Por
uma cidadania no mundo virtual, com
impacto real!
*
Por Sally Satler
O
mundo virtual faz parte do nosso cotidiano, tanto para diversão,
como para serviços, cultura, informação, etc… Mas também se
consolidou como um novo espaço para fazer reivindicações e
manifestações; e percebo como isso vem se multiplicando ao
acompanhar a quantidade de petições e abaixo-assinados on
line que chegam à minha caixa de e-mails e
pelas redes sociais. A comunidade virtual, muitas vezes questionada e
tratada como ‘ativista de sofá’, tem aumentado sua participação
nas discussões políticas, protestando e requerendo mudanças
através destas petições.
Fazendo
uma rápida pesquisa, foi fácil constatar que essa forma de
participação popular vem ampliando dia a dia. Foram 1 milhão e 600
mil assinaturas contra a eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) para
presidir o Senado. E quase meio milhão de assinaturas para pedir a
destituição do pastor Marco Feliciano (PSC-SP). Em termos práticos,
estas petições ajudam a dar visibilidade às reivindicações
populares e à insatisfação com as práticas políticas, seja do
Congresso Nacional, seja do Poder Executivo.
Como
a internet tem se mostrado um espaço de protesto e de construção
de cidadania, está mais do que na hora dessa ferramenta ser
oficializada e regulamentada, ampliando os poderes desses
abaixo-assinados virtuais, para fortalecer a democracia e dar
efetividade a um dos direitos que até hoje está praticamente em
desuso: a possibilidade de apresentação de projetos de lei de
iniciativa popular.
Projetos
de lei por iniciativa popular consistem em reivindicações de leis
mediante abaixo-assinado de eleitores, apresentados ao Poder
Legislativo. A tramitação é a mesma de um projeto apresentado por
um vereador ou, em nível federal, um deputado. Se legitimassem
também os abaixo-assinados virtuais, a população, entidades e
movimentos sociais em geral teriam maiores possibilidades de ver suas
reais reivindicações atendidas. O parlamento alemão já
desenvolveu sua própria plataforma oficial para que a população
organize esses abaixo-assinados. Além de facilitar o acesso ao
Legislativo, o abaixo-assinado virtual poderá dar agilidade às
demandas.
No
caso de projetos municipais de iniciativa popular, estes são
submetidos à aprovação dos vereadores e do Prefeito Municipal,
como todos os outros projetos de lei. A iniciativa popular é
exercida pela apresentação de projetos de lei à Câmara Municipal,
subscrito um percentual mínimo de eleitores inscritos no Município,
desde que o projeto apresente conteúdo de interesse específico da
Cidade ou Bairro (conforme lei orgânica de cada cidade). Podemos
citar alguns exemplos de demandas, como aquelas relativas à
sustentabilidade/meio ambiente ou de mobilidade urbana/estímulo ao
uso da bicicleta – e quais projetos de lei que poderiam ser
apresentados:
Sustentabilidade
e Meio ambiente:
– para
que se adotem medidas de conservação e uso racional da água e de
energia e de permeabilização do solo nos projetos de urbanização
e edificação a serem submetidos à aprovação pelo Município;
– para
que obrigue a comunidade a separar o lixo reciclável do lixo comum,
com a coleta seletiva sendo feita pela Prefeitura.
Estímulo
ao uso de bicicletas (conforme lei federal 12.587/2012, que
estabelece, dentre outros, prioridade dos modos de transportes não
motorizados):
– para
dispor sobre a criação de estacionamento de bicicletas em locais
abertos à freqüência de público (como em SP, que já tem lei
nesse sentido e que está instalando paraciclos);
– para
que os loteamentos e ruas novas sejam aprovados pelo Município se
for destinado espaço também para ciclovias;
– para
que se insira no currículo escolar da rede pública municipal a
importância do uso de meios de transporte alternativos, como o uso
de bicicleta – ensinando também as regras de trânsito e de
segurança relativo às bicicletas (a Holanda tem esse projeto
implementado há muitos anos);
– para
que os projetos de construção de prédios comerciais sejam
aprovados somente se houver determinado número de vagas de
estacionamento também para bicicletas, com instalação de
paraciclos apropriados;
– para
que se incluam ciclovias em todos os projetos de pavimentação e
execução de vias públicas.
Mas,
para a população apresentar projetos de lei mediante
abaixo-assinados eletrônicos, é necessário criar mecanismos legais
para isso, prevendo no regimento interno da própria Câmara essa
possibilidade. Também seria importante desenvolver uma
plataforma/sistema on line conectada diretamente com
a Justiça Eleitoral, para cadastro e senha dos eleitores
participantes, sendo esta a sua assinatura digital. E convenhamos: o
nosso estado é polo de desenvolvimento de software. Dá pra ver que
não será tão difícil!
E
aí gente, será que a Câmara de Vereadores da cidade de vocês
topa? Que tal iniciar um abaixo-assinado eletrônico, pleiteando esse
direito?
*
Escritora, historiadora e advogada.
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