Nossa
carta tracejadinha de amor
*
Por Tatiana Lazzarotto
Eu
não sou mais a mesma de ontem, que dirá a mesma de quando cheguei.
Sete anos mudam muita coisa. Troquei de casa, de cabelo, de pele.
Mudei meus amores, meus choros e minhas velas. Cada vez que coloco o
pé para fora, eu penso mais cá dentro de mim que este é o meu lar.
Meu lugarzinho no mundo, embora lugarzão. Marzão de gente que dá
até desespero. Não sei se pra sempre, mas aqui escrevo meus
caminhos. De um jeito pouco ortodoxo, sim. Contei para todo mundo
esta semana que fazemos 7 anos juntas. No almoço do trabalho, no
café, até para o motorista do Uber. “Mas de onde você é?” me
perguntam sempre. Sei de onde sou quando me embrenho nas selvas de
voltar. Cada paragem é um pedaço de mim que me vai voltando,
aqueles costumes e sotaques tão meus. Aquele dialeto que me assalta,
cortando sem dó meu soar cantado e minhas pressas de cidade grande.
Eu
sou de longe, viu.
Tô
aqui, vim, vi e venci. Nada. Queria era mesmo vencer essa cidade
naquela vez que cheguei. Hoje me pego bem mais preguiçosa que a
desatinada que desembarcou. Agora eu suspiro, bem fundo, e me
pergunto se alguém não pode me dar o caminho das pedras. De
qualquer destino. Aí me vejo, sete anos atrás, bem menina, não
sabendo caminho, muito menos pedra. Só entendia de tapa. De dar a
cara a tapa, entendia pouco de direção e muito de pressentimento.
Foram
muitos Masps, ciclovias na Paulista, muitos Brás e até uns
memoriais. Fui percorrendo esse marzão, topando em um aqui e outro
ali, pra ser quem sou hoje e ter a certeza. Você é da minha
escrita, da vida, aquele “viveu xx anos em”, se algum dia eu
tiver de ser digna de uma biografia. É você que estará lá,
impressa naqueles anos, nestes anos, nesta parte da minha vida. Este
tracejado não será de outra, mas sua. Minha amiga, minha irmã.
Eu
vim de longe, viu.
Às
vezes nem sei por que fico. Mas rio. Balanço a cabeça e penso. Só
mais um pouquinho vai. Ela é dura, mas o concreto dura. Tem verde.
Tem essas cores que só eu enxergo, no meio da frota preta, branca e
cinza. Sempre preta, branca e cinza. Dessas pessoas amareladas pela
falta de sol e assoberbadas de luz branca. Eu enxergo as cores, eu
pinto essas cores. Faz sete. Virão outros mais.
*
Jornalista, graduada em Letras - Blog: www.tatilazz.blogspot.com
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