quarta-feira, 30 de novembro de 2011







Leia nesta edição:

Editorial – Aprender a liderar.

Coluna De Corpo e Alma – Mara Narciso, crônica “Inverno portátil”.

Coluna Da terra do sol – Marco Albertim, crônica “Limpieza social”..

Coluna Personalidade e Atitude – Sayonara Lino, crônica “Novo rumo”.

Coluna Porta Aberta – Marleuza Machado, poema “Ocaso”.

Coluna Porta Aberta – Leonardo Boff, artigo “Despertar a dimensão xamânica”


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Aprender a liderar

O ato de decisão faz com que aquele que o irá praticar, guardadas as devidas proporções, assuma, naquele momento fatal de decidir, o papel de um deus. Ou de um demônio. Leva o indivíduo a sentir a emoção do risco. Dá-lhe a oportunidade de antecipar o futuro. E isso é óbvio, porquanto, não se decide nada para interferir no passado. É uma tarefa impossível. O que já passou não é passivo, em circunstância alguma, de mudanças, posto que gere conseqüências.

Em texto anterior demonstrei que administrar – uma carreira, uma profissão, uma empresa ou uma vida – é tomar decisões. Concluí que há três tipos básicos de administradores: os especulativos, os tímidos e os indecisos. Na oportunidade, teci ligeiros comentários sobre os primeiros. Hoje, proponho-me a abordar os outros dois.

Ernest Dichter, no livro “Espelho, espelho meu... existe gerente mais eficaz do que eu?” (Editora McGraw Hill), afirma: “Seja em negócio ou em política, é possível que a tomada de decisão seja a tarefa mais importante de um administrador”. Eu aduziria que o é de qualquer pessoa, nas mais diversas circunstâncias de sua vida. Por isso, devemos estar preparados para esses momentos críticos, que não avisam quando vão acontecer. Precisamos disciplinar-nos. Claro que quem tem essa tarefa por profissão tem que estar muito melhor preparado do que quem não tem tamanha responsabilidade.

Para decidir com frieza e racionalidade, com maiores chances de acerto, a pessoa a quem couber essa tarefa precisa, antes de mais nada, controlar o próprio temperamento. Se for o caso, compete-lhe mudá-lo (para melhor, claro). Esse processo educativo, objetivando a tomada de decisões corretas e positivas chama-se “treinamento para a liderança”.

Quem administra, decide. E quem toma decisões é, por definição, líder. Para onde ele conduzir seus liderados, para lá eles irão. Para o bem ou para o mal, para o cume, para o “Everest” do sucesso ou para o abismo, para o “Grand Canyon” do fracasso; para o lucro ou para o prejuízo (ou, quando muito, para deixar ou não deixar fugir a oportunidade de ganhar).

Há quem entenda que liderança e impetuosidade seja uma dobradinha ideal. Não é. Pelo menos não sempre. E quando é, somente se faz válida quando bem dosada, temperada pela prudência. Se não for assim... será outra coisa qualquer, e nada boa, menos característica benigna da liderança. Talvez possa ser identificada como temeridade. Ou, até mesmo, como imprudência, se não como irresponsabilidade.

Michael J. Kami, no livro “Um...Dois...Três...Ação!!! Momento de decisão” (Editora McGraw Hill) observa que “o melhor líder é aquele que as pessoas mal notam que existe. Quando seu trabalho é completado e seu objetivo atingido, elas dizem: ‘fizemos tudo sozinhos’”. Seria, pois, uma espécie de “catalisador”. Teria o dom de extrair o máximo dos liderados, sem que estes sequer notem. Convenhamos, este tipo de líder, que não se deixa fascinar pelo “vedetismo”, é extremante raro, tanto em política, quanto nas empresas.

O administrador (portanto, líder) tímido, é o segundo dos três tipos citados por Dichter. `É o que – conforme o gênio austríaco do marketing garante – “so age quando pouca coisa pode dar errado”. Antes de tomar qualquer decisão, por mais corriqueira que seja, coleta todos os dados atinentes ao problema. É incapaz dos chamados “golpes de mestre”. Mesmo quando todas as evidências estão a seu favor, este “líder” (e aqui as aspas cabem como nunca), reluta, refuga e transmite insegurança aos liderados.

A argumentação do tímido, de que deseja ser “capaz de dormir à noite”, não convence. Por exemplo, se um administrador relutar no lançamento de determinado produto, mesmo que, após pesquisas de mercado, os dados mostrem que ele tem 65% de chances de ser bem aceito pelo consumidor potencial, ele estará agindo contra os interesses de sua empresa. Abrirá brechas para um eventual concorrente. Com isso, este pode desbancar a empresa a que está ligado da posição que ocupe no mercado.

O terceiro tipo de administrador, apontado por Enest Dichter, é o indeciso. É o que vive sempre “em cima do muro”. É o que foge de definições claras e objetivas. Confunde a cabeça dos liderados e bagunça a administração da sua empresa, com ordens e contra-ordens, num contínuo exercício de contradição. Poucas vezes aventura-se a tomar alguma decisão. E mesmo após tomá-la, nem sempre ela é irreversível (e há ocasiões em que não se pode reverter o que foi decidido sem que se pague preço proibitivo por essa reversão).

O administrador ideal é o que reúna as três características citadas simultaneamente. Que seja especulativo quando as circunstâncias exigirem. Que tenha certa dose de timidez, mas em doses ínfimas, adstritas rigorosamente à prudência. E que use a genuína sensatez quando, na comparação de resultados dos dados que dispuser não haja clareza sobre se estes são positivos ou negativos. Existe líder assim? Talvez sim, mas se houver, são raros. A tudo isso, é indispensável que os encarregados da tomada de decisões aliem, se possível, “dose cavalar” de criatividade.

Henry Desroche observou: “Alguém já disse que os homens fazem a própria história – e só faz história quem é criativo. Há colonização, fome? A criatividade é a esperança da humanidade”. Ao líder não pode faltar determinação – como a do ex-presidente norte-americano, John Kennedy, que, em 1961, no auge da guerra fria, afirmou: “Pagaremos qualquer preço, suportaremos qualquer encargo, enfrentaremos qualquer adversário para assegurar a vitória da liberdade no mundo”

Outra característica desejável é o senso prático, como o apregoado pelo cientista russo Tsiolkowski, que constatou: “A princípio surgem a idéia, a fantasia, o conto. Depois deles, o cálculo científico. E, então, os homens práticos tornam a idéia realidade”. Mas é indispensável, aos líderes de qualquer natureza, otimismo, ou seja, crença no sucesso dos empreendimentos que comandam e confiança na própria capacidade, ditada pelo eficaz aprendizado da liderança.

Boa leitura.

O Editor.


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Inverno portátil

* Por Mara Narciso


É mês de novembro e começa o Congresso Brasileiro de Endocrinologia. A cidade sede é Salvador e a Bahia explode de calor e alegria. Por todos os cantos respira-se baianidade, cheiros e suores. Houve a revitalização do Pelourinho e a beira-mar está bonita e segura. Ninguém em sã consciência encheria as malas de nada além de shorts e camisetas, e uma sandália de borracha daquela marca famosa. É bom colocar um casaquinho leve, num canto. Pode ser que chova, e à noite corra um ventinho do mar, que poderá incomodar, lá nas altas horas, após um show, que sempre tem nos ricos congressos médicos.
Quando se chega ao Centro de Convenções, imenso, feito de ferro, que lembra vagamente a Torre Eiffel, embora deitado e em formato retangular, sabe-se que tudo ali terá dimensões astronômicas. O auditório principal comporta três mil médicos e está repleto. No começo há sensação de frescor, coisa de ambiente climatizado, mas com o passar dos minutos vê-se que a palestra maior está acontecendo num local frio, que começa a incomodar. Logo o ambiente causa sensação térmica desagradável, e se estará esfregando as mãos, depois passando a mão nos braços, e em breve se é obrigado a sair, para não congelar.
Algumas pessoas trouxeram agasalhos leves, inúteis para o rigor desse frio, e poucos estarão à vontade em mangas de camisa. A geladeira reinante é um contra-senso. Não há a temperatura agradável de 22 graus recomendáveis para ambientes onde os PhDs estrangeiros estão de terno e gravata e acostumados a temperaturas amenas. No local está quase nevando. É inacreditável a estupidez da pessoa que regula a temperatura local. Quem não trouxe agasalho pesado precisará comprar um, o que não será fácil em Salvador, em quase verão. Isso foi há alguns anos, mas não deu para esquecer.
A característica não é prerrogativa desse congresso. Em todos eles é assim. Quanto mais quente a cidade, mais gelada estará a temperatura dos auditórios. É preciso ocupar metade da bagagem com roupas pesadas e arrastá-las por um dia inteiro, pois as apresentações são contínuas e não têm intervalo para almoço. Em caso contrário é congelamento, dada a imbecilidade incompreensível.
Nos congressos é pior, mas os lugares onde há ar-condicionado costumam ser assim também. Nas viagens de ônibus noturno, especialmente o leito, é de se esperar uma noite glacial, coberta de gelo. Não se consegue dormir, não só pelo incômodo da viagem, e exíguo espaço, mas devido à friagem de iglu. A mantinha que oferecem não chega para minimizar metade do frio que é imposto aos viajantes. Impossível entender isso, ainda mais no norte de Minas, onde estamos habituados ao calor. O substantivo que me ocorre é burrice, mas de quem?
As lojas dos shoppings oferecem bons produtos, beleza, decoração primorosa e frio, muito frio. Quem vai andar por mais tempo, mesmo que se aqueça com o exercício, é bom levar pelo menos um casaco leve, pois vai esfriar. Fazer compras aquece o coração, mas o ar-condicionado se ocupará de congelar o restante. Os cinemas também são frios. Os consumidores reclamam e não são atendidos.
Houve um tempo em que só os bancos tinham ar-condicionado em Montes Claros, capital do pequi e do calor, que eu amo. A cidade e o calor, senão procurava outra para morar. Há pessoas que não acreditam, mas quando o asfalto treme debaixo do sol, é que estou feliz. Estamos aclimatados para essa temperatura, que ultrapassa os 30 graus. Clima ameno pode ser melhor, mas colocar os usuários na geladeira é chique e não faz mal a saúde? Sem contar o maior gasto de energia, que esgota o Planeta, coisa reprovável.
Locais onde se opera aparelhos melindrosos - ressonância nuclear magnética, por exemplo -, obrigam os funcionários a usar roupas pesadas durante o expediente. Outros que trabalham em câmera fria como frigoríficos de grandes supermercados, já sabem o que os espera e vão preparados. Mas noutros lugares, o poderoso age como Todo Poderoso, e faz gélidas temperaturas. Por quê?

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-






Limpieza social

* Por Marco Albertim

Ela está nua e não há o que a constranja na compleição de seus 37 anos. O sinal, uma mancha preta, abaixo do dorso, no limite entre as nádegas, é um ruído plástico insonoro; traço de musa insuspeita. De poetas tão erráticos, quanto de adultos sem fêmeas telúricas. Sob o jato grosso despejado da torneira móvel, contorce-se, abaixa-se; cobre os seios com um braço; com outro, o sexo. O sexo é uma corola de pelos ouriçados, desbastados nos lados. Ao ricto da boca, nos lábios, vergam-se o nariz, os olhos miúdos, as sobrancelhas sob a testa tonta, em rodopio. Ao cruzar os braços com as mãos nos ombros, abaixada, o dorso curvo, não grita; inda que a silhueta junto ao muro de pedras, seja, toda ela, de súplica. Mais que súplica, de fim à ruidosa repressão às gentes do povo, às donzelas de hímens resistentes.
Não é um corpo em convulsão; talvez em convulsão, mas não em um surto epiléptico. À guatemalteca Regina José Galindo, não há limites para expor as sutis e explícitas formas de dominação, a que ela e o povo de seu continente estão submetidos. No painel acima, vem a nu também o uso de jatos d’água na repressão às queixas nas ruas. Num vídeo nunca imaginado, a não ser pela própria. O título é o grafite ideológico da autora e personagem – Limpieza social.
Noutro, grávida de oito meses, está deitada numa cama; os pulsos, para trás, juntos; as pernas, uma em cada lado inferior da cama. Pulsos e tornozelos atados, com cordões umbilicais, nas extremidades do móvel. Nua, a prenhez exposta. A cabeça mexe-se, inclinada para um lado, dá mostras de querer voar. É uma bezerra adulta, na primeira prenhez; olhando para um lado de sua traseira, à espera de que a livrem ou lhe tirem da cria. Na guerra civil, o exército da Guatemala estuprou mulheres indígenas; estupros continuados. Em vez do aborto, elas engravidavam. – Título – Mientras, ellos siguen libres.
Com um vestido preto, de mangas compridas, está sentada numa cadeira de espaldar longe de suas costas. As pernas cruzadas deixam a coxa de cima exposta. O vestido é aberto num corte. Tem uma faca na mão, a outra estica o couro da coxa; sem pressa, com decisão, inscreve abrindo riscos de sangue – Perra. Em seu país, mulheres são encontradas, após a tortura, com a inscrição – puta.
No afogamento, já conhecido no continente, deixa-se vergar sob a pressão de um torturador de torso e braços grossos. Até o limite ele força a cabeça de Regina no tonel cheio d’água. Confesión.
Em Tumba, no mar da costa da República Dominicana, homens jogam sete sacos amarrados contendo areia; têm o peso de uma pessoa. Vítimas do tráfico de drogas, e mesmo de gente, assim são “enterradas.” A performance aí termina, e remete ao fim dos desaparecidos políticos.
A exposição na Fundação Joaquim Nabuco – Política da Arte – Corpo Social – é seguida pelo debate sobre Violência de Estado, Memória e Arte na América Latina. O fotógrafo argentino, Marcelo Brodsky, lançou o seu Buena Memoria, ensaio de fotos que aborda o desaparecimento de 98 estudantes, do Colégio Nacional de Buenos Aires. Dos desaparecidos, consta seu irmão “Nando”, sequestrado a 14 de agosto de 79.
O rio da Prata é enfocado como “tumba inexistente”, posto que lá os mortos eram jogados. A estátua sobre as águas, de Pablo Miguez; tinha 14 anos quando foi tragado pelas águas. E o Parque de la Memoria, em Buenos Aires, com mais de 600 metros de comprimento, incrustados os nomes dos desaparecidos.
Marcelo Brodsky, no exílio, viveu sete anos em Barcelona, cinco em Buenos Aires e seis em Madri. Vive em Buenos Aires e é casado com uma brasileira de Goiás. Compareceu ao debate junto com o presidente da Fundaj, Fernando Freire; o coordenador de artes plásticas, Moacir dos Anjos; o vereador Marcelo Santacruz, do PT; e o escritor Marcelo Mario Melo.

*Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.






Novo rumo

* Por Sayonara Lino

Ali estava ela, passando pela noite escura da alma mais uma vez. Andava em círculos e consequentemente gastava sua energia interna em vão.
Após passar por um longo período sem que nada a aquecesse e sustentasse de fato, resolveu simplesmente parar. Aquietou sua mente, contemplou o que havia ao redor e resolveu aguardar.
Longos anos passaram sem que ela se movimentasse externamente. Seu fluxo era interno, tecia dentro de si tudo o que era necessário à sua sobrevivência psíquica.
Desistiu de quem não a acolhia. Os que não a respeitavam ficaram para trás. Sua arte, suas idéias, seu afeto precisavam ser direcionados de outra forma. Ela precisava ser aquecida outra vez.
Voltou ao mundo, agora mais fortalecida e preparada para uma nova fase. Mais um ciclo se fechou e ela pode finalmente dar um novo rumo à sua existência.

• Jornalista, fotógrafa e colunista do Literário






Ocaso

* Por Marleuza Machado

Olhar vazio, amarga espera
Perda de tempo, tardia hora
Tua ausência a alegria devora
E o teu amor? Ah, quem me dera!

Correm minutos, solidão é fera
Nada mais há, senão demora
A esperança ficou no outrora
E o teu amor? Apenas quimera!

No relógio sem pressa
No arrastar do ponteiro
O pensamento proclama

O ato da meia-promessa
À um coração tão inteiro
Do meu amor, apaga a chama.

• Poetisa e jornalista


Despertar a dimensão xamânica

* Por Leonardo Boff

A categoria sustentabilidade, tomada em seu sentido amplo e não apenas reduzida ao desenvolvimento, significa toda a ação que visa a manter os seres na existência porque tem direito de coexistir conosco e só a partir desta convivência utilizamos com sobriedade e respeito uma porção deles para atender nossas necessidades e preservando-os também para as futuras gerações. Dentro deste conceito cabe também o universo. Sabemos hoje pela nova cosmologia que somos feitos de pó das estrelas e somos sustentados e atravessados pela inominável Energia de Fundo que tudo alimenta e que se desdobra nas quatro forças – a gravitacional, a eletromagnética, a nuclear fraca e forte – que, agindo sempre juntas, nos mantém assim como somos.
Como seres conscientes e inteligentes temos o nosso lugar e nossa função dentro do processo cosmogênico. Se não somos o centro de tudo, seguramente, somos uma daquelas pontas avançadas pelas quais o universo se volta sobre si mesmo, vale dizer, se torna consciente. O princípio andrópico fraco nos concede dizer que para sermos o que somos, todos as energias e processos da evolução se organizaram de forma tão articulada e sutil que permitiram o nosso surgimento, caso contrário não estaria aqui escrevendo agora.
Através de nós, o universo e a Terra se veem e se contemplam a si mesmos. A vista surgiu há 600 milhões de anos. Até lá a Terra era cega. O céu profundo e estrelado, as cataratas do Iguaçu, onde escrevo agora, o verdor das florestas, aqui ao lado, não podiam ser vistos. Pela nossa vista a Terra e o universo podem ver toda essa indescritível beleza.
Os povos originários, dos andinos aos samis do Ártico, se sentiam unidos ao universo, como irmãos e irmãs das estrelas, formando uma grande família cósmica. Nós perdemos esse sentimento de mútua pertença. Sentiam que forças cósmicas equilibravam o curso de todos os seres e atuavam em sua interioridade. Viver consoante estas energias universais era levar uma vida sustentável, serena e cheia de sentido.
Sabemos pela física quântica que a consciência e o mundo material estão conectados e a maneira que um cientista escolhe para fazer a sua observação, afeta o objeto observado. Observador e objeto observado se encontram indissoluvelmente ligados. Dai a inclusão da consciência, nas teorias científicas e na própria realidade do cosmos, é um dado já assimilado por grande parte da comunidade científica. Formamos, efetivamente, um todo complexo e diversificado.
São conhecidas as figuras dos xamãs, tão presentes no mundo antigo e que hoje estão voltando com renovado vigor como o tem mostrado o físico quântico J. Drouot em se livro O Xamã, o Físico e o Místico (Record 2002) que tive a honra de prefaciar. O xamã vive um estado de consciência singular que o faz entrar em contato íntimo com as energias cósmicas. Ele entende o chamados das montanhas, dos lagos, das florestas, dos animais e, das estrelas e dos outros. Sabe conduzir tais energias para curar e harmonizar o ser humano com o todo.
Em cada um de nós existe a dimensão xamânica, escondida dentro de nossa interioridade Essa energia xamânica nos faz silenciar diante da grandeza do mar, vibrar diante do olhar da pessoa amada e estremecer face a um recém nascido. Precisamos liberar esta dimensão em nós para entrarmos em sintonia com tudo o que nos cerca e sentirmo-nos em paz.
Talvez nossa vontade de viajar com as naves espaciais na direção do espaço cósmico, não seja o desejo arquetípico de buscar nossas origens estelares e o ímpeto de regressar ao lugar de nosso nascimento? Vários astronautas expressaram semelhantes idéias.
Pertence à noção compreensiva de sustentabilidade, esta nossa busca incontida de equilíbrio com o todo e de sentirmo-nos parte do universo. A sustentabilidade comporta valorizar este capital humano e espiritual cujo efeito é produzir em nós respeito, sentido de sacralidade diante de todas as realidades, valores que alimentam a ecologia profunda e que nos ajudam a respeitar e a viver em sintonia com a Mãe Terra. Hoje faz-se urgente essa atitude, para moderar a força destrutiva que nas últimas décadas tomou conta de nós.


* Leonardo Boff é teólogo e autor de “Tempo de Transcendência: o ser humano como projeto infinito”, “Cuidar da Terra-Proteger a vida” (Record, 2010) e “A oração de São Francisco”, Vozes (2009 e 2010), entre outros tantos livros de sucesso. Escreveu, com Mark Hathway, “The Tao of Liberation exploring the ecology on transformation”, “Fundamentalismo, terrorismo, religião e paz” (Vozes, 2009). Foi observador na COP-16, realizada recentemente em Cancun, no México.

terça-feira, 29 de novembro de 2011







Leia nesta edição:

Editorial – Ética e política.

Coluna À flor da pele – Evelyne Furtado, crônica, “Zila Mamede”..

Coluna Observações e Reminiscências – José Calvino de Andrade Lima, poema, “Condição para viver”.

Coluna Lira de sete cordas – Talis Andrade, poema “Momentos”..

Coluna Porta Aberta – Lêda Selma, conto “Só se Deus vier pessoalmente...”.

Coluna Porta Aberta – Rubem Alves, crônica “Gandhi”.


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Ética e política


O ativista anti-apartheid sul-africano Steve Biko, que morreu assassinado em uma prisão de seu país em mãos da polícia racista branca, afirmou, em certa ocasião, em uma entrevista, quando lhe perguntaram por que se empenhava tanto numa missão que então era tida como absolutamente impossível, que era a de criar uma democracia multirracial na África do Sul: "Se você mudar a forma de as pessoas pensarem, as coisas nunca mais serão as mesmas".

Pena que não viveu para ver o resultado de sua pregação. Não pôde assistir ao milagre, a redenção dos negros do seu país. Não viu a magnífica vitória nas urnas do Congresso Nacional Africano. Não presenciou a miraculosa trajetória de seu ídolo e mito, Nelson Mandela, do cárcere para a Presidência. Mas foi, em grande parte, responsável por esses fatos miraculosos. Ajudou as pessoas do seu país a mudarem sua forma de pensar. E as coisas, na África do Sul, nunca mais serão as mesmas... Para o bem ou para o mal...

Podemos, no Brasil, realizar o mesmo "milagre". Não faremos isso, evidentemente, esperando que as coisas aconteçam à nossa revelia. Temos que nos transformar de meros espectadores passivos, em agentes das mudanças.Todos ficamos chocados, e revoltados, com a corrupção instalada à sombra do poder. Revestimo-nos de justa e santa ira diante de indecentes negociatas, de criminosas roubalheiras. Principalmente quando sabemos que esse dinheiro surrupiado foi o dos nossos suados impostos. E que se destinava a financiar a fundamental educação, a indispensável saúde, a estratégica assistência social, a básica segurança pública: num País tão repleto, ainda, de analfabetos ou semi-alfabetizados, de doentes, de miseráveis e de marginais.

Exercitamos, posto que passivamente, nosso senso ético. Todavia, salvo raras e honrosas exceções, abrimos mão do exercício da cidadania. De nada vale a emoção sem a correspondente ação. Na ausência de uma pressão adequada disso que é chamado de "Opinião Pública", a maioria dos infratores sai rindo da população.

Muitos, quando abordados a respeito do que acontece nos centros do poder, desconversam e sentenciam: "não gosto e não entendo de política". Pode até ser. Mas tais pessoas confessam, então, não entender os próprios atos que praticam no seu cotidiano. Admitem não compreender o que fazem todos os dias, desde o momento em que acordam, até que se deitam.

"Política" é todo o ato que praticamos na "pólis", na cidade. Quando pela manhã, cumprimentamos nosso vizinho, quando pagamos nossa passagem no ônibus, quando assistimos a uma aula, quando realizamos o nosso trabalho, quando saldamos uma conta no banco ou no caixa de uma loja, quando efetuamos uma compra ou venda no comércio, quando gozamos o nosso lazer, estamos fazendo esse exercício que apregoamos "não entender e não gostar". Gostemos de fato ou não dele. Entendamos ou não de política. Tenhamos ou não consciência disso.

O outro conceito da nossa reflexão de hoje é ética. É necessário defini-lo e diferenciá-lo de moral, de virtude e de direito. Para isso, recorro a alguns pensadores, muito mais aptos do que eu para fixar com clareza e propriedade esses princípios. O escritor Guilherme de Figueiredo, autor do bem-humorado e inteligente livro "Tratado Universal do Chato", explica o que significa essa palavra, tão utilizada, mas pouco compreendida:

"A ética é a observação e todo o caldo de cultura da tribo humana. Pode variar em latitudes, em temperaturas, em paisagens, em tudo: as éticas estão lá, registrando a uns que não se deve andar com o sexo à mostra, a outros que a sociedade condena o furto, a outros que é proibido comer carne humana".

Ao contrário da moral, que é uma ciência normativa, não impõe nada ao indivíduo. É uma disciplina meramente especulativa. Estuda a ação e a conduta do homem, procurando a justificação racional dos juízos de valor. Ou seja, dos nossos julgamentos de certo e errado. Distingue-se, igualmente, do estudo dos costumes, que é do âmbito da sociologia e que se limita a descrever o modo de agir de um grupo humano num determinado tempo ou época.

Para o professor da Universidade de São Paulo, Eduardo Gianetti da Fonseca, "a ética é um filtro. Ela existe para impedir, em alguma medida, que aquilo que nos acontece espontaneamente – o sentimento agudo de medo numa situação de perigo por exemplo – determine sem mediação aquilo que faremos ao agir no mundo. A ética opera como um filtro que modela e modera o apelo dos estados mentais em relação aos quais somos passivos, de modo a atenuar seu poder sobre nossas ações – por exemplo, impedindo que numa situação de perigo coletivo, cada um se entregue cegamente ao impulso de sobrevivência".

O pensador francês Giles Lipovetsky aclara um pouco mais este complexo conceito. Ensina que "a ética se mostra menos preocupada com intenções puras do que com resultados benéficos para o homem, que não exige heroísmo nem altruísmo, mas o espírito de responsabilidade e compromisso razoáveis".

E o filósofo francês Jacques Duquesnes estabelece a principal diferença entre o senso ético e o de moralidade: "A ética não tem obrigação e nem punição, é menos dolorosa do que a moral". Depende, portanto, da consciência, que advém da educação. Esta última é a palavra-chave, a verdadeira raiz dos problemas do País. Nosso povo, em sua massacrante maioria, ou não é educado ou o é de forma equivocada. Daí a atual inversão de valores.

Vivemos em uma sociedade em que moral é algo encarado como "quadrado", "careta" e outras designações muito mais contundentes. Moralismo, hoje em dia, é visto como defeito, como sinônimo de chatice, que tudo proíbe. Este período é caracterizado essencialmente pelo "libera geral", pela decadência dos costumes, pela irresponsável e catastrófica permissividade.

Há lei? Vamos burlá-la! Existe impedimento moral para determinado ato, como lesar nosso semelhante menos esclarecido numa transação qualquer? Mostremos nossa esperteza! Busquemos levar vantagem em tudo! Com essa mentalidade predominando no dia a dia, podemos condenar um deputado, ou um senador, que manipula o Orçamento da União para desviar polpudas importâncias para sua conta corrente particular? Não seria uma incongruência? Afinal, esse ato lesivo aos cofres públicos é manifestação de "esperteza" pelos parâmetros comportamentais implícitos, vigentes na sociedade. Os políticos profissionais, queiram ou não, refletem o comportamento da comunidade de onde emergem e à qual representam.

São frutos da sua falta de consciência sobre o certo e o errado, sobre o bem e o mal. É dessa forma errada de pensar que Steve Biko falava. Se a mudarmos, e essa mudança tem que começar individualmente, em cada um de nós, as coisas nunca mais serão as mesmas.

Tão aético quanto manipular o Orçamento da União é transacionar o voto. É trocá-lo por promessa de emprego para si ou para parentes. É violentar a própria consciência e votar em alguém a troco de dinheiro, cesta básica ou qualquer outra vantagem, material ou não.

Tão aético quanto um deputado ou senador aumentar o próprio salário, quando os dos demais trabalhadores estiverem achatados ou congelados, é o cidadão sonegar seus impostos. Não há corruptos sem os respectivos corruptores. Isto é para lá de óbvio, mas muitos parecem não entender.

Não quero me alongar mais nestas considerações. Encerro, pois, estas breves reflexões com uma declaração do poeta Affonso Romano de Sant'Anna que reflete bem o comportamento do ser humano em todos os tempos, que diz: "Assim se faz a história: com a agressividade de poucos, com a ingenuidade de muitos e a dialética dos tolos".


Boa leitura.

O Editor.

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Zila Mamede.

* Por Evelyne Furtado


Gostaria que Nova Palmeira fizesse parte do Rio Grande do Norte’, dizia Zila Mamede, uma poetisa potiguar, nascida na Paraíba, em 1928.

De família norte-rio-grandense, muito cedo Zila mudou-se para Currais Novos (RN), onde permaneceu até o advento da Segunda Guerra, quando o seu pai foi trabalhar na base aérea de Parnamirim e a família estabeleceu-se em Natal.

A moça, que desejou ser freira, cursou biblioteconomia em Recife, onde teve seus primeiros contatos com a literatura.Concluindo pós-graduação nos Estados Unidos, Zila voltou a Natal e organizou a biblioteca da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (que hoje tem seu nome) e a Biblioteca Estadual Câmara Cascudo.

Em 1953, foi lançado Rosa de Pedras, primeiro livro de Zila Mamede, considerado por Manoel Bandeira um dos melhores livros brasileiros em versos.

A poesia de Zila contém o sertão de sua infância, o mar, os rios e as lagoas do Rio Grande do Norte.

Seu poema Banho (Rural), incluído na Coletânea Os Cem Melhores Poemas, da Editora Objetiva, revela entre os elementos campesinos uma suave sensualidade:

"De cabaça na mão, céu nos cabelos
à tarde era que a moça desertava
dos arenzés de alcova. Caminhando
um passo brando pelas roças ia
nas vingas nem tocando; reesmagava
na areia os próprios passos, tinha o rio
com margens engolidas por tabocas,
feito mais de abandono que de estrada
e muito mais de estrada que de rio
onde em cacimba e lodo se assentava
água salobre rasa. Salitroso
era o também caminho da cacimba
e mais: o salitroso era deserto.
A moça ali se perdia, afundava-se
enchendo o vasilhame, aventurava
por longo capinzal, cantarolando:
desfibrava os cabelos, a rodilha
e seus vestidos, presos nos tapumes
velando vales, curvas e ravinas
(a rosa de seu ventre, sóis no busto)
libertas nesse banho vesperal.
Moldava-se em sabão, estremecido,
cada vez que dos ombros escorrendo
o frio d'água era carícia antiga.
Secava-se no vento, recolhia
só noite e essências, mansa carregando-as
na morna geografia de seu corpo.
Depois, voltava lentamente os rastos
em deriva à cacimba, se encontrava
nas águas: infinita, liquefeita.
Então era a moça regressava
tendo nos olhos cânticos e aromas
apreendidos no entardecer rural."


Zila pesquisou as obras de Cascudo e de João Cabral de Melo Neto, sendo do poeta uma grande admiradora. Em Drummond teve um leitor e um mestre. Esteve entre os grandes e foi, ela também, um expoente da poesia no Brasil.
Publicou cinco livros de poesias: Rosa de Pedras (1953), Salinas (1958), O Arado (1959), Exercício da Palavra (1975) e Corpo a Corpo (1978). Ainda em 1978, foi publicado Navegos, reunindo todas as obras anteriores.
De Corpo a Corpo, destaco o poema "Onde". Nele a autora inova na forma e expõe questões existenciais com perfeita harmonia:

Entre a ânsia
e a distância
onde me ocultar?
Entre o medo
e o multiapego
onde me atirar?
Entre a querência
e a clarausência
onde me morrer?
Entre a razão
e tal paixão
onde me cumprir?

Em 13 de dezembro de 1985, Zila Mamede integrou-se às águas cálidas e mansas da Praia do Forte em Natal. O mar que sempre a fascinou devolveu seu corpo sem vida à Praia da Redinha. A hipótese de suicídio não foi sustentada e para aqueles que a admiravam, a poeta teve a morte que merecia, pois como cantou Dorival Caymmi "é doce morrer no mar / nas ondas verdes do mar".

• Poetisa e cronista de Natal/RN






Condição para viver*

** Por José Calvino de Andrade Lima

Na terra que tem bandido
a vida humana não tem valor
no fantasma real da fome
vem o defasado real valor

Sem investir em educação,
emprego digno e saúde,
nunca haverá paz entre nós
assistimos alarmados
os seqüestros, assaltos,
tráfico de drogas... o escambau

Enquanto nada muda
ficamos vendo todos os dias
principalmente nas grandes metrópoles
os trombadinhas e trombadões da vida
agitar nossos caminhos,
aonde iremos nós?

* Publicado: Folha de Pernambuco - Caderno Programa, p.3 em 01/04/2005.
Do livro: Fiteiro Cultural, p.109 - ed. 2011.

** Escritor, poeta e teatrólogo






Ilustração Reynaldo Fonseca

Momentos



* Por Talis Andrade

Te descalcei as alpercatas franciscanas
para lavar os teus pés na água da fonte
Pés pequenos delicados
pareciam não destinados
a pisar a terra áspera
vencer os caminhos de pedras
e espinhos
o seco chão do Sertão
Sentado no chão da praça
eu lia a história de Platero
o lindo felpudo burrico
Sentada no chão da praça
me escutavas encantada
quando veio um pássaro
azul
e pousou sobre teu ombro

* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).






Só se Deus vier pessoalmente...

* Por Lêda Selma




Padre Santinho recebeu, em confessionário, a visita de um fiel esbaforido e encabulado, Tristino, sujeito anguloso, pacato, de meios risos, franqueza inteira e pouca prosa. Um tanto sem jeito, depois de forçar uma tosse seca e falhada, o homem logo avisou o confessor:
– Olha, padre, o assunto é confidencioso, reservoso mesmo. Deus me livre de cair na boca do povo. Já basta precisar cair no ouvido do senhor, isto é, nos ouvidos, porque um fuxica logo pro outro...
– Fique tranquilo, filho, segredo de confissão é inviolável...
– Ela também, padre...
– Ela...?! Calma, filho, sem afobação! Diga-me o que lhe atormenta a alma...
– Alma não, padre, antes fosse! A atormentação é no corpo; a alma fica só na espreita, aperreada.
– Então, o que aconteceu?
– Desaconteceu. Desde que me casei com a Duvirge toda noite é a mesma repetição: deitar, relar, tretar e não consumar.
– Mas vocês estão casados há seis meses...
– Seis meses de tenta, recua; bate, volta; lambisca, mas não petisca. Uma desdita a minha vida. Duvirges diz que não casou pressas coisas, que tô é possuído, que toda noite ela sente um intruso descarado roçagando suas propriedades...
– Você foi com jeito, filho, com carinho?
– Se fui, meu padre, se fui...
– E ela, filho, não se rendeu?
– Ela? Só a renda da camisola! A diáboa da mulher recusou meus carinhos, me chamou de “arrenegado, pecador desavergonhudo, filho do troço ruim”. Esbravejou que só quero “safadagem” e gritou enfurecida quando lhe mostrei minha vontade: “Recolhe já esse espantalho, larga de possuição e me deixa drurmir”.
– É, Tristino, só mesmo conversando com sua mulher. Que ela venha falar comigo, sem demora.
– Nestorinha, padre, entrego pra Duvirge seu recado. E que Deus Se faça de enxerido e ajude o vigário nessa tarefa. A bênção, padre.
Maria Eduviges, a esperada, foi recebida, na sacristia, pelo padre, que a acomodou em uma cadeira surrada e pouco confortável. Sem rodeios, inquiriu-a:
– Minha filha, você gosta do seu marido?
– Gosto, sim sinhô, e é demais, pade. Home bão, trabaiadero e honesto quinem ele, só ele. Por isso, zelo da casa, capricho na boia, só pra agradar meu Tristino.
– Está certo, filha, mas e as obrigações de mulher casada? Ele é seu marido, tem lá seus direitos, porém, se sente rejeitado, à noite, quando se deitam, porque você não o aceita, recusa seus carinhos... está me entendendo, filha?
– Num tô entendendo o sinhô, e meu marido, antão, num entendo de jeito maneira! O home tá cumas esquisitice, cruzincredo! Dorme pelado, pula inriba de mim, me fala cada impropério, bole com minhas particularidades, e me cutuca de noite com um cutucador medonho.
– Eduvirges, minha filha, tudo isso se chama amor e é do amor que nascem os filhos, compreende? E o amor é abençoado por Deus; fui porta-voz do Senhor no dia em que casei vocês!? Deus autorizou seu marido a amá-la e a ter filhos com você, pode acreditar.
– Querdito não, pade. Deus num ia mancomunar com essas perdição, oxe! Tristino deve é se exemplar em São José, que nunca molestou a Virge Maria, só assim o encapetado achará conformação. Eu lhe prigunto, pade: o marido de Maria, a Virge, reclamou pra Deus da recusa da muié?! Não. Nem podia, pruquê foi Deus mesmo quem ordenou ao Isprito Santo a fazedura do fio, ora! Ele se conformou e pronto. Tamém, sou moça de famia, pade, e já até palavreei com Deus, assim: Pai, dê mais um servicinho pro seu santo amigo, pois resolvi deixar pro conta do enviado do Sinhô a consumação do casamento. E inté já tô aqui no jeito, só esperando.
– Que doidice é essa, filha minha? Vou explicar mais explicad...
– Dianta não, pade. Num arredo esta decisão da cabeça nem que o Isprito, o Santo, vague o lugar dele pro Zé, por causa de seus aperreios. E a num ser que o próprio Deus, por escrito ou pessoalmente, Se abale até aqui pra desatender minha resolvição, vou ficar quietinha, aguardando a santa lua de mel.

• Poetisa e cronista, licenciada em Letras Vernáculas, imortal da Academia Goiana de Letras, baiana de Urandi, autora de “Das sendas travessia”, “Erro Médico”, “A dor da gente”, “Pois é filho”, “Fuligens do sonho”, “Migrações das Horas”, “Nem te conto”, “À deriva” e “Hum sei não!”, entre outros.


Gandhi

* Por Rubem Alves


T. S. Eliot, poeta, escreveu o seguinte aforismo: ‘Numa terra de fugitivos aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo.’ É fácil entender os que andam na direção em que todos andam. Seus pensamentos e atos têm suas origens no tempo e são expressões da teia das relações sociais em que estão enraizados. Eles pensam e falam aquilo que a linguagem ‘gregária’ os obriga a pensar e falar. A linguagem gregária é como um jogo de xadrez, com uma lógica rigorosa e desenvolvimento previsível. As instituições e os jornais se fazem com ela. Assim, basta que as primeiras palavras sejam ditas para que se possa adivinhar quais serão as últimas.
Os que andam na direção contrária, entretanto, são aqueles que dizem o que não se pode adivinhar e que não era previsto. Seus pensamentos e palavras são sempre um susto, uma surpresa, um lapsus freudiano. Estes são os hereges, os poetas, os místicos, os visionários, os palhaços, os profetas, os loucos, as crianças (antes de terem sido normatizadas pelas escolas...)
Não são seres desse mundo. O que dizem sugere que suas raízes estão fora do tempo. Estarão na eternidade? Seria esta a razão por que a notícia envelhece logo e é logo esquecida (quem seria tolo de ficar lendo jornais do mês passado?), enquanto a fala dos que andam na direção contrária atravessa os séculos? Isso explicaria também os sentimentos de solidão e exílio que são a sua marca. Da Cecília, Drummond disse que ‘distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente’. E ela mesma disse que o seu principal defeito era ‘uma certa ausência do mundo’. Também Nietzsche lamentava a sua solidão e exílio. Desesperado de não ser entendido disse que nunca mais falaria ao povo; só falaria aos amigos... e às crianças...
Dos que andaram na direção contrária lembro-me agora de um de forma especial, porque no dia 30 de janeiro se completarão 53 anos da sua morte. No dia 30 de janeiro de 1948 Gandhi foi assassinado. Os que andam na direção contrária são sempre sacrificados, de um jeito ou de outro.
Releio um livrinho que escrevi sobre ele. Foi uma experiência estranha. Ao escrevê-lo tive a nítida impressão de estar num transe. Sem que eu fosse vegetariano fiquei incapacitado de comer carne enquanto escrevia. A carne que antes eu comia com prazer passou a causar-me repugnância. Vou transcrever, em memória a Gandhi, uns curtos trechos do que escrevi. Não creio que o que eu pudesse escrever agora, sem estar em transe, pudesse ser melhor...
Olhar para os animais e as plantas me enchia de alegria. Eu queria cuidar deles como quem cuida de algo frágil e precioso. Aí o mandamento cristão do amor me parecia pouco exigente. Pedia apenas amor ao próximo. Os cristãos entenderam que esse ‘próximo’ se referia apenas às pessoas. Eu, ao contrário, penso que todas as coisas que vivem são minhas irmãs. Elas possuem uma alma.(...) Amarás à mais insignificante das criaturas como a ti mesmo. Quem não fizer isso jamais verá a Deus face a face.(...) Agora digam: acham que eu poderia me alimentar da carne de um animal que foi morto e sentiu a dor lancinante da faca, para que eu vivesse? Que alegria poderia eu ter em tamanha crueldade? A natureza foi generosa o bastante, dando-nos frutas, verduras, legumes, cereais. Por mais que tentem me convencer de que as maneiras ocidentais são as melhores para a saúde, sempre as encarei com horror. Antes morrer que matar. Em nenhuma hipótese causar medo ou dor a coisa alguma.(...) Nosso destino espiritual passa por nossos hábitos alimentares. Estou convencido de que a saúde depende de uma condição interior de harmonia com tudo o que nos cerca. Comer demais é uma transgressão dessa harmonia.(...) Quando nos abstemos estamos silenciosamente dizendo às coisas vivas: ‘Podem ficar tranqüilas. Não as farei sofrer desnecessariamente. Só tomarei para mim o mínimo necessário para que meu corpo viva bem. Foi o que fiz. Vivi frugalmente. Fiz jejuns enormes. E minha saúde foi sempre boa.(...) Toda vida é sagrada, porque tudo o que vive participa de Deus. E se até mesmo o mais insignificante grilo, no seu cricri rítmico, é um pulsar da divindade, não teríamos nós, com muito mais razão, de ter respeito igual pelos nossos inimigos?(...) Sempre acreditei que no fundo dos homens existe algo de bom. Como poderia eu odiar qualquer pessoa, mesmo os que me tinham por inimigo? Dirão que não é assim. Há crueldade, o ódio, a morte... Será que algumas gotas de água suja serão capazes de poluir o oceano inteiro? Que força do mal poderá apagar o divino que mora em nós?(... ) Parece que os ocidentais não acreditam que os homens sejam naturalmente bons e belos. É por isso que se tornaram especialistas em meios de coerção e sabem usar o dinheiro e os fuzis como ninguém mais... É por isso que estão sempre tentando melhorar os homens por meio de adições: a comida em excesso, a roupa desnecessária, a velocidade da máquina, a complicação da vida...
‘Eu nunca quis entender de política. Só quis entender da bondade e dos seus caminhos. A política foi uma conseqüência e não a inspiração... Eu teria feito as mesmas coisas, ainda que não houvesse conseqüência alguma.(...) Os políticos, acostumados a usar o poder da força, desconhecem o poder das sementes...(...) Não haverá parto se a semente não for plantada, muito tempo antes... Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses...’ (A magia dos gestos poéticos, Ed. Olho D’Água)
A multidão de políticos que andavam na mesma direção só viam, pensavam e falavam sobre uma única coisa, sobre como libertar a Índia do poder inglês – politicamente? Gandhi percebia que esse seria um ato inútil – como abrir o casulo antes que a borboleta estivesse com asas para voar.
Político, nunca pertenceu a partido, nunca se elegeu para nada, nunca inaugurou obras. Sabia que a grande tarefa do líder político, anterior a todas as outras, não era a de administrar o poder mas a de formar um povo. E um povo se forma quando as pessoas tomam consciência da beleza e da bondade que nelas existe.
Andava na direção contrária. Pensava o que ninguém pensava. Fazia o que ninguém estava fazendo. É compreensível que tenha sido assassinado.




(Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 31/01/2001.)

* Rubem Alves é escritor, teólogo e educador

segunda-feira, 28 de novembro de 2011







Leia nesta edição:

Editorial – Estimular é preciso.

Coluna Lira de sete cordas – Talis Andrade, poema “As visões de Borges”.

Coluna Em verso e prosa – Núbia Araújo Nonato do Amaral, poema, “Em ti”.

Coluna Porta Aberta – Mário Prata, crônica “Você é um envelhescente?”..

Coluna Porta Aberta – Fausto Brignol, conto “Entrevista depois do jogo”.

Coluna Porta Aberta – Frei Beto, artigo “A Copa (não)é nossa”.


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Estimular é preciso

O amor pelos livros, quase sempre, surge na infância. Nesse aspecto, muitos pais cometem um erro estratégico às vezes sem possibilidades de correção e cujo resultado, quase sempre, é o oposto ao pretendido. Em vez de “estimularem” os filhos à leitura, mostrando-lhes o quanto essa atividade é fascinante e prazerosa, os “obrigam” a ler. E o “tiro acaba saindo pela culatra”.

A criança finda por associar esse desejável exercício da mente e do espírito, até de forma inconsciente, a enfadonha obrigação, a uma (para ela) desagradável e até intolerável imposição alheia, no caso de um adulto, e fica privada, dessa forma, de transcendentais descobertas e das delícias dessa incomparável aventura intelectual.

Estimular é muito diferente de obrigar. Pior é quando na escola a criança tem a infelicidade de contar com professores que fazem do ensino mera profissão e não sacerdócio. Há mestres que confundem senso de disciplina com autoritarismo. E que, nas aulas de leitura, em vez de acudirem um aluno em dificuldades, punem-no e, não raro, ridicularizam-no diante de toda a classe. Aí é que a coisa não anda mesmo (e nem poderia andar).

Tive a felicidade, por circunstâncias alheias à minha vontade, no entanto benignas, de ter meu amor pelos livros despertado precocemente. Narro minha experiência pessoal, esclareço, não para ostentar eventual inteligência superior (que não tenho) ou para me pôr em posição de exemplo a ser seguido. Longe disso. Faço-o porque é a que (óbvio) conheço de perto e em detalhes e creio que possa ser útil a alguém.

Tive a ventura de contar com um pai amoroso, esclarecido e que exerceu com proficiência não somente a paternidade, com tudo o que de positivo ela implica, mas as funções suplementares de primeiro mestre – o que me ensinou o be-a-bá –, de guia, de exemplo, de referencial e, sobretudo, do primeiro e maior amigo dos tantos que tenho, que já tive e que eventualmente ainda terei. Foi um homem notável, em sua simplicidade (geralmente as pessoas exemplares e que fazem a diferença no mundo são simples), o que pode ser atestado pelos que o conheceram e com ele conviveram.

Meu pai era (porquanto já faleceu há quase cinco anos) russo, tendo emigrado para o Brasil, com a família, ainda adolescente. Subitamente, movido pelas circunstâncias, teve que se adaptar a um país para ele então estranho e a uma cultura, digamos, mais “exótica” do que a que conhecera até então. Tudo era diferente: os ambientes, o clima, os costumes, a língua e até o alfabeto. Muitos imigrantes custaram a se adaptar. Alguns nunca se adaptaram e retornaram aos países de origem. Outros tantos, aprenderam o português com extrema dificuldade e até hoje não dominam adequadamente os cânones do idioma, que falam com sotaque e com inúmeros erros gramaticais.

Com meu pai não ocorreu nada disso. Encantou-se, de cara, com o país que o acolheu. Assumiu seus costumes, assimilou sua cultura e, por ter facilidade para línguas, não tardou a aprender também a nossa. Perfeccionista, porém, não queria apenas “falar” o novo idioma, mas pretendia fazê-lo bem. Ademais, sabia que para isso se tornar possível, teria que ler, e muito. Mas havia um grande obstáculo: o alfabeto. O nosso é o latino. O russo, é cirílico, que lembra, ligeiramente, o grego antigo, do qual assimilou diversas letras.

O que poderia ser (e era) barreira intransponível para vários de seus conterrâneos (que jamais aprenderam a ler em português), não o era para aquele homem admirável. Primeiro, comprou uma cartilha, dessas em que aprendemos as primeiras letras. E decidiu que aprenderia a ler em português junto com o filho de cinco anos (eu). Tornamo-nos cúmplices nessa empreitada, para nós dois, fascinante aventura. Ele, todavia, não me obrigou a nada. Fez aquele aprendizado parecer uma brincadeira, mais interessante e estimulante do que qualquer outra que eu fazia com as crianças da minha idade. E, de fato, era.

As dúvidas que a princípio surgiam (e era natural que surgissem), as esclarecia com os outros (colegas de trabalho, vizinhos, conhecidos). Não tinha vergonha de perguntar o que não sabia. Mesmo sob o risco de ser escarnecido ou encarado como tolo . Assim, aprendemos, simultaneamente, a ler nesse fascinante idioma de Camões, que eu aprendera a falar tão recentemente (como ele), em circunstâncias dramáticas que narrei em uma de minhas tantas crônicas.

Da cartilha, passamos às revistas em quadrinhos. Destas, o salto seguinte foram os jornais. A seguir, veio a leitura da Bíblia. E vieram os livros, múltiplos, variados, copiosos, profusos, sobre praticamente todos os assuntos e gêneros: de romances a poemas; de contos a ensaios e assim por diante. Tornamo-nos, ambos (e simultaneamente) leitores compulsivos. Mas não por necessidade ou por obrigação. Por puro prazer.

Aos poucos, uma (a princípio pequena e incipiente) biblioteca foi ganhando forma. E, apesar dó custo (os livros, entre nós, convenhamos, nunca foram baratos, como deveriam ser), foi crescendo, crescendo e crescendo. Não me lembro, durante um período, digamos, de dez anos, de um só mês em que novos volumes não fossem acrescentados ao nosso acervo. A leitura tornou-se hábito para nós dois, que nunca o deixamos. Hábito, por sinal, apaixonante e prazeroso.

Mesmo quando já octogenário, com os olhos comprometidos por insidiosa catarata, meu pai jamais deixou de ler. Imaginem com que dificuldade! Ele, porém, nunca encarou isso como sacrifício. Sempre considerou o livro o que diziam dele os também compulsivos leitores romanos (posto que raros): “Nutrimentum spiritus”. Ou seja: “Alimentos do espírito”. E é assim que o considero e que meu pai considerou até seu último dia de vida. Apaixonei-me pela leitura porque nunca fui “obrigado” a ler. Fui estimulado a fazê-lo, o que é bem diferente. E... estimular é preciso.

Boa leitura.

O Editor.




Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk






As visões de Borges

* Por Talis Andrade

Avejões e manes queridos
vagam pelo gabinete de Borges
saídos de empoeirados livros
transcritos por velhos monges
à luz mortiça dos brandrões
nos frios conventos medievais
As aparições dos manes e avejões
dão contornos e odores à solidão
evitando que tudo se transformasse em trevas
Vazio o espaço que a mão não alcança
Vazio o dia se o tempo
não contivesse sons particulares
que distinguissem
as horas mortas as horas vivas

* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).






Em ti

* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral

Debaixo de teu corpo
ardia em febre e gozo
enquanto pedia-me
que abrisse os
olhos...
Tarde demais! Eu já
havia me afogado.

* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário






Você é um envelhescente?

* Por Mário Prata

Se você tem entre 45 e 65 anos, preste bastante atenção no que se segue. Se você for mais novo, preste também, porque um dia vai chegar lá. E, se já passou, confira.
Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes: infância, adolescência, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de nos dizer que entre a maturidade e a velhice (entre os 45 e os 65), existe a ENVELHESCÊNCIA.
A envelhescência nada mais é que uma preparação para entrar na velhice, assim com a adolescência é uma preparação para a maturidade. Engana-se quem acha que o homem maduro fica velho de repente, assim da noite para o dia. Não. Antes, a envelhescência. E, se você está em plena envelhecescência, já notou como ela é parecida com a adolescência? Coloque os óculos e veja como este nosso estágio é maravilhoso:
- Já notou que andam nascendo algumas espinhas em você? Notadamente na bunda?
- Assim como os adolescentes, os envelhescentes também gostam de meninas de vinte anos.
- Os adolescentes mudam a voz. Nós, envelhescentes, também. Mudamos o nosso ritmo de falar, o nosso timbre. Os adolescentes querem falar mais rápido; os envelhescentes querem falar mais lentamente.
- Os adolescentes vivem a sonhar com o futuro; os envelhescentes vivem a falar do passado. Bons tempos...
- Os adolescentes não têm idéia do que vai acontecer com eles daqui a 20 anos. Os envelhescentes até evitam pensar nisso.
- Ninguém entende os adolescentes... Ninguém entende os envelhescentes... Ambos são irritadiços, se enervam com pouco. Acham que já sabem de tudo e não querem palpites nas suas vidas.
- Às vezes, um adolescente tem um filho: é uma coisa precoce. Às vezes, um envelhescente tem um filho: é uma coisa pós-coce.
- Os adolescentes não entendem os adultos e acham que ninguém os entende. Nós, envelhescentes, também não entendemos eles. "Ninguém me entende" é uma frase típica de envelhescente.
- Quase todos os adolescentes acabam sentados na poltrona do dentista e no divã do analista. Os envelhescentes, também a contragosto, idem.
- O adolescente adora usar uns tênis e uns cabelos. O envelhescente também. Sem falar nos brincos.
- Ambos adoram deitar e acordar tarde.
- O adolescente ama assistir a um show de um artista envelhescente (Caetano, Chico, Mick Jagger). O envelhescente ama assistir a um show de um artista adolescente (Rita Lee).
- O adolescente faz de tudo para aprender a fumar. O envelhescente pagaria qualquer preço para deixar o vício.
- Ambos bebem escondido.
- Os adolescentes fumam maconha escondido dos pais. Os envelhescentes fumam maconha escondido dos filhos.
- O adolescente esnoba que dá três por dia. O envelhescente quando dá uma a cada três dia, está mentindo.
- A adolescência vai dos 10 aos 20 anos: a envelhescência vai dos 45 aos 60. Depois sim, virá a velhice, que nada mais é que a maturidade do envelhescente.
- Daqui a alguns anos, quando insistirmos em não sair da envelhescência para entrar na velhice, vão dizer:
- É um eterno envelhescente!
Que bom.

• Jornalista e escritor


Entrevista depois do jogo

* Por Fausto Brignol


Repórter – Estamos aqui com o goleador da partida. Prezado Futebolista, o que achou da vitória do seu time?

P.F. – Foi um jogo fraco, com muitas faltas, e a nossa vitória foi injusta, porque houve um pênalti não marcado para eles, que eu mesmo fiz dentro da pequena área e um gol que eles fizeram e o árbitro marcou impedimento.

Repórter – Mas, apesar de tudo, uma vitória sempre é uma vitória, não é? Soma mais três pontos...

P. F. – É. Como você mesmo disse, embora seja uma redundância, uma vitória é sempre uma vitória, futebol é uma caixinha de surpresas, seleção é a pátria de chuteiras e todos aqueles clichês já conhecidos. Obviamente, uma vitória soma mais três pontos; se fosse um empate seria apenas um ponto e, no caso de derrota, nenhum ponto seria somado.

Repórter – Você deve estar feliz com esta vitória importante...

P. F. – Feliz de verdade, não, mas eu tenho que aparentar felicidade, você sabe... Por isso, depois que fiz aquele gol, beijei a camiseta do time, fiz um coração com as duas mãos para a torcida, dei uma cambalhota e dancei a dancinha do porco com os meus companheiros. Mas você sabe que isso tudo é coreografia ensaiada no vestiário, porque a torcida é que paga os nossos salários e devemos alegrá-la, fingindo felicidade.

Repórter - Mas porque você não está feliz?

P. F. – É que a nossa vitória determinou o rebaixamento para o time deles, o que é uma tristeza. Eles jogam um campeonato inteiro para depois serem rebaixados por culpa nossa... E faltando ainda algumas partidas.

Repórter – Mas você fez o gol decisivo, naquele entrevero dentro da pequena área...

P. F. – Para falar a verdade, a minha intenção era tirar a bola para evitar o gol. Mas, infelizmente, dei de rosca e a bola entrou. Além do que, eu estava impedido e o árbitro não deu, nem o bandeirinha acenou, o que me faz pensar que este campeonato está com as cartas marcadas. Não é a primeira partida que a arbitragem nos favorece com erros tão escandalosos.

Repórter – E a que você atribui esse favorecimento das arbitragens?

P. F. – Ora, o nosso clube é muito rico... E mesmo que as arbitragens não sejam compradas – o que eu duvido – sempre são induzidas a favorecer o time do clube mais poderoso. Isso é uma tradição no futebol. Imagina a cara do árbitro depois de uma partida em que ele for o responsável pela derrota do time mais rico frente a um time pobre! Coitado! Nunca mais conseguiria crédito em lugar nenhum; talvez nunca mais apitasse. Os árbitros não tem culpa por agirem assim: faz parte do jogo.

Repórter – Você quer dizer...!

P. F. – Eu quero dizer que desta vez o roubo foi escandaloso, porque nós tínhamos que ganhar para garantir a liderança do campeonato, e a nossa torcida é muito grande e o clube é muito influente, e até vocês, da imprensa fazem a cabeça do torcedor dizendo repetidamente que nós devemos ganhar, porque somos melhores, etc. Mas de outras vezes...

Repórter – De outras vezes vocês ganharam porque jogaram bem melhor, não foi?

P. F. – Algumas vezes nós jogamos melhor e ganhamos. Mas daqueles times mais fracos. Geralmente...

Repórter – Geralmente?

P. F. – Geralmente a arbitragem é muito amiga nossa. Talvez vocês lá em cima não percebam, mas há toda uma estratégia de arbitragem quando quer favorecer um lado.

Repórter – E como é essa estratégia, Prezado Futebolista?

P. F. – Começa com o árbitro intimidando os adversários, mandando eles jogarem a bolinha deles e ficarem quietos... Eles não podem nem trocar uma idéia que o árbitro marca falta técnica. Depois, começa a não dar as nossas faltas. Podemos atropelar um jogador deles ou dar uma cotovelada que o árbitro manda seguir, dizendo que é jogo de corpo. Depois, quando ainda não fizemos o primeiro gol, dá falta a nosso favor mesmo quando é só jogo de corpo. E quando vai chegando o final da partida e, por milagre, ainda está empatada, basta cair na área deles que o árbitro marca pênalti. E se o goleiro deles defender, manda repetir, dizendo que ele se mexeu. E os cartões amarelos. É a tática mais conhecida: eles dão cartão amarelo no primeiro tempo, para os jogadores adversários, para poderem expulsá-los no segundo tempo e facilitar a nossa vida.

Repórter – Mas será que você não está exagerando? Isso acontecia em tempos passados. Hoje em dia, os árbitros são muito bem pagos.

P. F. – Bem pagos eu sei que eles são! Quanto a exagerar, eu não disse nem a metade...

Repórter – Mas, mudando de assunto, finalmente você conseguiu renovar o seu contrato! E por um salário espetacular! Três milhões de reais!

P. F. – Não é um absurdo? Num país em que o salário mínimo é 535 reais eu ganho três milhões por mês! E pra não fazer praticamente nada. Só jogar o meu futebolzinho, que vocês dizem que é espetacular, mas só eu sei o quanto é limitado... Ter um bom preparo físico, dar uns dribles nas partidas, fazer uns golzinhos mixurucas...

Repórter – E você acha que é pouco? Você dá dribles que nem o Pelé; faz gols geniais!

P. F. – Por favor, não ofende o Pelé. Eu vi vários vídeos dele e ele sim é que era genial. Sem contar que ele jogava contra zagueiros de verdade.

Repórter – Como assim?

P. F. – É muito fácil jogar contra os zagueiros de hoje em dia. A grande maioria é só força física e correria. Você conhece algum bom zagueiro que ganhe um ótimo salário? É muito raro. E depois, fazer gols, por favor!, é a coisa mais simples. Na frente de uma goleira enorme daquelas, quem erra gol tem que ser muito ruim. E olha que tem muito jogador que só sabe errar chute!

Repórter – Mas você não está contente com o seu salário?

P. F. – E você conhece as cláusulas do meu contrato? Eu não tenho nem a opção de parar de jogar ou terei de pagar uma multa astronômica. E dos três milhões, uma parte vai pro meu empresário, outra vai para não sei qual fundação e eu ainda fico com dinheiro demais. Não é justo eu ganhar tanto só para jogar futebol quando tem tanta gente passando fome e esmolando nas ruas... Você sabe quanto ganha um professor no Brasil de hoje? Mas fui obrigado a aceitar o contrato, porque o patrocinador insistia e o clube pode deduzir grande parte e todos saem ganhando, menos eu, que perco a minha liberdade.

Repórter – Mas, ganhando tanto você ainda fala em liberdade?

P. F. – A liberdade é essencial para o ser humano. Para todos nós. É claro que liberdade sem dinheiro nada adianta em nosso mundo. É uma pena que seja assim. Mas eu queria tanto completar a minha educação, fazer um curso superior, me dedicar a alguma coisa que também mexesse com o cérebro e não só com o corpo.

Repórter – Mas isso é inédito! Você, um jogador idolatrado pelo Brasil inteiro, pensar em largar o futebol e fazer um curso superior! Você tem certeza de que não está cansado demais devido à partida exaustiva e, por isso, está falando dessa maneira, Prezado Futebolista?

P. F. – Cansado eu até estou um pouco, mas só um pouco, porque eu só corri o suficiente até fazer aquele gol de impedimento e depois me poupei. Hoje à noite tem festa...

Repórter – Deverá ser uma festa linda com a família, os amigos, no recesso do seu lar...

P. F. Na verdade, não. Como eu ainda não sou casado, vou para um baile funk, beber umas.

Repórter – Você quer dizer beber uns refrigerantes, porque você é um atleta e não pode beber álcool.

P. F. – Não, beber umas mesmo. E talvez fumar um baseado, cheirar uma coca, o que vier...

Repórter – Você deve estar brincando!...

P. F. – Não. Sério. Até vamos em grupo, com nossos seguranças e empresários, que vão conseguir pra nós umas minas. Já está tudo combinado.

Repórter – Você quer dizer que vai haver um churrasco para todo o time, não é?

P. F. No morro. O churrasco vem depois. Ou durante. Conhecemos alguns amigos trafi...

Repórter – Obrigado, Prezado Futebolista, o nosso tempo está acabando. Felicitações pela vitória.

P. F. – Espere aí! Eu queria lhe convidar para a festa. Se você não gosta de pó, pode ficar apenas na cerveja, não tem importância. E se não gosta de mulher, eu lhe consigo... Espere aí!


Texto extraído do Blog do Fausto Brignol – HTTP://fausto-diogenes,blogspot.com


• Jornalista e escritor


A Copa (não) é nossa

* Por Frei Betto

Adital
Para bem funcionar, um país precisa de regras. Se carece de leis e de quem zele por elas, vale a anarquia. O Brasil possui mais leis que população. Em princípio, nenhuma delas pode contrariar a lei maior – a Constituição. Só em princípio. Na prática, e na Copa, a teoria é outra.
Diante do megaevento da bola, tudo se enrola. A legislação corre o risco de ser escanteada e, se acontecer, empresas associadas à Fifa ficarão isentas de pagar impostos.
A lei da responsabilidade fiscal, que limita o endividamento, será flexibilizada para facilitar as obras destinadas à Copa e às Olimpíadas. Como enfatiza o professor Carlos Vainer, especialista em planejamento urbano, um município poderá se endividar para construir um estádio. Não para efetuar obras de saneamento...
A Fifa é um cassino. Num cassino, muitos jogam, poucos ganham. Quem jamais perde é o dono do cassino. Assim funciona a Fifa, que se interessa mais por lucro que por esporte. Por isso desembarcou no Brasil com a sua tropa de choque para obrigar o governo a esquecer leis e costumes.
A Fifa quer proibir, durante a Copa, a comercialização de qualquer produto num raio de 2 km em torno dos estádios. Excetos mercadorias vendidas pelas empresas associadas a ela. Fica entendido: comércio local, portas fechadas. Camelôs e ambulantes, polícia neles!
Abram alas á Fifa! Cerca de 170 mil pessoas serão removidas de suas moradias para que se construam os estádios. E quem garante que serão devidamente indenizadas?
A Fifa quer o povão longe da Copa. Ele que se contente em acompanhá-la pela TV. Entrar nos estádios será privilégio da elite, dos estrangeiros e dos que tiverem cacife para comprar ingressos em mãos de cambistas. Aliás, boa parte dos ingressos será vendida antecipadamente na Europa.
A Fifa quer impedir o direito à meia-entrada. Estudantes e idosos, fora! E nada de entrar nos estádios com as empadas da vovó ou a merenda dietética recomendada por seu médico. Até água será proibido.
Todos serão revistados na entrada. Só uma empresa de fast food poderá vender seus produtos nos estádios. E a proibição de bebidas alcoólicas nos estádios, que vigora hoje no Brasil, será quebrada em prol da marca de uma cerveja made in usa.
Comenta o prestigioso jornal Le Monde Diplomatique: "A recepção de um megaevento esportivo como esse autoriza também megaviolação de direitos, megaendividamento público e megairregularidades.”
A Fifa quer, simplesmente, suspender, durante a Copa, a vigência do Estatuto do Torcedor, do Estatuto do Idoso e do Código de Defesa do Consumidor. Todas essas propostas ilegais estão contidas no Projeto de lei 2.330/2011, que se encontra no Congresso. Caso não seja aprovado, o Planalto poderá efetivá-las via medidas provisórias.
Se você fizer uma camiseta com os dizeres "Copa 2014”, cuidado. A Fifa já solicitou ao Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) o registro de mais de mil itens, entre os quais o numeral "2014”.
(Não) durmam com um barulho deste: a Fifa quer instituir tribunais de exceção durante a Copa. Sanções relacionadas à venda de produtos, uso de ingressos e publicidade. No projeto de lei acima citado, o artigo 37 permite criar juizados especiais, varas, turmas e câmaras especializadas para causas vinculadas aos eventos. Uma Justiça paralela!
Na África do Sul, foram criados 56 Tribunais Especiais da Copa. O furto de uma máquina fotográfica mereceu 15 anos de prisão! E mais: se houver danos ou prejuízo à Fifa, a culpa e o ônus são da União. Ou seja, o Estado brasileiro passa a ser o fiador da FIFA em seus negócios particulares.
É hora de as torcidas organizadas e os movimentos sociais porem a bola no chão e chutar em gol. Pressionar o Congresso e impedir a aprovação da lei que deixa a legislação brasileira no banco de reservas. Caso contrário, o torcedor brasileiro vai ter que se resignar a torcer pela TV.


• Escritor, autor de "A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros.

domingo, 27 de novembro de 2011







Leia nesta edição:

Editorial – Os campeões de vendas.

Coluna Ladeira da Memória – Pedro J. Bondaczuk, crônica “Moderno ou eterno”..

Coluna Direto do Arquivo – Nei Duclós, crônica “O vigia do mar”.

Coluna Clássicos – Josué Montello, conto. “O combate”.

Coluna Porta Aberta – Giovani Roehrs Gelati, artigo “Coisas do passado”..

Coluna Porta Aberta – Emir Sader, artigo “A natureza da crise atual”.


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Os campeões de vendas

O levantamento para se apurar os livros mais vendidos da semana, e apenas em determinada região, já é tarefa gigantesca. Implica em estafante pesquisa junto a dezenas, se não centenas de livrarias. Imaginem país afora! E imaginem, mais ainda, através do mundo!!!

Por mais meticuloso que esse tipo de levantamento seja, é impossível garantir sua exatidão. Ainda assim, essas relações são úteis, por fornecerem um relativo parâmetro, até que razoável, às editoras e aos autores envolvidos. Desses “rankings”, aprecio, particularmente, o elaborado semanalmente pela revista “Veja”, que acompanho há anos. Infelizmente neles nunca constaram meus livros “Lance fatal” e “Cronos e Narciso”. Todavia... não perco as esperanças de algum dia testemunhar esse “milagre”.

Um leitor pede-me algo que raia ao “miraculoso” e que considero impossível. Quer saber se posso pesquisar (e, claro, divulgar os resultados) sobre quais são os livros mais vendidos em todos os tempos e... no mundo! Bem, esses levantamentos semanais, e só no País, são relativamente recentes. Digamos que tenham um século (embora não creia que tenham tudo isso). No mundo, não sei se já foram feitos. Duvido que o sejam.
Ademais, temos que considerar como esse objeto tão útil e necessário (o livro) era considerado num passado ainda recente. Houve tempo, não tão remoto, em que em torno de 70% da humanidade era analfabeta. Além disso, pouquíssimas pessoas tinham acesso a livros que, até meados do século XIII da nossa era – quando da invenção dos tipos móveis, por parte do alemão Johann Guttenberg (de quem dizem que era, entre outras coisas, grande apreciador de vinhos) – era muito diferente do que hoje conhecemos. Não era impresso, óbvio (pois a imprensa não havia sido inventada), mas copiado, exemplar por exemplar, a mão. Por isso... as “tiragens” eram limitadíssimas, de somente algumas dezenas, quando tanto.

Ainda assim, não vou decepcionar (pelo menos não por completo), o leitor que me fez a solicitação, que me parece, na verdade, um capcioso desafio (e claro que é!). Para tanto, porém, recorro à enciclopédia eletrônica Wikipédia, que elaborou uma relação dos 11 livros “provavelmente” mais vendidos em todos os tempos. Claro que excluiu algumas obras que devem ser consideradas “hors concours”.

A principal exclusão, sem a menor dúvida, foi a Bíblia (na verdade uma biblioteca inteira enfeixada em um único volume), que, como se estima, já teria vendido seis bilhões de exemplares mundo afora. Ou seja, quase uma unidade para cada habitante vivo do Planeta (a população mundial atual já passou da casa dos sete bilhões). Outros livros da mesma natureza também não foram considerados, como são os casos do Alcorão e do Livro dos Mórmons, por exemplo.

A propósito dessa relação, baseada na Wikipédia, menciono (antes que me acusem de plágio), o excelente trabalho do site “Livros e Pessoas” (WWW.livrosepessoas.com), com base, também, na citada enciclopédia eletrônica. As cifras mencionadas são meras estimativas (claro) e podem ou estar “infladas” ou “subestimadas”.

Ademais, muitas dessas obras foram reeditadas e continuam vendendo, mundo afora, sem cessar. Portanto, não esperem exatidão, que neste caso, ouso assegurar sem medo de equívoco: é impossível. Todavia, sem mais delongas, vamos ao referido “ranking”. Oportunamente, pretendo tecer ligeiros comentários sobre cada um dos livros citados.

A relação dos “mais vendidos de todos os tempos”, elaborada pela Wikipédia (e reproduzida e comentada pelo site “Livros e Pessoas”) é esta, de trás para a frente:

11º) “O Alquimista” – Paulo Coelho – 1988 – teria vendido mais de 65 milhões de exemplares.
10º) “O Apanhador no Campo de Centeio” – J. D. Salinger – 1951 – mais de 65 milhões de exemplares.
9º) “O Código Da Vinci” – Dan Brown – 2003 – mais de 80 milhões de exemplares.
8º) “O Pequeno Príncipe” – Antoine de Saint-Exupery – 1943 – mais de 80 milhões de exemplares.
7º) “Ela a Feiticeira” - Henry Rider Haggar – 1887 – mais de 83 milhões de exemplares.
6º) “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa” – C. S. Lewis – 1950 – mais de 85 milhões de exemplares.
5º) “O Caso dos Dez Negrinhos” – Agatha Christie – 1939 – mais de 100 milhões de exemplares.
4º) “O Sonho da Câmara Vermelha” – Cao Xueqin – Século XVIII – mais de 100 milhões de cópias.
3º) “O Hobbit – J. R. R. Tolkien – 1937 – mais de 100 milhões de exemplares.
2º) “O Senhor dos Anéis” – J. R. R. Tolkien – 1955 – mais de 150 milhões de exemplares.
1º) “Um conto de Duas Cidades” – Charles Dickens – 1859 – mais de 200 milhões de exemplares.

Que esta relação seja, de fato, ao menos minimamente próxima da real, nem Wikipédia, nem o site “Livros e Pessoas” e muitíssimamente eu podemos assegurar. Coincidentemente, no entanto, tenho, em minha caótica biblioteca, todos esses onze livros, os quais já li e alguns já reli mais de uma vez.

Considere, pois, este “ranking” como ele deve ser considerado. Ou seja, como mera especulação ou, se assim o desejar, como simples curiosidade, dessas que constam em almanaques, mas jamais como informação jornalística, pela total, completa e absoluta impossibilidade da devida comprovação. De qualquer maneira, está atendida a solicitação do leitor, que me pareceu desde o primeiro momento (e foi) um desafio à minha capacidade de pesquisa (que sequer é tão grande como ele certamente supõe).

Boa leitura.

O Editor.



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