sexta-feira, 31 de dezembro de 2010




Leia nesta edição:

Editorial – Polêmico, irreverente e... genial.

Coluna Contrastes e confrontos – Urariano Mota, crônica “Encontro com a infância”.

Coluna Visões do cotidiano – Silvana Alves, crônica “Desperte em 2011”.

Coluna Do real ao surreal – Eduardo Oliveira Freire, crônica “O Caçador de Pipas”.

Coluna Porta Aberta – Fabiana Bórgia, crônica “Fim de ano”.

Coluna Porta Aberta – Leda Selma, crônica “Um ano histórico: bem-vindo, 2011”.

Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.



Polêmico, irreverente e... genial

Polêmico. Esta é, provavelmente, a forma, diria, consensual de definir o escritor português José Saramago, admitida tanto pelos que o admiram com paixão, quase ao extremo da veneração, quanto pelos que o detestam sem limites, a ponto de odiá-lo. Em relação ao único escritor de língua portuguesa a conquistar um Prêmio Nobel de Literatura (o de 1998), as posições e opiniões raramente admitem meios-termos. Adoradores e detratores recorrem, ao se referirem a ele, invariavelmente, a extremos, positivos ou negativos.
E antes de morrer, o escritor pôs mais lenha nessa fogueira, com o último romance que escreveu, “Caim” que, exatamente por seu conteúdo polêmico, pode e deve ser classificado entre os dez melhores lançamentos de 2010 no mercado editorial. O site UOL pelo menos fez isso. Ninguém pode ficar indiferente a um livro desses.
Da minha parte, não tenho opinião formada (não a definitiva) sobre José Saramago. Às vezes considero-o genial, na sua irreverência e no seu sardônico pessimismo. Outras, acho que ele exagera ao expor com tanta insistência (e veemência) seu conhecido ateísmo que, de tanto bater nessa tecla, chega a me parecer que procura convencer a si mesmo que não deve acreditar naquilo que de fato acredita. Aliás, se há um assunto tabu, que procura evitar a qualquer custo, é o que se refere àquilo que os outros crêem ou deixam de crer.
Muitas pessoas, por exemplo, já tentaram extrapolar sobre as minhas crenças, mas nada do que escreveram a respeito (algumas com a convicção que eu jamais tive), foi exato ou sequer se aproximou da verdade. Apesar de não ser adepto dessa temática, o estilo do escritor português e algumas de suas originalíssimas conclusões me fascinam, não posso negar. E seu texto, que pode ser tudo menos convencional, me faz oscilar ora para a reverência de quem gostaria de ter sido seu discípulo, ora para o repúdio de quem entende que a crença alheia (por mais absurda que pareça) é rigorosamente pessoal, à prova de questionamentos e deve ser tratada como tabu, como tema proibido.
Convenhamos que o personagem bíblico escolhido por Saramago para o seu último livro é fascinante (e assustador) em muitos aspectos (ou talvez em todos). Não acredito que haja existido em carne e osso. Tenho a convicção que se trate de mera alegoria de um dos tantos redatores anônimos da Bíblia (foram inúmeros). Simboliza tanta coisa! Pode ser tanto a metáfora mais forte do ciúme e de suas conseqüências, quanto da força de uma consciência pesada. Afinal, o Caim bíblico foi atormentado por algumas centenas de anos com o arrependimento do crime que cometeu, vindo a se constituir no primeiro dos bilhões e bilhões de homicidas que viriam a sucedê-lo. Já foi, inclusive, tratado como Ahsverus (Castro Alves escreveu poema basilar sobre esse personagem), o sujeito errante, sem eira e nem beira, que suplicava a morte, como expiação da sua culpa, mas esta lhe era invariavelmente negada.
Caim, em hebraico, aliás, significa “lança”, ou seja, arma de matar, conforme informa a enciclopédia eletrônica Wikipédia. Além de simbolizar, de ser metáfora de ciúme, o é, também, de consciência pesada, de arrependimento tardio e do instinto assassino. Saramago, em seu romance, se não o isenta de culpa, pelo menos a atenua, ao responsabilizar o deus do Velho Testamento (que grafa, sempre, em letras minúsculas) por este homicídio inaugural, que se tornaria (mau) exemplo para que outros viessem a ser cometidos mundo e tempo afora. Considera-o autor intelectual do crime “ao desprezar o sacrifício que Caim havia lhe oferecido”. Bem, não quero e não vou entrar nessa discussão. Tenho, claro, meu ponto de vista firmado a respeito, mas reservo-me o direito de mantê-lo sigiloso.
Coletei, a esmo, uma série de frases de José Saramago, que confirmam e reforçam seu caráter polêmico e iconoclasta. Como esta: “Costuma-se dizer que as paredes têm ouvidos, imagina-se o tamanho que terão as orelhas das estrelas”. Ou como esta: “Se eu estiver a ser sincero hoje, que importa que tenha de arrepender-me amanhã?”. Ou como est’outra: “Não sou pessimista. O mundo que é péssimo”. Gostaram? Eu gostei, embora as ache, (como dizer?) um tanto exóticas (não sei se seria a designação mais adequada).
Com algumas de suas frases eu me divirto, como se as ouvisse de uma criança atrevida, que não apreende o alcance do que fala, mas que revela uma genialidade precoce ao falar. Como esta: “O problema não é um deus que não existe, mas a religião que o proclama!”. Ou como esta: “Criamos um deus à nossa imagem e semelhança (...) e por isso ele é tão cruel, porque nós somos cruéis”.
Por favor, não se sintam ofendidos com alguns desses conceitos que reproduzi, mas os encare democraticamente, principalmente se discordarem deles. E entendam que não manifesto concordância (e nem discordância) em relação a nenhum deles. Faço, apenas, o papel do jornalista, que comunica a existência de algo que testemunhou, mesmo que hediondo e assustador, sem lhe ser necessariamente favorável.
Uma das frases mais pitorescas de Saramago foi sobre este meio de comunicação tão na moda e que cada vez se expande mais, que é o twitter. Escreveu: “Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido”. E não vamos?
Sobre a morte, fez este desabafo: “O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer!”. Pois é, penalizado ou não, José Saramago, autor do hiper-polêmico romance “Caim”, único escritor de língua portuguesa a ganhar um Nobel de Literatura, deixou a vida em 18 de junho de 2010, menos de cinco meses antes de completar 88 anos de idade, no vilarejo de Lanzarote, no arquipélago espanhol das Canárias, onde se refugiou, para evitar os fanáticos, os intolerantes e os burros.

Boa leitura.

O Editor.


Acompanhe o Editor no twitter: @bondaczuk



Encontro com a infância

* Por Urariano Mota

Tive um encontro luminoso, luminoso e claro, durante o enterro da tia de um amigo, no cemitério de Santo Amaro, aqui no Recife.

Uma senhora chegou para mim e começou a falar umas coisas que eu não entendia, me abraçou, disse que me conhecia, e eu sem entendê-la, parecia que ela me falava numa língua distante, de sons distantes, que eu desaprendera a falar, mas que ainda assim era íntima, de uma intimidade esquecida por mim.

Então eu lhe fui sincero: “eu não estou entendendo a senhora”. Então ela me esclareceu, e então entendi a sua língua: ela, de óculos escuros, cabeça toda branca, havia me visto na infância, quando eu ainda tinha mãe, quando eu devia ter uns 6 ou 7 anos.

Ali, à sombra de túmulos, ela contou que me dera as primeiras noções de contar com os dedos. E de lá para cá, ainda segundo ela, passei a gostar de matemática.

Isso foi no tempo em que eu morava no beco, em Água Fria. Aquele beco de casinhas apertadas, pequenas, que mais pareciam quartos.

O meu quarto de dormir, hoje, é quase do tamanho da casa onde eu morava.

Comentário dela: "você está muito parecido com você”.

E eu: "como assim?".

E ela: "Está com a mesma cara de quando era criança".

Nome dela: Euzinha. Sobrinha de Dona Zizi.

Euzinha, Zizi. Que apelidos bonitos, que nomes bonitos, com gosto da infância em Água Fria.

• Escritor e jornalista



Desperte em 2011

* Por Silvana Alves


Hoje, quando os ponteiros tocarem meia noite, desperte de dentro de você todos os sonhos que ainda estão cochilando. Mostre para 2011 uma pessoa ousada, capaz de realizar e conquistar os sonhos que ainda estão dentro de uma caixinha interna.

Desperte o amor recolhido, a união, a caridade, a bondade, a alegria, a luz. Desperte uma pessoa melhor para lutar, trabalhar, amar, sorrir.. Desperte! Desperte para a vida.

Faça de 2011 o melhor de todos os anos que você já viveu. Não deixe nada dormindo ou cochilando dentro de você. Simplesmente, sem medo e com muita fé, desperte!


* Jornalista formada pela FATEA (Faculdade Integrada Teresa D´Ávila). Duas palavras falam por mim: vida e poesia.



O Caçador de Pipas

* Por Eduardo Oliveira Freire


Acabei de ler O Caçador de Pipas. O livro é linear e bem amarrado na sua estrutura. Lembrei-me que quando fiz, em 2004, uma oficina de criação literária, a professora ensinou que toda história tem um começo, meio e fim. Nos primeiros capítulos os problemas do personagem são mostrados, no decorrer da história ele tenta resolvê-los e no último capítulo a conclusão, consegue solucioná-los.

O livro é bastante descritivo, produzindo imagens líricas e ao mesmo impactantes. Consegue ser emocionante sem clichês demasiados. Gostei mais dos primeiros capítulos e do último. No meio do enredo, o autor quase escorrega no melodrama, contudo, consegue sair da armadilha. Ultimamente, gosto de ler histórias que os personagens são meramente humanos, podem ir aos extremos: do bem ao do mal. O Caçador de Pipas narra a história de uma pessoa que toda vida não enfrentou os seus problemas e precisa se redimir dos erros do passado. Aborda temas universais como intolerância, preconceito, amizade, amor e redenção. "Esta é uma daquelas histórias inesquecíveis, que permanecem na nossa memória por anos a fio. Por muito tempo, tudo o que eu li me pareceu sem graça. Todos os grandes temas da literatura e da vida são o material com que é tecido esse romance extraordinário: amor, honra, culpa, medo, redenção." - Isabel Allende. Não sei a razão, ao acabar de ler o livro, pensei no Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë). Li ambos em dias chuvosos e frios e me emocionaram bastante por causa da força das duas histórias.

O Caçador de Pipas é um best-seller. Foi lançado em 2003 nos EUA e vendeu dois milhões de cópias. Concordo que o livro é bom, mas será que não há outros elementos que o ajudaram a ser este grande sucesso? A história tem como pano de fundo os conflitos étnicos do Afeganistão, a invasão da Rússia e o regime do Talibã, considerado terrível por violar os direitos humanos. Será que a situação atual não contribuiu para esse sucesso, entre outras coisas, uma divulgação ostensiva da mídia e a dos agentes literários? O escritor nasceu no Afeganistão e mora há muitos anos nos Estados Unidos. Falou dos preconceitos étnicos na sua terra, da invasão violenta da União Soviética, todavia, não comentou do incentivo financeiro que os EUA fizeram para o Bin Laden (líder da Al Qaeda) lutar contra os soviéticos.

Não quero ser um Recalcado Aspirante a Escritor. É incontestável que o autor (KHALED HOUSSEINI) mostra talento. Cada um tem o seu ponto de vista, ninguém pode ter uma visão totalizante de tudo. Gostaria de pegar emprestado, um pouco, o seu dom da escrita e de contar uma boa história. Tenho uma pontinha de inveja, mas nada muito patológico.

Para quem ainda não leu o livro, vale a pena.

* Formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, pós-graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e aspirante a escritor. Blog:
http://cronicas-ideias.blogspot.com/



Fim de ano

* Por Fabiana Bórgia


Estou com os sentimentos dilatados. Penso no que fiz, no que não fiz, no que tenho que fazer. Quem eu deixei, quem me deixou, para onde eu vou. A gente nunca tem respostas, apenas perguntas. E uma das grandes certezas é saber com quem contar ao longo deste processo chamado VIDA. Só isso, já vale por tudo.

Não sei se é sazonal, mas final de ano me desperta sentimentos latentes. Eu me apaixono nos finais de ano. Ouço dez mil vezes a mesma música. Não refresco os pensamentos. Deve ser o mal do verão, que enlouquece o coração e alucina minha mente.
Final do ano faz com que eu me perca e me ache ao mesmo tempo. Traz de volta o passado, dá novo sentido ao meu presente e me confere promessas de futuro, mesmo que sejam ilusões.
Faz com que eu escute Renato Russo, Cazuza, Tim, como em tempos passados.
Traz de volta minhas histórias de adolescente. Sensação de primeiro amor, como se fosse o último.
Fim de ano me deixa mais próxima ao céu. E ao mesmo tempo, eu sinto o chão. Eu flutuo, e ao mesmo tempo me afogo.
Final de ano renasce a criança que habita em mim. E eu escrevo.


Eu escrevo

O que eu sei é muito pouco.
Escrevo alguns impulsos, algumas incertezas, poucas vivências.
Na verdade, escrevo o que eu não sei, "na esperança de".
Escrevo o que procuro sem saber.
Escrevo para não me perder.
Ou para encontrar parte de mim: o que já não sou.
Escrevo para tentar achar explicação para a inexatidão da vida.
Para resgatar o tempo.
As lembranças esquecidas.
Escrevo para buscar meus tempos de menina, quando eu ainda não havia sofrido.
Escrevo para reencontrar a pureza, aquela que a gente ama de forma implícita.
Escrevo para voltar a um tempo que não existe.
Escrevo para ser criança de colo.
Escrevo apenas para sentir.
Escrevo para retomar o passado como presente.
Fazer futuro de algo inexistente.
Escrevo para escrever de novo.
E de novo.
E outra vez.
Até recriar.
Escrevo para tornar o impossível possível por míseros instantes.
Como se fosse possível sobreviver à própria morte.
Escrevo para trazer de volta os que se foram e os que estão vivos.
Escrevo para congelar neste espaço nada estático o que eu chamo de lembrança.
Escrevo para continuar... existindo.
Eu estou: aqui.

• Escritora por vocação e advogada por formação. Paulista por natureza e carioca por estado de espírito. Engenheira de sonhos: alguém em eterna construção. Autora do livro “Traços de Personalidade”



Um ano histórico: bem-vindo, 2011!

* Por Lêda Selma

Nunca na História deste País”, um ano chega com tanta expectativa como 2011. Não, não, preciso rebobinar o tempo! A História deste País já viu, sim, algo parecido: 2003 surgiu ciceroneado por rastros de luz, emanados da eleição de Lula a Presidente da República. Um homem do povo, ex-operário, de pouco estudo, com um português avariado por regências e concordâncias verbais e nominais desconcertantes, um contraste, aparentemente constrangedor, em relação a seus três últimos antecessores, figuras traquejadas, empinadas, sorboneados e poliglotas, sempre de carona com seus ternos, camisas e gravatas de grifes italianas, inglesas e francesas. Todos, de fino trato e ilustres em seus círculos de convivência, quer nas esferas social e política, quer cultural e econômica. O primeiro, imortal, fez um governo malfadado. O outro, de empáfias mil, foi deposto pelo povo. E o mais falastrão, devorado pela impopularidade.
Parênteses: mamãe contava que, lá pelos idos de 1948, certo moço, de uma cidadezinha baiana, candidato a sacristão, foi desaprovado pelo padre: era analfabeto. Frustrado e com a humilhação a lhe contundir os brios, pois não pôde desempenhar o tão sonhado ofício, vendeu o pouco que tinha, e partiu, sem destino, à cata de alguma ocupação. Nem tardou tanto, achou os dois: o destino e a ocupação. Tempos depois, voltou abonado, no trote de um belo cavalo de raça, a bordo de um terno branco de linho 120, chapéu Ramenzoni 3 X, cabelos lustrados de brilhantina e pele recendendo Seiva de Alfazema. Uma pose de dar inveja. As línguas viperinas, de palmo e meio, logo propalaram a riqueza do retornante. Alguém, ironicamente, comentou: “Sem saber ler e escrever ele se enricou desse jeito, imagine se soubesse...”. Ao que outro concluiu: “Se soubesse, não teria passado de sacristão do padre!”. Nenhuma apologia ao analfabetismo, naturalmente! Fecho os parênteses.
Assim, 2003 começou apoteótico em emoções, comoções e prognósticos variados. Sonhos espocaram alegremente, esperanças acenderam-se aos borbotões, projetos de vida ressuscitaram, e um nordestino simples, barbudo, rouquenho, carente de um dedo e com a língua presa, apesar de solta (vá entender...), tornava-se o personagem maior de um Brasil que despontava para o futuro, sob certas desconfianças e milhares de esperanças.
Os quatro anos multiplicaram-se em oito, com a reeleição. E o Brasil cresceu, conquistou prestígio internacional e se fez grande e soberano aos olhos também do mundo. E milhares de brasileiros relegados à pobreza, à miserabilidade, ao abandono e à exclusão, marginalizados até pela própria vida, descobriram-se cidadãos, com direito à dignidade que o emprego formal, a casa própria, a comida na mesa, o lazer, a escola e a universidade lhes propiciaram. A economia em ascensão constante, a comunicação simples e sincera com as massas, a identidade com os desfavorecidos ajudaram o governo Lula a se fortalecer e a conquistar credibilidade e respeito lá fora. Ah! também contrastando com seus últimos antecessores, o ex-operário, como “nunca na História deste País”, deixou o poder com índice recorde de aprovação: 87%. Baita desafio, hem, Dilma?!
Pela segunda vez na História deste País, um ano já irrompe histórico e comboiado por muitas expectativas e emoções. Desta feita, uma mulher comandará o destino de quase duzentos milhões de brasileiros. Com euforia, 2011 abre-lhe passagem, desafiando-a a assumir o leme, com serenidade, discernimento e ousadia, como timoneira de um povo que já não se alimenta só de esperança, que já não se satisfaz com migalhas restadas de classes superiores, um povo que, pela cidadania, aprendeu a ocupar seu espaço e a ser verdadeiramente feliz. Que Deus a proteja, presidente (ou presidenta) Dilma Rousseff, e ajude-a a combater as sementes e as escaras da corrupção, da pobreza e da exclusão social!
A todos, um 2011 promissor, luminoso e abençoado!

• Poetisa e cronista, licenciada em Letras Vernáculas, imortal da Academia Goiana de Letras, baiana de Urandi, autora de “Das sendas travessia”, “Erro Médico”, “A dor da gente”, “Pois é filho”, “Fuligens do sonho”, “Migrações das Horas”, “Nem te conto”, “À deriva” e “Hum sei não!”, entre outros.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010




Leia nesta edição:

Editorial – Ficção mesclada à realidade.

Coluna Ladeira da Memória – Pedro J. Bondaczuk, crônica “O Paraíso está em nós”.

Coluna Do fantástico ao trivial – Gustavo do Carmo, conto “Somente agora”.

Coluna Aventuras em paradoxo – Fernando Yanmar Narciso, crônica “Toda forma de ‘poder’ com o povo”.

Coluna Contradições e paradoxos – Marcelo Sguassábia, conto “A luneta”

Coluna Porta Aberta – Adelcir Oliveira, crônica “Sociedade dos discursos”..

Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.



Ficção mesclada à realidade

O romance contemporâneo tem uma característica que me agrada bastante, já que sou jornalista por profissão (e por opção): a mistura de fatos reais com ficção, com a imaginação do romancista complementando a realidade. Muitos enredos podem parecer, até, aos desavisados, como uma boa reportagem, posto que mais dinâmica, por conta dos diálogos entre os protagonistas, de tão realistas (e verossímeis) que são. Alguns escritores chegam ao requinte de misturar não somente fatos e cenários reais aos fictícios, como até personagens de carne e osso com outros que existem somente em suas cabeças. Quando isso é feito com talento e criatividade, o resultado, via de regra, é um best-seller, que vale ao autor não somente copiosa quantidade de dólares (ou de euros, a moeda da moda) em sua conta bancária, mas muitos e muitos prêmios internacionais.
É o caso, por exemplo, do romance “Deixe o grande mundo girar”, do irlandês, radicado em Nova York, Colum McCann, livro que valeu ao autor o cobiçadíssimo prêmio literário National Book Award 2009, um dos mais prestigiosos e cobiçados de todos os que existem. Esta obra foi relacionada, pelo site UOL como um dos dez principais lançamentos editoriais de 2010 (indicação com a qual concordo sem pestanejar). No Brasil, coube à Editora Record presentear os amantes das letras com uma edição primorosa e bem cuidada, que teve tradução perfeita de Maria José Silveira.
Colum McCann é um dos maiores talentos mundiais da nova geração de romancistas. Aos 45 anos de idade (nasceu em Dublin, na República da Irlanda, ou Eire, como queiram, em 1965), já conquistou fama, respeito, dinheiro, credibilidade e muitos prêmios internacionais. Considero-o jovem, já que tem idade para ser meu filho. Para que vocês tenham uma idéia, quando ele nasceu, eu já estava trabalhando, com carteira assinada, há cinco anos. Para mim, portanto, é um menino. E que menino prodigioso!
O grande lance da sua vida foi o fato de mudar-se para Nova York que, mais do que cenário para seus romances, se tornou, praticamente, “personagem” de suas sumamente verossímeis histórias, com cara e jeito de reportagens. Essa mudança ocorreu em 1983, cerca de seis meses antes dele completar dezoito anos de idade. Atuava, na época, como repórter, com salário, conforme confessa, “vil, abaixo da linha da miséria”. Tudo mudou quando conseguiu publicar seu primeiro livro. Desde então, acumula sucesso sobre sucesso, e em 30 idiomas, o que não é brincadeira. Além de se dedicar atualmente à literatura, escreve para vários prestigiosos jornais, do porte do The New Yorker, do The New York Times Magazine, do The Atlantic Monthly e do The Paris Review, entre outros.
Como afirmei no início deste comentário, o romance “Deixe o grande mundo girar” mistura ficção com realidade, mas ambas tão bem tecidas que se torna quase impossível distinguir uma da outra. McCann aborda, por exemplo, a aventura do equilibrista francês Phillipe Petit. Esse maluco de pedra (ou seria suicida em potencial?), cismou, em um determinado dia de agosto de 1974 de brincar nas alturas, nas torres gêmeas do há nove anos arrasado World Trade Center. Estendeu uma corda-bamba no 110º andar de um prédio a outro e, por 50 intermináveis minutos, “passeou” por sobre o abismo, desafiando, de peito aberto, a morte. Mas os malucos têm sorte!
Claro que a maluquice do francês causou o maior reboliço na Big Apple! O equilibrista, todavia, é apenas um personagem, e ainda por cima ocasional (não o principal, portanto) do romance. Como é meu costume, não resumirei o enredo, para não tirar o gosto da surpresa do leitor. Mas reproduzo este trecho da resenha feita por Ana Rocha desta tão bem contada história: “Soldados não voltando do Vietnã, famílias desoladas tendo que refazer seus caminhos. Os subúrbios da cidade e a falta de esperança no futuro. A dor que une a todos e possibilita novos caminhos. E o equilibrista arriscando a própria vida só para poder cruzar as maiores torres do mundo. Histórias que a princípio não têm nenhuma conexão, acabam se revelando parte de uma mesma efervescente Nova York”.
Mas o que mais me fascina em “Deixe o grande mundo girar” é a perícia, a capacidade descritiva de Colum McCann. Ele “pinta”, com palavras, os cenários à perfeição e a gente nem precisa fazer qualquer exercício de imaginação para “visualizá-los”. Na edição lançada pela Editora Record, méritos têm que ser dados para a tradutora Maria José Silveira, que reproduziu com rara competência as magníficas descrições do autor.
Para que vocês não achem que estou exagerando (o que às vezes ocorre comigo quando gosto de algum escritor), confiram por si mesmos, neste trecho que reproduzo, a título de amostra, o porque do meu entusiasmo por este romance: “Ao redor dos observadores, a cidade ainda fazia seus barulhos cotidianos. Buzinas de carros. Caminhões de lixo. Apito das barcas. O zumbido do metrô. O ônibus M22 avançou contra a calçada, freou, murchou em um buraco. Uma embalagem de chocolate jogada fora bateu em um hidrante. Portas de táxi batiam. Pedaços de lixo se enfiavam nos cantos mais escuros das passagens. Tênis se acomodavam. O couro das pastas roçava na perna das calças. Algumas pontas de guarda-chuvas tiniam no calçamento. Portas giratórias empurravam conversas entrecortadas para a rua”.
Por esta pequena amostra, dá para o leitor concluir, portanto, que não há nenhum exagero no meu entusiasmo (ou há?). Colum McCann é, de fato, um prodígio. E não fui somente eu que cheguei a essa óbvia conclusão, mas foram, também, os jurados do National Book Award, que lhe atribuíram o prêmio de 2009. E digo mais, não ficarei nada, nada surpreso se o próximo passo for a conquista do Nobel de Literatura.

Boa leitura.

O Editor.

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O Paraíso está em nós

Por Pedro J. Bondaczuk

O homem corre, (desde que tomou consciência de si), atrás de um mundo ideal, de um lugar idílico e perfeito onde inexistem a morte, a maldade e a dor. Todas as religiões falam desse local perfeito, onde "o cordeiro confraterniza-se com o leão, a corsa com o tigre" e não há servos e nem senhores. Onde existe a pureza original e não há sujeiras ou impurezas. Os grandes místicos descreveram em detalhes tal Paraíso, que os cépticos duvidam que exista e o atribuem apenas à fantasia. É possível ao ser humano criar um recanto de luz, onde a felicidade seja a única regra?

Com os pressupostos atuais, não. Enquanto o homem não se livrar dos seus desejos, não desatar os nós da sua ambição que o prendem a objetos, não se livrar da sua obsessão pelo poder, não se conscientizar que o "ser" é que é importante, e não o "ter", continuará desperdiçando sua vida, sofrendo toda a sorte de frustrações, mergulhado em angústias, correndo atrás do nada. Sidarta Gauthama já ensinava que a fonte de toda a desgraça humana é o desejo, que engendra toda a gama de sentimentos daninhos que atormentam as pessoas e fazem com que estas atormentem os semelhantes. Os grandes mestres ensinaram, com mínimas variações, a mesma coisa. E deram exemplos de vidas abnegadas para fundamentar esses ensinamentos. Tanto que nenhum deles foi rico. Não, pelo menos, com o que se entende hoje como riqueza.

A serenidade, advinda do despojamento, é o fundamento desse Paraíso, que "O Buda" descreve desta maneira: "O espaço é sereno e a tranqüilidade infinita. Nem frio, nem dores, no meu reino luminoso. O odor do nardo perfuma o ambiente e a vida dos espíritos, balançados nas asas da alegria, sem travos de saudade, não terá fim nem terá cansaços. As mães beijarão os filhos encantadas; os noivos, esquecendo os madrigais inúteis, mostrarão às suas amadas o céu repleto de canções, como o trigal cheio de espigas douradas. Não haverá noite, não haverá sono, mas somente o hálito do destino a aquecer o coração dos crentes e a banhá-los na felicidade indestrutível". A Bíblia descreve o Éden da mesma forma. Existe este Paraíso, este Walhala, este reino de delícias? Onde está? Em algum recanto da Terra? No Sistema Solar? Em um planeta ao redor de outra estrela da Via Láctea? Em outra galáxia, alhures? Onde está? Como chegar até ele? Consulte o seu coração...

*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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O que comprar:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). –
Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. –
Preço: R$ 20,90.

Como comprar:

Pela internet
WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.



Somente agora

* Por Gustavo do Carmo

Toca o telefone.

— Alô?!

— Selton?

— Sim. Quem fala?

— Aqui é o Leôncio.

— Diga. Selton usa um tom seco.

— Estou te ligando para desejar um Feliz Ano Novo e pedir desculpas pelo que eu fiz com você no início do ano.

Selton fica calado. Leôncio continua.

— Somente agora, perto do ano novo, caiu a ficha e eu decidi te pedir perdão por ter te proibido de divulgar o meu filme no seu blog. E também por ter colocado vírus na sua página de internet e ainda ter feito a sua caveira em um convite que iam te fazer para ser colunista de um jornal. Sabe como é, amigo! Eu tenho muita influência no meio.

— Eu já estava desconfiado destas duas coisas.

— Agora eu entendi o recado daquela sua crônica sutil contra mim. Mas você também pisou na bola, né, companheiro? Eu senti logo de cara que você andou me chamando de velho para os outros naquela mensagem que você mandou por engano no bate-papo. E nem me pediu desculpas.

— Eu não te pedi desculpas para não ficar bancando o inocente arrependido. Um professor meu uma vez me disse que ficar pedindo desculpas toda a hora é hipocrisia, pois a pessoa nunca vai se redimir dos seus pecados. Mas saiba o quanto fiquei envergonhado do que eu fiz. E entendi porque você mudou o seu tratamento comigo e parou de me telefonar todos os dias.

— Pois é. Agora quem te pede desculpas sou eu. Em que eu posso ajudar para corrigir o meu erro? Vou te indicar para escrever naquela revista famosa, onde trabalha um amigo meu. Ela paga muito bem. Vai gostar dos seus contos. E vou te chamar para você ser assistente de direção do meu próximo filme. E desta vez é pra valer. Não vou te barrar como da outra ocasião.

— Não precisa fazer nada, não. Deixa pra lá, eu te perdôo.

— Deixa de ser orgulhoso, rapaz! Eu sei muito bem que você está precisando de emprego. Agora deixa eu ir lá que os meus netos estão chegando para passar o ano novo comigo. Um Feliz Ano Novo pra você.

Leôncio desliga o telefone. Logo o seu celular toca.

— Selton, é a Keylane.

— Até que enfim você me ligou, hein? Ironiza Selton, que continua: — Você sempre falou comigo pelo bate-papo. Mas eu não te bloqueei não, viu?

— Eu sei. Eu ainda te vejo online. Mas preferi te ligar para dizer que você estava certo ao me chamar de insensível. Somente agora eu me toquei que você queria apenas desabafar os seus problemas e brincar comigo. Eu te julguei e ainda me achei no direito de me sentir ofendida com as suas brincadeiras. E ainda te chamei de egoísta. Isto você ainda é, mas entenda essa afirmação como algo positivo. A única coisa que eu ainda fico chateada é pela sua desconfiança ao conferir se eu fiz o depósito para comprar o seu livro. Mas eu também entendo a sua ansiedade.

— Pois é. Tudo que eu falava pra você eu estava errado.

— Ah, mas amigo não é obrigado a concordar sempre com o outro. Precisa censurar de vez em quando.

— Tudo bem, você está certa. Mas você não concordava com NADA do que eu falava. Pra você eu estava SEMPRE errado. Eu já estava com medo e vergonha de desabafar os meus problemas com você. Eu estava sempre errado, né? Por isso que eu me afastei.

— Está bem, Você está certo. Pode desabafar o que quiser comigo que eu concordo.

— Pode deixar que agora eu já tenho a minha psicanalista.

— Pois é. Você também falou dos meus problemas para a sua analista. Fiquei magoada com isso também. Tinha perdido a confiança em você. Mas agora eu te entendo. Me desculpa? Vamos voltar a ser amigos? Vamos conversar pelo bate-papo como sempre fazíamos?

— Pode ser.

— Então tá. Um Feliz Ano Novo pra você. Agora vou desligar porque a minha mãe está me chamando para ajudá-la. Tudo de bom pra você. Muita paz, muita alegria e quero voltar a ser sua amiga.

— O mesmo pra você, tchau.

Mal acabou de desligar, o celular de Selton toca de novo.

— Oi, Selton. Aqui é a Taviane. Estou te ligando para te desejar um feliz ano novo e dizer que eu esqueci todas aquelas coisas horríveis que você me disse há alguns anos. Somente agora eu entendo o momento pelo qual você estava passando naquela época. Agora estou ligando em missão de paz.

—Você não sabe o quanto fiquei arrependido de ter feito o que fiz. Você se tornou um fantasma na minha vida nesses anos todos.

— Eu sei. Quero voltar a ser sua amiga. Você aceita?

— Não.

— Tudo bem. Eu compreendo a sua resistência. Agora me deixa desligar que eu estou saindo para encontrar o meu namorado para a gente passar o réveillon juntos.

Selton já tinha desligado antes. Ele recebe mais um telefonema. Era o seu maior amigo e companheiro da faculdade.

— Selton, sou eu Renan. Estou te ligando para te avisar que somente agora eu percebi o grande sentimento de amizade que você tinha por mim. Amizade não. Fraternidade. Eu estou arrependido de evitar conversar com você e de te tratar com frieza quando você me procurava pelo bate-papo. Agora deixa eu ir que meus filhos estão me chamando para brincar com eles. Feliz Ano Novo!

Mais duas mulheres ligaram para Selton. Ambas desejando feliz ano novo e pedindo desculpas. Uma jornalista do interior pelo bolo que dera ao ter agendado uma entrevista e não comparecido. A outra, uma ex-colega de faculdade pela grosseria com a qual respondeu a um e-mail. Ela estava estressada com o trabalho e terminando com o namorado depois de dez anos de relacionamento. Esclareceu que o rapaz havia lido a mensagem e ficado com ciúme doentio. Nervosa respondeu daquela forma. Mas deixou claro não ter gostado da crítica com uma colega da turma que não tinha nada a ver.

Quando esta última encerrou a ligação, Selton foi abrir a caixa de e-mails. Quase todos os colegas da pós-graduação desejaram boas festas. O antigo coordenador mandou um convite pessoal para a exposição de arte da sua esposa. Uma outra mensagem se destacava. Era de uma outra jornalista, esta da capital:

Caro Selton,

Por acaso comprei um livro de contos que você publicou. Acabei achando aquele seu conto que o seu amigo virtual me recomendou. Somente agora eu revi os meus conceitos e mudei de opinião. Percebi o quanto as suas histórias são primorosas, apesar de alguns errinhos de gramática. Não são infantis como eu havia achado no início. Reli aquele outro e entendi o enredo da história e a sua intenção, que foi colocar sarcasmo em uma história realmente infantil.

Feliz Ano Novo!!
Mareliz Dantas

Um editor com o qual Selton havia feito contato pedindo uma oportunidade também mandou e-mail desejando boas festas e pedindo desculpas por ter achado todos os seus textos inverossímeis.

Propôs editar um novo livro com um segundo volume de contos que Selton havia enviado. Desde que fizesse uma boa revisão que o rapaz iria ajudar. Por coincidência uma ex-professora de oficina literária se ofereceu para revisar os textos e diminuir as inverossimilhanças e incoerências que achou.

Animado com tantas mensagens de ano novo, pedidos de desculpa e propostas que recebeu por telefone ou por e-mail, Selton criou coragem. Ligou para a irmã mais nova para pedir desculpas por um grande erro que cometeu com a família.

— Liliane, sou eu, Selton. Feliz Ano Novo! Somente agora eu... A moça já tinha desligado quando ouviu que era o irmão. As outras três irmãs mais velhas fizeram o mesmo.


* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores



Toda forma de “poder” com o povo

* Por Fernando Yanmar Narciso



Desde crianças, os pais, professores e políticos enchem nossos ouvidos de mentirinhas. A maior delas é, sem dúvida alguma, que a democracia existe. Oh sim, claro, todos somos livres, todos somos importantes, todas as decisões políticas são tomadas por nós, pelo povo... E o Brasil ganhou a copa de 2010.
Nossos governantes querem tudo, menos um eleitorado capaz de pensar por si mesmo. Por isso, a educação no país é tão ruim, pois quanto mais gente mal instruída houver no país, mais gente fácil de ludibriar haverá para os políticos exercitarem sua lábia. Nunca houve ou haverá um político altruísta, que realmente se importa com os problemas do eleitorado.
Mas, por favor, parem de mentir para si mesmos. Qualquer um de nós, se tivesse a mesma oportunidade que esses homens tiveram, faria exatamente a mesma coisa que eles. Até aqueles que eram supostamente da oposição, quando chegaram lá, não resistiram à tentação de jogar o jogo dos ratos. Afinal, só existem duas coisas irresistíveis no mundo: Bunda e poder.
Eis outra coisa que nunca muda: Oposição. Por que será que para cada idéia boa ou ruim sempre aparece um do contra? Mesmo que a idéia tenha potencial para salvar a raça humana, sempre aparece alguém pra dizer “Sou contra”. OK, isso faz bem à auto-estima, mas já aconteceu muita burrada país e mundo afora porque um político ficou de birrinha.
Por que ainda hoje existe essa segregação ideológica? Todos querem sempre fazer parte de uma gangue, de carregar algo diferente dos outros no peito. Sou liberal, sou conservador, sou radical, sou anarquista, sou de esquerda, sou de direita... Eis um conselho melhor: Seja um ser humano, rapaz! Aprenda a ouvir! Espere até que o adiante de você termine de falar, e só então forme uma opinião! A hora é de união. É por causa dessa separação em grupinhos que estamos afogados até os joelhos na merda!


* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com



A luneta

* Por Marcelo Sguassabia

Na embalagem havia um enorme splash, onde se lia: “Montagem fácil e rápida”. Bom, dois dias e duas noites não é tanto tempo assim. O suficiente para encaixar nos lugares certos as lentes, roldanas, parafusos, porcas e cilindros de diferentes calibres e tamanhos.

Custou mas valeu, telescópio e tripé montados. Agora, ao desfrute. Ao merecido desfrute – porque que de ferro, só a luneta. Marca Superrvision, zoom de 1600 vezes, nitidez absoluta.

Primeira parada. Uma enfermeira dando comida na boca de uma velhinha em uma cadeira de rodas. Ai, que estréia mais sem glamour. E a enfermeira era mais velha que a velhinha.

No apê ao lado, uma bruta discussão. O engraçado era ver apenas as bocas se mexendo, os braços gesticulando, os socos na mesa, os rompantes coléricos e não ouvir absolutamente nada. Pastelão de cinema mudo, só faltou torta na cara.

Vamos lá, meu povo, cadê a sem-vergonhice? Duas horas e quinze e nenhuma mulher sem sutiã passando do banheiro para o quarto. Nem uminha. Tá louco, era o caso de devolver pro fabricante. Telescópio que se preze não faz um papel assim.

Três andares acima, um cara solitário no sofá, o nó da gravata meio afrouxado, à frente de uma TV de plasma. A lente é poderosa, dá pra ver a programação que o sujeito está assistindo. A sala escura, ele zapeia. A luz do aparelho refletida em seu rosto se altera a cada mudança de canal. Enfia um dedo no nariz. Que nojo, não volto mais na sua casa, seu sem-educação. Isso são modos?

No quinto andar havia uma loira de tirar o fôlego, há tempos já a observava a olho nu. A vadia não saía do quarto, dando mole pro primeiro telescópio que se habilitasse. Mais que depressa, zoom máximo na dita cuja. Era loira mesmo, e seria perfeita se não fosse um pôster. Duplo azar: além da mulher ser de papel, o quarto com certeza era de macho. Castigo pouco é bobagem.

Na noite seguinte, a caçada continua. Ao mirar no décimo-sexto andar do Edifício Itapuã, sua luneta dá de cara com uma outra luneta apontando exatamente para ele. Sim, tinha certeza que era pra ele. O voyeur do voyeur, a perversão das perversões.

Assim que os olhares telescópicos se cruzaram, tentaram até fingir que não se viram. Uma luneta virou pra esquerda, outra pra direita, como se assobiassem, disfarçando.

Depois de umas dez janelas sem nada de interessante à vista, ele finalmente achou algo com que se entreter. Após um prolongado “Nooooooooooosssa!”, ali parou e ficou. Puxou até uma cadeira pra se acomodar melhor.

- Vai, vai, vai...
Uma voz feminina e muito familiar responde ao seu ouvido:
- Vai o que, Claudinho?

Era a esposa. Ô mulher pé de pluma. Quando deu pela presença, já estava no cangote. Mão na cintura, cobrando esclarecimento.

- Vai? Ah, sim. Vai logo, planeta, aparece logo, planeta...

- Planeta? Até onde eu saiba não tem planeta nenhum desse lado do céu. E mesmo se houvesse, esse prédio enorme aí em frente não ia deixar você ver nada.

- Nossa, é mesmo. Nem tinha reparado.

- Mãos ao alto, seu safado. Não mexe um milímetro nessa porcaria. Deixa eu ver o que você está vendo. Sai daí, sai daí!

Se aquilo era um planeta, só poderia ser Vênus. Um raro espécime do belo sexo, dessa vez de carne e osso, em trajes e poses que, digamos, acusavam claramente não tratar-se de uma freira.

- Sabe como é, testando o foco, querida...

E foi assim que, naquela noite, ele acabou vendo estrelas.

* Redator publicitário há quase 30 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”



Sociedade dos discursos



* Por Adelcir Oliveira

O que de fato há nas palavras ditas por você, por mim? Nem sempre é a afirmativa que fazemos. Aliás, seria melhor se usássemos mais indagações e menos afirmações. Talvez fôssemos mais transparentes deste modo. E quem sabe deixaríamos de lado tantos discursos com viés de marketing, absolutamente enganosos. Mas no topo do engano reside o dono do discurso. Espécie de vítima de si, quando inventa e nem sabe que o faz. Mas não deixemos de lado os que praticam o estelionato consciente.

Sim, não apenas as palavras falam de nós. Nossos trejeitos e comportamentos também o fazem. E aí é que devemos ficar atentos. Mas não é o caso da paranóia da desconfiança. O fato é que o comportamento de cada um é seu próprio delator, o que é bastante positivo. O sujeito escolhe palavras para convencer. Em muitos casos obtém sucesso na empreitada. Mas decorre o tempo e aí tudo pode mudar de figura. É quando o senhor dos discursos é pego por seus atos que falam de fato quem é ele. E isto pode acontecer não apenas com os ditos vilões, mas com qualquer um, lembrando que podemos ser vilões, tudo depende da circunstância.

Não, não estamos na república dos oradores. As retóricas são pobres e absolutamente falíveis. O problema é essa falta de conteúdo em que o sujeito deve lançar mão da invenção de um ser, do artificialismo de sentimentos, ou o que valha para disfarçar suas misérias, quais sejam.

A internet abriu enorme porta para senhores e senhoras dos discursos. “Sou culta e inteligente”. “Sou sincero”. “Não tenho inimigos”. A pessoa é um amontoado de boas qualidades. Aquele que quiser acreditar, faça como queira, “pois não”.

Falo por mim. Não faço discursos a meu respeito, e não compro discursos alheios. Em sites de relacionamentos nos colocamos ali como produtos, cuja vitrine é a telinha do monitor, e o conteúdo é dado por nossas palavras, nosso discurso, caso haja algum. Ali, provavelmente, o sujeito se lança atrás de suas idealizações.

Ao final de cada viagem, a frustração como troco. E talvez no chamado mundo real não seja lá tão diferente. Não procuremos culpados. As explicações devem ser muitas. Uma delas são as propagandas de inúmeros produtos. Afinal de contas, somos bombardeados pelos discursos enganosos das marcas. Peguemos as embalagens delas. Um biscoito, por exemplo. No desenho, algo fantástico e atraente. Dentro, a frustração que você engole e nem percebe. E vai ver que nem reclama que é para se defender, já que você se faz de produto de modo igual.


• Cinegrafista e jornalista

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010




Leia nesta edição:

Editorial – Perícia e versatilidade.

Coluna De corpo e alma – Mara Narciso, crônica “Hora de decisão e umas poucas palavras”..

Coluna Personalidade e atitude – Sayonara Lino, crônica “E você?”.

Coluna Da terra do sol – Marco Albertim, história,“A Revolução Praieira”.

Coluna Porta Aberta – Clóvis Campêlo, crônica “Uma noite um gato”.

Coluna Porta Aberta – Ademir Assunção, poema “Girassóis em chamas”.

Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. O twitter é: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.






Perícia e versatilidade

O conto é um gênero fascinante, mas dos mais difíceis de se lidar. Engraçado que, quem não é do ramo, pensa exatamente o contrário. Ou seja, que qualquer aspirante a escritor é capaz de desenvolvê-lo com desembaraço, sem precisar de maiores conhecimentos literários ou de um tantinho de experiência. Não é bem assim.
É certo que o conto propicia ao autor uma série de recursos (desde que o contista os tenha, claro), que o romance e a novela, por exemplo, não permitem. É o meu gênero literário predileto – no que diz respeito à produção – aquele em que me especializei e com o qual me sinto familiarizado. Quanto à leitura, é o segundo que mais gosto de ler, perdendo, apenas, para a poesia, que me é obsessão.
Há contos de todos os tipos e tamanhos. Há, por exemplo, os curtinhos, em que o autor narra uma história com começo, meio e fim em reles cinco linhas, se tanto. Tenho publicado aqui, neste espaço, vários desses enredos minimalistas e, pelo visto, eles são muito apreciados pelos leitores. Em contrapartida, há contos extensíssimos, que chegam a se confundir com novelas nesse aspecto. Da minha parte, no que diz respeito à extensão, alterno as duas formas, de acordo com a história que me proponho a contar.
Quanto à maneira de narrar, há contos em que a narrativa é feita de forma linear e ininterrupta e com desfechos explícitos, que o leitor adivinha logo nos primeiros parágrafos. Em contrapartida, há outros em que o autor começa quase que do final da história, retorna ao começo para conferir coerência e permitir que o leitor se situa e entenda o que está sendo narrado, e termina, em geral, de forma surpreendente. É o que se chama de “ação em média ré”. É a minha forma preferida de escrever. Não raro, deixo o epílogo no ar, com ambigüidade explícita, ficando a interpretação de como as coisas terminam por conta do leitor. E, quando possível, dando margem não apenas a uma e óbvia interpretação, mas a inúmeras delas.
Há contos envolvendo um único e solitário personagem, com seus dramas afetivos e/ou psicológicos. Outros, porém, comportam uma grande legião de pessoas, com papéis ora ínfimos ora preponderantes. Há os que contam uma só história. E há os que narram várias, simultaneamente, que podem (ou não) se interligar. Há os que são narrados exclusivamente por personagens, com diálogos em profusão, do começo ao fim, sem nenhuma descrição. E há, também, os que se caracterizam por um monólogo da primeira à última linha. Lógico que eu poderia desfiar mais um rosário de possibilidades conferidas por este gênero nobre, mas não o farei. Quem quiser saber mais a respeito que procure as devidas referências em fontes teóricas acadêmicas para se informar melhor.
O Brasil conta com muuuuitos, e excelentes contistas. Por exemplo, entre os dez melhores lançamentos de livros de 2010, relacionados pelo site UOL, os dois únicos nacionais são de contos. Um deles, lançado pela Editora Record, chamou-me particularmente a atenção, tanto pela originalidade das histórias, quanto pela forma de exposição. Refiro-me ao livro “Uma fome”, do jornalista, poeta, dramaturgo e editor de Cultura da revista Superinteressante, o gaúcho Leandro Sarmatz.
É uma obra que recomendo sem pestanejar, sobretudo a quem aprecia enredos inteligentes, expostos com competência, perícia e versatilidade. Daí achar justíssimas as referências positivas da crítica. Não posso assegurar como andam as vendas. Nem sempre (ou quase nunca) os melhores textos literários se transformam em best-sellers. Boa parte dos leitores lê apenas para se “distrair”, e não para exercitar o raciocínio, que entendo ser a forma mais nobre de leitura. Enfim... Há os que achem que “pensar dói”...
Leandro Sarmatz traz histórias que abordam imensa variedade de temas, que ficam implícitos, subjacentes no enredo, entre os quais a sexualidade (como Sigismund Freud a interpretou), a memória (assunto que também abordo com freqüência em meus contos), as crises de criatividade (grande terror dos artistas, não importa de qual arte), sua identidade judaica, as recorrentes ditaduras da América Latina, o exílio, o suicídio, e vai por aí afora. Mas o que permeia o livro todo, e está presente, ostensiva ou veladamente, em todas as histórias, é o que se constitui na nossa paixão (pelo menos a minha): a Literatura.
Claro que eu não seria sacana de reproduzir nenhum de seus contos, mesmo que apenas um trecho ou outro, pois acabaria com o fator “surpresa”, que é o grande charme deste livro. Posso assegurar, porém, que Sarmatz apresenta um texto desprovido de “gorduras” supérfluas, de exibicionismo verbal, de inutilidades semânticas que, mesmo tornando a escrita aparentemente elegante, nada acrescenta em termos de conteúdo. Sua maneira de narrar, às vezes lembra (guardadas as proporções), Franz Kafka. Em outras, se parece um tanto com Samuel Becket. De qualquer forma, guarda, o tempo todo, o despojamento de um Graciliano Ramos.
Concordo, pois, com Daniel Benevides, que em sua crítica publicada em 5 de setembro de 2010 no site UOL, afirma que o ‘humor hiponcondríaco’ é a grande característica do livro “Uma fome”, o de estréia de Leandro Sarmatz em prosa, e que ocorre em grande estilo. Trata-se de uma obra não apenas para ser lida, mas relida periodicamente e sobretudo meditada. E merece, claro, ser citada entre os dez lançamentos mais relevantes de 2010 no mercado editorial brasileiro.

Boa leitura.

O Editor.



Acompanhe o Editor no twitter: @bondaczuk



Hora de decisão e umas poucas palavras

* Por Mara Narciso

Os piores momentos da vida, aqueles nos quais nos sentimos soltos no ar, são exatamente os períodos das tomadas de decisão. Estamos diante de uma bifurcação. À frente temos dois caminhos. Caso entremos numa via, seremos, sentiremos e acontecerão determinadas coisas. Caso optemos pelo outro, tudo será de outra forma, de outro jeito. Seremos e sentiremos tudo diferente. Mas há uma perda: quando escolhemos um percurso, abandonamos, perdemos o outro para sempre.
O que nos faz escolher uma coisa ou outra? O instante da escolha é penoso, mas o instante seguinte é um alívio e tanto. Pode ser o pior caminho, a pior opção, mas só de estarmos decididos, já nos sentimos bem melhor.
Continuar ou romper? Fazer isso ou aquilo? Subir ou descer? Seguir esta profissão ou aquela? Ir nessa trilha ou na outra? Nada nos deixa mais inseguros do que as escolhas, especialmente as afetivas. Quando um casamento está desmoronando, não sabemos até que ponto vale a pena investir naquilo que não fica de pé sozinho, que não se sustenta, que tomba. O que fazer?
A situação ruim em que a pessoa está é conhecida. Ela sabe lidar com aqueles sentimentos ruins de insatisfação, de chateação, de vazio, de falta de perspectiva, de ausência de surpresas. Caso rompa, um universo novo se impõe. O que será de mim? Como vou viver sem aquela pessoa? Como será a minha rotina? Terei de construir um mundo totalmente novo. Será que vou sobreviver? Conseguirei dar conta? E isso, e aquilo? Como será? Conseguirei viver só? Conseguirei habituar-me a uma nova vida? Terei capacidade de conquistar outra pessoa? Será melhor ou pior? Medo de não aguentar, insegurança diante do novo e do desconhecido. A fantasia impede o pensamento racional, e o que poderia ser ruim, fica ainda pior por conta do imaginário. Muitos se acovardam diante do que é estranho e, inseguros, desistem de dar esse passo tão difícil. É como pular num buraco sem fundo, ainda mais se não há ninguém para lhe dar a mão. A pessoa adia tanto, que até evita pensar no assunto. Perde a paz e o sossego, não dorme e não come direito, havendo aumento ou diminuição de fome e sono. O que tem, não serve, e o que não sabe causa medo.
O morno, o relacionamento sem paixão, uma corrente que amarra e não dá prazer, é bom? Num filme ruim, quando não se espera nada dele, caminha-se para a porta de saída e larga-se a história pela metade. Também não nos envergonhamos de deixar um livro pelo meio. Num relacionamento do qual nada se espera, a não ser o vazio, por que ficar nele? Olhe-se e pergunte-se: o que posso esperar disso? Algo novo? Algo bom? Caso a resposta seja não, ou ainda o que é pior, uma deterioração ainda maior do caso, é melhor sair pela porta da frente do que esgueirar-se colado ao muro após uma perda completa de respeito de um pelo outro.
Teme-se a solidão, o tédio, a falta de companhia, o não ter o que fazer, o nada ter que esperar. Esquece-se que estar só pode ser um momento para estar consigo mesmo, fazer o que quiser ou nada fazer para o seu bel prazer e não dar satisfação a quem quer que seja. Ser livre tem um preço, que é encontrar-se e estar só. Tem medo de estar com a pessoa mais importante para você que é você mesmo?
Decidir-se calmamente, estar em paz, cuidar bem de você ao sair de uma situação de indecisão pode trazer uma paz única. Além da independência de executar ou de nada fazer, decidir-se é uma libertação que quem está em situação ruim nem pode imaginar. Para alcançar esse estado de pura autonomia é preciso atravessar um deserto e seus perigos, mas que depois de vencidos, é abraçar o prêmio de tudo poder. Ao se lembrar da situação anterior, brota um alívio sem precedentes. O segredo é não pensar demais. Amar e cuidar de você, que bem merece colocar-se como prioridade. E sem medo.
E, caso opte por permanecer como está, porém decidido e seguro do que realmente quer, fique no mesmo lugar, mas sem as amarras da indecisão.

* Médica, jornalista e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”.



E você?

* Por Sayonara Lino


Gosto de simplicidade, de pessoas verdadeiras, de inteligência, de respeito, de liberdade, de muita autenticidade.

Gosto de café forte, de banho de chuva, de cultura, de escrever e fotografar. Gosto de arroz e feijão, de ser mineira, de lembrar da infância, de estar perto de quem me faz bem. Gosto dos poucos amigos que restam, de viajar, de ficar sozinha, de filosofar, de gargalhar, de fazer uma oração.

Gosto do fim do ano – apesar de uma certa nostalgia que paira no ar – mas a oportunidade que o calendário nos permite de fazer uma pausa e reinventar a própria vida me parece libertadora.

Preciso de diálogo, de compreensão, de colo, de gratidão, de paz, de consideração. Gosto de ser quem sou, com todos os defeitos e qualidades que tenho...e você?

* Jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. Colunista do portal www.ubaweb.com/revista



A Revolução Praieira

* Por Marco Albertim

Data de 1842 a fundação do jornal Diário do Povo, localizado na rua da Praia em Recife; bem como do Partido Nacional de Pernambuco, cisma de liberais incluindo bacharéis, comerciantes, lavradores e donos de engenhos. Convém dizer que tanto o Partido Conservador, à frente o governador Rego Barros, quanto o Partido Liberal, tinham em seus quadros gente da oligarquia açucareira. A dissidência decorreu do fato de os liberais pernambucanos terem apoiado o poder imperial. Os conservadores, liderados pela família Cavalcanti, mostrando seu propósito de preservação do Estado, não deram apoio às revoltas liberais de São Paulo, nem de Minas Gerais em 1842.
Há duas versões para a designação de praieiros. Conforme o Dicionário do Brasil Imperial, de Ronaldo Vainfas, o nome era para lembrar a fortuna de cada membro do partido. Já para Sebastião do Rego Barros, o nome decorria da rua onde o jornal dos revoltosos tinha sua gráfica. Em revide, Jerônimo Vilela de Castro Tavares, jornalista e deputado liberal, qualificava os governistas de guabirus, na língua tupi, ratos; ratos se apropriando dos cofres governamentais. Os conservadores também ficaram conhecidos como saquaremas, em alusão à lagoa de Saquarema, Rio de Janeiro, onde Joaquim José Rodrigues Torres, visconde de Itaboraí, tinha uma fazenda e se reunia com os correligionários. Em luta na Vila de Santa Luzia do Rio das Velhas, Minas Gerais, os liberais foram derrotados; daí que também ficaram conhecidos como luzias.
O primeiro sentido da Revolução Praieira foi seu caráter nacionalista. Pernambuco, com seis mil casas de comércio, todas de propriedade de estrangeiros – lojistas, quitandeiros, taberneiros, donos de armazéns, trapicheiros, padeiros, açucareiros, de tecidos, de roupas prontas, calçados, funileiros e tanoeiros.* Entre 1845 e 1848, estabelecimentos de portugueses foram saqueados, e lusitanos massacrados. O jornal A Voz do Brasil, 1848, transcrevia a quadrinha:
Corja de vil de vis marotos
Amigos das borracheiras
Dar-vos-emos em resposta
Nas pontas das lambedeiras
Borracheira significando bebedeira; lambedeira, faca estreita. Atribui-se a Antônio Borges da Fonseca o Manifesto ao Mundo, onde se defendia o trabalho como garantia de vida para os cidadãos brasileiros, assim como o comércio a retalho. Os traços republicanos, federalistas e democráticos vieram à tona noManifesto. Pregava-se o voto livre e universal, liberdade de pensamento por meio da imprensa, independência dos poderes constituídos, fim do Poder Moderador, o elemento federal na nova organização, e garantia dos direitos do cidadão no Poder Judicial. Borges da Fonseca ficou conhecido como Republico. A influência do socialismo se fez presente, visto que os episódios coexistiram com as revoluções de 1848 na Europa. O socialismo utópico de Louis Blanc, Charles Fourier e Joseph Proudhon vazou pelo incentivo de Louis Lèger Vauthier. Contratado pelo barão da Boa Vista para programar a modernização do Recife, o engenheiro aqui ficou por seis anos. Tornou-se amigo do jornalista Antônio Pedro de Figueiredo, cujo apelido, Cousin Fusco, de sentido pejorativo, lembrando o fato de ter traduzido o Curso de História da Filosofia, de Victor Cousin; Fusco decorria da cor escura do jornalista.
Outro difusor das ideias socialistas foi o general José Inácio de Abreu e Lima, o General das Massas, confrade de Simon Bolívar. Escreveu a obra O Socialismo. Era irmão de Luís Inácio de Abreu e Lima, também chamado de Luís Inácio Ribeiro Roma, diretor do jornal praieiro. Ambos filhos do padre Roma, fuzilado ao fim da Revolução de 1817.
As características de lutas de classes na Revolução Praieira avultam em depoimentos da época. Figueira de Melo, então chefe de polícia na repressão aos praieiros, dissera dos pobres: “... julgando-se deserdados dos bens sociais ou oprimidas por leis tirânicas e ofensivas, dos seus supostos direitos, nutriam no coração os sentimentos de ódio, de inveja e de vingança contra as classes superiores (...)” – Martiniano Jerônimo em Figueira de Melo. O movimento, forte na capital, não conseguiu se fortalecer no interior por causa da grande propriedade, “a cuja sombra viviam as pequenas povoações, semeadas em suas cercanias; daí a guerra que ela movia à grande propriedade, superior à justiça pública (...)” - Fernando Segismundo em Joaquim Nabuco.
Incisivo é o depoimento de Joaquim Nabuco em Um estadista do Império: “O povo acreditava ter dois inimigos que o impediam ganhar a vida e adquirir algum bem-estar: esses inimigos eram os portugueses, que monopolizavam o comércio nas cidades, e os senhores de engenho, que monopolizavam a terra no interior. A guerra dos praieiros feita a esses dois elementos – o estrangeiro e o territorial, mais que um movimento político, era assim um movimento social.”
*Fernando Segismundo – jornal A Voz do Brasil, janeiro de 1848

**Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.



Uma noite um gato

* Por Clóvis Campêlo

Nietzsche. Foi assim que resolvi chamá-lo. Era um gato preto, completamente preto, que deu de me aparecer no muro do quintal, toda noite.
Vinha, comia o que eu lhe oferecia e se ia, sem mais nem menos. Independente, como todos os gatos.
Uma noite, veio e ficou. Talvez tenha se dado conta de que ali a comida seria farta e o ambiente acolhedor.
Confesso que de início pensei em lhe chamar de Mefistófeles, não só pelo susto que me deu no nosso primeiro encontro, negro dentro do escuro da noite, realçando apenas o brilho claro dos seus olhos, como também pela sua preferência noturna, fugindo sempre da luz do dia. Mefistófeles seria, assim, aquele que prefere a noite e que não ama a luz do dia.
A nossa convivência, porém, mostrou-me que de noturno e soturno ele nada tinha. Além dos ratos, nunca se preocupou em caçar nenhuma outra alma inocente.
Muito pelo contrário, era um gato afável e de bom relacionamento. Logo fez amizade com dois gatos que habitavam a casa vizinha, Heráclito e Empédocles. Não me pergunte, porém, o por quê destes nomes. Talvez o meu vizinho, homem de bigodes fartos e respeitáveis, perambulasse pelos estudos filosóficos, pelos pilares do pensamento grego antigo, do pensamento pré-socrático. Tudo é possível, nesse mundo de Deus e do tinhoso.
Heráclito era um gato ainda jovem, de cor amarela, mariscado, arisco e desconfiado conosco, os humanos. Com Nietzsche, no entanto, deu-se bem. Gostava de vê-los caminhando juntos, no telhado, ao final da tarde ou simplesmente tomando banho de sol, lado a lado, na calçada, pela manhã.
Empédocles era mais velho e mais gordo. Também era mariscado e com matizes que variavam do preto ao cinza. Nunca se envolvia nas arruaças dos gatos vadios. Sempre estava equidistante e equilibrado. Confesso que também nunca o vi sobre os telhados em busca das fêmeas no cio. Era um gato meio estranho e reservado. Mas, relacionava-se bem com Nietzsche e isso, para mim, bastava.
Essa amizade heterogênea e inconsistente, entretanto, pouco durou. Uma noite, do mesmo modo como chegara, Nietzsche se foi. Depois de jantar sardinhas com arroz (sempre se recusara a experimentar a ração felina que eu comprara, induzido pela propaganda televisiva), bebeu um pouco de água, miou um miado qualquer e lançou-se sobre o muro para o que eu imaginava como sendo apenas mais um passeio noturno.
Foi a última vez que o vi.


• Jornalista, radialista e poeta do Recife/PE

Girassóis em chamas

* Por Ademir Assunção

dorso de touro, tigre
listas camufladas:

um salto súbito e o sangue jorra
vinho na relva, patas em convulsão

carcaça, deserto
chifres contra o fundo

de uma moldura árida

mas a brisa, mesmo seca,
sibila algo, escute:

ali se travou uma batalha.

pior a serpente
com seu veneno diário

gota a gota, amortecendo

a fúria, a força
o roçar de pétalas

até que reste só
o girassol em chamas

no fundo do quintal


* Poeta e jornalista

terça-feira, 28 de dezembro de 2010




Leia nesta edição:

Editorial – Arte e competição

Coluna À flor da pele – Evelyne Furtado, crônica “Boa sorte!”.

Coluna Tecelã de emoções – Risomar Fasanaro, crônica “Outros Natais”

Coluna Observações e Reminiscências – José Calvino de Andrade Lima, crônica “De beco em beco... o da Fome”

Coluna Lira de sete cordas – Talis Andrade, poema “Réveillon no Rio”.

Coluna Porta Aberta – Marleuza Machado, crônica ”Limiar”.

Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.

Arte e competição


O bem e o mal duelam no fundo da nossa mente (quer no plano consciente, quer no sub e no inconsciente), desde o momento em que tomamos consciência de nós mesmos e do mundo que nos cerca, até o instante da absoluta inconsciência, que é a morte. Nem sempre, contudo, um e outro se manifestam em atos. Mas estão lá, adormecidos, esperando apenas uma oportunidade para se manifestar. E ambos, conforme as circunstâncias e ocasiões, manifestam-se de fato, quando menos esperamos.
Todas as nossas atividades intelectuais, ou seja, as artes, a filosofia e a religião, são diretamente determinadas por essa incessante competição. O escritor John Steinbeck, no livro “A Leste do Éden”, levanta uma pitoresca questão a propósito, na qual eu não havia cogitado. Sugere que, intrinsecamente, somos, até por instinto, bons e virtuosos.
O mal, por seu turno, na visão do romancista, precisa, a todo o momento, ser ressuscitado, quando não reinventado. Cita, como argumento, novos vícios que surgem de quando em quando. Por exemplo, o tabagismo era desconhecido do Ocidente até o século XVI, embora atualmente faça tantas vítimas mundo afora com seus malefícios.
Já a virtude é, rigorosamente, a mesma desde que o homem aprendeu a pensar e a se relacionar com o próximo. Nada de novo surgiu, nos últimos milênios, no que se refere à moral e aos bons costumes.
Será que o homem, algum dia, conseguirá extirpar o mal da sua mente e, por conseqüência, do mundo? Provavelmente, sou irrecuperável ingênuo. Mas acredito, sem nenhuma sombra de dúvida, que sim. Somente se (ou quando) conseguir sucesso nesse empreendimento, o dito “Homo Sapiens“ fará jus a essa designação e poderá se considerar regenerado e detentor da verdadeira sabedoria. Enquanto isso...
A vida da grande maioria das pessoas – tanto das que vivem hoje, quanto dos bilhões que já viveram desde o surgimento do homem – é, convenhamos, rotineira e vazia, por causa da personalidade, educação, oportunidades (no caso, falta delas) e, principalmente, circunstâncias de cada uma.
Os valores e objetivos, geralmente, são ilusórios e pequenos, mesmo dos que são tidos e havidos como “vencedores”. Dois terços da humanidade, infelizmente, vivem na miséria e têm diante dos olhos cenários cinzentos, paupérrimos, feios, horrorosos, horrendos, para que o um terço restante se regale e viva com conforto e até desregramento. O consumismo desenfreado e inconsciente é o “bezerro de ouro” do nosso tempo, em que o “mercado” foi alçado à condição de divindade.
Todavia, nem por isso as pessoas punidas pelas circunstâncias precisam abrir mão da beleza. Afinal, o mais puro e encantador lírio brota, também, nos mais infectos pântanos. Mesmo uma vida “perdida”, pelos critérios atuais de sucesso, não precisa, necessariamente, ser feia e desoladora. Pode ser vazia, difícil e sofrida, mas, ainda assim, bela. Não é paradoxal? É! Mas ainda assim, possível!
Para isso, é necessário, no entanto, que essas pessoas cultivem, desde tenra infância, até por instinto, o senso estético. Se puderem criar obras belas e harmoniosas, que encantem a vista e alegrem o coração, tanto melhor. Caso contrário, apenas a capacidade de identificá-las (e valorizá-las) e usufruí-las já transforma (para melhor) a vida de qualquer um, por maiores que sejam sua carência e seu desamparo.
Curiosamente, nos lugares mais sombrios e desoladores, emergem, com freqüência, refinados artistas, que captam beleza até no próprio ar e a transmitem por palavras, cores e sons. Um dos versos do poema “Retrato”, de Cecília Meirelles, diz a propósito: “Meus pés vão pisando a terra/que é a imagem da minha vida:/tão vazia, mas tão bela,/tão certa, mas tão perdida!”
Algumas raras vezes uma obra de arte que produzimos supera, em grandeza e transcendência, em muito aquilo que nós somos. Adquire um toque de magia, de perpetuidade, de eternidade até, enquanto nós não passamos de frágeis animais, efêmeros, ignorantes, sumamente imperfeitos e, sobretudo, transitórios.
Convém que, nessas ocasiões, revisemos o que fizermos para lhe dar indispensável toque de humanidade. Caso contrário, nossa obra-prima, exatamente por sua perfeição formal, não encontrará acolhida por parte das outras pessoas, que não se identificarão com ela. Faltar-lhe-á verossimilhança.
Qualquer tipo de renúncia é doloroso, não há como negar. Ainda mais dessa natureza, que afeta, diretamente, nosso ego. Mas não raro, esta se faz não somente necessária, como indispensável. E este é um desses casos. É disso que tratam estes versos com que o poeta piracicabano, Pedro Morato Krahenbuhl, abre o poema “Voto”: “Corrompe-te um vício de humanidade.//Se teu verso repousar na pedra,/na cúpula do tempo ressoar,/gradua-lhe o tom de eternidade,/em poeira e renúncia”.
Confio no poder da auto-sugestão. Já vi pessoas fazerem maravilhas ao se convencerem que poderiam obter sucesso em suas atividades, quando todos os prognósticos lhes eram contrários. Nas recentes Olimpíadas de Pequim, vários atletas se superaram, e venceram os favoritos, estabelecendo recordes olímpicos e mundiais de suas modalidades, porque, além do devido preparo (indispensável, claro, para quem queira vencer em qualquer coisa), se convenceram de que poderiam surpreender a todos. E surpreenderam.
Este é o caminho que vejo para sufocarmos o mal latente que subjaz em nossos inconsciente e subconsciente e permitirmos que o bem – representado, principalmente, pela “trinca” Bondade, Altruísmo e Solidariedade – reine soberano em nossas mentes, corações e vidas. E, por conseqüência, no mundo...

Boa leitura.

O Editor.
Acompanhe o Editor no twitter: @bondaczuk



Boa sorte!

* Por Evelyne Furtado

Respire fundo e procure as suas vontades. Separe as que estão visíveis, mas não fique por aí. Há de ter vontades imersas, esquecidas, dadas por vencidas. Tenha coragem e busque-as. Vale a pena revisitá-las. Examine uma a uma. Garanto que algumas já virão à tona com o sabor de sempre. Deixe-se tomar pelo gosto bom. Reviva-o.


Arranje mais coragem e exponha-se às vontades que vieram e passaram sem o gosto real. Confie nas sensações que elas provocam. Vá por mim: Se você se sentir bem, talvez seja a hora de torná-las realidade, mas, se ao contrário, for tomado por um mal-estar, certamente elas passaram do ponto. Desista!

Talvez seja a hora de lidar com as vontades adormecidas por preconceito, por preguiça, por orgulho ou por excesso de cautela. Olhe-as de frente e a frente delas. Como seria a vida depois de realizá-las? Se há ameaças a sua integridade ou de outra pessoa, melhor desistir. Se não der para esquecer, devolva-as à gaveta das fantasias ou dos sonhos, sei lá.


Vai me dizer que está sem vontade? Tem jeito para isso, também. Comece por imaginar algo muito bom por menor que seja: um prato gostoso, um passeio na praia, um presente, um amor, um novo rumo na vida, uma viagem. Vale uma mudança no visual ou no comportamento. Vale um gostinho que seja para começar. É hora de afiar os desejos, afinal. você terá um ano inteiro para materializá-los. Boa sorte!

• Poetisa e cronista de Natal/RN