sábado, 30 de junho de 2018

Índice


Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Doze anos, três meses e um dia de criação.


Leia nesta edição:

Editorial – Poeta singular.

Coluna Direto do ArquivoRuth Barros, crônica, “Amassos, gays e outros babados”.

Coluna ClássicosLedo Ivo, poema,As iluminações”.

Coluna Porta AbertaFlora Figueiredo, poema, “O bem que nos queremos”.

Coluna Porta Aberta – João Alexandre Sartorelli, poema, “Mergulho”.

Coluna Porta Aberta – Alcides Buss, poema, “A Copa do Mundo”.


@@@

PESCA EM ÁGUAS TURVAS

Prosseguindo em minha tentativa de “pesca em águas turvas”, tenho uma nova proposta a fazer às editoras. Diz-se que a internet dá visibilidade a escritores e facilita negócios. É isso o que venho tentando, há algum tempo, conferir. Tenho mais um livro, absolutamente inédito, a oferecer. Seu título é: “Dimensões infinitas”, que reúne 30 ensaios sobre temas dos mais variados e instigantes. Abordo, em linguagem acessível a todos, num estilo coloquial, assuntos tais como as dimensões do universo (tanto do macro quanto do microcosmo), o fenômeno da genialidade, a fragilidade dos atuais aparatos de justiça, o mito da caverna de Platão, a secular busca pelo lendário Eldorado, o surgimento das religiões, as tentativas de previsão do futuro e as indagações dos filósofos de todos os tempos sobre nossa origem, finalidade e destino, entre outros temas. É um livro não somente para ser lido, mas, sobretudo, para ser refletido. Meu desafio continua sendo o mesmo de quando iniciei esta tentativa de “pesca em águas turvas”. Ou seja, é o de motivar alguma editora a publicá-lo, sem que eu precise ir até ela e nem tenha que contar com algum padrinho, mas apenas pela internet, e sem que eu precise bancar a edição (já que não tenho recursos para tal). Insistirei nesta tentativa todos os dias, sem limite de tempo. Para fecharmos negócio, basta que a eventual editora interessada (e espero que alguma se interesse, pois o produto é de qualidade) entre em contato comigo no inbox do Facebook ou pelo e-mail pedrojbk@gmail.com. Quem se habilita?

@@@

CITAÇÃO DO DIA:

Patrimônio do homem

O verdadeiro patrimônio de um homem é a sua memória. Em nada mais ele é rico, em nada mais ele é pobre.

(Alexander Smith).



***

Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Editorial - Poeta singular


Poeta singular


A força da sua poética situa Castro Alves entre os mais notáveis, criativos e vibrantes poetas não apenas do seu tempo, mas da história da literatura mundial. Sua poesia é singular. Alia metáforas perfeitas com ritmo e rimas originais. É forte, é vibrante, é combativa, é eterna. Volto a tratar dele, por não entender a pouca importância que se lhe dá, hoje, quando sua poesia deveria ser estudada, analisada e apreciada com mais frequência e um olhar despido de preconceito. Castro Alves foi um escritor singular.

O poeta cria a realidade... Não para egoístico uso próprio. Antecipa-se ao tempo. Avança lustros, décadas, séculos, milênios. Como farol em mar tempestuoso, ilumina o caminho das gerações vindouras. Mantém acesa a chama do ideal. Espalha-a pelo mundo, em um incêndio que, mais cedo ou mais tarde, devora tiranos e tiranias.

"Quebre-se o cetro do Papa,
faça-se dele uma cruz!
A púrpura sirva ao povo
pra cobrir os ombros nus…
Banhem-se em luz os prostíbulos.
E das lascas dos patíbulos
erga-se estátua aos heróis".

O poeta antecipa a manhã luminosa do porvir, de um futuro provavelmente muitíssimo distante, quando as armas serão transformadas em arados, quando o leão e a ovelha puderem conviver em harmonia, quando cada homem, mulher e criança, todo ser humano, sem distinção de sexo, etnia, cor ou convicção religiosa, for livre, fraterno e gozar de absoluta igualdade de direitos e oportunidades.

Em 1868, durante uma caçada, Castro Alves sofreu um acidente. Feriu um pé. Os recursos da medicina de seu tempo, evidentemente, eram bastante precários. Não existiam as técnicas de assepsia de hoje e muito menos os antibióticos. O ferimento arruinou e agravou o estado geral da sua já precária saúde. O pé teve que ser amputado. Sabe-se lá as condições dessa amputação!

Ao abatimento físico, somou-se o moral. O desânimo por se ver mutilado, as febres constantes, o avanço da tuberculose, doença que no século passado era letal, quase incurável. Três anos depois, aos 24 anos de idade, o poeta viria a falecer. Embora autor de três únicos livros, sua genialidade era tamanha, que apenas estas obras bastaram para garantir-lhe a imortalidade.

No início do trágico ano de 1868, aquele em que sofreu o acidente de caça que lhe minaria a resistência, embarcou para o Rio de Janeiro, a capital do Império, acompanhando a atriz Eugênia de Castro, pela qual era apaixonado. Mostrando que seu talento havia extrapolado o Nordeste, mais especificamente o eixo Salvador-Recife, recebeu rasgados elogios nada menos do que deste mito da Literatura brasileira que foi Machado de Assis.

Em um artigo publicado em 22 de fevereiro de 1868, na Gazeta Mercantil, o autor de "Dom Casmurro", de "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e de outras obras geniais e que anos mais tarde seria o fundador da Academia Brasileira de Letras, escreveu sobre Castro Alves:

"Parece ao poeta que o tablado é pequeno, rompe o céu de lona e arroja-se ao espaço livre e azul...Deve fazê-lo sem temor. Contra a conspiração da indiferença, tem vossa excelência um aliado invencível: a conspiração da posteridade".

Como Machado de Assis estava certo em sua avaliação! Seu olho clínico vislumbrou ali um gênio, desses que superam as barreiras do tempo e se imortalizam no gosto e no coração do povo. A referência à lona, no artigo, é porque as apresentações da peça eram feitas numa espécie de circo. E nos intervalos, Castro Alves declamava seus poemas, em especial esta obra-prima que é "O Livro e a América".

Trata-se da verdadeira epopeia do Novo Mundo, aliada à revolução da cultura, determinada pela imprensa e pela invenção do tipo móvel, que possibilitou a difusão das obras dos grandes mestres da Literatura, dos filósofos, dos cientistas e de toda a sorte de intelectuais. Nada revolucionou mais o mundo do que essa possibilidade de massificação da cultura. Lançou-se um poderoso jato de luz no obscurantismo, tão a gosto dos tiranos.

Nenhuma Revolução foi mais consistente do que a da difusão mundial do livro. Evoluiu vagarosa, mas progressivamente, por quatro séculos. Equivaleu, e foi até mais importante porque a precedeu e determinou, do que a informática, hoje, com a sua rede mundial, a Internet.

"Por uma fatalidade,
dessas que descem do além,
o século que viu Colombo,
viu Guttenberg também...",

constata Castro Alves. É antiquada essa constatação? São velharias esses versos? Falta-lhes modernidade? Só um imbecil responderia que sim.

Aliás, "O Livro e a América" é um poema fundamental na literatura latino-americana. Nenhum outro poeta do hemisfério – e olhem que tivemos dos mais criativos e geniais – sequer se aproximou dessa magistralidade.

"Estatuário de colossos
cansado de outros esboços
disse um dia Jeová:
vai Colombo, abre a cortina
da minha eterna oficina
tira a América de lá..."

"Molhado inda do dilúvio,
qual tritão descomunal,
o Novo Mundo desperta,
no concerto universal.
Dos oceanos em tropa,
um traz-lhe as artes da Europa,
outro as bagas do Ceilão.
E os Andes petrificados,
como braços levantados,
lhe apontam para a amplidão".

"Olhando em torno então brada:
tudo marcha, ó grande Deus,
as cataratas para a terra, as estrelas para os céus".

É ou não é a Epopeia da América, que embora muito mais curta, pode ser comparada aos Lusíadas de Camões? Poderia ser musicada e transformada em hino latino-americano pela Organização dos Estados Americanos, OEA.

"Vós que o templo das ideias
largo abris às multidões,
pro batismo luminoso
das grandes revoluções,
agora que o trem de ferro
acorda o tigre no cerro
e espanta os caboclos nus,
fazei deste rei dos ventos,
ginete dos pensamentos,
arauto da grande luz".

Quero encerrar estas reflexões, esta tosca homenagem a esse gênio-menino, com o ápice, o clímax, o momento mais grandioso deste genial poema:

"Ó bendito o que semeia
livros, livros à mancheia
e manda o povo pensar.
E o livro caindo n'alma,
é germe que faz a palma,
é chuva que faz o mar".

Que estas palavras nos sirvam, simultaneamente, de bênção e de missão. Que sejamos semeadores de beleza, de verdade, de cultura e de crença na racionalidade humana, embora tenhamos a certeza de que o tempo não permitirá que façamos a sagrada colheita.


Boa leitura!

O Editor.


Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Amassis, gays e outros babados - Ruth Barros


Amassos, gays e outros babados


* Por Ruth Barros


Anabel, a escriba tolerante, tem uma amiga fofa, inteligente, bonita, simpática, professora – doutora formada em Paris que dá aula em renomada faculdade. Pois a fofa está tendo problemas em manter a disciplina na sala. Isso porque, na tal escola finesse-frescura na qual ela leciona, inventaram uma moda de “visibilidade gay”, que não é só o cara sair do armário não, é sair com tudo, escancarando, doa a quem doer (duela a quien duela, para os saudosistas do portunhol do senador eleito Fernando Collor), onde, quando e na cara de quem for. O resultado é que, principalmente entre as meninas – a moda pegou principalmente entre elas – existem cenas explícitas de carinhos, beijos e amassos calientes. A situação já seria digamos, delicada, se ficasse limitada aos pátios e aos recreios, mas não, invadiu a sala de aula com tudo. E a professora fica de pés e mãos atados:

- Primeiro quero deixar claríssimo que não tenho nada contra gay ou qualquer tipo de manifestação de sexualidade consentida, que não force ninguém, como pedofilia – diz minha amiga querida. Depois devo dizer que acho que sala de aula não é lugar de beijos e amassos independente de onde eles venham, que seja de um casal 20 feito a Angelina Jolie ou o Brad Pitt, pouco importa.

A escriba ficou sem entender. O que têm Jolie e Pitt com isso? Minha amiga explicou com toda a paciência da boa professora que ela é:
- O problema é que, se fosse um casal hetero, dava pra mandar parar. Se for chamar atenção dos casais gays ainda corro o risco de ser linchada, pelo menos moralmente falando, ser tratada como agressora dos gays, intolerante, vai por daí afora. E reclamar junto à direção da escola também não vai refrescar em nada, pelo contrário, essas coisas de espalham e além de me rotularem de intolerante vão me dizer também incompetente para botar moral na sala.

Anabel Serranegra está louca pelo fim do segundo turno, para não ter mais de agüentar o horário eleitoral

* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.




As iluminações - Ledo Ivo


As iluminações

* Por Ledo Ivo

Desabo em ti como um bando de pássaros.
E tudo é amor, é magia, é cabala.
Teu corpo é belo como a luz da terra
na divisão perfeita do equinócio.
Soma do céu gasto entre dois hangares,
és a altura de tudo e serpenteias
no fabuloso chão esponsálício.
Muda-se a noite em dia porque existes,
feminina e total entre os meus braços,
como dois mundos gêmeos num só astro.

* Poeta, romancista, contista, cronista, ensaísta e jornalista, membro da academia Brasileira de Letras. 

O bem que nos queremos - Flora Figueiredo


O bem que nos queremos

* Por Flora Figueiredo

O bem que nos queremos 
se aninha entre as paredes dessa casa 
há muito tempo nos observa 
nos vê chegar, sair 
fazer malas, promessas 
adiar coisas, amontoar 
existir levianos como sempre 
e engraçados 
e já com uma hist6ria 
e já com outra cara. 
Já nos conhece tão intimamente 
sabe do humor com que acordamos 
do amor com que nos maltratamos 
cada ranhura e cada 
pequenina estrela. 
E a cada duvidar e a 
cada angústia 
o bem que nos queremos 
permanece. 
Mudam as estações, os desejos, as fases da lua 
mudamos nós 
o bem que nos queremos continua. 


Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 


Mergulho - João Alexandre Sartorelli


Mergulho

* Por João Alexandre Sartorelli

Em teus olhos
Vejo o mundo.
Em teu olhar
Vejo tudo.
Em teu mar
Eu mergulho.

* Analista de Sistemas por profissão e poeta por vocação

A Copa do Mundo - Alcides Buss


A Copa do Mundo

* Por Alcides Buss

A bola rola no céu de Moscou.

Na praça, Púshkin observa
do alto de sua fama.

O comunismo acabou
opinam alguns.
Outros acham que mal começou.

Tolstói. Dostoiévski.
Maiakóvski. Gogol.

No giro da bola
quem manda é o craque.

Na dança das páginas
o leitor faz o gol.


* Poeta e professor universitário

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Índice


Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Doze anos e três meses de criação.


Leia nesta edição:

Editorial – Quando o erro pode ser didático.

Coluna Contrastes e Confrontos – Urariano Mota, artigo, “Um gol de placa contra a ditadura na Copa do Mundo”.

Coluna Do real ao surrealEduardo Oliveira Freire, conto, “Fronteiras.

Coluna ClássicosAndré Malraux, trechos de artigo,O século XXI será espiritual. Ou não será”.

Coluna Porta AbertaDébora Bottcher, crônica,Envelhecer”.

Coluna Porta Aberta – Carmen Lúcia Couto, poema, “Rogo por nós”.

@@@

PESCA EM ÁGUAS TURVAS

Prosseguindo em minha tentativa de “pesca em águas turvas”, tenho uma nova proposta a fazer às editoras. Diz-se que a internet dá visibilidade a escritores e facilita negócios. É isso o que venho tentando, há algum tempo, conferir. Tenho mais um livro, absolutamente inédito, a oferecer. Seu título é: “Dimensões infinitas”, que reúne 30 ensaios sobre temas dos mais variados e instigantes. Abordo, em linguagem acessível a todos, num estilo coloquial, assuntos tais como as dimensões do universo (tanto do macro quanto do microcosmo), o fenômeno da genialidade, a fragilidade dos atuais aparatos de justiça, o mito da caverna de Platão, a secular busca pelo lendário Eldorado, o surgimento das religiões, as tentativas de previsão do futuro e as indagações dos filósofos de todos os tempos sobre nossa origem, finalidade e destino, entre outros temas. É um livro não somente para ser lido, mas, sobretudo, para ser refletido. Meu desafio continua sendo o mesmo de quando iniciei esta tentativa de “pesca em águas turvas”. Ou seja, é o de motivar alguma editora a publicá-lo, sem que eu precise ir até ela e nem tenha que contar com algum padrinho, mas apenas pela internet, e sem que eu precise bancar a edição (já que não tenho recursos para tal). Insistirei nesta tentativa todos os dias, sem limite de tempo. Para fecharmos negócio, basta que a eventual editora interessada (e espero que alguma se interesse, pois o produto é de qualidade) entre em contato comigo no inbox do Facebook ou pelo e-mail pedrojbk@gmail.com. Quem se habilita?

@@@


CITAÇÃO DO DIA:

Capricho da memória 

A memória apresenta às vezes um fenômeno curioso: conserva por muito tempo oculta e sopitada uma impressão de que não temos a menor consciência. De repente, porém, uma circunstância qualquer evoca essa reminiscência apagada; e ela ressurge com vigor e fidelidade.

(José de Alencar, livro “A Pata da Gazela”).



***

Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.

Editorial - Quando o erro pode ser didático


Quando o erro pode ser didático


O sonho das pessoas ativas, dos sujeitos dinâmicos, criadores e que se dedicam, de corpo e alma, à produção (material e/ou artística e intelectual) é o da perfeição de suas obras. Há quem seja perfeccionista por natureza e que sofra face à mínima imperfeição no que faz, mesmo que não notada por ninguém. Esse fazer, refazer, tornar a fazer, emendar, burilar, melhorar etc. chega, em casos extremos, às raias da obsessão. E é errado esse comportamento? Claro que não. Só que não se recomenda que se descambe para tal exagero. Afinal, como já diziam sábios no passado, “a virtude está sempre no meio”.

Convivemos, no dia a dia, com erros de todos os tipos e tamanhos, nossos e dos outros, e nos afligimos com os que cometemos e nos irritamos com os alheios. Há casos em que achamos que essas falhas são irreparáveis. Nunca são! Alguns, porém, negam que erraram, mesmo quando é para lá de evidente que cometeram algum equívoco. Pagam um preço por essa irresponsabilidade: caem em ridículo. Outros admitem, mas se esquecem dos erros, como se não os houvessem cometido. Com isso, só os multiplicam. Há, porém, os que são sábios: extraem ensinamentos das suas falhas e as corrigem. Tiram preciosas lições, que lhes permitem não errar novamente e fazer o que lhes cabe cada vez melhor. Nossos erros, porém, não devem nos afligir. Até porque, tendem a ser sumamente didáticos se soubermos lidar com eles. E, ademais, só erra que faz alguma coisa, quem arrisca, atua, constrói e não é omisso.

Podemos (e devemos) ser sábios para transformar pequenos erros em maiúsculos acertos. A atitude correta, nesses casos, é o que John Maxwell observou, com pertinência: “Um homem deve ser grande o suficiente para admitir seus erros, esperto demais para tirar proveito deles e forte o bastante para corrigi-los”. Não é fácil? Claro que não! Mas é eficaz. Por mais que a busquemos (e devemos, de fato, buscar), a nós, humanos, frágeis e falíveis, é vedada a perfeição. Por mais completo que nos pareça um trabalho, manual ou intelectual, sempre haverá alguma coisa a ser burilada, revisada, corrigida e melhorada.

Esse exercício de correção de obras, de ideias e até mesmo de rumos, deve se transformar em hábito, para que jamais o que fizermos ou pensarmos se torne envelhecido, defasado ou ultrapassado. Principalmente nos relacionamentos, mesmo que pareçam perfeitos, convém fazer periódicos reparos. Isaac Bashevis Singer, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1978, confessou: “Corrigir é tudo o que faço o tempo todo. Sem isso não haveria literatura ou civilização. Mesmo o amor às vezes precisa disso”. Eu diria, de minha parte, que “principalmente o amor” requer constante correção. Afinal, é como uma bela, porém, frágil flor: só manterá seu viço, sua beleza e sua vida, se for constantemente regada, adubada e podada.

Reitero, trilhões de vezes se for preciso, que só não erra nunca quem não faz nada e passa a vida como parasita, explorando o esforço de quem tenta melhorar o mundo, sem contribuir em nada para o bem-estar próprio e da comunidade. A vida não comporta espectadores, mas requer agentes, tanto para praticar os atos mais simples, quanto para as obras mais complexas, que exigem preparo e esforço. Nada é mais condenável do que a preguiça, o comodismo e, principalmente, a omissão. É preferível errar uma, duas, dez, cem, mil vezes, do que nunca cometer erros, por jamais tentar fazer o que quer que seja. Só que é necessário corrigir o mesmo tanto de vezes aquilo em que se falhou.

Nenhuma obra verdadeiramente valiosa, que sobreviva ao tempo e ao esquecimento, pode ser produzida se não colocarmos nela alma, talento e paixão. As grandes realizações são frutos de crença, empenho, vontade, persistência e de tamanha convicção, a ponto de deitarmos “chispas pelos olhos”. Nesse intenso empenho, todavia, sempre estaremos sujeitos a errar, por maiores que sejam nosso treinamento, perícia e conhecimento de causa. Devemos estar preparados para isso e para efetuar, claro, a devida correção. Mas precisamos encarar a empreitada sem excessivos temores. Um certo medinho todos temos (aquele clássico friozinho na barriga), principalmente face aos grandes desafios. Ele, porém, não pode e nem deve nos deter e paralisar.

Quem teme se expor, por medo de fracasso, frustra-se, invariavelmente, e dessa frustração resulta intenso sofrimento, mental, que tende a se transformar em físico. Da minha parte, prefiro pecar por excesso a me omitir. Estou disposto, na busca dos meus ideais, a tentar, tentar e tentar, insistente e incansavelmente, até alcançar o objetivo. Mesmo que errando a cada passo, mas disposto a sempre consertar o que errar. Boa parte das pessoas talentosas, todavia, não age assim.

Como editor, trabalho em uma função em que o erro é meu maior inimigo. Sempre que cometo algum (e por mais que tente, erro bastante, porque executo grande volume de trabalho), sofro muito. Sinto-me humilhado, abatido, envergonhado e tenho que administrar (e me livrar de) uma sensação de impotência e de desânimo. Confesso, no entanto, que as coisas que mais sei e que executo com maior perfeição, aprendi a fazer e a acertar errando. Estou consciente que, por maior que seja meu empenho (e creiam, é imenso), cometerei ainda muitos erros, não apenas ao longo da carreira profissional, mas da vida. Vou errar no amor, nos relacionamentos sociais e profissionais, nas escolhas, nas decisões, na avaliação das amizades etc.etc.etc. E sofrerei com isso. Pudera, sou humano.

Saberei, no entanto (e espero saber mesmo), pedir perdão quando ofender alguém, perdoar quando ofendido, reconciliar-me com quem brigar, evitar celeumas desnecessárias, mas aprender, e aprender muito, se e quando cometer esses erros. Há, todavia, um equívoco que considero bastante grave, embora comum, e que certamente não cometerei: o de achar que os amigos têm que se entender, sempre, e em tudo, sem nenhuma divergência. Não é bem assim. Amigos também divergem, discutem e brigam, sem que a amizade seja abalada, comprometida, ou sequer arranhada. A esse respeito, George Eliot observou: “Talvez as melhores amizades sejam aquelas em que haja muita discussão, muita disputa e, mesmo assim, muito afeto”. Comprovei, inúmeras vezes, isso na prática. Amizade que não resiste a um simples desentendimento? Estou fora! Sequer merece esse nome.


Boa leitura!

O Editor


Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Um gol de placa contra a ditadura em Copa do Mundo - Urariano Mota


Um gol de placa contra a ditadura em

 Copa do Mundo


* Por Urariano Mota

As relações tortas entre Copa do Mundo e ditadores não foram exclusivas do Brasil. Da América Latina à Europa a utilização política do futebol foi a regra. Mas há pelo menos um caso que reúne coragem e brilho em um gol lindo, maior que o de todos atletas juntos até hoje. Recupero um texto sobre o tento do gênio a seguir.


Entre as imagens que nos vêm a partir do 11 de setembro de 1973, do dia em que houve o golpe militar contra Salvador Allende, entre tantas imagens vivas, uma poderia ser, com razão, a do presidente Allende resistindo de capacete em ultimo recurso, com alguns fiéis militantes às portas do palácio La Moneda. A imagem de Allende fala de um socialista democrata, que pela força das urnas julgava ter o poder, que é destruído ao fim, derrotado com a eloquência de bombas, tiros e crimes.

Outra imagem do golpe chileno poderia ser também a que correu mundo, dos livros sendo queimados por soldados do exército nas ruas do Chile. Em um país de grandes poetas e tradição humanista, essa foto escapou do paradoxo, porque ela se fez coerente com o assassinato do poeta Pablo Neruda pela ditadura. E depois, essa imagem dos livros no fogo é tão simples e pornográfica, ao mesmo tempo de tamanho didatismo sobre a ideologia fascista no seu carbono Pinochet, que um comentário passaria pelo já visto, ao lembrar e repetir ações de Hitler a Franco, todos ótimos queimadores de escritores, livros e inteligência.

Então falo rápido sobre uma imagem e personagem que marcam também. Não são muito divulgados no Brasil um gesto, a pessoa e o valor de Carlos Caszely. Ele foi um craque do futebol chileno. A wikipédia informa que Carlos Caszely é o jogador mais popular e querido da história do Colo-Colo e do Chile. Até hoje é chamado de El Chino, El Rey del Metro Cuadrado, ou de El Gerente. Mas o seu maior feito é este: astro da seleção de futebol do Chile, em cerimônia oficial dentro do palácio, no vigor de mortes e fuzilamentos de opositores, Carlos Caszely se negou a apertar a mão do ditador Augusto Pinochet.

Ou como ele próprio falou desse momento raro e belo, anos depois:

“Eu ouvi passos. Foi pavoroso. De repente as portas se abriram. Apareceu uma figura vestindo uma capa, de óculos escuros e quepe. Tinha uma cara amarga, suja, dura. Ele foi cumprimentar cada um dos jogadores qualificados para a Copa. Quando ele se aproximou, eu botei minhas mãos atrás das costas. Ele estendeu sua mão, mas me recusei a apertar. Como ser humano aquela era minha obrigação. Tinha todo um povo sofrendo nas minhas costas”. Mas que coisa.

As razões do gesto, desse heroísmo, são anteriores. Não foi um impulso louco. Bem antes, o jogador havia sido ligado ao ex-presidente Salvador Allende. O craque era socialista como o presidente morto. Depois do golpe, Caszely se transferiu para o futebol espanhol. E o que fez a canalha do regime no Chile? Perto da Copa de 1974, os militares sequestraram, prenderam e torturaram a mãe do jogador. Supõe-se que isso foi uma tentativa de calar Caszely e obrigá-lo a jogar pela seleção chilena. Entre os perseguidos da ditadura, ele era o principal jogador do futebol chileno, estrela do Colo-Colo e da seleção. E Caszely achou o ato de tortura contra a mãe tão estúpido, que declarou recentemente:

“Ainda hoje não está claro por que fizeram aquilo. Eles a prenderam e torturaram selvagemente, e até hoje não sabemos de que ela era acusada. Recordo um país triste, calado, silencioso, sem risos. Uma nação que entrava nas trevas. Eu sabia o que viria de cima. Eu tinha medo. Não por mim, mas por meus amigos e por minha família. Eu sabia que eles estavam em perigo por minhas ideias”.

Então sua mãe foi presa, torturada e solta, sem qualquer acusação. E pouco depois o jogador se encontra cara a cara com o ditador, na despedida para a Copa de 1974 da Alemanha. Então ele põe as mãos para trás, enquanto Pinochet se aproxima a cumprimentar um a um. Ele foi o único a rejeitar o ditador.

Enquanto escrevo, ao lembrar esse ato, sinto um cheiro de perfume, daqueles inesquecíveis, cujo cheiro e composição química vêm apenas da lembrança que cerca um gesto. Naquele maldito e mágico ano de 1973, quando o mundo conhecido vinha abaixo no momento exato em que grandes eram as esperanças, houve esse gesto de Caszely tão pouco ou nada divulgado. Eu soube dele há pouco tempo. Mas que coragem, podíamos dizer. E aqui, se espaço houvesse, deveríamos discutir o quanto estão errados os que julgam ser a coragem um atributo de valentões, de homens que zombam do perigo. Não é. A coragem é a fidelidade ao sentimento de honra, dever ou amor. Por isso dizemos: que coragem!, isto é, que afeto e grandeza em ser fiel ao mais íntimo. Sentimos naqueles braços para trás de Caszely, enquanto avançava contra ele o ditador, um bravo bravíssimo. Com certeza, o jogador tremia, mas não podia ainda assim ceder à mão de Pinochet no cumprimento.

Não sei, mas esse me parece ter sido o maior gol de placa da história.


* Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici, “Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus”, “Dicionário amoroso de Recife” e “A mais longa juventude”. Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros
.