Reconhecimento póstumo
O
reconhecimento do talento e, principalmente das realizações de
pessoas competentes e criativas não raro chega (quando chega,
óbvio), muitos anos depois de sua morte. Claro que não se trata de
regra, mas de possibilidade. E isso em qualquer profissão ou
atividade. Em literatura não é diferente.
Há
escritores que se mostram muito adiante do seu tempo em termos de
talento e criatividade. Escrevem livros à prova de reparos, que
beiram à perfeição. Demonstram incrível domínio da técnica de
escrever e sensibilidade imensa, dessas raras e à prova de reparos.
Ou seja, preenchem todos os requisitos para o sucesso literário.
Mas... Sabe-se lá por qual artimanha do acaso, esse não vem. Morrem
praticamente ignorados por leitores e pela crítica. Muitos terminam
a vida em condição pior: na miséria, dependendo da caridade alheia
para sobreviver.
Lá
um belo dia, porém, às vezes décadas após a morte, um desses
“ratos de biblioteca”, garimpeiros de tesouros literários, que
se proponha a compor excelente antologia, descobre, num sebo
qualquer, um exemplar do livro que o tal escritor produziu com tanto
entusiasmo, mas que não conseguiu esgotar sequer reles edição de
mil exemplares.
Ou
algum professor de Português, que esteja pesquisando aspectos
diferentes do idioma para escrever um livro didático, faz o mesmo e
resolve incluir um texto do nosso injustiçado (e obscuro) personagem
em sua obra. E eis que se dá um milagre.
Subitamente,
quem foi ignorado em vida, passa a ser admirado e, às vezes, até
reverenciado muitos anos após a morte. As editoras movimentam-se
junto à família do tal escritor redescoberto para obter os direitos
de republicação de sua obra.
Em
alguns casos, essa, legalmente, já caiu no domínio público, o que
os editores acham melhor ainda, a maravilha das maravilhas, por
significar lucro total e exclusivo. E, da noite para o dia, quem
morreu frustrado, decepcionado, esquecido e abandonado se transforma
num esfuziante best-seller, incomparável fenômeno de vendas.
Vocês
pensam que isso é raro de acontecer? Pelo contrário. Há casos e
mais casos desse tipo, tão comuns que sequer nos damos conta deles.
Como se vê, o sucesso e o fracasso são bastante relativos.
Claro
que nós, escritores, gostaríamos de ter nosso talento e
criatividade reconhecidos em vida. Quem não gostaria? Isso, todavia,
não é e nunca foi (e nem sei se um dia será) regra, mas rara
exceção.
Por
isso, devemos atentar para cada texto que produzirmos. Temos que dar
o melhor de nós sempre, mesmo naquilo que pareça trivial e sem
importância. Não escrevemos para o presente, mas para o tempo e a
eternidade. O sucesso em vida, se vier, será mero, posto que bem
vindo, acaso. Tenhamos isso em mente.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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