segunda-feira, 31 de março de 2014

Literário: Um blog que pensa

LINHA DO TEMPO: 8 anos e quatro dias de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Apropriação de personagem.

Coluna Em Verso e Prosa – Núbia Araujo Nonato do Amaral, poema “Talvez?”..

Coluna Lira de Sete Cordas – Talis Andrade, poema “O negro crucificado”.

Coluna Pássaros da mesma gaiola – Daniel Santos, crônica, “Estranho no ninho”.

Coluna Porta Aberta – Carmo Vasconcelos, poema, “Mil vezes”.

Coluna Porta Aberta – Aleilton Fonseca, crônica “Inventário de perdas”.


@@@

Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária” – José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com  
“Aprendizagem pelo Avesso” – Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
 “Cronos e Narciso” – Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal” – Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.



  
Apropriação de personagem

O que você acha, esclarecido leitor, da decisão de alguns escritores de “assumirem” personagens consagrados por outros, fazendo com que vivam enredos completamente seus, á revelia dos seus verdadeiros criadores? É verdade que não são muitos, mas eles existem e até fazem sucesso. Da minha parte, confesso, ainda não tenho idéia completamente formada a respeito. Tomei ciência desse procedimento há somente uns seis meses, se tanto. E fiquei bastante confuso. De qualquer forma, considero  imensa ousadia, enorme desafio que tanto pode consagrar quem age assim, quanto queimá-lo de vez. E nem estou sequer pensando em questões legais, como em direitos autorais ou possíveis outras minúcias jurídicas.

Ah, vocês querem um caso específico? Pois lá vai. Refiro-me  a William Boyd, que no seu romance “Solo”, lançado, se não me falha a memória em fins do ano passado em várias partes do mundo (notadamente da Europa) em fins do ano passado, chega ao Brasil, com tradução de Cássio de Arantes Leite, publicado pela Editora Alfaguerra. O ousado escritor “revive” ninguém menos do que 007, famoso personagem criado em 1953 por Ian Fleming, agente do MI-6, o serviço secreto inglês. Diga-se, a seu favor, que seu estilo é bastante semelhante ao célebre escritor que lhe serviu de paradigma. E que a aventura que faz o agente viver é completamente original, criação toda sua, que não lembra, nem de longe, nenhuma das histórias escritas por Ian Fleming.

Bem, no que se refere à questão jurídica, digamos, de alguma acusação de plágio ou de apropriação indébita, suponho que William Boyd não deva se preocupar e que não enfrentará nenhum problema. Por que essa minha convicção? Porque foi convidado a escrever seu livro diretamente pelos legítimos detentores dos direitos autorais da obra de Ian Fleming. Aliás, ele nem foi o primeiro a receber tal convite (ou desafio): o de reviver o 007. Teve dois antecessores: Sebastian Faulks, que escreveu o livro “A essência do mal” (lançado no Brasil, em 2008, pela Editora Record) e Jeffery Deaver, autor de “Carte Blanche” (inédito entre nós).

Boyd, todavia, inovou, no sentido de se aproximar mais do verdadeiro criador do 007. Ao contrário de seus dois antecessores, que situaram, cronologicamente, seus enredos no tempo atual, ou seja, décadas depois da morte de Ian Fleming, ele fez com que em “Solo”, James Bond vivesse sua aventura num tempo apenas cinco anos posterior à morte de seu legítimo criador, ou seja, em 1969, portanto, no contexto da Guerra Fria, que então estava em pleno andamento e ameaçando esquentar, se não ferver. A história que engendrou se passa na África, em um país fictício (Zanzarim), mas com todas as características dos países africanos da época, com seus problemas e contradições.

Essa decisão de fazer seu 007 atuar no continente negro, pelo menos para mim, tem explicação até óbvia. Ocorre que, apesar de ostentar cidadania britânica, William Boyd tem muito a ver com essa região. Afinal, nasceu em Accra, capital de Gana (em 7 de março de 1952) e passou a maior parte da infância na Nigéria. Alguns de seus livros têm como cenários o continente negro, principalmente “Um homem bom da África” (romance com o qual conquistou dois importantes prêmios literários: o Whitbread e o Sommerset Maugham) e “A praia de Brazzaville”.

Em entrevista que deu, por telefone, ao jornal “O Estado de São Paulo” (que publicou excelente matéria sobre “Solo”), o escritor explicou sua decisão de escolher a época que escolheu para as peripécias que engendrou para o 007. Disse: “Fleming escreveu 12 aventuras de Bond, entre 1953 e 1964, quando morreu, Um romance por ano. Reli todos os livros em ordem cronológica. Assim, percebi que James Bond é um homem daquela época, anos 1950 e 1960. E isso deveria ser respeitado”. E Boyd respeitou.

Ressalte-se que quando Ian Fleming criou James Bond, o escritor que o “reviveu” tinha somente um ano de idade. Ele explicou, ainda, na citada entrevista: “Ao escrever uma nova aventura sobre o agente da rainha, eu jamais poderia incluir telefone celular, GPS e outras modernidades tecnológicass que marcam os filmes atuais – logicamente são interessantes, mas cada vez mais distantes do universo criado por Fleming, marcado pela Guerra Fria e suas implicações. Daí eu ter escolhido o ano de 1969, quando a sociedade estava mudando, o que afeta o comportamento do agente”. Faz todo sentido.

Fico imaginando, cá com meus botões, se essa moda pega. Não tardará, por exemplo, para termos de volta o Sherlock Holmes “cover”, de Arthur Conan Doyle, ou o Inspetor Maigret, de Agatha Christie, entre outros, vivendo novas e mirabolantes peripécias. Ou, quem sabe, algum escritor brasileiro, mais ousado, resolva ressuscitar Brás Cubas, ou Quincas Borba, ou ambos ou sabe-se lá quem. Talvez Gabriela, ou Tieta do Agreste, de Jorge Amado. Nesses casos, suspeito, Machado de Assis e Jorge Amado talvez se revirem em seus túmulos. Reitero: não tenho opinião formada (ainda) a esse propósito.

Boa leitura.


O Editor

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.                  
Talvez?

* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral

Sou simples demais
básica demais.
Não gosto de rapapés
nem de salamaleques.
Trato a todos com distinção
mas conservo no olhar
um brilho de não sei o quê,
um jeito de não sei de onde.
Enxerga quem pode.
Alcança quem vê.
Se arrisque, talvez seja
pra você.


 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário
O negro crucificado

* Por Talis Andrade

No Novo Mundo descoberto
como oportunidade de fuga
o que existia de belo
não tardou devastado

A floresta sagrada
pelas patas dos cavalos
pela força do machado
pelo fogo das queimadas
não tardou transformada
em campos de pastagem

O monótono uniforme verde
dos infinitos campos
da monocultura esconde
silenciosas sepulturas
em que os colonos dormem
invejado sono

Ilimitados campos
em que os índios
foram caçados
e escalpados

Ilimitados campos
em que os negros
foram queimados
nas cruzes
da Ku Klux Klan
Na terra ensanguentada
como soterrar com as cinzas
os antigos ódios
as antigas vítimas
como não lembrar


* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).


Estranho no ninho


* Por Daniel Santos



Houve antecedentes, sim. Por exemplo, a noite em que despertou esfaimado, e esfaimado voltou à cama. “Falta comida”, alegou a mãe, embora ele soubesse que havia ainda na despensa muito de comer.

E assim foi a vida inteira. Não só a mãe, mas também pai e irmãos excluíam-no, mais por indiferença do que por agressividade. Era como se não reconhecessem nele um semelhante, o que mais tarde evidenciou-se.

De fato, com o tempo, percebeu que seu rosto arredondava-se, enquanto o dos demais estreitava-se como um focinho. Pior, ao contrário dele, glabro, sua família cobria-se de pêlos por todo o corpo, hirsuta!

Entre si, emitiam guinchos como roedores. Algo que constatou na noite em que divertidas risadinhas atraíram-no aos fundos da casa. Lá, a  desconcertante revelação: a família atirava pedacinhos de pão a ... ratos!

Aos ratos, alimento e carinho. A ele, olhares compreensivos que diziam “algum dia, você teria de saber”. E não o escorraçaram. Mas, daí em diante, a porta ficou sempre aberta para quando decidisse partir.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.




Mil vezes

* Por Carmo Vasconcelos

Mil vezes nascerei criança pura
Nua de memórias e de linhos
E às cegas plos abrolhos dos caminhos
De novo me farei à estrada escura

Mil vezes feita verme a impureza
Sugará de minh’alma a perfeição
Até que certo dia um clarão
Me faça vislumbrar sua torpeza

Mil vezes travarei luta obscura
Contra a vil impureza traiçoeira
Que na carne me tenta e me tortura

Só quando vir do corpo a impostura
Alcançarei a estrada derradeira
E pousarei sem volta… na Altura

***
In "Sonetos Escolhidos" 

* Poetisa portuguesa


Inventário de perdas

* Por Aleilton Fonseca

O silêncio do delator, romance de José Nêumanne Pinto, retoma a linha ficcional do inventário político-ideológico da geração 60, no Brasil, que enfrentou a ditadura militar (1964-1985), respirou a arte pop e o cinema, embalou-se no rock-and-roll e na MPB, aplaudiu as barricadas estudantis parisienses e adotou os comportamentos da contracultura. Coube à turma mais intelectualizada dessa geração - jornalistas, escritores, artistas, professores, militantes políticos - escrever, discutir e viver a memória daquela época ao mesmo tempo rica, confusa e conturbada. Na década de 80, com a abertura política, as livrarias foram inundadas por dezenas de livros de depoimentos, poesia e ficção, escritos por autores oriundos dos grupos que sofreram as agruras dos anos de chumbo da ditadura. Mas nenhum deles tornou-se o livro definitivo daquela geração.

O silêncio do delator conta a trajetória de João Miguel, um morto que fala sem peias durante todo o seu velório. Só o narrador tem acesso à consciência do defunto e inscreve sua fala no tecido ficcional. Nesta condição, João Miguel promete esclarecer a sua história e revelar os segredos de seus companheiros: ''Agora, sim, posso falar de nosso malogro''.

Nêumanne diferencia-se da maioria dos autores dessa temática. Ele adota uma estratégia francamente ficcional, ao dar o poder de fala a um morto, em pleno velório, fazendo-o dialogar com o narrador principal, espécie de moderador dos diversos discursos que contracenam ao longo do enredo. Ora, essa aplicação contemporânea do célebre procedimento machadiano, em Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), surte um excelente efeito operatório, abrindo espaço para discursos desabusados, versões e contradições, reflexões político-sociológicas e, sobretudo, observações metanarrativas. São divertidas e pertinentes as intromissões do morto na escrita do romance, ao fazer reparos e comentários jocosos e analisar detalhes, criticando a técnica do narrador principal.

A ironia e a auto-ironia dão tempero ao relato, pois permitem a relativização das verdades, dos ideais, das crenças e das ações individuais e coletivas. Os pretensos heróis da resistência político-cultural dos anos 60-70 riem de si e de suas fraquezas e limitações. Um riso angustiado, com uma ironia tragicômica, mas que compõe um quadro realista, sem idealizações anacrônicas.

Em certo sentido, João Miguel simboliza o alter-ego coletivo. Nele e com ele, estão mortos os ideais de sua geração. Já o narrador principal é a outra face desse alter-ego. Se o narrador-vivo ainda contemporiza com algumas idéias e situações, ao morto, despido de qualquer chance de ação, cabe as avaliações mais ferinas. Sua fala é o antídoto da má-consciência que, inadvertidamente, pode persistir nos discursos e atitudes dos demais, ainda comprometidos com as etiquetas e os interesses da vida.

Em O silêncio do delator, a alternância do foco narrativo é fundamental, pois cadencia a trama e equilibra o pêndulo entre a realidade e a ficção. O diálogo tenso, irônico e arrevesado dos narradores, o vivo e o morto, proporciona um debate duro e esclarecedor, traça o perfil ideológico e existencial das personagens, entremostra seus acertos e equívocos, perdas e ganhos, inconseqüências, veleidades e contradições.

Este romance é, sobretudo, um inventário de perdas: da inocência, da crença, do ideal, da certeza. As personagens persignam-se sobre o morto - símbolo do malogro. A morte expõe sua trajetória ao lado dos companheiros - e o seu silêncio delata o grande teatro vivido coletivamente por uma geração paradoxalmente vitoriosa na derrota.

José Nêumanne Pinto conduz bem a sua escrita, pois adota, com acerto, os procedimentos ficcionais que dão relevo aos fatos da realidade, elevando-os a um nível de complexidade e de significação para além dos registros documentais e jornalísticos. Trata-se de uma narrativa amarga e pessimista, mas escrita com ironia e humor desabusado, para desnudar a alma de uma geração que viveu intensamente seus ideais e suas frustrações, deixando marcas na história social e na cultura do século 20.

* Aleilton Fonseca é escritor, Doutor em Letras (USP), professor titular pleno da Universidade Estadual de Feira de Santana, membro da Academia de Letras da Bahia, da UBE-SP e do PEN Clube do Brasil.




domingo, 30 de março de 2014

Literário: Um blog que pensa

LINHA DO TEMPO: 8 anos e três dias de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Nosso maior desafio.

Coluna Ladeira da Memória – Pedro J. Bondaczuk, crônica “Segredos ao vento”

Coluna Direto do Arquivo – Marcos Alves, crônica, “Os pomares da minha infância”.

Coluna Clássicos – Charles Bukowski, poema, “Oh sim”.

Coluna Porta Aberta – Edir Araujo, crônica, “Deliciosos aborrecimentos do cotidiano amoroso”.

Coluna Porta Aberta – Mateus Modesto, crônica, “Escolha certa”.


@@@

Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com “Aprendizagem pelo Avesso” Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
 “Cronos e Narciso” Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal”Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br



Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk.As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Nosso maior desafio

O maior desafio do escritor, mesmo que não se conscientize disso, é transformar – tendo por “ferramenta” apenas esse instrumento frágil e rústico, que é a palavra – a feiúra mais explícita em suprema beleza. O contrário é facílimo e não envolve maior (ou nenhuma) complexidade. Ademais, essa transformação precisa guardar verossimilhança, ser factível e lógica, para que seja crível. Poucos conseguem essa façanha, notadamente na ficção. Praticamente todo romance, conto, novela ou mesmo peça teatral e roteiro de cinema, trata do confronto multimilenar do mal com o bem, do egoísmo com a solidariedade, do belo com o feio.

A fórmula é sempre, praticamente, a mesma, embora as circunstâncias e os desfechos sejam diferentes  Todo enredo tem um vilão, que apronta poucas e boas para os heróis da história – via de regra um casal que teima por separar – mas que, no final das contas, após superar mil e uma armadilhas e tramóias, acabam por triunfar e ser “felizes para sempre”. Óbvio que a vida raramente é assim. E nela duas palavras não cabem: “nunca” e “sempre”. O autor tem o cuidado (salvo uma ou outra exceção) de urdir um destino tenebroso para o vilão, punindo-o de alguma forma (ou segregando-o da comunidade, ou fazendo com que seja preso, ou matando-o no final, isso varia).

Há quem veja beleza nessas histórias. Também vejo, mas somente em algumas, nas que guardam verossimilhança. Vejo em minha atividade (e em mim  mesmo, óbvio) enorme contradição. O escritor (e, por extensão, qualquer artista) tem como meta suprema descrever, da forma melhor que consiga, (ou, o que é mais difícil, criar) beleza. No entanto, esta raramente freqüenta suas obras e, quando se faz presente, é apenas incidentalmente. Prevalecem, invariavelmente, a feiúra, a deformidade (sobretudo a moral), a violência e a maldade. Será que a humanidade está perdendo, não somente o senso ético (este cada vez menor), mas também o estético? O que aconteceria ao mundo caso isso, desgraçadamente, viesse a se verificar?        

Otto Maria Carpeaux tratou dessa possibilidade, em um instigante ensaio, intitulado “A idéia de universidade e as idéias das classes médias”, publicado no livro “A cinza do Purgatório”. Escreveu: “Poderia chegar o dia em que ninguém compreenderia mais as fórmulas nem os poemas; em que os quadros de Rembrandt seriam pedaços de telas e as partituras de Beethoven farrapos de papel, dia de barbaria, em que a historia humana se transformaria, pela sucessão de desgraças, num formigueiro mal organizado. E este dia talvez já esteja mais próximo do que realmente pensamos”  Deus que nos livre disso ocorrer. O que já é feio, se tornaria horrível!

Escrever sobre beleza – ou tentando descrever a existente ou, o que muitíssimo mais complexo, tentando criá-la – é tarefa de gigantes estéticos e a maioria foge desse desafio, até inconscientemente. Por que? Porque para identificá-la, descrevê-la ou criá-la precisamos tê-la entranhada em nós. O filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson fez a seguinte constatação: “Podemos viajar por todo o mundo em busca do que é belo, mas se já não o trouxermos conosco, nunca o encontraremos”. Há pessoas, e não são poucas, que são condicionadas desde tenra infância, por ambientes violentos e horrorosos em que são criadas, a enxergarem feiúra em tudo e, em contrapartida, a desconfiarem da beleza e tentarem destruí-la. Conheço muitas, mas muitas mesmo com esse tipo de comportamento. Duvido que o leitor também não conheça alguém assim. Elas estão por toda a parte.

Ademais, a beleza é sumamente efêmera, eventual, episódica e passageira. Já a feiúra, salvo raríssimas exceções, é permanente e definitiva. E tende a acentuar-se à medida que o tempo passa. Ou não é o que ocorre? Uma mulher belíssima, enquanto menina, adolescente ou na maturidade, por exemplo, em poucos anos, por uma série de razões, mas principalmente as biológicas, irá envelhecer, murchar e, enfim, enfeiar. O processo contrário, todavia, nunca ocorre. A feia não vai se tornando bonita à medida que o tempo passa, até chegar à glória da suprema beleza. Há flores tão belas que diante delas chegamos a perder o fôlego, tamanho é o prazer estético que nos despertam e tão grande é a nossa emoção. Contudo, num piscar de olhos, perdem o viço, murcham, secam e morrem. Até paisagens de extrema beleza podem se degradar pela ação dos elementos ou, o que é mais comum, pela atitude estúpida do homem.

Os escritores, não raro, fogem do belo por este até prescindir de sua intervenção para conservar essa característica. Foi o que William Shakespeare constatou, quando escreveu: “Uma coisa bela persuade por si mesma, sem necessidade de um orador”. E estava errado? Claro que não! Daí minha convicção de que o maior desafio do escritor (fica implícito que também o é de qualquer outro artista) é transformar a feiúra em beleza, mas com verossimilhança e sem descambar para a pieguice.

A esse propósito, a declaração que mais me impressionou é essa, do escritor Markus Susak, colocada na boca de um dos personagens do marcante romance (que recomendo, sem pestanejar) “A menina que roubava livros: “Estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiúra e sua beleza e me pergunto: como uma coisa pode ser as duas?”. Sim, como?Apesar dos pesares, concordo, e convictamente, com  Fedor Dostoievski, que garantiu: “A beleza salvará o mundo!!!!”

Boa leitura.


O Editor

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.        

Segredos ao vento

Por Pedro J. Bondaczuk



A alma não tem segredo que a conduta não revele”, diz conhecido adágio popular. Nossos atos, por mais que tentemos dissimular, revelam, ostensiva ou veladamente, nossas idéias, pensamentos e sentimentos, mesmo os mais secretos, aqueles que precisamos, queremos e nos empenhamos em esconder do mundo. Há fraquezas nossas que não podemos revelar, por nos deixarem vulneráveis. Há sentimentos que convém guardarmos apenas para nós, por serem lesivos à moral e aos bons costumes. E há fatos que testemunhamos e sobre os quais precisamos manter a boca fechada, por envolverem sérios riscos à nossa integridade física ou à de terceiros, caso os venhamos divulgar.

Mas é possível manter algum segredo para sempre? Não digo que haja absoluta impossibilidade, mas que é difícil, disso não tenho a menor dúvida. Países despendem, por exemplo, fortunas imensas para manter serviços secretos, cuja missão básica é impedir que informações estratégicas, que não possam ser reveladas em nenhuma circunstância, permaneçam sigilosas. Em contrapartida, contam com aparatos de espionagem para bisbilhotar o que seus inimigos (ostensivos ou potenciais) e até supostos aliados tentam esconder. E estes, claro, agem de idêntica forma. Mas volto à pergunta anterior: é possível manter algum segredo para sempre?

Talvez a resposta seja positiva se este for do conhecimento de uma única pessoa. E se esta se esquecer dele e não o revelar a absolutamente ninguém, nem mesmo àquele em que deposite irrestrita confiança. E, ainda assim, não há total segurança de que não venha, por qualquer circunstância que fuja ao seu controle, a público.

A esse propósito, há uma conhecida fábula grega, que atravessou milênios e continua mais atual do que nunca. Tem como personagem o trapalhão rei de Bromionte, na Macedônia, norte da Grécia, Midas, aquele que por obra e graça de Dionísio, deus da alegria e do prazer, tinha o poder de transformar em ouro tudo o que tocasse e que, por causa do atendimento desse insensato desejo, quase morreu de fome.

Em certa ocasião, Apolo foi desafiado pelo sátiro Marsias a provar que era o maior músico daquele tempo. Conversa vai, conversa vem; provocação de um lado, réplica de outro e os dois resolveram partir para um tira-teima público. Fariam uma grande apresentação e ambos acreditavam que ao cabo do desafio, ficaria estabelecido, de uma vez por todas, qual dos dois, de fato, era o melhor.

Para compor o júri, foram convocados os maiores conhecedores da arte musical de então. E entre os jurados, estava Midas, que havia sido aluno do próprio Orfeu e que gozava de reputação de grande conhecedor do ofício. Feitas as apresentações dos dois contendores, ficou claríssimo, até para o mais néscio dos néscios, que Apolo se saíra muito melhor do que Marsias. Todos os jurados concordaram com isso. Aliás, quase todos. Houve apenas um, e único, voto discordante. E sabem de quem? Isso mesmo, de Midas!

Os adversários voltaram a se apresentar mais uma, duas, cinco, dez vezes, pois cada um deles queria a unanimidade, para que jamais restasse a mínima dúvida a respeito. E em todas as apresentações, persistiu o voto discordante de Midas que, teimosamente, insistia em votar em Marsias. Convencidos de que não conseguiriam demover o teimoso rei de Bromionte do seu pouco inteligente voto, os jurados, enfim, declararam Apolo o vencedor. Mas sem a pretendida unanimidade.

O deus, todavia, resolveu punir o teimoso juiz. Fez com que as orelhas de Midas ficassem bem grandes, como as de burro, para que sempre se lembrasse da sua teimosia. Desesperado, o monarca buscou, a todo o custo, esconder a anomalia. Não a revelou para ninguém, nem para a rainha ou para os filhos. Deixou os cabelos crescerem de formas a encobrirem as orelhas. Mas um dia, teve que os cortar. Afinal, um monarca não poderia manter a aparência de um gorila selvagem para sempre. E o barbeiro, ao cortar os cabelos de Midas, descobriu o seu segredo.

Foi ameaçado de todas as formas. O arrogante rei, entre outras coisas, prometeu cortar-lhe a cabeça e executar toda a sua família caso alguém viesse a descobrir que tinha orelhas de burro. O barbeiro conservou, por algum tempo, absoluto sigilo. Mas isto o incomodava demais. Em duas ou três ocasiões, quase deixou escapar o que sabia. Conteve-se. Quando já não suportava mais guardar o segredo, porém, decidiu que o revelaria a quem não podia falar e se esqueceria daquilo que melhor seria nunca ter sabido.

O barbeiro dirigiu-se a um lugar isolado, perto do rio, cavou um buraco e desabafou: “o rei Midas tem orelhas de burro”. Depois, jogou terra por cima e voltou para casa, aliviado. Nunca mais pensou no fato. O tempo passou. No buraco, nasceu um caniço, ao lado de vários outros. O monarca acreditou que seu segredo permaneceria incógnito para sempre. Mas nunca mostrou as orelhas a ninguém, nem mesmo para a família. Era algo inconcebível na sua cabeça que alguém viesse a tomar conhecimento do seu defeito físico.

Todavia, o caniço, que nasceu no buraco do segredo, ao ser tocado pela brisa, começou a murmurar: “o rei Midas tem orelhas de burro”. Todos os outros da redondeza fizeram eco e repetiram a frase. O que era a princípio um quase inaudível murmúrio, depressa aumentou. Não tardou a virar um alarido e daí, um incontrolável clamor. A cidade inteira ouviu. É provável que até surdo tenha ouvido, tamanho foi o barulho. E em pouco tempo, o comentário em todo o reino era um só: sobre as orelhas de burro do rei. Todos riam – a princípio secretamente, mas depois, de forma escrachada – do desditoso Midas que, claro, caiu no absoluto ridículo. Pelo que se conclui que o povo tem absoluta razão quando afirma que “segredo muito encoberto é sempre sabido”. E como é!!! O desditoso rei de Bromionte que o diga!

* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk 



Os pomares da minha infância


* Por Marcos Alves


Desde garoto gostava de ficar imaginando histórias, envolto em pensamentos. O momento ideal era quando estava no ônibus, indo de uma cidade para outra. Havia algo de especial nisso. Era um descanso e um momento exclusivo. Mais parecia a caminho da lua em vez da ‘viagem” de pouco mais de 30 quilômetros entre a partida e a chegada.

Era bambuzal em torno do rio, casinhas nos morros, bois e cavalos pelo pasto. Gente humilde a olhar o ônibus com as mãos na testa para proteger do sol. A pele marcada pelo trabalho duro. Rostos de onde brotava uma força notada a cada aperto de mão. Os calos não tiram a doçura do coração dessa gente boa.

O tempo passava devagar e a vida tinha sabor de mexerica, jabuticaba, sopa quente no jantar e um suor teimoso na testa. Costumava ficar cansado ao fim do dia, depois de muita bola no campinho de terra, pique bandeirinha, idas e vindas atrás de açudes e rios no verão. Fogão à lenha no inverno. Foi assim entre a infância e o começo da adolescência, em uma cidade pequena do interior de Minas.

Andávamos sempre em grupo, alguns amigos iam embora para sempre, outros chegavam para ficar. No carnaval, improvisávamos uma batucada. Um belo dia um sujeito encasquetou de organizar o barulho da molecada. Com muita boa vontade e poucos recursos, saiu todo mundo em busca de latas de todos os tamanhos, caixas de madeira e outros objetos que junto com tamborins, agogôs e outros instrumentos de percussão davam um som da melhor qualidade.

Os ensaios eram noturnos, na porta de casa. O apito marcava os breques, paradinhas e “deixas” para os solos. Era a hora de mostrar habilidade com as baquetas e suingue, tarefa geralmente entregue aos melhores. Eu ficava de canto, tocando meu tamborim. Queríamos ser a escola de samba do bairro, já que não havíamos sido convidados por nenhuma das duas que existiam na pequena Paraguaçu dessa época. À medida que o carnaval se aproximava ensaiávamos com mais gana, e o som ficava redondinho.

Pena não haver imagens, fotos e as poucas gravações foram perdidas. Os ensaios geralmente terminavam com uma triunfal volta no quarteirão. As pessoas dançavam nas sacadas, saudavam-nos da janela. Poucos torciam o nariz, geralmente os mesmos que costumavam furar a bola da pelada ou chamar os fiscais do Juizado de Menores.

O maluco que inventou a escolinha de samba também incentivou-nos a montar um time de futebol. E não é que vingou? Em poucas semanas tínhamos um cronograma de treinos e amistosos marcados em várias cidades da redondeza. Íamos de Kombi, quase vinte garotos de chuteira na mão e sonhos de ser jogador profissional. Nenhum de nós chegou lá, mas isso não importa. Depois do jogo, a Kombi parava numa padaria ou lanchonete e era uma festa de salgados, refrigerantes e alguns cigarros.

Não tinha necessidade de sair dali. Não que me negasse a crescer, envelhecer. Não. Mas era feliz ali, daquele jeito. Meninos de bermuda e camiseta, meninos do interior. Moleques de rua sem fome – mesmo os menos favorecidos jamais vi pedirem dinheiro ou comida. Comiam na casa da gente, às vezes. Ou íamos todos buscar, para não dizer roubar, dos pomares fartos espalhados pela cidade. Os pomares da minha infância já não existem, mas o sabor e o cheiro permanecem em algum canto da minha alma.

* Marcos Alves é jornalista.
  
Oh sim

* Por Charles Bukowski

há coisas piores do que
estar só
mas costuma levar décadas
até que o percebamos
e frequentemente
quando o conseguimos
é demasiado tarde
e nada pior
do que
ser demasiado tarde.

 (Tradução de Tiago Nené)

Poeta, contista e romancista alemão, naturalizado norte-americano.


Deliciosos aborrecimentos do cotidiano amoroso.*

** Por Edir Araujo

Terminamos e fui direto para uma ducha de água fria. Quando voltei Martha me olhava de cara feia.

-O que foi? Não foi bom pra você? (Arguí, em tom de gracejo).
-Nunca mais faça isso. (Advertiu-me ela, zangada).
-O quê?
-Ir tomar banho depois que a gente acaba de fazer amor.
-O que tem isso? É só pra tirar o suor.
-Mas não quero que faça mais isso, tá bom? Dá impressão que tô suja, fedendo, doente, sei lá...
-Tira isso da cabeça, mozinho. Não é nada disso. Eu sempre tomo banho depois que a gente faz amor.
-Mas você sempre dá um tempo. A gente relaxa primeiro, conversamos. Dessa vez você saiu correndo pro chuveiro, como se tivesse transado com um bicho nojento.
-É o calor, estava suando em bicas, e o ar condicionado pifou, lembra?
-Não me venha com desculpas...
-Ah mozinho, para com isso. É coisa da sua cabeça.
-Você tem nojo de mim?
-Mas que pergunta é essa?
-Afonso, responda, você fica com nojo de mim depois que a gente termina?
-Mas é claro que não, mozinho. Ficou maluca?
-Vou ficar maluca se você fizer isso de novo.
-Não vamos brigar por banalidades, mozinho. (eu, tentando amenizar).
-Pra mim não é banalidade nenhuma. É muito sério. Isso me aborrece, e muito.
-Afonso, nunca faça mais isso, por favor!
-Tá bom, mozinho! Pode ficar tranquila, nunca mais faço isso. (Disse eu, tentando apaziguar, pois temia que o caldo engrossasse).  

Nisso ouvi a algazarra das nossas crianças atrás da porta. Era domingo de manhã e queriam ir ao parque como acertado anteriormente. Martha também ouviu e colamos nossos ouvidos na porta quando Juninho disse pra Verinha: “Papai e mamãe tão brigando.”

-“Por quê?” Perguntou Verinha. “
-“Não deu pra escutar direito, acho que a mamãe tá suja, fedendo, e o papai transou com um bicho nojento.
-“Cruz!” (Fez Verinha) “O quê que é transar?”
-“Também não sei...”

Caímos na risada, nos beijamos e partimos pro segundo tempo.

Detalhe: Não tomei mais banho naquele dia!


* Crônica extraída do livro de crônicas de Edir Araujo: "Afonso e Martha. (crônicas de casal)" página 5.

** Edir Araujo é poeta e escritor, autor dos livros "A Passagem dos Cometas" (romance psicológico),, "Gritos e Gemidos" (coletânea de poemas, contos e resenhas), "Fulana" (romance psicológico, inédito), "Afonso e Martha (crônicas de casal" (em construção).

Escolha certa

* Por Mateus Modesto


Tive medo. Não sei o que me deu, mas tive medo. Na verdade, não é medo. Eu apenas tinha receio de uma eventual resposta contrária à qual eu esperava. Porque pode haver. Por que não?

Eu pensei muito. Refleti bastante. Para ser sincero, o dia inteiro. Repensei, olhei por outros aspectos, supus uma possível reação negativa e como eu reagiria... eu estava preparado para tudo. Sempre estou preparado para tudo. Costumam dizer que eu estou sempre pronto. Eu rio de nervoso. Nem sempre estou pronto. Como ontem.

Cheguei cedo na casa de menina. De fulana. Esqueci o seu nome. Da minha namorada. Cheguei cedo... na verdade, cheguei tarde. Cheguei pouco antes do almoço. Por volta do meio-dia. Acredita que até agora eu ainda não compreendi direito a responsabilidade? E é muito grande, eu sei. Mas é uma sensação gostosa. Quando a vi com um sorriso no rosto, toda perfumada, arrumada, admirável, sabia que era a coisa certa. Sabia que queria aquilo. Eu a amo tanto. Mas imaginava que ela não quisesse.

Pensei, pensei e conversamos a respeito. Eu sabia que ela diria “não”, que mal nos conhecíamos. Um ano e meio é pouca coisa. Bom, depende do que seja. Mas em se tratando de relacionamento... se bem que nos dias de hoje, é pouco. Ao contrário, é muito. Vejo casais que terminam antes de começar. Interessante como o ser humano tem uma facilidade de trocar “um amor” por coisa alguma. “Tudo é lícito, mas nem tudo convém”.

Sem pensar muito, ela disse: “Sim”. Eu ponderei: “Não?”. Estava condicionado a ouvir “não” que nem atentei à resposta dela. “Eu disse sim”, retificou. Um sorriso apareceu no meu rosto. Um largo sorriso. Eu fiquei feliz. Para falar a verdade, ainda estou feliz. Contentíssimo. Bradando de alegria. Muitas pessoas talvez não entendam o meu desejo. Podem pensar que é precipitação, mas não. Desde que a conheci eu queria isso. Muito antes dela. E hoje vejo a oportunidade.

O alívio que eu tive foi enorme. Não a queria deixar. Ainda bem que vamos juntos. Espero ter feito a escolha certa. Eu fiz a escolha certa. Espanha é interessante, muito bonita, mas eu fico com o pacote para a Irlanda.

* Jornalista