segunda-feira, 31 de julho de 2017

Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Onze anos, quatro meses e três dias de existência.


Leia nesta edição:


Editorial – A brincadeira mais divertida.

Coluna Em Verso e Prosa – Núbia Araujo Nonato do Amaral, conto, “Transitoriedade”.

Coluna Lira de Sete Cordas – Talis Andrade, poema, “Reconciliação”.

Coluna Direto do Arquivo – José Luiz Grando, poema, “Revolta negra”.

Coluna Porta Aberta – Zemaria Pinto, poema, “Canção de amor de J. Sebastião”.

Coluna Porta Aberta – Rubem Costa, artigo, “À sombra de um acordo, ortografia”.

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Livros que recomendo:

Poestiagem – Poesia e metafísica em Wilbett Oliveira” (Fortuna crítica) – Organizado por Abrahão Costa Andrade, com ensaios de Ester Abreu Vieira de Oliveira, Geyme Lechmer Manes, Joel Cardoso, Joelson Souza, Levinélia Barbosa, Karina de Rezende T. Fleury, Pedro J. Bondaczuk e Rodrigo da Costa Araújo – Contato: opcaoeditora@gmail.com

Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com

A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Boneca de pano” - Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Águas de presságio”Sarah de Oliveira Passarella – Contato: contato@hortograph.com.br

Um dia como outro qualquer”Fernando Yanmar Narciso.

A sétima caverna”Harry Wiese – Contato: wiese@ibnet.com.br

Rosa Amarela”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Acariciando esperanças”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Cronos e Narciso” – Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br

Lance Fatal” – Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br



Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.



A brincadeira mais divertida


A criança que um dia fomos permanece dentro de nós enquanto vivermos. Sei que, ao fazer essa afirmativa, não disse nada de original, inteligente ou criativo e nem essa era a minha intenção. Isso já foi dito tantas vezes, por tantas e diferentes pessoas, que já se transformou em clichê. Todavia, como isso serve aos meus propósitos, no tema em que o convido a refletir comigo, uso-o sem nenhum constrangimento.

E por que me vali de uma afirmação tão surrada, constante e, sobretudo, óbvia? Para chamar a atenção para um comportamento amplamente disseminado mundo afora e não somente entre crianças e adolescentes, mas também (sinto-me tentado a dizer principalmente) entre adultos e pessoas idosas. Refiro-me às brincadeiras, características de ambientes que agrupem várias pessoas (trabalho, escola, clubes, círculos literários etc.).

São aquelas “caçoadas”, que se pretende inocentes, mas que, não raro (para não dizer sempre) escondem razoável dose de veneno. Se alguém está pensando que isso acontece apenas entre meninos ou adolescentes, é porque não observa o próprio comportamento e muito menos o que ocorre ao seu redor. Até em asilos de idosos isso acontece e sempre com a mesma conotação. Pretende-se que seja uma ação inocente, sem intenção alguma de ofender. Será?

Os apelidos não são outras coisas senão brincadeiras. O melhor método para eles “colarem”, o caminho mais seguro para que isso ocorra, é os apelidados se mostrarem incomodados com eles. Quanto mais ficam bravos com os epítetos que lhes são atribuídos, maior força esses ganham. Há pessoas que carregam apelidos de infância pelo resto da vida. Muitas sequer são conhecidas pelo nome verdadeiro, aquele que lhes foi atribuído pelos pais ao nascerem.

E experimente se rebelar contra alguma dessas “brincadeiras!” que fizerem com você, mesmo que sejam de notório péssimo gosto! O vilão da história não será, jamais, quem caçoou de você, mas você “que não sabe brincar”. Farão com que se sinta um estranho no ninho, o indesejável dos indesejáveis, apenas por tentar salvaguardar o amor próprio.

Diga com sinceridade: não é o que você vê (e talvez faça) amiúde nos ambientes que freqüenta? Não seja mentiroso e nem hipócrita, admita. É o comportamento mais comum que existe e, reitero, não importa a idade que as pessoas tenham. Claro, para que isso aconteça, é necessário que haja certo grau de intimidade no ambiente.

Você, certamente, não sairá pelos corredores de onde trabalha apelidando, a torto e a direito, o presidente da empresa da qual é empregado. Se o fizer, já sabe o que irá acontecer. Terá que preparar convenientemente os fundilhos das calças para receber um solene pontapé no traseiro e procurar urgentemente seu currículo para buscar novo emprego. Mas com os colegas de trabalho você brinca, e o tempo todo, e a brincadeira lhe parece ainda mais divertida se a vítima se chateia com ela.

Mesmo as caçoadas (aparentemente) mais inocentes escondem juízos de valores de quem brinca com você. Determinadas coisas, que as pessoas não teriam a menor coragem de dizer a sério, dizem-nas brincando. Se você já estiver acostumado com isso, engolirá a seco o que for dito a seu respeito e preparará, com certeza, a desforra, na mesma medida ou, se possível, com maior intensidade, mas no mesmo tom de “brincadeira”.

Tempos atrás, quando expus aos colegas de redação do jornal em que então trabalhava o meu programa diário de vida, sem tempo sequer para respirar, um deles se voltou para mim e disse, sorrindo: “Você é louco, Pedrão!”. Dissesse isso a sério, certamente eu o agarraria pelos colarinhos e lhe daria uns bons tapas, para aprender a se comportar e a não caluniar os outros. Mas não, ele disse “brincando”. Claro que dei um sorriso amarelo, embora desse a entender que ignorei essa observação, e retruquei-lhe na mesma moeda, chamando-o de vagabundo.

Para uma pessoa de brio, isso seria motivo mais do que suficiente para nos engalfinharmos, em selvagem troca de sopapos. Mas foi o que aconteceu? Claro que não! Fiz-lhe essa ofensa em tom de “brincadeira” e ficou o dito pelo não dito. Tudo terminou em barulhentas gargalhadas (para irritação do sisudo e irritado editor-chefe) no fumódromo do jornal, onde fazíamos uma pausa para suportar o restante da edição.

E esse comportamento não é recente. Não é coisa desta geração e nem das pelo menos dez que a antecederam. É antigo, antiqüíssimo, impossível de ter as origens determinadas. Tanto que o escritor George Bernard Shaw escreveu a respeito: “A minha maneira de brincar é dizer a verdade. É a brincadeira mais divertida do mundo”. Será que há alguém que não proceda assim? Se vocês conhecerem quem, por favor, apresentem-me essa raridade, que será personagem ideal para uma boa matéria de comportamento. Talvez receba, até mesmo, o troféu de “Santo do Ano”, quem sabe.


Boa leitura!


O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Transitoriedade


* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral


Desço da marinete com a garganta seca, as costas cheias de nós causados pelo desconforto. Nem me dou conta que a tardinha caiu feito manta de vó. Ajeito os pés dentro dos tênis novos, uma poeira vermelha tinge o branco da lona.

Sem opção, caminho na direção da praça onde mangueiras com suas folhas vermelhas cantam sons misturados e passarinhos se recolhem em algazarra.

O sino que já não existe, substituído por um disco que o imita, convoca os fiéis pra missa das seis. As flores, amontoadas num canteiro sem jeito, se entregam aos caprichos de raparigas mimadas, algumas jazem sem vida esquecidas num banco.

O cheiro da pipoca refresca minha memória, mas o vendedor é outro. O empório deu vez a uma casa de fama duvidosa, não há mais balas coloridas e nem o Sheik se espreguiçando em cima da sacaria.

Percebo que a cada passo que dou meus olhos embaçam e a garganta dói. O que mudou? Fui eu ou a cidade? Fui eu?
Ou essa bendita transitoriedade?

De repente ouço meu nome numa voz que reconheço. Corro para o seu ninho de braços pequenos, me encolho menino e mato a saudade sem dó.


* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário




Reconciliação


* Por Talis Andrade


Nenhum feito
tem proveito
que não há jeito
para o refeito
O nada é nada
quando se nada
contra a correnteza
Só e só
quando se olha
para o sol
que nos cega
Nua é nua
quando não se tem
a lua
Nua e crua
sem sol
sem lua
sem nada
só e cega
me renegas

* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).




Revolta negra


* Por José Luiz Grando


Pouco me importa
em que condição
me põem, ou se
escorneiem, de mim.
Não me importo
que despejem sobre mim
a maldição do racismo:
meu ser é superior

Tratam-me por negrinho
de Terceiro Mundo
subdesenvolvido,
sem alma.

Mas da dor eu fujo.
Tenho longas pernas
para zanzar livremente por aí

Ora sou natureza,
ora sou eternidade,
ora sou a liberdade.

* Poeta


Canção de Amor de J. Sebastião


* Por Zemaria Pinto
 

Sigamos então, tu e eu,
enquanto Manaus se estende sob o céu
como um paciente anestesiado sobre a mesa.
Caminhemos pelas mesmas ruas,
quase desertas a estas horas,
sob uma bruma eliotiana,
contando as fachadas dos hotéis de conveniência,
ouvindo ao longe a doce música das sirenes.

Ah, Manaus, Manaus,
o mais vil de teus poetas
vomita sua sintaxe indefinida
arrastando-se no lodo da Cachoeira
em busca de alguma felicidade provisória
ou uma dose violenta de qualquer coisa
mergulhando a alma nessa tenra madrugada de outubro.

Abraço o poeta e o beijo que deposito em sua boca
é amargo e fedido.
Peço uma tangerina e mais outra
e o cheiro que toma o ar me embriaga
mais que toda a cerveja e toda a urina do banheiro fétido.

O poeta sussurra alguma coisa sobre
as moças assassinadas
 da praia da[Ponta Negra
e fala de espectros e histórias de amor
e eu mal consigo perceber o movimento de sua língua de chumbo.
Tomo suas mãos nas minhas e ele  adormece
murmurando preces pelas moças assassinadas.

Ah, Manaus, Manaus,
quanta poesia desperdiçada
nas flores que o rio insiste em devolver à areia
 num invólucro de espuma.
Onde estão tuas crianças, cidade?
Onde estão tuas mulheres, teus velhos?
E tuas úmidas meninas túmidas?
Em que longínqua guerra fratricida eles sucumbiram?

Ah, maninha,
não me curvo às urgências do teu sexo
ou ao discurso mudo dos teus bêbados.
Seria a poesia uma doença tropical?
A bruma cai em flocos e tem gosto de açaí.
Precisamos beber algo quente
que nos anuncie a manhã,
como um galo ou uma fábrica.

Dá-me tua mão.
Ainda há tempo.

* Poeta e economista



À sombra de um acordo, a ortografia

* Por Rubem Costa

Desnecessário é lembrar que, originário do latim, o verbo reformar traz ínsito em seu étimo um potencial de largo espetro que tem por lastro o significativo conceito de corrigir, emendar, modificar. Consequentemente, sempre que se fala em reforma, aflui ao pensamento a sensação de alarme, advertência que abisma o ser diante do desconhecido. Agredindo o princípio da inércia, a ideia de mutação cria para o espírito um estado de vacilação e dubiedade que o leva a uma espontânea resistência ao novo.
Fruto dessa consequência se constata agora na aplicação do acordo ortográfico sancionado pelo Brasil; proposição que, alterando a tradição resultante de reformas anteriores, codifica em grande angular novas normas para uso da Comunidade de Países da Língua Portuguesa. Importante, todavia, é considerar que, acima do termo legal para a mudança, necessário se faz compreender para aceitar. Em decorrência, promulgada a lei, como não podia deixar de ser, agitaram-se desde logo os meios culturais numa tarefa pedagógica que, não raro, à falta de recursos didáticos dos mensageiros mais tem confundido que esclarecido.
Indubitavelmente, este é um ponto capital que coloca em estado de alerta a confiança dos educandos. Espreita que cresce naturalmente quando a iniciativa de divulgar provém da atual Secretaria de Educação do Estado, uma pasta desmoralizada que, traindo o seu passado, se desmancha atualmente em incompetência abissal, traduzida recentemente na insanidade — que a imprensa amplamente divulgou — de distribuir, para uso das escolas, atlas geográfico da América do Sul com Paraguai trocando lugar com a Bolívia. Assim, diante de descalabros que colocam o poder público numa ínfima qualificação cultural, é salutar e até imperativo que a iniciativa particular se movimente para corrigir e compensar o que deveria ser dever do estado.
Essa é a razão que me leva a saudar a publicação da obra assinada por Luiz Antônio Alves Torrano, mestre da língua e cultor do direito que, associando as duas virtudes, oferta agora ao uso da comunidade de língua portuguesa o mais completo manual até hoje conhecido para o exercício das novas normas ortográficas. A par da exposição clara e acessível de cunho didático, o livro encerra toda a legislação pertinente ao novo acordo, ao qual adere o protocolo modificativo anteriormente assinado.
E essa organização pedagógica — provindo de quem provém — não podia deixar de assim ser. O autor é uma figura incomum de intelectual que, acoplando a condição de filólogo e jurista, possui no currículo invejável soma cultural em que se inscrevem títulos múltiplos: licenciado em letras pela Faculdade de Filosofia de Catanduva/SP, graduado em direito pela PUC, mestre em letras também pela PUC-Campinas; mestre em direito civil pela PUC-São Paulo, mestre em Direito Obrigacional Público e Privado pela Unesp-Franca, doutorando em Direitos Difusos pela PUC-São Paulo, e também professor adjunto de Direito Civil na PUC-Campinas e Unip. Professor assistente da Escola Paulista de Magistratura. Membro da Academia Campinense de Letras, é atualmente juiz titular da 1 Vara da Família e diretor do Fórum da Comarca de Campinas.
Como gramático é autor de uma obra essencial aos estudantes de Direito: A Língua Portuguesa em seu uso forense. Dele, no prefácio do livro, o desembargador Marino Falcão Lopes, assim fala: “Na dúplice condição de professor e magistrado, Torrano tem a perfeita conscientização de que o direito é o núcleo polarizador da vida em comunidade. Situa-se com nítida visão nos parâmetros desse extraordinário universo de atuação, mas sempre fiel ao seu antigo amor pelo idioma pátrio.” É uma visão plena do gramático e do jurista; do ser voltado para a manifestação correta do pensamento como veículo de aplicação exata do direito. Na trilha desse entendimento, foi que o saudei quando de sua posse na Academia Campinense de Letras, acentuando então a interpenetração dos dois valores para concluir que, se o bem julgar desperta o juiz, o bem falar desperta o gramático. Ou até de forma anagramática, pelo avesso, com igual correção, pode-se dizer também que o bem julgar desperta o gramático como o bem dizer desperta o juiz. Essa é qualidade cultural do mestre que assina o manual de A Nova Reforma Ortográfica da Língua.
* Advogado, professor, escritor e membro da Academia Campinense de Letras.



domingo, 30 de julho de 2017

Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Onze anos, quatro meses e dois dias de existência.


Leia nesta edição:

Editorial – O fim é que conta.

Coluna Ladeira da Memória – Pedro J. Bondaczuk, poema, “Soneto à doce amada - LV”.

Coluna Direto do Arquivo – Márcio Juliboni, poema, “O verso do homem”.

Coluna Clássicos – João Cabral de Mello Neto, poema, “Bola de futebol”.

Coluna Porta Aberta – José Ribamar Bessa Freire, artigo, “Catando piolhos: entre Jadelvone e Amazonino”.

Coluna Porta Aberta – Adélia Prado, poema, “Linhagem”.


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Livros que recomendo:

Poestiagem – Poesia e metafísica em Wilbett Oliveira” (Fortuna crítica) – Organizado por Abrahão Costa Andrade, com ensaios de Ester Abreu Vieira de Oliveira, Geyme Lechmer Manes, Joel Cardoso, Joelson Souza, Levinélia Barbosa, Karina de Rezende T. Fleury, Pedro J. Bondaczuk e Rodrigo da Costa Araújo – Contato: opcaoeditora@gmail.com

Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com

A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Boneca de pano” - Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Águas de presságio”Sarah de Oliveira Passarella – Contato: contato@hortograph.com.br

Um dia como outro qualquer”Fernando Yanmar Narciso.

A sétima caverna”Harry Wiese – Contato: wiese@ibnet.com.br

Rosa Amarela”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Acariciando esperanças”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Cronos e Narciso” – Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br

Lance Fatal” – Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br




Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk.As portas sempre estarão abertas para a sua participação.



O fim é que conta


Os vencedores, cuja existência é tão exemplar que serve de parâmetro de conduta a gerações e mais gerações, não lamentam tropeços, fracassos, dores e decepções que a vida lhes impõe. De cada pedra no caminho, fazem alicerce de castelos de vitórias. Os obstáculos servem-lhes, apenas, de estímulos para lutarem com mais vigor.

As perdas são lamentadas, óbvio, mas essas pessoas não se restringem às lamentações. Erguem a cabeça e extraem lições de erros, insucessos e frustrações. Têm em mente, e agem face a esse pressuposto, que o fim é o que conta. Não importa “como” realizam suas obras, desde que, de fato, as realizem mesmo.

Lógico que não defendo a premissa de que “os fins ‘sempre’ justificam os meios”. Não justificam. Ou, pelo menos, não “sempre”. Há essa justificação se os recursos que empregarmos para erigir nossa obra-prima (ou outra qualquer e não importa sua natureza) não forem violentos, aéticos, imorais ou coisa que o valha. Ou seja, desde que não prejudiquemos ninguém.

Todos podem ser assim, ousados, determinados, competentes e apaixonados. Basta querer. Basta ter postura sempre positiva face à vida, ser persistente no que se faz e transformar “tudo em flores”. Ou seja, vislumbrar beleza, grandeza e transcendência até onde, aparentemente, elas não existam.

Felizes dos que, ao cabo de longa existência, podem olhar para trás e constatar que aproveitaram as oportunidades que tiveram. Dos que não têm queixas das circunstâncias que marcaram o tempo que viveram. Dos que nunca viram, por exemplo, morrer qualquer esperança e tiveram a ventura de as ver, todas, plenamente concretizadas. Dos que não se consideram injustiçados e nem duramente punidos.

Convenhamos, esta não é a realidade da maioria das pessoas, que olha para trás com tristeza e decepção e percebe que já nada mais pode ser feito para se sentir ao menos palidamente feliz.. Oxalá possamos, todos, perto do nosso ocaso, bendizer a vida e só ter motivos para agradecer, jamais para lamentar. Afinal, guardadas as premissas que mencionei, o fim é que conta (desde que nobre, construtivo e justo, óbvio).

As situações extremas, de turbulência ou de estagnação, por mais que nos atemorizem e angustiem, encerram preciosas lições, que não conseguiríamos aprender de outra maneira. Aprendemos pelo sofrimento. Perdas de entes queridos, de amizades, de empregos ou de bens, ou doenças e acidentes, entre tantos outros contratempos, causam-nos, é certo, perplexidade, dor.

Todavia, todos eles encerram lições que deveríamos nos esforçar por extrair. O mesmo vale para períodos de estagnação, em que parece que nunca sairemos do lugar, enquanto vemos outras pessoas, de capacidade até inferior à nossa, evoluírem, material, social ou espiritualmente. O sofrimento, embora, obviamente, o devamos evitar, tende a ser eficiente e implacável mestre.

Viemos ao mundo com algum objetivo, que temos a obrigação de descobrir qual é, e cumprir, com competência e entusiasmo. Uma coisa é certa: não viemos a passeio. Temos uma obra a realizar e quanto mais extensa, e perfeita, e útil ela for, maior será nosso valor. A vida não comporta ociosidade e omissões.

Nosso valor pessoal não está, pois, na nossa origem, na família de que procedemos e na importância dos nossos ancestrais. Está em nossa conduta, na capacidade de pensar, construir, realizar e, sobretudo, servir. Muitos fracassam na vida e se tornam pesos mortos, porque não se dão conta disso. Tropeçam no meio da jornada e são incapazes de se levantar. Não se apercebem que o fim é o que conta. É sumamente humilhante o fato de apenas “durarmos”, e não “existirmos” para o mundo e até para nossas famílias.

Às vezes, circunstâncias da vida levam-nos à tentação de jogar tudo para o alto e de abrir mão dos ideais que nos empolgaram na juventude. Julgamo-nos castigados por Deus, quando, na verdade Este não castiga ninguém, por ser a fonte do genuíno amor. Obstáculos existem, é verdade, e muitos, em nosso caminho, de todos os tamanhos e intensidades. Mas são essas dificuldades – que nos aborrecem tanto quando se manifestam – que valorizam nossas conquistas e as enobrecem.

Há quem chegue ao extremo de desacreditar de tudo e de todos e que desista, até mesmo, das pessoas que ama. Nada pior e mais injusto do que isso. Os obstáculos têm que ser encarados como desafios, até como privilégios que a vida nos proporciona, por se tratarem de oportunidades para mostrarmos nosso valor.

Abraham Lincoln, quando presidente dos Estados Unidos, questionado, certa feita, sobre determinadas críticas que lhe eram feitas a respeito da sua maneira de governar, disse que não se preocupava com elas, pois o final era o que contava. E acrescentou: “Se o fim mostrar que estou certo, o que se disse de mim não valerá grande coisa. Se o fim mostrar que estou errado, dez anjos jurando que eu estava certo não farão diferença”. E não farão mesmo.

Ademais, o sucesso e o fracasso raramente são permanentes e muito menos definitivos. Os insucessos, por exemplo, dependendo das circunstâncias, podem ser revertidos, com um pouquinho mais de persistência, após criteriosa análise dos pontos em que falhamos. Já os êxitos podem se diluir num piscar de olhos e desaparecer, subitamente, se viermos a nos contentar com eles e nada fizermos para garantir sua consolidação.

Portanto, nem o sucesso deve ser recebido com exagerada euforia e nem o fracasso com desânimo. A vida é mutante e as circunstâncias variam ao sabor dos dias. Tendo isso em mente, evitaremos dissabores desnecessários e decepções evitáveis. Jorge Luís Borges escreveu a esse respeito, citando outro escritor: “Rudyard Kipling disse que o sucesso e o fracasso são dois impostores: ninguém fracassa tanto quanto crê e ninguém tem tanto sucesso quanto crê”. Embora se trate de lição óbvia, nem sempre a levamos em conta no curso das nossas vidas. E muito menos atentamos para o fato de que o fim é que conta. Ou não é?!

Boa leitura!


O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Soneto à doce amada – LV



* Por Pedro J. Bondaczuk


Por que, só em vê-la, tremo tanto
e quase não consigo falar,
todo atrapalhado, a gaguejar,
como que enleado num encanto?

Por que ela não sai da lembrança,
e fico inquieto se não a vejo,
quase a me consumir de desejo,
oscilando entre dor e esperança?

Por que me sinto tão dependente
dos seus sorrisos tão cativantes
e dos seus olhares fascinantes?

Por que ocorreram, de repente,
tantas reações interessantes?
Seria, acaso, outro amor nascente?

(Soneto composto em Campinas, em 7 de outubro de 1965).

* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk



O verso do homem


* Por Márcio Juliboni



Menos virtuais. Mais virtuosos.
Assim quereria os homens de meu tempo.
Mais fácil encarar as câmeras do que os olhos.
Mas os olhos estão fechados.
O homem por trás do homem... Simples? Sério? Forte?
Como é o verso do homem?
Desse homem que não tem verso; só prosa?
Que pede para ser lembrado,
mas se esquece...
Quisera não houvesse a primeira pessoa de vencer
- a não ser no plural.
No singular, os demais conjugamos seu antônimo.
Os homens de meu tempo,
ao meu tempo pertencem.
Por onde andam?
Todos de mãos dadas...
Todos de mãos dadas...
Não me dispersar?
Ir junto?
Afastemo-nos.
Quero minhas mãos bem lavadas.

*Jornalista, cobre Economia e Negócios no portal Exame. Trabalhou no serviço de notícias online, “Panorama Setorial”, do jornal Gazeta Mercantil, na Agência Estado e em várias revistas segmentadas. Iniciou a carreira na grande imprensa em 2000.