Divulgação é essencial
Um
amigo de longa data, que volta e meia me inquire sobre minhas
preferências literárias, me questiona, por e-mail, a respeito da
poesia regional. Pergunta-me o que acho dela. Não acho nada. Da
minha parte lhe respondo que, para mim, essa manifestação de
sensibilidade e beleza, que é a arte de poetar, é, sobretudo,
universal.
Gosto
de poetas (dos bons, obviamente) de toda e qualquer parte do mundo.
Para mim só existe uma distinção quando se trata de poesia: a boa
e a ruim. No mais... Tudo não passa de perfumaria. Sou leitor
compulsivo desse gênero e, vira e mexe, também perpetro meus
versos, que já me valeram, inclusive, um prêmio de âmbito
nacional. Mas essa é uma outra história.
Se
tivesse, todavia, que optar por poetas de alguma determinada região
do País, possivelmente optaria pelos do Nordeste. “Por que essa
opção, se você é jornalista e escritor do Sul?”, me perguntou,
certa feita, o referido amigo.
Não
sei explicar. Nem sei se há alguma razão objetiva para isso. Talvez
se trate de mera afinidade espiritual, não sei. Provavelmente isso
ocorre porque os poetas nordestinos são os que mais conheço e que
mais influência exercem sobre minha visão de mundo e, por
consequência, sobre minha literatura. E olhem que eles sequer são
devidamente divulgados. E como vocês sabem, divulgação é
essencial. Eu é que sou incorrigível xereta, pesquiso, procuro,
reviro livros e mais livros em sebos, e, no final das contas,
encontro-os. E me delicio com os seus versos. Afinidade espiritual, é
isso...
Os
poetas de outras regiões que me perdoem. Não estou afirmando que
faço pouco caso da sua poesia. Evidentemente não faço. Por isso,
já afirmei acima: gosto dos bons poetas de toda e qualquer parte.
Mas... se tivesse que escolher... Daí ter usado o verbo “ter” no
condicional.
Esse
fascínio pelos poetas nordestinos vem de longe, da minha infância.
Vem desde a leitura de dois livros do maranhense Gonçalves Dias,
passando pelos baianos Castro Alves e Tobias Barreto, “desaguando”
na contundente e apavorante (de tão vibrante e bela que é) poesia
do paraibano Augusto dos Anjos.
E
não é só. Não gosto de citar nomes, pois sempre que o faço,
cometo injustiças. Mas não posso omitir um Manuel Bandeira, um João
Cabral de Melo Neto, um Catulo da Paixão Cearense, um Patativa do
Assaré, um Joaquim Cardoso (homem de memória prodigiosa, que
decorava todas as suas poesias, que eram muitas, e as declamava, uma
por uma, sem mudar uma só letra ou vírgula do que havia escrito).
Também
não posso, não devo e nem vou omitir poetas como Oliveira e Silva,
Austero Costa, Eugênio Coimbra Filho, Audálio Alves, Mauro Mota,
Carlos Pena Filho, César Leal, Edmir Domingues, Tomaz Seixas,
Gonçalves de Oliveira, Carlos Moreira, Alberto Cunha Melo, Arnaldo
Tobias, Cyl Gallindo, Jacy Bezerra, Jobson Figueiredo, Marcos
Santander, Maria Lúcia Chiapetta, Maurício Motta, Sérgio Moacir de
Albuquerque, Tarcísio Meira César e José Bezerra de Carvalho.
Como
esquecer de poetas como Luís Augusto Cassas e Eduardo Pragmacio
Filho, por exemplo? Ou desse tremendo talento poético (sobre o qual
ainda escreverei, oportunamente, muitas considerações), que é o
Talis Andrade? Ou dessa poetisa doce e sensível, que é a Evelyne
Furtado, a quem trato, carinhosamente, de Veca? E olhem que nem
mencionei os grandes cordelistas, que o Nordeste tem com fartura.
Entenderam
por que, se tivesse que optar por poetas de alguma região, optaria
pelos do Nordeste? Não canso de ler os seus versos e de divulgá-los,
com o maior entusiasmo, na esperança de que algum dia, algum
generoso escritor nordestino divulgue também a minha obra (que pelo
menos em volume é imensa) aí, nessa região que tanto amo por uma
série de razões que não cabe, aqui, declinar, por não ser espaço
oportuno para tal.
Convencer
qualquer pessoa, seja lá a respeito do que for, é uma arte, e das
mais difíceis. É a principal “ferramenta” de todo o vendedor
que se preza. Para tanto, utiliza os mais variados argumentos para
apresentar seu produto e levar a pessoa a quem oferece a se sentir
tentada a adquiri-lo. E o que faz para isso?
Primeiro,
exalta as qualidades da mercadoria (o que, em muitos casos, quando se
trata de produto malfeito, de baixa durabilidade, é mais do que
arte, descamba para a artimanha). A seguir, enfatiza a acessibilidade
do seu preço, em relação aos dos concorrentes. Cita uma série de
vantagens, como assistência técnica, prazo elástico de pagamento e
outras tantas facilidades (que, não raro, sequer existem). Mas, o
principal desafio é o de convencer o cliente em potencial da sua
necessidade do produto, mesmo que ele não sirva para coisíssima
alguma.
Nós,
escritores, somos um pouco vendedores. Vendemos nossas ideias,
pensamentos e emoções. E já nem me refiro ao aspecto de
comercialização dos livros que escrevemos. Nos contatos que
mantemos com as editoras, tentamos convencer os que podem publicar ou
não nossas obras, da sua excelência e originalidade. A tentativa de
convencimento ainda maior é a de aliciar leitores. A venda que
buscamos lhe fazer, neste caso, é figurada. Ou seja, não buscamos,
propriamente, convencê-lo a comprar nossos livros. Isso quem faz são
as editoras.
Buscamos,
sim, convencer esse ente, que é o mais importante na vida de
qualquer escritor, que nossas ideias são corretas, revolucionárias
e originais. Que nossos enredos são criativos e verossímeis. Que
nossos poemas são autênticos, sofridos, “paridos” com dor. Uma
vez convencidos, esses leitores irão determinar nosso sucesso nessa
carreira tão árdua e tão instável. Essa tarefa parece fácil,
mas, creia-me, não é.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Será que conseguimos de fato convencer alguém das nossas ideias? Conseguiremos vender nossos livros? E se sim, eles serão lidos? Aqui em Montes Claros apenas uma escritora tem editoras esperando pelos seus conteúdos. Maria Luiza Silveira Teles. Todos os demais pagam pelas suas publicações.
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