quarta-feira, 18 de julho de 2018

Coragem - Núbia Araújo Nonato do Amaral


Coragem


* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral


Não tinha medo do escuro, da mula-sem-cabeça ou do temido bicho-papão. Não tinha medo era de nada, nem de raio ou de trovão. Eu tinha uma fiel escudeira que talvez fosse "aparentada" de São Jorge tamanha era a sua coragem.

Podia vir bicho que fosse, ventania de arrancar chapéu, podia vir até redemoinho, o meu escudo me blindava, me protegia. Eu nunca parei pra pensar em quem protegia ela. Se um dente me do
ía, ela dizia: - vai passar…

Se a barriga mordia de fome ela dava o jeito dela e tudo era tão doce que a gente ainda lambia os beiços. Nunca pus reparo nos seus olhos quando namorávamos as bonecas das vitrines ou os lindos sapatinhos que brilhavam no sol.

Se por alguns segundos eu me perdia, logo vinha o alívio por suas mãos escaldadas pelo sabão barato, pelo cheiro de mato que lhe era tão peculiar.

Confesso, hoje, minha covardia, pois não herdei de ti a coragem que te erguia a cada dia, a cada ventania, a cada sopro gelado no coração, mas nutro no amor que me dedicastes, a vontade, a esperança e a alegria de ser tua parte.


* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário.




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