Ser
intelectual na era dos blogs
*
Por Emir Sader
Intelectual
de esquerda escrevendo no Facebook e no Twitter? O que é isso?
Na
nossa formação política aprendíamos a diferença entre agitação
e propaganda. Na agitação se difundem poucas ideias para muitos. Na
propaganda, muitas ideias para poucos. Esta seria para a vanguarda,
para os mais formados. Aquela, para a massa da população.
De
repente, na era da internet, as alternativas são entre os 240 toques
do Twitter ou os espaços maiores do Facebook. O que significa isso?
Que possibilidades dão para a socialização de informações
sonegadas pela mídia e para fazer a luta de ideias?
É
verdade que não são apenas essas as alternativas. Eu tenho Facebook
e Twitter, que já somam 125 mil seguidores, mas também escrevo
artigos para o Brasil 247, para a Rede Brasil Atual, para o Blog da Boitempo.
Além de que meus artigos são regularmente republicados em portais
como o Pagina
12,
da Argentina, no La
Jornada,
do México, no Publico,
da Espanha, no El
Telegrafo,
do Equador, entre outros. E publico livros de autoria própria e
organizo livros coletivos, claro. Portanto pode-se combinar
diferentes formas de expressão das mesmas ideias em formatos
diferentes.
Brecht
dizia, nas suas dificuldades para dizer a verdade, que a última e a
maior delas era exatamente fazer chegar a verdade a quem mais precisa
da verdade. Portanto não basta uma boa analise. É preciso que ela
seja expressa em linguagem compreensível para a grande maioria. Que
ela encontre os meios para chegar a essa grande maioria.
A
internet é hoje o melhor meio para isso. Expressar grandes verdades
em 240 caracteres? Claro que é possível! Expressá-las no Facebook?
Claro que é possível.
Intelectual
que se resigne a ficar em casa, lendo jornais, escrevendo, de vez em
quando, algum artigo, publicado para poucas pessoas, ou livros
ilegíveis, para anunciar a catástrofe à qual caminha a humanidade,
não existe. Suas ideias não circulam socialmente. Ele fala para
seus pares.
Marxismo
não combina com elitismo e com aristocratismo. A internet – entre
Facebook, Twitter, Blogs – é um ótimo teste para se saber se as
ideias que temos são traduzíveis em formatos e em linguagens
simples, se conseguem chegar a um mundão de pessoas, se chegam aos
jovens, se podem se transformar em força material.
Triste
do intelectual que se fecha a esse mundo, com suas verdades, seus
pares, sua vida acadêmica, suas certezas. Faz do marxismo letra
morta, o contrario do que queria Marx e do que pede a realidade.
*Emir
Sader é sociólogo, cientista político e colunista do Brasil 247,
entre outros espaços da internet.
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