quarta-feira, 18 de julho de 2018

Correios: a instituição mais confiável do Brasil - Mara Narciso


Correios: a instituição mais confiável do Brasil



* Por Mara Narciso


Não se afobe não, que nada é pra já, o amor não tem pressa, ele pode esperar no silêncio do fundo do armário, na posta-restante. Milênios, milênios no ar...” (Futuros amantes - Chico Buarque). Posta-restante é um sistema de envio de correspondência em que esta não é enviada para o endereço do destinatário, ficando nos correios até que a reclamem.
Revolver o passado para analisá-lo traz inúmeras vantagens, desde a motivação dada pelos acertos, até o aprendizado trazido pelos erros. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos surgiu em 1663 com a criação do cargo de Correio-mor das cartas do mar no Rio de Janeiro. Depois teve por objetivo enviar e entregar correspondências, além de desenvolver a Filatelia – o selo Olho de Boi de 1843 faz parte da primeira série de selos postais impressos pelo Governo Imperial Brasileiro. As encomendas podiam ser levadas a pé, em lombo de burro, carroças, de barco, de trem, de ônibus, de avião e outros meios de transporte.
As antigas agências dos Correios tinham grandes mesas sobre as quais se fazia a colagem dos selos e o fechamento dos envelopes e pacotes. Eram de madeira, e tinham um recipiente fundo, abaixo do nível da plataforma, com cola amarela e uma espécie de rolo de metal, que girava mergulhado no líquido e nele se encostava a extremidade do envelope a ser fechado. A mesa era toda melada, e exalava um odor característico. Após comprar o selo, de acordo com o peso do material a ser enviado, havia o costume de se lamber a parte posterior da estampa que seria aderida. Depois de serem colados, os selos recebiam um carimbo, e a carta era colocada num buraco de entrada estreita, dentro de um balcão de mármore.  Na época do Natal os Correios fervilhavam.
Enviar uma carta, imaginar o destinatário lendo, respondendo e aguardar a chegada da resposta envolvia expectativa e emoção. Era aflitivo aguardar pela hora do carteiro passar, vê-lo se aproximar da casa, receber o envelope e ir ler a mensagem num lugar reservado, para não dividir a alegria com ninguém. Ou a tristeza das más notícias.
 Na década de 1970 era possível enviar uma carta de Montes Claros a São Paulo e esperar duas semanas para se ter a resposta. Ou nunca tê-la. Cartas extraviadas eram comuns. Pessoas com muita correspondência tinham sua caixa postal. Era uma espécie de box numerado com duas portas de metal, uma para o exterior e outra para o interior, que ficava nas paredes das agências. O dono da caixa pagava uma mensalidade, tinha a chave externa e os funcionários possuíam a interna para colocar as cartas e afins. Sendo freguês habitual, as empresas enviavam ao proprietário catálogos com fotos de produtos.
Havia cursos por correspondência, inclusive em nível superior. Ao final do estudo, havia a prova e o diploma. Com o tempo, outros serviços foram incorporados, com modernização tecnológica, ampliação do seu papel social (patrocínio de atletas) e uma logística que ganha prêmios. O SEDEX - Serviço de Encomendas Expressas surgiu em março de 1982 para fazer entregas de pacotes de até 5 kg.
A pesquisa Marcas de Confiança das Seleções do Reader’s Digest em 2008, para avaliar a credibilidade das pessoas nas entidades, teve como vencedora os Correios com 86% de confiança, mas, essa certeza foi estremecida por escândalos protagonizados pela sua direção.  Atualmente não figura entre as marcas em que a população dá mais crédito. De acordo com a Folha de São Paulo de 7 de junho de 2017, uma pesquisa mostrou que 83% dos brasileiros confiam nas Forças Armadas, 71% na Imprensa, 33% na Presidência da República e 30% nos partidos políticos.
Os Correios perderam a sua função inicial, já que quase ninguém espera por cartas – apenas por contas, boletos e propaganda política. As missivas foram substituídas pelos e-mails, hoje em menor número, já trocados pelas mensagens de texto, de voz e de vídeo das redes sociais. Podemos, mas não devemos reclamar dos avanços. A saudade acontece já que a nostalgia ainda não foi proibida.




* Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”



2 comentários:

  1. Triste fim de uma instituição tão prestigiada e reconhecida em sua eficiência... Hoje está praticamente falimentar, com funcionários compreensivelmente desmotivados - saqueados em seu Fundo de Pensão pelos abutres da máquina política.

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  2. Situação triste, eu sei. Houve muitas demissões.

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