentidos são enganados com relativa facilidade. A questão vem: o que está por trás disso? Sem paranoia, qual é a intenção dessa fala? Nada e tudo parecem verdadeiros. Ainda que nas redes sociais se veja, leia e ouça “amor, amigo e lindo”, a todo instante, e até por isso perderam o sentido, o que se vê são inimigo, ódio, crueldade e feiura. A interna maior do que a externa.
 
Os internautas vão “surfando” e se sentindo lúcidos e certos, confiantes e convictos, a cada hora manipulando ou se deixando levar por um ou por outro, achando que pensam, que definem o próprio caminho. São levados por onda forte, sem poder se agarrar ao salva-vidas. E o pior, enganados, pensam que sabem, que podem, que o caminho é fruto do acaso, sem um condutor maior: o Dinheiro.
 
Tomar decisões está difícil, ainda que pareça o contrário. Depois é não pensar em culpa e arrependimento. O que está feito está feito, em nível pessoal e coletivo. O conjunto dá a dimensão do conflito mental e social. Misturar para passar na peneira, sabendo que a falsidade campeia o mundo, abraçada à mentira. Todos estão certos, inclusive os errados. Como dizia Chacrinha: eu vim para confundir, não para explicar. A internet anda assim. E os passos são largos. Sair ileso do contato com as pessoas traiçoeiras e suas falsidades é uma arte.


* Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”




Além do Norte, lá também é o escrínio da mais preciosa joia



* Por Urda Alice Klueger

(Para E. V. S. F.)


Por acaso, aqui na internet, passei por uma foto que me fez parar e olhar com mais atenção. Ampliei-a. Dei a primeira olhada.

Era da cidade que já foi minha, vista bonita, Beira Rio, provavelmente tirada do Morro da Antena, e a olhei com curiosidade, pois por tanto tempo aquela cidade foi minha que deveria me despertar alguma reação.


E a reação veio, mas nada dizia do lugar aonde nasci à Rua XV de Novembro 1398, nem da minha infância na Garcia, nem das escolas que frequentei, nem dos empregos que tive, nem dos lugares onde morei, nem das pessoas que conheci – por um momento foi uma foto estática, que nada dizia além da localização geográfica e do ângulo em que foi tirada, até que, com a força de um vulcão em erupção, irrompeu das minhas entranhas, do meu coração, do meu âmago, das mais vivas e fortes fibras do meu ser, da minha essência mais profunda o que aquela cidade representava para mim, e que era a intensidade do amor, e o nome do amor afluiu à minha boca e ao meu coração com a intensidade de sempre, e eu me curvei de dor a repetir aquele nome, e me curvei de dor porque nada mudou, tantas décadas depois, e aquela cidade, e aquela Beira Rio que ainda não existia, e aquele rio simbolizam o mesmo amor que um dia simbolizaram e deram o sentido da minha vida, mesmo quando a espada do Destino veio e cortou abruptamente aquela maravilha que se vivia. Encurvada pela dor, olhava para aquela foto e ouvia, como que rimbombando poderosamente em todo o meu entorno aquele nome que eu pronunciava como a palavra cabalística que é e que faz toda a diferença em eu estar viva ou não estar, e esse estar viva ou não estar é o que acontece nesta vida e que deverá acontecer em outras.


Então, agora sei o que aquela cidade representa, e lá de ela, através da foto ocasional, o amor estava e veio em ondas coloridas e chegou até mim, e só então eu entendi a cidade, o porquê da cidade, qual o meu laço com ela. Como que ancorada lá, está a mais linda história de amor que alguém já viveu e agora eu posso ir-me e ser feliz porque a história está comigo como meu bem mais precioso, e se algum dia tiver alguma dúvida, saberei onde está o escrínio que guarda aquela joia mais preciosa de todas, pois está comigo mas tem as raízes lá.


Chorei de tanto amor por todo o tempo em que escrevi este texto.



Enseada de Brito, 05 de maio de 2017, dia diáfano de tão azulclarinho.




* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR, autora de vinte e seis livros (o 26º lançado em 5 de maio de 2016), entre os quais os romances “Verde Vale” (dez edições) e “No tempo das tangerinas” (12 edições).
Confesso


*Por Núbia Araujo Nonato do Amaral


Para Rodrigo Fernando


Eu confesso a minha
incapacidade em
te resumir em
poucas palavras.
És essência,
és mais, muito mais...
Fica então a singeleza
de quem apenas
te quer bem,
de quem te quer
ver feliz.



* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário
Ó cidade faminta!


* Por Jomard Muniz de Britto


Ó cidade faminta!
Alimentando-se de letras de canções, 
palavras no mel de boca em boca. 
Não esquecer. Não relembrar. 
Assumir a farsa. Enfiar a face 
da lâmina carnavalesca.
Tristeza não tem fim / 
felicidade sim...
Poeta-anti-herói de todos 
os falsetes e falcatruas.
Face a fácil refazer a festa. 
Festim angélico de vagabundos 
pela estrada que vai dar no mar. 
Amar em plano-sequência. 
Beijar em montagem ideogrâmica. 
Cidade Carlitos 
sumindo na poeira da esperança. 
Quarta-feira de cinzas no país... 
Cidadela de todas as fomes.



* Poeta e escritor.
Perda


* Por Jean Lacerda


Perder-me em mim, é como embriagar-me de um novo céu. Na rotina que carrego, isto parece enobrecedor. Descobrir um novo mundo do qual sou possuidor, além de gratificante é desafiador, sufocante e às vezes causa pavor, delirante; que às vezes leva-me ao torpor.


Bendita consciência, usa-te de toda tua sapiência, leva-me para o caminho de benevolência e do amor, onde a treva que perdura, amanhã será minha cura e me fará evoluir…


Solidão que apavora, agora, que bem sois eu. Serás um delírio meu ou serei eu um delírio teu? Tua voz ressoa enfim, quando estou perdido em mim, saboreio do seu agrado, que em troca às vezes afago, com o tamanho da sua escuridão, noutra a luz mais bela do mundo, que nós sabemos que lá fundo, carregamos dessa benção, somos o universo em vida, consciência vívida, dádiva de nossa raça, que parece viver sem jeito, comporta e suporta tanta desgraça, traçam o fim desde o seu leito.


Capitalismo? Burguesia? Feudalismo? Freguesia? Idade antiga, média, moderna? O estado e a pena eterna A idade contemporânea, socialismo, anarquismo, dogmatismo e encarceramento; ainda não houve um só momento, onde a consciência foi pura, livre e libertadora. Vai entender esse mundo dos homens, todos embriagados, cada qual à sua maneira…



* Poeta.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Onze anos, dois meses e dois dias de existência.


Leia nesta edição:


Editorial – Imagens enganadoras.

Coluna Á flor da peleEvelyne Furtado, crônica, “Tá valendo?”.

Coluna Observações e reminiscênciasJosé Calvino de Andrade Lima, crônica, “Luta patriótica”.

Coluna Do real ao surreal Eduardo Oliveira Freire, conto, “Terror”.

Coluna Porta Aberta – Alcides Buss, poema, “Duas freiras”.

Coluna Porta Aberta – Ademir Antonio Bacca, poema, “Insensatez”.


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Livros que recomendo:


Poestiagem – Poesia e metafísica em Wilbett Oliveira” (Fortuna crítica) – Organizado por Abrahão Costa Andrade, com ensaios de Ester Abreu Vieira de Oliveira, Geyme Lechmer Manes, Joel Cardoso, Joelson Souza, Levinélia Barbosa, Karina de Rezende T. Fleury, Pedro J. Bondaczuk e Rodrigo da Costa Araújo – Contato: opcaoeditora@gmail.com

Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com

A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Boneca de pano” - Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Águas de presságio”Sarah de Oliveira Passarella – Contato: contato@hortograph.com.br

Um dia como outro qualquer”Fernando Yanmar Narciso.

A sétima caverna”Harry Wiese – Contato: wiese@ibnet.com.br

Rosa Amarela”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Acariciando esperanças”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Cronos e Narciso” – Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br

Lance Fatal” – Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br



Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.



Imagens enganadoras


A fotografia é um milagre, embora seja tão comum, trivial e corriqueira, hoje em dia, ao ponto de não nos damos conta da maravilha que é. Não houvesse eu nascido muitos anos após a sua invenção, certamente consideraria impossível a mágica de captar paisagens, pessoas e coisas, num determinado momento do tempo, e eternizá-las. Hoje tudo pode (e é) fotografado, desde estrelas, constelações e galáxias, tão distantes que já estão extintas há milhões de anos, mas cuja luz só está chegando agora à Terra, até o interior de um átomo.

Mais miraculosos, ainda, são os filmes, que nos permitem não somente ver imagens estáticas, mas, principalmente, as em movimento, eternizando ações. E podemos não somente “ver” pessoas agindo, em uma representação ficcional ou na realidade (quando se trata de notícia), mas ouvi-las, como se estivessem ali, à nossa frente, agindo em tempo real, mesmo que já tenham, até mesmo, morrido há muito tempo e delas só restem alguns fragmentos de ossos e os cabelos, se tanto.

Esses processos são ou não miraculosos? Hoje em dia, qualquer pessoa pode captar a imagem que quiser, com sofisticadíssimas câmeras digitais e até com seus inseparáveis celulares, que se tornaram multiuso, sem que isso cause admiração em ninguém. Admirados os outros ficam se nos admirarmos desse milagre. Suspeito que até os mais rudes silvícolas, com escassíssimos contatos com o que chamamos de “civilização”, já disponham desses equipamentos. E se não dispuserem, disporão a qualquer momento.

Mesmo valorizando esse “milagre” da modernidade, não posso, porém, e não devo me esquecer que imagens podem ser sumamente enganosas e, por extensão, enganadoras. Com os equipamentos disponíveis, são facílimas de serem manipuladas e fraudadas. E as fraudes, não raro, são tão perfeitas, que enganam aos mais ilustres e competentes peritos.

O leitor talvez se lembre de um caso emblemático, que provocou muito bochicho em meados dos anos 70 do século XX – em plena efervescência da chamada Guerra Fria – na extinta União Soviética. Tratava-se de uma fotografia do então homem forte do império soviético, Leonid Brezhnev, com seu secretariado.

Parcos anos após, a mesma foto foi divulgada, se não me engano, no “Pravda”, mas sem a presença de um dos colaboradores do ditador, que havia caído em “desgraça política” (e isso porque “pravda”, em russo, significa “verdade”. Imaginem se significasse “mentira”!)..

A imagem foi tão bem fraudada, que parece que o sujeito se “evaporou” da fotografia sem deixar o menor vestígio. O erro dos fraudadores foi o de não destruírem a foto original. Bastou comparar as duas, a que de fato foi tirada num determinado dia e a fraudada, para descobrir a manipulação. E olhem que naquele tempo a informática ainda engatinhava. Não havia, por exemplo, um Photoshop ou outro dos fantásticos programas atuais de tratamento de imagens quaisquer.

Se então essa enganação foi possível – tanto que foi praticada – imaginem hoje. Quem sabe lidar bem com o instrumental existente, pode manipular qualquer fotografia, sem que haja condições de alguém comprovar a fraude. Nada me impede, por exemplo, de colocar-me no solo lunar, deixando a marca das pegadas dos meus pés em sua superfície, vestindo trajes de astronauta, como se houvesse um dia viajado para o satélite natural da Terra. Nem é preciso destacar que sequer em meus mais delirantes sonhos participei desse tipo de odisseia. Estou longe de ser lunático!

Mas a fotografia não foi inventada para que pilantras mal-amados e corruptos convictos a utilizassem para enganar quem quer que seja. Essa miraculosa capacidade de fixar imagens tem, atualmente, serventias muito mais nobres e úteis do que as meramente informativas ou reminiscentes. Entre tantas utilidades, tem servido de precioso instrumental, por exemplo, para médicos, em sua incansável faina de salvar vidas.

É possível fotografar, por exemplo, nos mais variados ângulos que se precise, qualquer parte do corpo humano. Essas fotos, digitalizadas, podem ser salvas em computador. Programas recentes permitem que sejam exibidas em três dimensões. E assim, se corretamente trabalhadas, tendem a ser mais úteis e informativas aos cirurgiões do que as velhas radiografias. Assisti, não faz muito, um documentário a respeito no canal de televisão a cabo “Discovery Science”.

Muitos médicos, mundo afora, já substituem as “velhas chapas” de raios-x, e o equipamento que lhes permitia visualizá-las, na sala de cirurgia, pelo computador, obviamente com vantagens. Com isso, limitam a quase zero a possibilidade de cometerem erros ao operarem algum paciente.

Recentemente, escrevi uma crônica, contestada por alguns, destacando que a visão é um dos órgãos mais enganadores que nós, humanos, temos, e expliquei as razões. Ressaltei, em especial, a questão do ponto de vista. Se as imagens, em tempo real e ao vivo, nos induzem a esmagadores enganos e, muitas vezes, fatais, imagine, amigo leitor, o que não acontece com fotografias e filmes, passivos de manipulação e fraude tão bem-feitas que se aproximam da perfeição?!


Boa leitura!


O Editor.


Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Tá valendo?



* Por Evelyne Furtado

Bem Me Quer.

Tenho para mim que escapar de vez em quando faz bem, afinal quem aguenta viver a cru? 

Muitos pregam o contrário, mas duvido que mesmo esses não tenham seus momentos de pura fuga da realidade quando levam muito a sério o quotidiano. 

Há muitos refúgios. Uns mais nobres que outros. Outros menos destrutivos que uns. 

Desconfio que a vida sem fantasia seja mesmo contra-indicada. 

Tenho quase certeza de que precisamos de um filtro para nos manter sãos. 

Assim vale dominó na calçada, jogos no celular, um biribinha.
Sei lá. 

Um bom romance, um belo poema, uma nova teoria. 

Que tal?

Vale uma nova paixão. Vale a meia luz. Vale a criação. 

Vale desfiar um rosário, acalmando o coração. 

(Ou bem me quer, mal me quer, como distração). 

Vale dois ou três chopes e a alegria compartilhada. 

Vale um ideal, um cinema e até o sonho de consumo. 

Vale a música preferida, para ouvir ou para cantar. 

Vale chamar para dançar, tomar um café ou jogar conversa fora. 

Só não vale exagerar na dose, jogar areia nos olhos, jogar contra si ou contra o outro, nem trapacear. 

Também não vale levar a bola para casa, puxar o tapete do outro, nem se achar o senhor da razão.


* Poetisa e cronista de Natal/RN.