sábado, 31 de março de 2018

Índice


Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Doze anos e quatro dias de criação.


Leia nesta edição:

Editorial – Sobre perguntas”.

Coluna Direto do ArquivoMárcio Juliboni, crônica, “Cena qualquer 2”.

Coluna ClássicosLeon Tolstoi, trecho de romance,A abelha”.

Coluna Porta AbertaFlora Figueiredo, poema, “Retirada”.

Coluna Porta Aberta – Clóvis Campêlo, crônica, “Quando o dia não nasce no mar”.

Coluna Porta Aberta – Francielle S. Costa, crônica, “Só mais um recado”.

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DESAFIO E PROPOSTA

Meu desafio está atrelado à proposta que tenho a fazer. Explico. Diz-se que a internet dá visibilidade a escritores e facilita negócios. É isso o que quero conferir. Tenho um novo livro, dos mais oportunos para um ano como este, de Copa do Mundo de Futebol. Seu título é: “Copas ganhas e perdidas”. Trata-se de um retrospecto de mundiais disputados pelo Brasil (que disputou todos, por sinal), mas não sob o enfoque do profissional de imprensa que sou, mas de um torcedor. É um livro simultaneamente autobiográfico e histórico, que relata como e onde acompanhei cada Copa do Mundo, de 1950 a 2014, da minha infância até meus atuais 75 anos de idade. Meu desafio é motivar alguma editora a publicá-lo, sem que eu precise ir até ela e nem tenha que contar com algum padrinho, apenas pela internet, e sem que eu tenha que bancar a edição (já que não tenho recursos para tal). Insistirei nesta tentativa até que consiga êxito, todos os dias, sem limite de tempo. Basta que a eventual editora interessada (e espero que alguma se interesse, pois o produto é de qualidade) entre em contato comigo no inbox do Facebook ou pelo e-mail pedrojbk@gmail.com. A proposta e o desafio estão lançados. Acredito que serei bem sucedido!!!

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CITAÇÃO DO DIA:

Trabalhador solitário 

É o trabalhador solitário aquele que faz os primeiros progressos.

(Alexander Fleming).




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Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Editorial - Sobre perguntas


Sobre perguntas


Tratei, recentemente, do tema que se refere a questionamentos. Ou seja, do método socrático de se chegar à verdade, de se aprender qualquer coisa e de se resolver problemas, aparentemente complexos, mas que após solucionados mostram que “o bicho não era tão feio” quanto pensávamos, mediante perguntas. Minha abordagem na ocasião foi genérica. Não se centrou em nenhuma atividade específica, embora eu tenha enfatizado a importância do ato de perguntar em especial para nós, jornalistas e, mais especificamente, para os repórteres, e por razões óbvias.

De passagem, todavia, mencionei que o método socrático é, também, sumamente útil (se não indispensável) no planejamento e concretização de um livro. Nesse aspecto, contudo, fui questionado por um leitor, o que me deixou bastante satisfeito. Primeiro, por me comprovar que, ao contrário do que chego a pensar em alguns dias, não estou “pregando no deserto”. Há quem leia estas reflexões diárias e com a devida atenção que espero. A segunda é que, para esclarecer suas dúvidas, se utilizou exatamente do método que propus em meu texto. Ou seja, o de perguntar.

Antes de demonstrar quanto os questionamentos importam, são úteis e são essenciais, peço licença para fazer três citações a propósito, pinçadas do excelente livro “Pense melhor”, de Tim Hurson (DVS Editora) – que torno a recomendar e sobre o qual tive oportunidade de tecer comentários – pela relevância do seu conteúdo. A primeira é do filósofo inglês, Francis Bacon, que escreveu: “Uma pergunta prudente é metade da sabedoria”. A razão dessa constatação é óbvia. Até porque, salvo em raras ocasiões, a prudência é e sempre será muito bem vinda.

A segunda citação que reproduzo é do dramaturgo Eugene Ionesco (sobre o qual também tive a oportunidade de escrever), que afirmou: “Não é a resposta que ilumina, mas a pergunta”. E ele sabe o que diz. Essa afirmação aproxima-se mais um pouco do assunto que vou tratar, ou seja, o da importância do questionamento no planejamento e produção de um livro.

Finalmente, a terceira citação é até mais específica ao leitor que me questionou. Ele iniciou seu e-mail da seguinte forma: “Desculpe-me se minha pergunta for tola...”. Fique tranquilo, não é. Contudo, mesmo que fosse, seria válida. Aliás, teria a validade até multiplicada. Isso, pelo menos a julgar pela declaração de Alfred North Whitehead. Ele defendeu que “a pergunta tola é o primeiro indício de algum avanço totalmente novo”. No seu entender (e também no meu) o questionamento aparentemente (ou de fato) despropositado, enseja a busca e a solução inusitados de determinado problema.

Um escritor, tão logo tem aquele lampejo, eufemisticamente conhecido como “inspiração”, ou seja, quando conclui que determinado tema, se bem explorado, pode gerar um livro, quem sabe um best-seller, se questiona: “Isso dá um romance ou uma novela? Quem sabe, seja apropriado a um poema. Ou, talvez, seja melhor tratado num ensaio”. Ou seja, pergunta-se: “Como escrever?”. O “o que” adveio da inspiração.

Decidido o gênero, surgem outros tantos questionamentos essenciais. Um deles é: “o que eu conheço do assunto?”. Mas a pergunta mais importante é: “o que desconheço?”. A resposta suscita outras tantas indagações, como “onde posso obter informações a respeito? Com quem? O que fazer para ter sucesso na pesquisa?”, e vai por aí afora.

Durante a redação, muitas outras perguntas, certamente, irão surgir, e serão as respostas a elas que irão dar alguma forma à matéria original, a tal da inspiração, que é como uma pedra de granito em bruto para um escultor, que se pergunta o que poderia esculpir naquele material.

Mas os questionamentos não param por aí. Chega a fase da revisão, do acabamento final, da forma definitiva que aquela vaga ideia inicial terá, ou seja, como, finalmente, chegará às mãos do leitor, seu legítimo e essencial destinatário. Revisar, quase sempre, é um processo de corte. E a primeira pergunta que surge é: o que cortar? E o que melhorar? O que está obscuro? O que é supérfluo no texto? E assim as coisas vão.

Sei que muito escritor dirá que não faz nada disso. Será capaz de jurar sobre a Bíblia que escreve diretamente, num só sopro e que, mesmo quando corta algumas palavras, ou parágrafos, ou trechos, ou até mesmo capítulos inteiros, o faz sem recorrer a esses e a nenhum outro questionamento. Mas se questiona. Pode ser que não verbalize essas perguntas. Pode até ser que nem tenha consciência desse auto interrogatório. Contudo, até subconscientemente, faz, sim, estas (e outras tantas) perguntas. Não há como não fazê-las.

Concluído o livro, lá vem outro extenso rol de dúvidas. Por exemplo, como publicar o que se escreveu. Um escritor, afinal de contas, não escreve para si ou só para a sua família ou, no máximo, para um punhado de amigos. Fá-lo para o público e quanto mais amplo e numeroso este for, melhor. Portanto, a primeira pergunta que se impõe é: “Como publicar?”. Essa suscita uma outra: “Em que editora?” E os questionamentos sucedem-se e se multiplicam “ad náusea”, referentes à distribuição, à divulgação (entre as quais se faz ou não noite ou tarde de autógrafos), não raro à crítica etc.etc.etc.

Espero, com estas canhestras considerações, não ter frustrado o amável leitor que me questionou. Se não consegui convencê-lo (e espero tê-lo convencido), esteja certo que a falha não está na sua pergunta. Não, amigo, ela está longe de ser tola. O erro (se houver) está, obviamente, na resposta que lhe dei. Se achar oportuno, torne a me questionar, e quantas vezes quiser. Porquanto, é de exercícios dialéticos, como este, que emerge o conhecimento, a sabedoria e a verdade.

Boa leitura!

O Editor.


Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Cena qualquer 2 - Márcio Juliboni


Cena qualquer 2

* Por Márcio Juliboni


Já eu não suporto risoto fora do ponto, diz ela com esgar. Olha firme os convivas, pois a situação apresentada requeria seriedade. Noite quente, rodinha de amigos no jardim bem cuidado “pelo meu jardineiro Seu Zé, uma gracinha ele, menina” e criado pelo famoso-paisagista-que-projetou-o-paisagismo-daquele-prédio-famoso-você-sabe-né. Vinho e música de bom-gosto. Pois imagine que, outro dia, estava no restaurante de minha irmã e não me contive. Quando o chef veio me perguntar o que achei do jantar, eu tive que dizer: “Olha, me desculpe, mas o seu risoto passou do ponto! Cozinhou dois minutos a mais”. Ah, não, gente, tem coisa que não dá, né? Cabeças acenam com pesar. Sim sim sim. É, não dá. Nem pensar... sim sim. Fez certo. Faria o mesmo. Mas é claro!

Comigo, o negócio é vinho, continua o amigo. Cara, não consigo mais beber se não for a taça certa! Deus me livre! Depois que a gente se acostuma, não dá mais! Ah não! Você pega um vinho com alma, encorpado... aquele.. olha para sua taça....esse! Esse aqui! – o dono da casa sorri satisfeito com a aprovação do vinho pelo amigo, sim, está sendo um bom anfitrião – Enfim, o amigo continua, você pega esse vinho e coloca em uma taça errada... não... não dá. Descaracteriza tudo! É como comer risoto com talher de peixe! Os amigos gargalham, concordando. Ele sorri, satisfeito com a comparação. Olha para a taça em suas mãos, lembra-se da coleção de taças que ganhou de presente – um par para cada tipo de vinho-, bebe vagarosamente um gole e se refestela na cadeira, enquanto os outros aguardam, ansiosos. Ergue a taça, num brinde. Viva a Riedel! Viva! Viva!

O vento agita cada vez mais cabelos e toalhas de mesa. Plantas dobram-se. Gotinhas. Gotas. Muitas gotas. Chuva. Todos correm para o living. Maldita chuva, gritam alguns. Porra, que merda! Logo agora! Recolhe o vinho! Cacete, meu charuto! Ai, meu cabelo! Fiz escova hoje! Que merda! Nem parecia que ia chover. Tava uma noite tão bonita, não tava? É, tava. Não tava. Tava. A lua tava bonita, diz o mais tímido de todos, aquele que sempre sentava no canto e ria baixinho. Os convivas se exasperam. Por que convidam esse mala até hoje? Nada a ver... E eu sou lá de ficar olhando a lua, meu!? Faz favor! Tenho mais o que fazer, diz um deles, contendo-se para não emendar um "é por isso que você é o único duro da turma, mané", enquanto vira-se pra outro: bicho, bicho, já falei pra não cortar o charuto
assim, caralho...
 

*Jornalista, cobre Economia e Negócios no portal Exame. Trabalhou no serviço de notícias online, “Panorama Setorial”, do jornal Gazeta Mercantil, na Agência Estado e em várias revistas segmentadas. Iniciou a carreira na grande imprensa em 2000.




A abelha - Leon Tolstói


A abelha


* Por Leon Tolstoi

Uma abelha pousada numa flor pica uma criança. E a criança tem medo das abelhas e diz que o objetivo delas é picar os homens.

O poeta admira a abelha que trabalha no cálice da flor e diz que o objetivo da abelha é recolher o aroma das flores.

Um apicultor, notando que a abelha recolhe o pólen e o néctar e os leva para sua colméia, diz que o objetivo da abelha é recolher o mel.

Outro apicultor, tendo estudado de mais perto a vida do enxame, diz que a abelha recolhe o pólen e o néctar para alimentar a larva e criar a rainha, que seu objetivo é a continuação da espécie.

O botânico nota que ao passar com o pólen da flor dióica para a flor fêmea, a abelha fecunda, e vê nisso seu objetivo.

Um outro, observando a migração das plantas, verifica que a abelha contribui para ela, e pode dizer que tal é o objetivo da abelha.

Mas o fim último da abelha não se reduz ao primeiro, nem ao segundo, nem ao terceiro dos objetivos que o espírito humano é capaz de descobrir.

Quanto mais o espírito humano se eleva na descoberta desses objetivos, mais evidente se torna que o fim último lhe é inacessível.

(...) Graças à razão, o homem observa-se a si mesmo; mas só se conhece através da consciência de si; nenhuma observação e nenhuma aplicação da razão são possíveis.

(Trecho do romance “Guerra e Paz”).

* Leon Tolstoi nasceu em 9 de setembro de 1828 e morreu em 20 de novembro de 1910. Junto com Fiodor Dostoievski, Máximo Gorki e Anton Tchecov foi um dos grandes da literatura russa no século XIX. Suas obras mais famosas são “Guerra e Paz” e “Anna Karenina”.


Retirada - Flora Figueiredo


Retirada

* Por Flora Figueiredo

Respeite o silêncio
a omissão,
a ausência.

É meu movimento de deserção.
Abandonei o posto,
rompi a corda,
desacreditei de tudo.

Cansei de esperar que finalmente um dia,
minha fotografia
fizesse jus ao seu criado-mudo.


Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 



Quando o dia não nasce no mar - Clóvis Campêlo


Quando o dia não nasce no mar

* Por Clóvis Campêlo

Em São Luís do Maranhão, o sol não atravessa a cidade como um cão corta uma rua ou um rio sangra uma planície aluvional. Em São Luís, o dia não nasce no mar.

Em São Luís do Maranhão, o sol e os ventos marinhos fazem caminhos distintos. São Luís olha para o Norte, para o Caribe, além da Bahia de São Marcos.

Fundada em 8 de setembro de 1612, é a única cidade brasileira inventada pelos franceses. São Luís é diferente. São Luís mistura o baticum do boi-bumbá com a cadência do reggae. São Luís é multicultural.

São Luís é democrática: divide a ilha Upaon-Açu (Ilha Grande, na linguagem dos extintos tupinambás, seus primeiros habitantes), com as cidades de Raposa, Passos do Lumiar e São José do Ribamar.

São Luís tem história: tombada pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1997, São Luís possui um acervo arquitetônico colonial com mais de 3.500 prédios, que ocupam mais de 220 hectares do seu centro histórico. Entre eles, o Palácio la Ravardiére, construção de 1689, onde hoje funciona a Prefeitura da cidade.

Apesar da sua origem francesa, São Luís tem a maior fachada externa de azulejos portugueses do Brasil. São Luís é festa. São Luís comove. São Luís nos deixa com um gosto de quero mais.

* Poeta, jornalista e radialista.


Só mais um recado - Francielle S. Costa


Só mais um recado


* Por Francielle S. Costa. 


Durante algum tempo hesitei em abrir aquela porta, de tal maneira, tempo bem longo por sinal. Passei vários dias pensando o que era certo ou errado, se valeria a pena ou não, mas minha consciência está bem limpa, até. Eu não vou mentir que por várias vezes tentei espiar pela fechadura, pra ver o que realmente havia do outro lado, porque, pra mim, estava sempre tudo escuro, buscava uma fresta que fosse, na verdade um tipo de ''sentido''. Mas parece que o outro lado sempre estava se recuando.

Às vezes parecia querer mostrar um pouquinho de si. Talvez achasse que era transparente, e eu, sempre que tinha uma brecha, aproveitava pra tentar abrir a tal ''tranca''. Mas sempre acabava sendo jogada pro outro lado. Essa curiosidade toda se dava pelo fato de tentar desvendar, de todas as formas possíveis, aquilo que estava ali, bem na minha frente. Acreditava que se conseguisse entrar, poderia compartilhar de muitas coisas boas, como um presente que você rasga depressa a embalagem pra aproveitar o que tem dentro.

Tentei de tudo, mas parece que tudo estava perfeitamente atado, como um nó. O pior de tudo é que eu acreditava que conseguiria, porque queria, e nunca passou pela minha cabeça que o tal ''outro lado'' não queria, de forma alguma, mostrar o que tinha lá dentro.

Ficava se retorcendo todo quando parecia que ia se abrir, e nada. Se fechava ainda mais e, pior, sem nem ao menos dizer ''não perturbe''. Queria que eu continuasse ali parada, esperando. Aquela porta que eu tanto tentei abrir, hoje deu lugar a outras janelas que pensam me assombrar, pacientes, até que eu vá e as feche novamente. Demora, mas o melhor a fazer é deixá-la lá e acenar, de longe, lamentando por não ter feito isso há mais tempo.
 

* Jornalista de Curitiba.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Índice


Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Doze anos e dois dias de criação.


Leia nesta edição:


Editorial – Humildade e ignorância

Coluna Ladeira de Memória – Pedro J. Bondaczuk, poema, “Poema sem importância”.

Coluna Contradições e paradoxos – Marcelo Sguassábia, crônica humorística Mané, saudoso Mané”.

Coluna Do fantástico ao trivial – Gustavo do Carmo, conto, “Hipocrisias sexuais.

Coluna Direto do ArquivoTarcísio Sigrist, poema, “Do amor pleno”.

Coluna Direto do ArquivoAlda Lara, poema, “Rumos”.


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DESAFIO E PROPOSTA

Meu desafio está atrelado à proposta que tenho a fazer. Explico. Diz-se que a internet dá visibilidade a escritores e facilita negócios. É isso o que quero conferir. Tenho um novo livro, dos mais oportunos para um ano como este, de Copa do Mundo de Futebol. Seu título é: “Copas ganhas e perdidas”. Trata-se de um retrospecto de mundiais disputados pelo Brasil (que disputou todos, por sinal), mas não sob o enfoque do profissional de imprensa que sou, mas de um torcedor. É um livro simultaneamente autobiográfico e histórico, que relata como e onde acompanhei cada Copa do Mundo, de 1950 a 2014, da minha infância até meus atuais 75 anos de idade. Meu desafio é motivar alguma editora a publicá-lo, sem que eu precise ir até ela e nem tenha que contar com algum padrinho, apenas pela internet, e sem que eu tenha que bancar a edição (já que não tenho recursos para tal). Insistirei nesta tentativa até que consiga êxito, todos os dias, sem limite de tempo. Basta que a eventual editora interessada (e espero que alguma se interesse, pois o produto é de qualidade) entre em contato comigo no inbox do Facebook ou pelo e-mail pedrojbk@gmail.com. A proposta e o desafio estão lançados. Acredito que serei bem sucedido!!!

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CITAÇÃO DO DIA:

Seres fantásticos 

Viver é combater contra os seres fantásticos que nascem nas câmaras secretas de nosso coração e de nosso cérebro.

(Henrik Ibsen).





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Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.

Editorial - Humildade e ignorância


Humildade e ignorância


A ignorância, ou seja, a incapacidade de entender o que quer que seja, mesmo que o objeto do não entendimento não seja muito complexo (que pode ser relativa ou absoluta), é a suprema das misérias. Nada é mais precioso do que o potencial de compreensão, a facilidade de entender o concreto e o abstrato, que convencionamos denominar de “inteligência”.

É mister admitir que todos somos ignorantes de algo, embora em graus variáveis, uns mais, outros menos e outros, ainda, de forma absoluta. Não conheço o gênio que entenda de todas as disciplinas, todas as artes, todas as ciências etc. que seja, em suma, onisciente.

Os sensatos admitem sua ignorância em determinados assuntos e procuram um jeito de entender o que lhes seja ininteligível, desde que necessitem desse entendimento. Quando não, deixam esses temas, para eles obscuros e além do seu alcance de entendimento, para os que são especializados neles. Com isso, evitam, com certeza, no mínimo, de descambar para o ridículo. Já os insensatos... Nem é bom falar!

Ainda quando o “ignorante” é humilde e reconhece suas dificuldades, há certa esperança. Pior quando se trata de alguém arrogante, que acha que sabe mais do que os outros, quando desconhece até o que é mais comezinho e elementar, mas sai por aí ditando normas a propósito. Há muitos desses tipos, vários dos quais, até mesmo, com diplomas acadêmicos e títulos de doutor. Esses são insuportáveis.

Outro conceito, em torno do qual há muita confusão, é o da humildade. Escrevi, não faz muito, a propósito, destacando as diferenças entre ser humilde e humilhar-se. Há quem ache que se trate da mesma atitude. Não se trata, evidentemente.

A escritora portuguesa Agustina Bessa Luís esclarece a respeito: “Humilde é a pessoa que não afasta de si a crença do Infinito, a realidade das suas pequenas pegadas na vida – e não aquela que se desmerece, que insulta o seu corpo e a sua alma, que se enfurece contra si mesma. Aceitar sua humilhação é consentir na humilhação do seu próprio Deus”.

Quem age dessa maneira não é humilde. É, sobretudo, ignorante do que não pode e não deve ser ignorado. Abrir mão da dignidade e expor-se ao ridículo não é ser humilde. É humilhar-se. Não se trata, pois, de postura nobre, mas de posição ridícula face aos semelhantes. É uma forma de autolinchamento.

O padre Antonio Vieira, em memorável sermão, estendeu um pouco mais sua definição de humildade, ao ressaltar que ela é “essencialmente o conhecimento da própria dependência, da própria imperfeição e da própria miséria”.

Quem não tem essa consciência é ignorante e em grau superlativo. Todos somos dependentes de alguém (e de não poucos, por sinal). Desconheço os absolutamente autossuficientes. Contudo, quem ainda não ouviu alguém dizer: ” não preciso de ninguém, sei me virar sozinho?” Claro que precisa. Se não admite isso é, sobretudo, ignorante.

Outro aspecto destacado por Vieira é o da imperfeição. Todos somos imperfeitos (igualmente em graus variáveis, uns mais e outros menos). A atitude sábia, nesse caso, todavia, não é a do cômodo conformismo, mas a da incansável busca da perfeição, mesmo conscientes de que jamais chegaremos a ela.

Finalmente, o magnífico pregador destacou nossa miserabilidade. Aqui não se refere, obviamente, à posse de bens materiais, mas à nossa extrema fragilidade e contundente transitoriedade. Todos somos, até certo ponto, miseráveis, dada a nossa condição humana: efêmera e mortal. A não admissão dessa miséria é outro sintoma, e não o menos grave, de ignorância.

Em um outro sermão, Vieira traz à baila a seguinte questão: “Demócrito ria porque todas as coisas humanas lhe pareciam ignorâncias; Heráclito chorava porque todas lhe pareciam misérias; logo maior razão tinha Heráclito de chorar, que Demócrito de rir, porque neste mundo há muitas misérias que não são ignorâncias, e não há ignorância que não seja miséria”. Deixo-lhes, hoje, essa importante lição como tema de reflexão.


Boa leitura!

O Editor.


Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Poema sem importância - Pedro J. Bondaczuk


Poema sem importância

* Por Pedro J. Bondaczuk

Não importa a imagem cansada
que a luz projeta no espelho,
a retina fotografa,
o computador analisa
e requisita manutenção.

Não importa a hematoma roxa
das olheiras circulando os olhos,
nem as raias vermelhas
que contrastam com seu azul.

Não importa a devastação dos cabelos,
as clareiras da calvície
e algumas mechas de algodão,
descoloridas pelo uso.

Não importam os vincos na testa,
as cicatrizes de angústias
de comezinhas preocupações.

Não importam as bochechas murchas,
flácidas, elásticas, ocas,
ante a ausência de dentes.

Não importam os dentes falhos,
coloridos de nicotina,
estiletes amarelados,
desgastados pelo uso.

Não importa a lixa da barba
escondendo sulcos profundos
que o Tempo riscou.

Não importa o tremor das mãos,
o porte recurvado
pela escoliose,
como se os fardos dos anos
fossem sacos de estopa com chumbo.

Não importa a imagem desgastada,
a estrutura devastada,
o aspecto melancólico.
Importa que a chama do entusiasmo
a Tempo ainda não apagou!!!


(Poema composto em Campinas, em 24 de junho de 1974 e publicado no "Jornal de Paulínia", em 22 de outubro de 1977).


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

Mané, saudoso Mané - Marcelo Sguassábia


Mané, saudoso Mané



* Por Marcelo Sguassábia


Lembro como se fosse hoje que passava um pouco de cinco e quinze da matina quando ele me ligou dizendo que tinha despertado com o lampejo, transformado em ideia tentadora, que logo virou desejo irrefreável de dar cabo de uma vez da sua vidinha sem atrativo. Queria ir pra junto do Flávio Cavalcanti, do Santos Dumont, do Jack Estripador, do Mussum e de todos os outros grandes que já tinham ido. Não via mais sentido em continuar ocupando seu invólucro castigado e tão sem atrativo, ainda mais vendo tanta gente melhor que ele abandonando precocemente o posto nesse ingrato campo de provas.

Dizia o Mané:
Trabalho numa máquina de moer carne, minha mulher há muito deixou de exercer qualquer influência na minha libido e eu acho um saco fazer a barba todo dia. Isso sem falar das pombas que só aliviam sua diarreia no capô do meu carro, do jeito azedo do vizinho e da inesperada cobrança complementar do IPTU, referente ao puxadinho que construí sem autorização da prefeitura e que acabou virando depósito para as tralhas de pesca do Lourencinho, primo desgraçado que ronca, fuça e é perito em aparecer de supetão pra filar a janta.

Já falei pra mim mesmo: olha pra trás, meninão. Conta até dez, chupa um halls daquele trinca guela. Nada como um halls extra forte bem chupado, se possível acompanhado de água geladíssima por cima, pra nos demover de decisões irrefletidas. Isso já dizia Danny F.Chesterfield, aliás com propriedade rara entre seus contemporâneos. O bom e velho Danny, idólatra da TV dos tempos em que domingo de manhã passava o programa do pastor Rex Humbard, “Imagens do Japão” e o “Caravela da Saudade”, que com seus fados levava aos prantos 9 em cada 10 donos de padaria no Canindé.

Estou aqui com o epitáfio prontinho. Está pronto em linhas gerais, ainda falta um acerto ou outro de ortografia e de colocação de vírgula. As seis alças do caixão já têm dono, e evidentemente você é um dos escalados. Pega numa perto do pé que o esforço é mais leve, a região da barriga deixo para uns parentes que tenho em baixíssima estima. Que eles sirvam pelo menos pra isso, já que nunca me emprestaram um tostão quando a lavanderia estava mal das pernas. Está tudo esquematizado, fiz um croqui em papel vegetal com as alças, puxando umas setinhas com o nome de cada um. Deixei na gaveta do criado-mudo, junto com umas outras orientações e providências que devem ser tomadas”.

Ameacei desligar o telefone, nauseado com tanta morbidez, mas ele dizia que ficaria na minha consciência se morresse de mal comigo. E continuava:
Agora o que tá pegando é o jeito de liquidar a fatura. Estou aqui na cama caraminholando qual a modalidade mais prática e menos ortodoxa. Nada de ligar o gás, enforcamento na jabuticabeira, deitar na linha do trem, Ginsu na jugular ou lexotan com soda cáustica. Pensei em injeção de ar na veia, o modus operandi predileto dos nazistas no holocausto, o que me diz?”

Foi quando caiu a ligação, depois aconteceu o que todo mundo já sabe. A famosa reviravolta que o fez viver lúcido e sacudido até os 94, à frente do grupo de empresas que até hoje leva o seu nome.


* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).




Hipocrisias sexuais - Gustavo do Carmo


Hipocrisias sexuais

* Por Gustavo do Carmo

Livremente inspirado na trilogia 50 Tons de Cinza

Duas amigas, Anastácia e Catarina, conversam animadamente à mesa posta na calçada de um boteco chique de Ipanema.

Como é que foi o fim de semana com o seu chefe, ontem, Nasty?
Foi maravilhoso, Cat! Voamos de helicóptero até a cobertura dele na Barra.
Conta mais.
Pousamos no heliponto particular dele. Descemos até a sala dele no primeiro andar do triplex. É do tamanho deste quarteirão.
E aí?
Tomamos uns drinques e depois ele me levou para o quarto particular dele no segundo andar.
E ele é bonito?
Ele é lindo! Tem rosto afilado, cabelos louros grisalhos, olhos azuis, corpo atlético, pele lisa como uma seda. Só não tirei foto porque ele não deixou.
E o que ele fez no quarto dele?
Esse não era bem o quarto dele. Era uma sala de “jogos”. Cheia de instrumentos de tortura. De fetiche, melhor dizendo.
Que horror! Então ele é um sádico.
Sim! Mas um sádico que dá prazer. Me amarrou nua em duas correntes, me vendou com uma gravata italiana cinza e me deu cinquenta chibatadas. Depois transamos o final de semana inteiro. Foi o máximo. Na saída ele me deu um colar de rubi. Em casa eu te mostro. Estou apaixonada e viciada no perfume norueguês dele. Agora na sexta vou para a casa de veraneio em Angra dos Reis.
Que maravilha. Fiquei com inveja.
Que isso? Depois eu apresento o Grey. Na verdade, o nome dele é Cristiano Grey. Ele é riquíssimo. Tem contratos de obras com governos da Suécia, Noruega, Finlândia, Islândia e Dinamarca. Além do Japão. Todos feitos com honestidade. Também é dono da maior editora de livros do Brasil e sócio de um canal de televisão de São Paulo. O pai, Wilson, foi banqueiro e dono de companhia aérea, mas o Cris já vendeu por um valor acima do mercado depois que recebeu a herança. Só não é humilde. Ele me disse que precisa ser assim por segurança.


Assim que acabou de falar maravilhas do namorado rico e pervertido que arrumou, o iPhone de Catarina tocou.

É a Ivonete avisando que não vem. Alô?
Ah, Cat. Eu não vou poder ir. Acabei de ser estuprada. Disse, soluçando.
Quê isso, Nete? Não brinca!
Eu estava saindo da faculdade ontem à noite, quando aceitei carona de um colega magrelo e suburbano, que sempre foi gentil comigo, mas é feio de doer. Só que ele me levou para o barraco de um amigo no Pavão-Pavãozinho no seu Chevette 88 enferrujado. Arrancou as minhas roupas, me amarrou nua com duas cordas, me vendou com um pano de chão sujo e me deu cinquenta açoitadas com um cabo elétrico de ferro de passar roupa. Depois me estuprou. Ele fedia demais. Depois me deixou nua no meio da favela.
Você está onde?
Estou em casa, arrasada!
Eu e a Nasty vamos até aí e vamos te levar na delegacia para você denunciar esse cara.

As duas amigas, até então, maravilhadas com o fetiche do rico Cristiano Grey, saíram do bar às pressas, com Anastácia deixando 300 reais na mesa para pagar a conta, e foram buscar Ivonete em sua casa no Méier para levá-la à delegacia para fazer o boletim de ocorrência.

Rodrigo Hilbertson foi preso e condenado por sequestro, cárcere privado, tortura e estupro. Cristiano Grey casou-se com Anastácia e a levou para morar na Dinamarca. Ivonete suicidou-se, deprimida com o trauma. Já Catarina ficou milionária com uma loja de artigos eróticos, tornando-se fornecedora dos fetiches do casal Grey e Anastácia.  
* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos”.
Bookess - http://www.bookess.com/read/4103-indecisos-entre-outros-contos/ e
PerSe -http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1383616386310