A
pedra angular de Drummond
*
Por Euclides Farias
Não
gostaria de deixar a segunda-feira escapar impunemente, como se nela
não tivesse ocorrido o transcurso dos 90 anos de “No meio do
caminho”, o mais conhecido poema do mineiro Carlos Drummond de
Andrade, publicado pela primeira vez em julho de 1928 pela modernista
Revista de Antropofagia. O poema, amado e execrado pela crítica e
sob grande polêmica, voltaria a ser publicado em “Alguma poesia”,
livro de estreia de Drummond, em 1930.
Tenho
predileção antiga pelo poema. Ele reside na
minha memória juvenil como o mais nítido sinal das leituras que fiz
da obra drummondiana, seja em verso ou prosa. Lia o noventão “No
Meio do caminho” com muito mais interesse estético do que os
poemas obrigatórios dos bancos escolares, naqueles tempos de
descobertas literárias na Macapá dos anos 60 e 70 do século
passado.
Divertido,
Drummond lançou em 1947 uma “biografia do poema” para reunir em
livro as cobras e lagartos e o reconhecimento ao valor daqueles
versos inseridos no que se chama de estilística da repetição.
“Tinha uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma
pedra. (...) Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de
minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do
caminho tinha uma pedra. (...).
Felizmente,
90 anos depois, o poema segue liberto das reações contrárias que o
viam como pueril e objeto de tropeço estético - e não como pedra
angular do pendor drummondiano pelo movimento inaugurado pela Semana
de Arte Moderna. Nasceu ali um gênio da raça.
*
Jornalista da Amazônia. Trabalhou em O Liberal, A
Província do Pará, Agência Nacional dos Diários Associados e
Rádio Cultura. Atuou, como freelancer, na Folha de S. Paulo e Jornal
da Tarde.
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