quarta-feira, 30 de abril de 2014

Literário: Um blog que pensa

LINHA DO TEMPO: 8 anos, um mês e três dias de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Grupo informal que fez história.

Coluna De Corpo e Alma – Mara Narciso, crônica “’Caminhando contra o vento sem lenço e sem documento (Caetano Veloso)”.

Coluna Da terra do sol – Marco Albertim, conto “O coito sem vindita”

Coluna A favor de tudo, contra todos – Fernando Yanmar Narciso, crônica “Quando quase fizemos a diferença”.

Coluna Em verso e prosa – Núbia Araujo Nonato do Amaral, crônica, “Ser ou não ser”..

Coluna Porta Aberta – Elaine Tavares, artigo “Chegaremos a ser humanos?”.

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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária” – José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com 
“Aprendizagem pelo Avesso” – Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
 “Cronos e Narciso” – Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal” – Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Grupo informal que fez história

O Grupo Bloomsbury, do qual Virgínia Woolf participou desde quando tinha 23 anos de idade, em 1905, até seu suicídio, em 1941 e que foi uma espécie de co-fundadora, gera polêmicas até hoje, 69 anos após sua extinção (deixou de existir em 1945). Enquanto existiu, contudo, fez história, Gera infinitas controvérsias ainda hoje. Imaginem na época em que estava no auge! Foi um sopro de rebeldia não apenas contra os cânones artísticos da Inglaterra entre as duas guerras, mas, sobretudo, da moral, dos costumes e do comportamento social desse país. E olhem que na ocasião não havia a internet (sequer se sonhava com o computador), a televisão era um “brinquedinho” (a partir de 1937) que ninguém levava a sério e o rádio não abria espaço para a cultura.

O curioso é que o tal Grupo Bloomsbury, que durou quatro décadas, não foi, sequer, nenhuma instituição formal, dessas que têm estatuto, diretoria, eleições freqüentes e coisas do gênero. Surgiu quase que espontaneamente, congregando não somente escritores (e nem sequer só artistas), mas pessoas de várias atividades profissionais, como economistas, psiquiatras, jornalistas etc.etc.etc. e vai por aí afora. A idéia surgiu quase que por acaso, quando Thoby Stephens, irmão mais velho de Virgínia, decidiu reunir, todas as quintas-feiras, os amigos na nova casa das irmãs, no número 46 da Gordon Square, no bairro londrino de Bloomsbury. A princípio, o número de participantes era pequeno, mas foi aumentando, aumentando e aumentando, até congregar a nata da intelectualidade inglesa da época.

Nesse círculo informal, além de Virgínia e da irmã Vanessa, incluíam-se escritores como Saxon Sidney-Turner, D. H. Lawrence (célebre pelo seu livro “O amante de Lady Chaterly”, proibido por muitos anos na Inglaterra por ser considerado pornográfico e imoral, o que nunca foi), e Lytton Strachey (que se tornaria um dos maiores biógrafos de Sigmund Freud), entre tantos outros. Essas reuniões semanais eram freqüentadas pelo jornalista Leonard Woolf, que se tornaria marido da nossa personagem. Contavam, ainda, com a presença dos pintores Mark Gertler  Duncan Grant e Roger Fry. Eram freqüentadas, também, pelos críticos literários Clive Bell (que se tornaria cunhado de Virgínia ao se casar com Vanessa) e Desmond McCarthy. Enfim, esse círculo incluía, ainda, o economista John Maynard Keynes e o filósofo e ativista político Bertrand Russell. Isso para citar, apenas, algumas das figuras mais célebres que integravam o grupo.

Vários membros do Cambridge Apostles, por exemplo, participavam dos encontros. A morte prematura do criador desse círculo informal, Thoby Stephens, ocorrida em 20 de novembro de 1906, aos 26 anos de idade, vítima de uma febre tifóide que contraiu numa viagem que fez à Grécia, poderia ter posto fim a esses encontros. Não pôs. Outro evento que poderia dissolver o grupo foi o casamento de Vanessa com Clive Bell, em 7 de fevereiro de 1907. Não dissolveu. Entrava ano, saía ano, e as reuniões das quintas-feiras se mantinham e ganhavam novas adesões. Ampliaram-se. Por questão de espaço físico, ganharam duas bases. Uma era o salão original da casa de Vanessa. Outra, a residência para onde Virgínia e o irmão Adrian se mudaram, após o casamento da irmã, no número 29 da Fitzroy Square, igualmente localizada no bairro Bloomsbury.

Nos primeiros anos dessas reuniões, o grupo era uma espécie de “Clube do Bolinha”, apesar dos seus integrantes apregoarem idéias renovadoras e “modernas”, livres de qualquer espécie de preconceito. As duas únicas mulheres eram as donas das casas onde se davam as conversas, em geral em linguagem crua, não raro chula, em que tudo era abordado, sem que houvesse temas tabus: Virgínia e Vanessa. A então futura escritora era grata pelo que considerava “privilégio”. Sua participação no grupo não se limitava a observar as discussões. Participava, ativamente, delas, expondo idéias, criticando e sendo criticada, mas sendo ouvida e acatada. Entendia que essa participação era essencial para que pudesse se livrar da sua educação sumamente moralista e discriminatória.

Muitos dos participantes eram homossexuais notórios e assumidos, mas ninguém se importava com isso. Não, pelo menos, ali. Mas na sociedade... Era um Deus nos acuda! Era um escândalo só! No verão de 1909, outra mulher viria a se juntar ao grupo. E ela não tinha nada, absolutamente nada de convencional. Pelo contrário, contrariava todos os estereótipos femininos em voga, tanto na aparência, “exótica”, para dizer o mínimo, quanto nas idéias e comportamentos. Refiro-me a Lady Ottoline Morell, aristocrata, riquíssima e que era uma espécie de Mecenas das artes, financiando diversas artistas. Sua casa, em Bedford Square, logo tornou-se a terceira base do Grupo Bloomsbury, em cujas reuniões chegou a contar com a presença do futuro e mítico primeiro-ministro britânico, Winston Churchill.

O que, nesse grupo, chocava tanto a sociedade pós-vitoriana inglesa? Tudo! As roupas, a linguagem, o comportamento, principalmente sexual, e a apologia de alguns de seus membros do sexo livre, hetero ou homossexual. Claro que essa não era a ênfase dos participantes, mas era o aspecto que a imprensa, notadamente a sensacionalista, priorizava e se apegava em suas matérias. O jornalista e historiador Euler França Belém, enfatiza, em seu excelente ensaio “Virgínia Woolf tentou ‘curar’ sua loucura pelo suicídio – publicado na revista eletrônica Bula (WWW.revistabula.com) – a propósito: “Henry James, amigo do pai de Virgínia, não gostou do Grupo de Bloomsbury, que achava de baixo nível. Rebelde, o grupo usava roupas esdrúxulas e falava palavrão. Vanessa, pintora (...) também participava das reuniões e era adepta do ‘sexo livre’. Ela própria era chifrada por Clive Bell e chifrava o marido. Nenhum dos dois, porém, gostava das chifradas. O liberalismo, na prática, é uma piada”. Afinal, salvo exceções, na prática a teoria sempre é outra, não é fato?

Boa leitura.

O Editor.    


Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk 
“Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento” (Caetano Veloso)

* Por Mara Narciso

Seu amor e uma cabana” seriam suficientes para ser feliz. Aqueles que se aposentam falam na volta às origens, em comprar uma terrinha e ir morar no campo. Os poetas não param de cantar a vida simples como no roque rural Zé Rodrix e Tavito imortalizado por Elis Regina que diz: “Eu quero uma casa no campo/ Do tamanho ideal/ pau-a-pique e sapé/ Onde eu possa plantar meus amigos/ Meus discos e livros/ E nada mais”. Os citadinos sentem inveja dos “carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim” e de como ter uma vida simples parece bom, fazendo contraponto ao verbo mais empregado na cidade: correr. Mas não o correr para se exercitar, mas o exercer a pressa sem sentido, sem rumo, em busca do vazio existencial.

Na década de 1960/70 o mundo assistia ao modo de vida hippie, no qual a pessoa se desligava dos valores consumistas. Andavam em grupos, não cortavam o cabelo e a barba, não cultivavam hábitos de higiene, usavam roupas velhas e rasgadas e tinham poucos pertences, levando tudo numa mochila. Era o tempo da vida nas comunidades em que tudo era de todos. A paz e o amor eram a bandeira, além de desbancar os valores paternos. Cultuavam a liberdade no pensamento e no sexo, além da fome de cultura, com influência oriental. O movimento deixou sementes, ficando a ilusão de que é possível ter uma vida desprendida.

Vemos-nos agarrados a centenas de compromissos, amarrados pelo pescoço a obrigações imaginárias contra as quais não brigamos. Quem não está com os olhos arregalados, coração acelerado, numa permanente pressa, é de algum outro mundo, não desse. São montes de cartões e senhas. Conexão 24 horas e urgência em fazer coisas inúteis. Contraditoriamente, permanece o discurso de uma vida descomplicada.

Ambiguidade assolada pela mentira. Que descomplicar que nada! Queremos sim a escravidão funesta, que nos tira a saúde mental. Relaxar, meditar, música, conversar, quem tem tempo para isso? Com tantas mensagens para responder, atualizações para checar, downloads para fazer. Somos seres urbanos cheios de necessidades que não existiam até anteontem.

Isso me assustou há dois dias. Para ficar fora de casa por 27 horas, precisei de mais de uma hora para arrumar uma valise de viagem com um pijama e duas mudas de roupa (possibilidade de mudança no tempo climático) e os apetrechos que nos impomos carregar. Por ser uma pessoa de hábitos simples e vestimenta no estilo jeans e camiseta, assustou-me o longo detalhamento da minha bagagem. E até gerou certa polêmica na partida, quando no carro, toquei no assunto.

Fomos prestigiar o lançamento do livro “Raymundo Colares e o fogo alterante da criação”, de Felicidade Patrocínio, em Grão Mogol, que dista 150 km de Montes Claros. No carro, junto com a autora do livro, mais duas amigas, Adelaide Godinho e Geralda Magela Sena, além do motorista Elias, falei da minha surpresa ao constatar como acabamos por nos tornar servos de nós mesmos e de rotinas massacrantes que nos impomos. Mencionei os remédios de uso contínuo (colesterol e angina do peito), e também da possibilidade de passar mal e precisar de outros medicamentos, então os carregava comigo. Embora criticada, como se quisesse adoecer, não acho sensato deixar os remédios em casa, sabendo que já estive em situação de precisar usá-los.

As questões de higiene passam longe da sensatez. Como seres urbanos ao extremo, não basta um pijama, uma escova de dentes e uma roupa íntima. Os anexos são múltiplos potes, bisnagas, vidrinhos, caixinhas, embalagens de muitos formatos, bolsinhas, apetrechos incontáveis, de todas as consistências, que vão enchendo as repartições por todos os lados. Levei apenas um chinelo, e o sapato que usaria na solenidade foi nos pés. Não uso perfume e nem pente, e ainda assim devo ter carregado comigo mais de dez quilos de coisas.  Lá é serra e esfria à noite. Levei apenas um casaquinho leve e cheguei a sentir frio. O pijama foi curto, para ocupar menos espaço, e o fato de que levei o mínimo mesmo, é que só não usei o short e a camiseta.

Assustou-me o agarramento que temos com hábitos e objetos. Não sabemos mais viver sem fita dental, cremes, protetores, maquiagem, desodorante e outras traquitanas. A viagem e o lançamento foram excelentes e ainda tive a oportunidade de filosofar questionando esses nossos valores de prisioneiros da civilização. Afinal, quem vive sem os confortos da vida moderna, tais como ar-condicionado, celular e internet?

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   


O coito sem vindita

* Por Marco Albertim

Tão logo Cambeba viu o retrato do falecido marido de sua mulher na moldura, correu para o Baldo do Rio. A confusão que criou em suas inseguras conjeturas, deu azo a que se visse rodeado por senhores de engenho de feições cambiantes.

Assim, desceu a rua do Rio certo de que o barão de Bujari fora exumado inteiro de sua tumba no cemitério; com o rebenque de uso costumeiro, a sobrecasaca cinzenta coberta de poeira, e a barba senhorial do visconde de Cairu. Atrás dele, o cortejo obsequioso com o tronco estufado do major Diogo Rabelo; a barriga pomposa, escondida pela camisa de linho, do feitor Pinho Rabelo; bem como dos irmãos Adacildo e Julio. Acompanhado cada um da emplumada esposa, inda que sem o laço saliente abaixo das costas, no algodão verdoso feito uma palha de cana, em cada um dos vestidos.

Antes de dobrar à direita da ponte sobre o rio Goiana, foi cumprimentado pelo velho Cesário que, apesar de não nutrir simpatias pelos oligarcas, vestia-se com calça, paletó e colete, ao modo dos senhores da cana. Cumprimentou-o com o braço canhestro, como para distinguir com precisão quem se ocultava nas barbas brancas e encorpadas do velho Cesário. Cesário riu, mostrando os dentes escuros de nicotina. Cambeba sentou-se no banco da praça em frente ao arremedo de porto. Juntando o tumulto do juízo ao esforço de se crer palpável e sem lesões nos sentidos, espremeu os olhos para trazer de volta os corpos boiando de camponeses mortos no leito do rio, trazidos numa manhã de enchente ainda no começo do agourento mês de abril. Os camponeses, com a perplexidade nos olhos, tinham os rostos e as barrigas empapuçados, as carantonhas ameaçadoras à quentura do sol.

- Ainda perseguido pelos seus fantasmas? - ouviu a voz inquiridora de sua mulher.

Antevendo a reação revolta do marido, ela o espreitara no limiar do corredor da casa. Podia pressenti-la ou mesmo distinguir a robustez de Eulália Rabelo, sobre a cerâmica fria do piso da casa, mas, escoimado pelos espectros familiares às lembranças da matrona, desabara para buscar apoio na inhaca do rio, tão ao agrado das vítimas do senhorio do canavial.

Olhou para trás, não viu o cortejo dos Rabelo com rostos empoeirados, dando conta de uma força superior à compactação das lajes de cada tumba. A voz de Eulália Rabelo dissipara-os com a ajuda do calor cristalino do sol. Espremendo a testa, com as pálpebras quase fechadas dos olhos incréus, o professor Cambeba distinguiu na mulher a iminente descarga de revivescência, com o poder luminoso de sua mente.

- Eu não sou suficiente a você? - quis saber ele, mais para confirmar as suspeitas de necrofilia na mulher, do que para nutrir-se de um sentimento esponsal.

Sem se voltar para o rio, mesmo porque tinha a superfície esponjosa de suas águas e as fissuras das paredes do canal entranhadas no juízo, creu-se pequeno comparando a semelhança do rosto argiloso de Eulália Rabelo com as águas e as margens.

- Não me nutro só com a substância física do meu marido. Creio tanto na força da memória que, com um sopro, sou capaz de jogar para longe a poeira que cobre os anos. A vida, com o que tem de tirar e pôr, não me é cruel.

- De quem você herdou essa faculdade?

- De minha mãe. Ela morreu antes de meu pai e, mesmo assim, não saiu de sua companhia.

- Sua mãe foi enterrada e não resta mais nem o pó de sua lembrança.

- Meu pai costumava dormir mais cedo, só para desfrutar da silhueta viva de sua mulher.

Já em casa, ela parou sob a moldura com o retrato do falecido feitor. Segurou no braço do marido e disse:

- Olhe para ele. Meu marido não tem mais raiva de você.

- Seu marido?

- Sim. Não posso negar.

À noite, já deitados, ela puxou-o pelo braço. Seguiram no corredor. Na noite penumbrosa da sala, distinguiram a silhueta severa do feitor Múcio Rabelo na moldura. O coito não se deu com ríctus de vindita. Eulália Rabelo não soprou para longe a poeira dos anos, sorveu sem pressa a leveza da hora.

*Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem três livros de contos e um romance.

Quando quase fizemos a diferença

* Por Fernando Yanmar Narciso

Como alguém já disse, não existem causas perdidas, desde que haja alguém louco o bastante para lutar por elas. Nas grandes viradas da história, a ingenuidade foi um dos ingredientes essenciais. É preciso ter fé cega e incondicional em alguma ideologia para pô-la em evidência e eventualmente fazer com que assuma o lugar do status quo. O povo brasileiro costumeiramente se alimenta de ingenuidade na hora de mudar alguma coisa, e não raramente acabamos caindo na boca do crocodilo ou nadamos até morrer na praia.

O ano era 1983, quando começou a circular pelo Congresso a famosa Lei Dante de Oliveira, preparando o Brasil para o fim do governo ditatorial dos militares e a volta das eleições diretas para presidente. Muitos de nós estávamos tão desesperados com a ditadura, que já durava quase vinte anos, que decidimos nos entregar em corpo e espírito ao movimento pró-eleições diretas, como se só pendurar a faixa no pescoço de um civil pudesse apagar o país e começar outro no lugar. Por dois anos houve manifestações, passeatas e comícios faraônicos ao redor do país, cujo comparecimento em massa da população chegava a ultrapassar os seis dígitos, sendo os de maior repercussão os feitos no aniversário de São Paulo, na Praça da Sé e o do Rio de Janeiro, na Candelária, que mais pareceu o Rock In Rio.

Quisera eu que as impressionantes manifestações do ano passado tivessem se espelhado no movimento das Diretas Já, uma verdadeira lição de união e civismo em nome de um bem maior, pois em meu ponto de vista, os jovens foram sapatear no teto do Congresso ano passado só pra fazer baderna, ao contrário dos que o fizeram em 85! Infelizmente, não importou berrar, pintar a cara, arrumar bandeiras gigantes do Brasil e trazer a população quase toda para as ruas, pois mesmo com a aprovação do fim da ditadura, em 1985 nosso primeiro presidente civil em anos ainda foi eleito sem o dedo do povo.

Não é novidade que já passamos por poucas e boas quando tentamos nos envolver na vida política do país. Na época do lançamento do Plano Cruzado, com congelamento de preços e tudo o mais, a confiança de grande parte da população que aquela presepada salvaria o país da inflação era tão grande que, ao menos no início, consumidores se exaltavam, faziam quebra-quebra e até forçavam o fechamento dos supermercados que vendessem mercadorias acima tos preços da tabela da SUNAB. Os famosos “fiscais do Sarney”...

Pena que levamos apenas cinco meses pra cair na real de novo, quando a inflação disparou novamente e as empresas passaram a boicotar o congelamento, se negando a abastecer as prateleiras. Lembro-me, por exemplo, que quando a revistinha do Zé Carioca era quinzenal, a cada novo exemplar o preço era maior. Então vieram as eleições de 1989, que mobilizou o país do Oiapoque ao Chuí. A patotinha de Sarney arregaçou de tal forma o Brasil que, virtualmente, qualquer partido naquele ano era de oposição e tinha reais chances de chegar ao poder.

Não houve eleições iguais àquela em que levamos ao 2º turno o canalha do Fernando Collor e o escroto do Lula. Collor foi eleito e o povo tinha fé quase cega que tanto ele como Lula, caso fosse eleito, seria o homem a salvar nossa economia, nosso Abraham Lincoln. Só pra variar, quebramos a cara! O Plano Collor conseguiu ser ainda mais desastroso que a era Sarney, com o retorno do Cruzeiro como nossa moeda e o confisco de todo o dinheiro da poupança dos brasileiros, que chegou a matar pessoas que dependiam dela para sobreviver. E assim que o irmão do presidente começou a abrir a matraca e a denunciar as verdadeiras andanças de Fernandinho, foi hora de o povo voltar às ruas de novo.

Quando Collor fez um pedido desesperado de apoio da população que o levou ao poder, implorando que saíssemos de casa vestindo as cores da bandeira, os brasileiros saíram de preto e narizinho de palhaço, para “celebrar” o sepultamento dos dois anos do playboyzinho no planalto. Novamente a pressão popular pesou nas mãos dos políticos na hora de votar a favor do Impeachment do ex-presidente, mas a união fez a força e o almofadinha foi defenestrado em clima de festa no país. Se bem que, assim como nos tempos das Diretas Já, o fim do governo Collor acabaria sendo decretado, independentemente de nossa pressão.

Aqui pra nós, desde quando o impeachment de um presidente é motivo pra carnaval? Por acaso os Estados Unidos também soltaram foguete quando o presidente Nixon foi forçado para fora do governo? Impeachment devia ser um motivo para a gente parar e refletir sobre o que podemos ter feito de errado, o que o presidente fez de errado e o que poderia ser feito para nos prevenirmos contra armadilhas, como eleger um quase desconhecido ao cargo máximo só porque a Rede Globo mandou o povo votar nele. Ainda me faz coçar a cabeça pensar por que Sarney, que protagonizou talvez os cinco anos mais desastrosos da história do país, não foi digno de um impeachment por suas trapalhadas...

*Designer e escritor. Contatos:
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cyberyanmar@gmail.com
Ser ou não ser

* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral

Quero ser rainha! É isso mesmo, rainha! Acordar, comer, tomar banho estudar só na hora que eu quiser! E vou mandar em todo mundo!

A mãe apenas ouve sorrindo por dentro.
- Vou acabar com a miséria, com a corrupção, vou abalar as estruturas preestabelecidas! Se assusta não mãe, ouvi o professor falar isso hoje!
- E as responsabilidades filha, onde ficam?
-Rainha pode tudo mãe, putz!
- Sei... digamos que no seu reino tenha pena de morte e que todos os delitos, mesmos os considerados pequenos, sejam punidos severamente pela rainha?
-E quando houver uma grande seca e a escassez de alimentos obrigá-la a escolher quem vai comer e aquele que vai perecer de fome?
-E se no seu reino as pessoas que envelhecem forem jogadas ao relento, por falta de vigor físico? Ah!!!! Sem falar nos animais que sofrem maus tratos, porém os donos não são penalizados?
- E se...
- Tá bom! Tá bom! Tá bom! Quero ser rainha mais não!
- E o que você vai querer ser então?
- Livre mãe! Livre!


 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário
Chegaremos a ser humanos?

* Por Elaine Tavares

O racismo é uma coisa brutal. Alguém é considerado inferior apenas por conta da intensidade de sua melanina. O racismo não é algo natural. É coisa construída, em nome da necessidade de poder.  Na Europa, o racismo se consolida com as grande invasões do 400, quando portugueses e espanhóis singram os mares em campanhas de conquista, depois seguidos por outros povos da região. Assim, eles invadem a China, o Japão, a Índia,  Abya Yala, a África inteira... Discriminam os amarelos, os azuis, os vermelhos, os negros. Chamam de seres inferiores, simplesmente porque não são como eles. Com isso, justificam a dominação, a escravidão, o extermínio. Visão grega de mundo, na qual só o igual é ser. Os demais são não-seres. Portanto, passíveis de destruição. Toda a cultura e história milenar desses povos dominados são ignoradas.

O tempo passa, o colonialismo daquele então se acaba, mas as marcas e a herança maldita seguem vivas. Hoje, na Europa, depois de terem destruído a vida de milhões e milhões de pessoas, com a invasão e o massacre, as gentes ainda são capazes de discriminar africanos, asiáticos, árabes e latinos, apenas porque eles são quem são. Nada mais. Essa gente sequer se dá conta de que seus países são responsáveis por toda a pobreza e miséria na qual vivem esses povos, na periferia do sistema capitalista. Ainda assim, rechaçam, matam, humilha, violentam, massacram. No Brasil não é diferente. O ódio contra índios e negros, que teve sua origem na invasão portuguesa, segue com a mesma força. E isso se vê todos os dias, em pequenos gestos, comentários racistas, atitudes discriminatórias.

Agora,  vejo um campanha iniciada pelo jogado Neymar, que alude ao gesto de um outro jogador brasileiro - vítima de racismo - que resolveu agir sem alarde diante de uma banana jogada a seus pés, comendo-a, como a dizer: fodam-se, racistas! O ato do jogador, nem discuto. Como branca, é incognoscível para mim saber o que pode ter sentido esse rapaz, assim como tantos outros negros submetidos a momentos de humilhação, sistemáticos, constantes, dia após dia. Talvez tenha sido um esgotamento, um ódio surdo. Não sei.

O que me causa espécie é a atitude de tantos outros brasileiros, na tentativa de se solidarizar com o atleta que hoje vive na Espanha, possivelmente por estar submetido - sem chances de escapar - a essa forma de escravidão moderna que é o futebol. Não creio que a melhor saída seja se fotografar com bananas, aludindo que "somos todos macacos". Não o somos. Nem nós, os brancos, nem eles, os negros. Somos de uma triste espécie, frágil e fraca, chamada humana. Uma espécie que só conseguiu sobreviver até agora porque há uma parte de seus indivíduos que coopera e se solidariza no processo de construção da vida. Uma parte que consegue manter o equilíbrio apesar de outra parte insistir na destruição e no egoismo.

Fico aqui, agora, depois de ler, entristecida, uma matéria sobre um povo negro, do Quilombo São Roque, que teve de jogar fora centenas de quilos de semente, porque está proibidos de plantar em sua própria terra ancestral. Condenados á miséria, ao abandono. Não são macacos, são humanos. Vejo também, no facebook, os cartazes distribuídos em algum lugar desse nosso triste Brasil que dizem que os índios são "atrapalhos" ao progresso, incitando assim o ódio e a violência contra os parentes de todas as etnias. E os índios tampouco são macacos. São humanos.

Então me dá um cansaço, um esgotamento, um ódio. E me deixo ficar na impotência. Não há o que dizer para quem não quer escutar. A solidariedade ao povo negro, aos índios, aos que nos aparecem como diferente não precisa de fotos no facebook. Precisa de ações concretas, na vida cotidiana.


Nietzsche, ao criticar o mundo moderno, dizia que somos humanos, demasiado humanos... Mas não sei, se um dia chegaremos, como raça, a cumprir esse designo!


* Jornalista de Florianíopolis/SC

terça-feira, 29 de abril de 2014

Literário: Um blog que pensa

LINHA DO TEMPO: 8 anos, um mês e dois dias de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Editora de olho clínico.

Coluna À flor da pele – Evelyne Furtado, poema, “Como uma pluma”.

Coluna Observações e Reminiscências – José Calvino de Andrade Lima. crônica, “O desembargador”..

Coluna Do real ao Surreal – Eduardo Oliveira Freire, conto, “Peixe fora d’água”.

Coluna Porta Aberta – Clóvis Campêlo, poema “Vai!”.

Coluna Porta Aberta – Harry Wiese, artigo “”Dia do Índio, algumas reflexões”.

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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
 “Cronos e Narciso” Pedro J. BondaczukContato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal” Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


  
Editora de olho clínico

A atuação de Virgínia Woolf no instável, posto que fascinante,”mundo da Literatura”, não se restringiu à sua principal atividade, ou seja, a de escritora. Foi, também, editora e integrante de um dos mais polêmicos grupos de intelectuais, das mais diversas  tendências e áreas da cultura: o “Bloomsbury”. Destacou-se em ambos, a exemplo do que aconteceu nas letras, revelando, no primeiro caso, competência, sobretudo administrativa e, no segundo, rebeldia ativa contra o status vigente na sociedade inglesa do seu tempo  e não somente retórica. Em vez de se limitar a criticar o que a desgostava, agiu para tentar modificar a situação, São aspectos dignos de nota que provam que ela não foi, propriamente, aquela figura desequilibrada e amalucada que a maioria dos seus biógrafos enfatiza. Ou, para sermos mais exatos, não foi “só” isso. Seu desequilíbrio emocional foi público e notório. Mas sua competência e talento foram infinitamente maiores.

Analisemos por partes. A editora, que Virgínia fundou, com o marido, Leonard Woolf, em 1917, tinha o objetivo de ser, inicialmente, apenas um passatempo para o casal. Se pudesse ter alguma utilidade, além disso, muito bem. Se não pudesse, provavelmente não causaria nenhuma aflição ou constrangimento a nenhum dos dois. A Hogarth Press nasceu simplezinha, com maquinário antiquado e praticamente sem nenhum funcionário. Os livros eram impressos, todos, a mão, num processo artesanal e lento, em tiragens limitadas, posto que com bom acabamento. Inicialmente, a editora imprimia livros da própria Virgínia e de um ou outro escritor conhecido, amigo do casal. O nome da empresa familiar era o da casa em que os proprietários residiam em Richmond.

Não tardou, porém, para que tudo mudasse. E para melhor, muito melhor, obviamente. O casal resolveu investir no empreendimento. Adquiriu impressoras comerciais, relativamente modernas, que permitiam imprimir mais livros e em tiragens bem maiores. Contratou funcionários e, principalmente, organizou-se empresarialmente, deixando de ser mera ação entre amigos. Passou a atrair tanto escritores já consagrados, quanto jovens promissores, de grande talento e muita ambição, mas de escassas oportunidades. O negócio começou a prosperar e não tardou a navegar em mares tranqüilos, de vento em popa. Os livros publicados já não eram só de membros do Grupo de Bloomsbury. A Hogarth Press, por exemplo, foi a pioneira na publicação de trabalhos sobre psicanálise, principalmente da obra de Sigmund Freud (mas não só dele). Outro passo à frente foi a publicação de livros de escritores estrangeiros, traduzidos para o inglês, em especial dos clássicos, notadamente dos russos.

Cinco anos após a morte de Virgínia, em 1946, a editora passou a ser administrada por outra empresa, a “Chatto and Windus”. E assim permaneceu até 1969, quando se fundiu à “Jonathan Cape”. Esta, todavia, não durou muito tempo e encerrou suas atividades nos anos 70. Virgínia Woolf, ou, mais propriamente, sua editora, a Hogarth Press, revelaram diversos escritores, alguns tidos e havidos hoje como clássicos. O caso mais citado é o do poeta norte-americano, que se naturalizou britânico, T. S. Eliot. Foi ali que seus primeiros livros de poesia foram impressos, entre os quais o mais famoso foi “Terra estéril”.

Editora e escritor foram grandes amigos, a despeito de algumas rusgas que tiveram. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando T. S. Eliot se tornou editor de uma empresa rival, a “The Criterion”. Ela não entendeu essa decisão, pois havia tentado tirar o poeta de seu emprego em um banco, oferecendo-lhe o mesmo cargo na Hogarth Press. Este, porém, recusou. A rusga entre ambos, todavia, não durou muito. Certamente Virgínia teria ficado sumamente orgulhosa caso pudesse testemunhar sua “descoberta” literária ser agraciada, em 1948, com o Prêmio Nobel de Literatura. Mas não pôde. Quando T. S. Eliot foi premiado, ela já estava morta há sete anos.

Todavia, nem sempre a escritora-empresária acertou em suas decisões empresariais. Por exemplo, teve em mãos o manuscrito de “Ulysses”, de James Joyce, mas não pôde, ou não quis (o que é o mais provável) publicá-lo. Foi, é claro, um erro sem tamanho e nem preciso lembrar por que. Aliás, ela alimentava, por razões que só ela poderia explicar, algumas picuinhas com o escritor irlandês (ao qual era comparada por muitos). Quentin Bell, em seu livro “Virgínia Woolf – uma biografia (1882-1941)”, escreve a respeito: “Era uma obra que Virginia não podia rejeitar nem aceitar. O poder e a sutileza da obra eram evidentes o bastante para despertar a admiração dela e, sem dúvida, inveja. Parecia-lhe ter uma espécie de beleza, mas também um brilho rude, arguto, de sala de fumantes. Joyce usava instrumentos parecidos com os dela, e isso era doloroso, pois era como se a pena, sua própria pena, tivesse sido arrancada de suas mãos e alguém rabiscasse com ela a palavra foda no assento de um vaso sanitário”.

Quentin acrescenta: “Virgínia também sentia que Joyce escrevia para um pequeno grupo, e, quando se refere a ele, escreve ‘essa gente’ — como se o classificasse tal qual Ezra Pound e não sei que outras figuras do ‘submundo’. A reação dela talvez seja significativa; a rudeza gratuita e impudente de Joyce fazia-a sentir-se, súbito, desesperadamente ‘uma dama’. Mesmo assim foi perspicaz o bastante para ver que era algo digno de ser publicado; era claro, também, que estava absolutamente além da capacidade técnica da Hogarth Press”. Prefiro crer que Virgínia perdeu a oportunidade de revelar “Ulysses” ao mundo por incapacidade material de sua editora e não por inveja, embora esse fator não possa ser descartado. Quanto ao Grupo Bloomsbury, este merece capítulo a parte, que pretendo escrever na sequência.

Boa leitura.


O Editor.

Acoimpanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk 
Como uma pluma

* Por Evelyne Furtado

A noite reina em minha alma
Que hoje sai de mim
Como uma pluma a voar por aí.
Deixo-a ir
Suavemente livre.
Não sabe até onde vai.
Apenas flutua feliz.


* Poetisa e cronista de Natal/RN
O desembargador

*Por José Calvino


- A diferença entre um homem e o seu reverso é simples:
o primeiro é um homem de consciência, o segundo  um
homem que vai na onda.
                                             (C. Wagner)



Um amigo juiz de direito, nomeado desembargador pelo Ministro do Tribunal de Justiça, relendo “ O maior xexeiro no País do futebol”, me contou alguns problemas que existem e que sempre existiram:  são em geral reivindicações dos trabalhadores de modo geral.  O nosso povo não está preparado para revolucionar, até porque uma boa parte dos nossos intelectuais vivem politicamente e culturalmente em cima dos muros, esperando uma oportunidade para mamar nas tetas do governo. Os brasileiros já se preparam para receber o maior evento do futebol mundial. Gastamos involuntariamente (nós, cidadãos que pagamos a fatura) milhões com estádios de Primeiro Mundo. No entanto, o governo não cumpre as decisões judiciais e, simplesmente, as despreza ou menospreza. Vergonhosamente já houve caso, em 2003, de desconsiderarem a decisão do Tribunal de Justiça, inclusive com o amparo no dispositivo aplicável da atual Carta Magna. Votaram com Desembargador, Relator e desembargadores...

Estou preocupadíssimo com que uma pessoa idosa, alto de cabelos brancos, me contou revoltado que, desde criança, sabe que esses governos com conivência da justiça,  falam mais alto que a lei. Um país que só vive de miséria, prostituição, jogos de azar..., as autoridades sendo subornadas pelos poderosos, nada mais podemos esperar! O pior: em março deste ano, o juiz homologou a sentença que diz que o depósito judicial será realizado com uma importância de fazer vergonha pela pouca vergonha dos excessos que continuam  falando mais alto que a lei. Sai governo, entra governo e cadê a lei que se deve cumprir?



- Dá vontade de colocar umas bombas nos Palácios... - disse bruscamente com voz possante: “me prendam, seus filhos das putas...”
- Porra, Azambujanra, como você é doido!
- Foda-se, respondeu.

Finalizando, é sempre bom lembrar com poesia os problemas que existem:

Primeiro é uma consideração
(eu respeito)
as massas precisam aprender.

Vamos pra frente
(eu entendo)
que se alastra, que será resolvido
as idéias claras a respeito.

Será ignorância?
(eu tenho pena)
calma que silencia.

Minha arma é a caneta
minha tranquilidade permanece
sem obrigação...
a uma ação, ou comportamento.

Não é de hoje
não cabia.
Deveria.


*Escritor, poeta e teatrólogo pernambucano. Visitem e sigam Fiteiro Cultural: Um blog cheio de observações e reminiscências – http://josecalvino.blogspot.com/


Peixe fora d’água

* Por Eduardo Oliveira Freire

Não posso acreditar acordei numa nave espacial. Como vim parar aqui? Ao abrir os olhos, uma médica me diz que estava numa espécie de capsula por cem anos.

Meu mundo que conhecia não existia não. Perguntei como parei ali, ela comentou que fui um voluntário-não-especialista. Revela que era uma pesquisa comportamental para ver como um indivíduo sem qualificação de astronauta reagiria às adversidades. Mas, argumentei que já se passara cem anos. Então, ela disse que a pesquisa é de longo prazo.

Caminho pela nave, ainda bem que tem gravidade. Odiaria ficar flutuando. Os dias se passam e a única coisa que gosto é tomar banho de banheira, olhando através da janela envidraçada o universo. Não me canso de ver, como fazia com o mar antigamente. Tudo é tão sem sentido, como parei aqui nesta nave? Sinto-me um peixe fora d'água, já que todos são super inteligentes. Fragmentos surgem, estava só e um senhor me oferece ajuda, rubriquei um papel que ele pediu par assinar.

Fui convidado para trabalhar na biblioteca, pois, muitos cientistas gostavam de ler livros concretos, organiza-os com ajuda de um robô implicante. Quer ser meu chefe e o mando ir à merda toda hora. Agora, estou aqui, escrevendo sobre o que acontece comigo.

Estou preso nessa merda desta nave e não posso voltar para casa, porque não existe mais. Também, nem sei se já tive um dia uma casa.


Completamente só no Universo, mas quando estou no banho olhando as estrelas, sinto saudade de algo que não sei o que é. As estrelas me consolam são as únicas testemunhas do meu caos íntimo. Quer saber de uma coisa, para que complicar? Viverei a realidade que estou agora, completamente perdido no espaço. Tentarei ocupar a mente, entrosar-me com este povo metido e ser mais simpático com o robô que, querendo ou não, é meu chefe.

A vida é absurda mesmo, se procurar lógica em relação ao que acontece comigo, ficarei maluco.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


Vai!

* Por Clóvis Campêlo

Vai que a juventude
dessa brisa
espanta
e nem um pouco
me afugenta
a dor.

Vai que a inquietude
dessa vida
é tanta
que nem um louco
lhe entende
a cor.

Vai que a negritude
dos teus olhos
é manta
que me acoberta
e aquece
de amor.

Vai que um dia
tudo se transforma
e se agiganta
e nós seremos
o sol a se por.

Vai!

Recife, 2008

* Poeta, jornalista e radialista, blogs: