Felicidade sem mistérios
* Por Pedro J. Bondaczuk
“A
única coisa sem mistério é a felicidade, porque ela se justifica
por si só”. Quem fez essa afirmação tão categórica foi Jorge
Luís Borges e ele está coberto de razão. Há tantos infelizes no
mundo só porque esses indivíduos procuram essa ventura em lugares
errados.
Condicionam-na
a uma série de fatores (riqueza, beleza, sucesso, pessoas etc.),
quando ela é espontânea e incondicional. Não cobra nenhum preço,
não exige nenhum esforço e só precisa ser “localizada”. Mas
milhões, bilhões de pessoas buscam e buscam e buscam serem felizes,
em vão. Por que? Porque sua procura é equivocada.
A
felicidade só pode ser encontrada (e usufruída) em apenas um e um
único lugar: no interior da nossa mente. Ela está, sempre esteve (e
sempre estará enquanto vivermos) ali, generosa e paciente, à nossa
espera, à nossa disposição, nesse jogo de esconde-esconde em que
transformamos, sem nos darmos conta, a nossa vida, sem jamais se
fazer de difícil ou de rogada.
Mas
o lugar em que habita é tão óbvio, tão direto, tão fácil de se
chegar, que sequer nos passa pela cabeça a mais remota ideia de
procurá-la ali. Ela, porém, jamais se afasta desse local, para não
dificultar a procura. Não dribla e nem se nega a ninguém.
Todos,
absolutamente todos, até o mais miserável dos miseráveis,
potencialmente, pode ser feliz. Basta, apenas, querer. Basta entender
a felicidade. E esse entendimento não requer nem mesmo sabedoria ou
esclarecimento ou uma batelada de informações e muito menos
genialidade. Podemos ser os mais tolos dos tolos, absolutamente
alienados, imersos em completa loucura e, ainda assim... podemos ter
acesso a ela.
Afinal,
a felicidade é a única coisa sem mistério. Não a entendemos
porque não queremos. Temos incorrigível e renitente mania de
complicar as coisas mais simples e claras que existem. Não
compreendemos a simplicidade. Não acreditamos nela. Achamos que um
prêmio tão grande, como a felicidade, só pode exigir de nós
esforços inauditos, transcendentais, sobre- humanos. No entanto...
Não é necessário nada disso.
Dessa
forma, malbaratam-se sonhos, esforços e energias e tudo em vão. Se
não soubermos procurar a felicidade no lugar certo, não a
encontraremos jamais. Poderemos, por exemplo, conquistar todas as
riquezas do mundo, mais, até, do que o rei Salomão conquistou, e
ainda assim não seremos felizes.
A
felicidade nunca está nessa posse de “bugigangas” que,
intrinsecamente, não têm o mínimo valor e que, quando têm alguma
eventual serventia, apenas nos facilitam tarefas cotidianas, mas
jamais têm o poder de nos tornar felizes.
De
posse dessa “fortuna”, que só tem essas características para
nós, néscios humanos, ao cabo de uma vida, chegaremos indubitável
e invariavelmente a uma e uma única conclusão, a mesma a que
Salomão chegou na velhice: “Vaidade, vaidade, tudo no mundo é
vaidade”.
Já
que iniciei estas divagações citando a declaração de Jorge Luís
Borges, aproveito o ensejo para reproduzir um poema dele, intitulado
“Nostalgia do presente” e que ilustra muito bem o que quero
dizer:
“Naquele
preciso momento o homem disse:
‘O
que eu daria pela felicidade
de
estar ao teu lado na Islândia
sob
o grande dia imóvel
e
de repartir o agora
como
se reparte a música
ou
o sabor de um fruto’.
Naquele
preciso momento
o
homem estava junto dela na Islândia”.
Pois
é exatamente assim que a felicidade funciona. Basta imaginar alguma
coisa, pessoa ou situação que nos satisfaçam e, naquele exato
instante, nos sentiremos felizes. Sua extensão, porém, depende só
de nós. Reitero o que já escrevi inúmeras vezes: a felicidade não
é um objeto ou sequer condição especial. É um estado de espírito.
Tanto
pode ser obtida num palácio dourado, quanto em nosso quarto de
solteiro, no fundo de uma masmorra infecta e insalubre ou na gélida
Islândia. Basta que a requisitemos, que a procuremos onde sempre
esteve, está e estará, ou seja, que a encontremos em nosso interior
e que acreditemos que ela se faz presente. E, subitamente, ela, de
fato, estará conosco. Sem complicações, sem esforços e sem
frescura..
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de
Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do
Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções,
foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no
Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios
políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas),
“Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da
Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º
aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53,
página 54. Blog “O Escrevinhador” –
http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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