sexta-feira, 30 de setembro de 2011







Leia nesta edição:

Editorial – Tecnologia ameaça o livro?.

Coluna Contrastes e confrontos – Urariano Mota, crônica, “Para a nova idade de 61”.

Coluna Visões do cotidiano – Silvana Alves, poema “Falar de amor”

Coluna Do real ao surreal – Eduardo Oliveira Freire, minicontos “Pílulas literárias 95”.

Coluna Porta Aberta – Luiz Ramirez, conto,“O lobo do homem”.

Coluna Porta Aberta – José Ribamar Bessa Freire, carta aberta “Carta aberta à Comissão da Verdade”.


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.



Tecnologia ameaça o livro?

Os livros correm o risco de serem arrastados pela enxurrada das novas tecnologias e do audiovisual e devem levar a pior na briga pela atenção das crianças“. Quem fez essa (para mim) sombria previsão foi o badalado dramaturgo, nascido na antiga Checoslováquia, atual República Checa, mas naturalizado inglês, Tom Stoppard. Aliás, não obteve apenas a naturalidade britânica, mas foi sagrado, há já bom tempo, pela rainha Elizabeth II, com o honroso título de “sir”. Isso dá conta da sua importância como intelectual e produtor de arte e de cultura. Trata-se, pois, de alguém que merece ser levado a sério.
A previsão do dramaturgo foi feita há já certo tempo, mais especificamente, em 21 de junho de 2010, em discurso que pronunciou numa escola da Grã-Bretanha, em um evento de caridade do Príncipe de Gales. Seu alerta foi destinado a um público específico: professores de diversos níveis de ensino desse país. Sua mensagem teve o objetivo claro e direto de encorajar os docentes sobre o que e de que forma devem ensinar.
Cá para nós, existe mesmo esse risco? Não seria mera retórica do dramaturgo, afeito a dramatizar as coisas? No médio prazo, talvez não haja esse perigo. Notem bem, afirmei “talvez”. Mas se as coisas continuarem, como estão... Não quero nem pensar!
Stoppard ressaltou, em determinado trecho do seu discurso: “Não há mais tanta demanda pela escrita como quando eu tinha idade para ser aluno, ou mesmo a idade de seus professores”. No seu entender (e no meu), “as crianças vivem em um mundo dominado pela tecnologia, onde a imagem em movimento é mais importante que o impresso”. Exagero de Stoppard? Claro que não! Basta observar o que ocorre ao nosso redor para concluir que o alerta é não apenas válido, mas impõe.
Não sou um sujeito conservador, no significado pejorativo do termo, que sinta comichão face a tudo o que signifique avanço. Não apenas aceito a “modernidade”, no seu melhor aspecto, como batalho por ela. Mas entendo que para aceitá-la e lutar para que se imponha não significa abrir mão da tradição. Creio que o mais sábio é usufruir de ambos. Ou seja, ser moderno, sim, mas sem jogar na lata de lixo idéias, conceitos, comportamentos e ações tradicionais, que ainda sejam válidos e úteis. Uma coisa não exclui a outra. Não se trata, pois, de “excluir”, mas de somar.
Sou, pois, favorabilíssimo às novas tecnologias, as que tornam, em t6odos os aspectos, a nossa vida mais fácil e melhor. Como poderia não ser? Como poderia abrir mão do computador, do IPad, do celular e de tantos outros equipamentos que já se incorporaram à minha rotina diária?! Não poderia!
O que condeno, todavia, é o apressado (e para mim estúpido) processo de “substituição”, sem nem ao menos se atentar se o que está sendo substituído é útil, prático e necessário ou não. Que o livro se modernize, ganhe plataforma eletrônica, seja acessível no computador, nos tablets e em outros aparelhos cada vez mais avançados, considero um progresso e torço para que isso se acelere cada vez mais. Mas que os textos, as idéias e emoções expressados por palavras sejam substituídos por audiovisuais, é algo a que me oponho e me oporei de todas as formas.
Não é, pois, a “modernização” do livro que incomoda Stoppard (e a mim). É a sua supressão, pura e simples, como se ameaça fazer, posto que não deliberadamente. O que pode, à primeira vista, parecer “modernidade”, tende a se transformar, se não forem coibidos exageros do tipo, em terrível atraso.
Já que citei um dos dramaturgos mais badalados da atualidade, convém dar uma palhinha sobre quem ele é. Tom Stoppard, além de escritor de peças teatrais premiadíssimas e encenadas nos melhores palcos, mundo afora, já escreveu roteiros para o cinema, a televisão e o rádio. Provavelmente, é mais conhecido no Brasil pela co-autoria (junto com Mark Norman), de “Shakespeare apaixonado”. Esse filme, rodado em 1998, fez “furor” no mundo todo e conquistou sete estatuetas do Oscar. Entre elas, incluem-se as de melhor filme e melhor roteiro.
Tom Stoppard nasceu em 3 de julho de 1937 na então Checoslováquia. Quando tinha, apenas, um ano, sua pátria foi invadida por tropas nazistas. Um ano depois, sua família mudou-se para Singapura, na vã ilusão de voltar a levar uma vida pacata e pacífica. Naquele período turbulento da sua infância, porém, isso era impossível. Não tardou para esse minúsculo país asiático também ser invadido, mas pelos japoneses. Por conta desse fato, foi parar na Índia, então colônia britânica. Ali, recebeu educação nos mais rígidos padrões ingleses. Mas não completou os estudos. Aos 17 anos, largou a escola e foi trabalhar como jornalista. E findou por envolver-se com as artes, notadamente com o teatro, o que viria a determinar sua vida, seu rumo e sua maneira de pensar e de agir.
É autor de pelo menos 25 peças teatrais, a última das quais é “Rock’n roll”, recentemente, há questão de meses, lançada no Brasil. É tido e havido como um dos melhores e mais celebrados dramaturgos vivos, continuando a ser requisitado e bastante ativo, a despeito de já contar com 74 anos de idade. Ademais, não foi por acaso que, sendo estrangeiro, embora naturalizado, e vivendo em um país com rígidas tradições, como a Grã-Bretanha, foi sagrado “sir” pela rainha Elizabeth II.
Esse título é dado somente a quem domine determinado conhecimento ou tenha certa aptidão em que seja considerado “excelente”. Entre os que receberam esse selo oficial de qualidade pode-se citar casos extremos como o do físico Isaac Newton e do criador do imortal Carlitos, Charles Chaplin.
Cabe-nos a tarefa de preservação dessa fundamental ferramenta de instrução e de difusão de arte e de cultura, que é o livro. Como? Estimulando notadamente as crianças a lerem, para que formem esse saudabilíssimo hábito e o transmitam aos seus filhos. E que estes façam o mesmo com sua descendência e assim, sucessivamente, numa corrente sem fim. Acabar com o livro?! Deus que me livre! Seria o colapso da civilização!

Boa leitura.

O Editor.



Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk






Para a nova idade de 61

* Por Urariano Mota


Quando comparo esses quatro anos de minha meninice a quaisquer outros quatro anos de minha vida de adulto, fico espantado do vazio destes últimos em cotejo com a densidade daquela quadra distante”.

Isso que toda a gente lê em Manuel Bandeira, no livro Itinerário de Pasárgada, longe está de ser uma verdade íntima, única e exclusiva do poeta. Mas é preciso experiência, é preciso tempo para ver e sentir o paradoxo da infância mais rica que a maturidade. E, a esta altura da idade e do parágrafo, várias idéias se cruzam.

A primeira delas é que a revelação de um artista, de um poeta, sempre nos parece a expressão de uma idiossincrasia, de uma sensibilidade mórbida ou de extremo delicado. Delicado aqui no pior sentido do adjetivo: delicado de frescura, de coisa de afeminado, delicado de melindres, de não-me-toques, de abusos nervosos. No entanto, toda a gente não nota, ou não quer notar, que esse extremo de sensível nos toca, em uma estranha empatia. E mais, a um ouvido interno confessamos, “como é bela essa finura que não sei expressar”. Pois assim foi também com essa frase de Manuel Bandeira, que até a manhã de hoje eu julgava uma coisa apenas engraçada, paradoxal, coisa de absoluta terra do poeta. Ainda que a tivesse guardada comigo há muito e não sabia por quê.

A segunda idéia, segunda na ordem em que trago à luz estes parágrafos, foi que descobri esta verdade hoje, agora, há menos de 15 minutos, quando buscava escrever alguma coisa sobre uma velha nova idade. Mas isso exige um pequeno recuo deste instante.

O quanto somos eufemísticos, o quanto somos plenos daquele eufemismo que é a cara mais bonita da ironia. É uma graça que sempre completamos nova idade quando envelhecemos. Que coisa bela, não é? Quanto mais adentramos as nossas reservas de forças, mais jovens ficamos. Vejam como ficou, até parece um princípio da filosofia estóica: quando mais buscamos as penúltimas reservas, mais ricos estamos. “De experiência, homem ingrato”, uma velha encoberta me diz. Então me veio, depois de notar essa bela ironia, não uma espécie de balanço, porque não sou louco para pesquisar saldo negativo, mas uma lembrança da passagem dos anos. E procurei neles o fundamental, o digno de ser revivido. Aquilo que tenha e tivesse sido um alumbramento, aquilo que nos enche de um gozo vital. Então me veio a bunda, o traseiro de Kim Novak, que descobri na infância em uma oculta revista Playboy. Parece que foi ontem, que digo?, parece que foi hoje, agora mesmo, nesta manhã. Depois, enquanto escovava os dentes (é sempre bom fazer essas coisas mecânicas com o próprio ser em outro lugar), eu me perguntava, sim, e que mais? Aqueles anos terríveis da ditadura, aquele pesadelo permanente, que somente minorava com álcool e sexo brutal, sim, que mais, isto é o fundamental e o que mais pesa em ti?

Mas o cérebro, resistente, vagava por lugares e tempos mais longes. Vagava nos ciúmes que eu tinha por uma moça mais velha, porque ela recebeu namorado diferente de mim. O cérebro andava por brinquedos fundamentais, como o desenho a carvão nas calçadas, o cérebro viajava por, o quanto isto é fundamental (é isso, a gente escreve também para se descobrir), um boneco negro de nome Benedito, que um ventríloquo trazia para a frente do mercado público de Água Fria. O boneco falava, e me persegue até hoje. É um sonho que não me deixa. Eu sempre pedia à minha mãe, quando ela saía: “quando voltar, me traga o boneco que fala”. O cérebro vagava mais longe, até a minha cadela Xandu, uma cadela com olheiras, que um carro matou. O cérebro vagava mais, até que eu notei, enfim, que os anos mais dignos de serem vividos, revividos, estão na primeira infância. Então descobri, como uma coisa que não era só de Manuel Bandeira:

“Quando comparo esses quatro anos de minha meninice a quaisquer outros quatro anos de minha vida de adulto, fico espantado do vazio destes últimos em cotejo com a densidade daquela quadra distante”.

Não é que a vida tenha parado depois. Não é nem mesmo que grandes e importantes fatos não tenham cruzado o nosso caminho nos anos de juventude e maduros. É a comparação, o cotejo dos primeiros anos com os vindos depois, que mostra a diferença a favor da primeira idade. E agora ouso acrescentar mais alguma coisa às linhas do maior poeta brasileiro. A consciência desses primeiros anos é que talvez seja o maior acontecimento, o saber que não poderemos mais reter aquela doçura do nunca visto antes. Ainda que seja uma consciência de compensação, com um travo, que nos faz até pensar que talvez fosse até melhor não tê-la, se em troca nos oferecessem os primeiros anos. Ainda assim, é melhor a consciência do perdido que a posse fugaz do que não podemos tomar, sorver em toda a plenitude. Isso porque é impossível guardar o frescor da infância com a experiência madura.

Quase impossível, deveria dizer. Um sabor de fruta de infância me vem então aos lábios. Este é o presente que me guardou a vida para o menino de 61 anos.

* Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici e “Soledad no Recife”. Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros.






Falar de amor

* Por Silvana Alves

Gosto de falar de amor,
Do que ele transmite
Da suavidade e leveza
Que vem ao coração.
O amor resplandece a luz apagada,
Causa a harmonia esperada
Revela os mais puros sonhos.
Gosto de falar de amor
Porque ele conforta
Amacia e adoça a alma.

• Silvana Alves - Comunicóloga e apaixonada pela arte da vida.








Pílulas literárias 95

* Por Eduardo Oliveira Freire

ABUSO
Seja boazinha”, a mãe sempre dizia, quando arrumava a filha, que tinha lágrimas nos olhos. Não queria visitar "o velho asqueroso”. Mas, era obrigada. Quando chegava à antiga casa, sentia-se enojada. O senhor aparecia na porta e com um sorriso...“Droga, queria ficar com minhas amigas. Mas, tenho que aturar meu avô com suas histórias chatas e ser obrigada por ele a beijar a urna, onde estão as cinzas da minha avó!”



ENTRE DOIS MUNDOS
Estava dividido entre um mundo perfeito e outro defeituoso. No início, pela lógica, achava que o primeiro representava o sonho, enquanto o segundo a realidade. Mas, era o contrário. Vivia uma realidade tão perfeita, que precisava ir ao outro mundo, para viver seu lado mais sombrio.



MONSTRO!
Todos diziam, mas ainda guardava na lembrança o bebê que ela aconchegava em seu colo, cantando para ele músicas de ninar.




* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor




O lobo do homem

* Por Luis Ramirez

Tradutora Urda Alice Klueger


A manada se reuniu como em todas as noites, ao redor do seu chefe. Confiam no seu líder, sabem que é o mais feroz, velhaco e sanguinário. Ele os levará para a zona de caça, elegerá a presa e, uma vez aniquilada, repartirá os despojos.
Sigilosamente, se internam na noite.
Ocultos à luz da lua, espreitam.
Os olhos brilham na sombra, fumegam as bocas entreabertas, agarrados na escuridão, esperam.
O chefe, sem dúvidas é o mais astuto da matilha, é o primeiro que detecta que a presa se aproxima.
É um homem.
Os lobos aguardam.
O chefe observa que é um homem jovem, sua experiência lhe diz que deve ser precavido. Estas presas costumam ser rápidas e diante da menor ameaça correm e buscam o amparo de outros homens – então às vezes a caça se complica, consegue escapar ao seu destino de carne picada.
Um grunhido às suas costas lhe faz lembrar que outro macho da manada, tão feroz quanto ele, porém mais jovem, aspira ao seu posto.
Os demais permanecem em silêncio, os músculos em tensão, preparados para o salto.
A vítima vai se aproximando, desprevenida.
O chefe dá a ordem, uivam as sirenas e o carro de polícia avança.
A ordem era carne picada.



(Traduzido em 28.09.2011)

• Escritor argentino


Carta aberta à Comissão da Verdade

* Por José Ribamar Bessa Freire

Ofício nº 01/2011
Assunto: Cadê o Thomazinho?

Senhores Membros da Comissão da Verdade,




Saudações,




Daqui, das páginas do Diário do Amazonas, escrevo-lhes para solicitar que esclareçam o paradeiro de Thomaz Antônio da Silva Meirelles Neto, o único amazonense incluído na lista oficial de “desaparecidos” na ditadura militar.
Sei que a Comissão não foi ainda constituída, que sua estrutura só será votada no Senado nos próximos dias, que seus integrantes sequer foram escolhidos. Se me antecipo, é apenas para garantir um lugar na fila. É que os “desaparecidos” são centenas, e apenas sete os membros da Comissão que, entre outras tarefas, terá de descobrir, no prazo de dois anos, as graves violações dos direitos humanos praticadas entre 1946 e 1988.
Assim, quando a presidente Dilma indicar os nomes, a Comissão já encontrará sobre sua mesa este ofício, contendo dados que podem facilitar vosso árduo trabalho. Anotem: Thomazinho nasceu em 1º de julho de 1937, em Parintins. Mudou para Manaus em 1950, onde estudou no Colégio Estadual do Amazonas. Viajou para o Rio de Janeiro, em 1958. Foi eleito secretário geral da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) em 1961. Ouçam o depoimento do titiriteiro Euclides Souza, roraimense que hoje vive no Paraná e com ele conviveu naquela época:
- “Viajei com Meirelles por todo o Brasil na UNE-volante, ele representava a União Nacional dos Estudantes e eu o CPC – Centro Popular de Cultura. Como nós dois éramos caboclos e comunistas, ficávamos sempre no mesmo quarto e passávamos as noites discutindo cultura popular e socialismo”.
Foi aí que Thomazinho ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade Lomonosov, em Moscou. Lá, casou com Miriam Marreiro, uma amazonense que estudava Direito na Universidade Patrício Lumumba. Com ela teve dois filhos: Larissa, nascida na Rússia, em 1963, e Togo, no Brasil, para onde o casal voltou depois do golpe militar de 1964.
Acontece que quando Thomazinho saiu do Brasil, quem governava o país era um presidente eleito democraticamente pelo voto popular. Quando voltou, a situação era outra. Os militares, descumprindo o juramento que fizeram de obedecer às leis vigentes, haviam rasgado a Constituição e ocupado o poder pela força, instaurando uma ditadura militar através de um golpe. Thomaz e outros companheiros deram, então, combate à ditadura. Quem estava na ilegalidade eram os militares e não os que contra eles lutavam.
Thomaz e seus companheiros sonhavam com um Brasil sem injustiças, onde o chibé seria compartilhado entre todos. Entregou-se, generosamente, à luta por este ideal, sacrificando família, conforto, bem-estar, carreira pessoal. Por causa de sua luta, enfrentou policia, sofreu prisão, foi espancado e torturado. Saiu de lá todo quebrado.
- “Meu filho estava bastante machucado, tinha muitas marcas no corpo” – revelou sua mãe, dona Maria, que conversou com ele em fevereiro de 1973, num “ponto” em Copacabana. Essa foi a última vez que o viu. Ele permaneceu na clandestinidade até ser preso outra vez no dia 7 de maio de 1974.
Senhores, de acordo com o projeto aprovado nesta semana pela Câmara de Deputados, a Comissão da Verdade poderá colher testemunhos, receber documentação com garantia de anonimato e requisitar informações de órgãos públicos, mesmo aquelas classificadas como sigilosas. Requisitem, portanto, documentos do Arquivo do DOPS/SP, onde está registrada a prisão de Thomazinho, efetuada quando viajava do Rio para São Paulo.
Busquem, senhores membros da Comissão da Verdade, o Relatório do Ministério da Marinha, que confirma a prisão de Thomazinho. Encontrem outros documentos. Chequem a notícia publicada pelo Correio da Manhã (03/08/79) que revelou uma lista com 14 mortos, entre os quais está o nome de Thomaz Meirelles, cujo corpo até hoje não foi localizado. Identifiquem e convoquem, para serem ouvidos, aqueles que violaram os direitos humanos, torturaram e mataram presos que estavam sob a guarda do Estado.
Ao contrário de outros países, no Brasil a Comissão da Verdade não poderá, lamentavelmente, punir ou perseguir judicialmente os torturadores, cujos salários eram pagos pelo contribuinte e que praticaram tais crimes hediondos contra a humanidade. Na Argentina, no Chile e no Peru, vários agentes do Estado, entre eles generais e ex-presidentes da República, responsáveis por torturas e mortes, estão presos. É nessas horas que sentimos inveja de argentinos, peruanos e chilenos, que não contemporizaram com a tortura.
Mesmo assim, senhores, apesar dessas limitações, descubram os nomes dos assassinos de Thomazinho. Se eles não podem ser punidos judicialmente, serão moralmente execrados pela opinião pública. Dessa forma - quem sabe? - a luta para descobrir o paradeiro de Thomaz Meirelles pode contribuir para coibir a tortura que continua a ser praticada hoje, no Brasil, contra negros, mulatos, pobres, favelados.
Localizem, senhores membros da Comissão da Verdade, o túmulo de Thomazinho para que possamos ir lá depositar uma flor e fazer uma oração, como queria sua mãe, que morreu sem qualquer informação sobre o seu paradeiro.
Nem mesmo o sistema ditatorial mais cruel da história da humanidade aprovou uma lei determinando a ocultação de cadáveres. A família e os amigos dos “desaparecidos” têm o direito de saber o que aconteceu com eles, da mesma forma que a sociedade brasileira tem o direito de conhecer a história e de construir uma narrativa sobre ela, para evitar que tais crimes sejam cometidos outra vez. Só dessa forma Thomazinho e tantos outros “desaparecidos” poderão descansar em paz.
P.S. - Ah, senhores, façam um esforço também de localizar os nomes dos índios “desaparecidos” na luta contra a ditadura, entre eles alguns Waimiri-Atroari, Krenhakore, Kané, Surui, Cinta Larga e tantos outros que foram assassinados porque se opunham aos projetos de exploração econômica e aos belos montes da ditadura militar.

Texto publicado no Diário do Amazonas, em 25/09/2011

• Jornalista

quinta-feira, 29 de setembro de 2011







Leia nesta edição:

Editorial – Ajudando a nos ajudar.

Coluna Ladeira da Memória – Pedro J. Bondaczuk, poema “De repente”.

Coluna Contradições e paradoxos – Marcelo Sguassábia, crônica,“Relatos literais – Viajar na maionese”..

Coluna Do fantástico ao trivial – Gustavo do Carmo, conto “Despedidas”.

Coluna Porta Aberta – Marleuza Machado, crônica “Quando me sentires ausente”.

Coluna Porta Aberta – Liêdo Maranhão, crônica, “O meu cabaço”.


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Ajudando a nos ajudar

O estudo da mente é fascinante e, quando aplicamo-lo a nós mesmos, nos leva ao importante, senão essencial, caminho do autoconhecimento. Muitos (talvez a maioria), temem esse encontro consigo próprios. Por que? Provavelmente por desconfiarem que poderão saber em detalhes o que não gostariam e prefeririam manter oculto para sempre. Tolice.
Quanto mais nos conhecermos, melhores condições teremos de corrigir nossa conduta, de rever e atualizar nossos conceitos e, principalmente, de descobrir e explorar potencialidades que nos tornem mais aptos, confiantes, equilibrados e, no final das contas, felizes.
Há, hoje em dia, todo um ramo da literatura que ficou conhecido como de auto-ajuda para possibilitar, ou pelo menos facilitar, esse autoconhecimento.. Há quem critique – quase sempre sem ter lido um único e reles livro do tipo – obras do gênero, afirmando, de maneira até irresponsável, que se trata de charlatanismo. É possível que haja, mesmo, alguns charlatães tentando vender felicidade em pílulas. Afinal, eles existem em todas as atividades. Mas a maioria dos que lidam com essa forma de literatura – e que reforça o que escreve com cursos, palestras e conferências – é gente do maior gabarito e da mais legítima seriedade e lisura.
Claro que nem tudo pode ser resolvido com as técnicas que eles propõem. Cada caso é um caso. Cada ser humano é um universo. Mas boa parte dos nossos desajustes – que nos causam sofrimentos psíquicos, afetivos e físicos – pode ser solucionada com esse tipo de ajuda.
Estima-se, grosso modo, que em torno de 60% das doenças que nos acometem têm origem na mente. E, nesses casos, as pessoas que se queixam desses males não estão fingindo, como podem pensar (e pensam) os desavisados (ou mal-intencionados). Em decorrência desses desarranjos mentais, afetivos e/ou comportamentais, o corpo acaba adoecendo de fato. E se a verdadeira causa não é diagnosticada, os tratamentos convencionais, óbvio, não funcionam. Com isso, tais males podem, ou pelo menos tendem a se agravar.
Há importante ramo da ciência médica para esse tipo de patologia. É a medicina psicossomática. Ou seja, a técnica de curar o corpo sanando não suas conseqüências, mas as causas: curando a mente. Um dos maiores especialistas brasileiros na matéria, o Dr. José Moromizato explica: ”Quando reprimimos nossos sentimentos, eles vão se acumulando até o ponto que nos machucam profundamente, atingindo algum órgão mais sensível”.
Uma espécie de sinal de alerta, ao qual devemos dar a devida atenção, que nos indica que há algo de errado com nosso estilo de vida, é o estresse. Trata-se de um dos grandes males do nosso tempo, caracterizado pela agitação, ruídos, poluição e tantas e tantas e tantas outras coisas que nos aborrecem e oprimem. E quando ele atinge determinado estágio... nosso organismo não resiste e entra em colapso. Afinal, há limite para tudo. E por que não haveria para as tensões?
É interessante notar que José Moromizato não é psiquiatra, psicólogo e nem psicoterapeuta. Atuou por mais de 20 anos como cirurgião. E, em sua especialidade, constatou que para males causados por distúrbios psicossomáticos, as intervenções usuais, inclusive as cirúrgicas, de pouco (ou de nada) adiantam.
Observou que no caso de vários pacientes, apesar das cirurgias, eficazes em tantos outros casos parecidos, nos decorrentes de distúrbios da mente elas não passavam de “paliativos”. “Apesar da intervenção, não raro a doença voltava a se instalar nos pacientes”, observou. E foi a partir dessa observação que desenvolveu a sua eficaz e revolucionária terapia. Ela consiste em uma série de exercícios – que não enumerarei aqui quais são, pois não se trata do caso – entre os quais um dos mais eficazes é o auto-relaxamento.
O médico explica: “Quando o indivíduo tem a prática diária de relaxar, seus vasos sangüíneos estão propensos a maior elasticidade, e o sangue tende a circular com maior facilidade pelo corpo, chegando, inclusive, às extremidades com mais eficiência”. Claro que o tratamento não consiste só nisso. Todavia, a eficácia (quando o diagnóstico é correto) é de praticamente 100%.
Uma das disciplinas que mais me fascinam, nessa linha do autoconhecimento, é a “Programação Neurolinguística”, conhecida pela abreviação PNL. Há vinte anos, tive o privilégio e a honra de conhecer um dos maiores, senão o maior especialista nessa disciplina, o Dr. Lair Ribeiro, que além de escritor, é brilhante conferencista e palestrante motivacional. Ganhei dele cinco dos seus muitos livros (cataloguei 27, mas podem ser muitos mais), autografados, logicamente, que têm sido de imensa utilidade para mim.
E no que consiste essa ciência? Uma das definições mais claras dela é a dada pelo Professor Sebastião de Oliveira Coelho, em seu excelente artigo “PNL e Educação”, em que diz: “A Programação Neurolinguística estuda como o cérebro e a mente funcionam, como criamos nossos pensamentos, sentimentos, estados emocionais e comportamentos e como podemos direcionar e otimizar esse processo. Em outras palavras: estuda como o ser humano funciona e como pode escolher a maneira que quer funcionar”.
Constatei, nos livros do Dr. Lair Ribeiro, que é essa, mesmo, a função dessa importante disciplina. Mediante suas técnicas, “programei” meu cérebro para o “positivo” e tenho conseguido realizar coisas que nunca antes suspeitei que conseguiria. Atesto, pois, sem medo de errar, a eficácia da PNL.
Especificamente, no que se refere à educação, o Professor Sebastião observa, em seu artigo: “A Programação Neurolinguística na Educação pode contribuir extraordinariamente para melhorar a auto-estima dos professores e alunos e apresenta várias ferramentas, que com certeza, irão transpor algumas das barreiras que desafiam os professores em sala de aula”. Diz mais: “Para o professor, é fundamental conhecer este sistema de interação, pois isto facilitará a intervenção com cada aluno no seu devido canal. O domínio desta ferramenta potencializará o aprendizado e, conseqüentemente, os resultados serão surpreendentes”. E isso não vale a pena? Claro que vale!!!
Voltarei oportunamente ao tema, que é dos mais complexos e extensos, mas também dos mais úteis e fascinantes.

Boa leitura.

O Editor.




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De repente

* Por Pedro J. Bondaczuk

De repente
caminho sozinho na rua,
embriagado de ternura e
de rum dos mais baratos.
Tagarelo com a lua,
cães ladram à minha passagem,
piso infinidade de estrelas,
navego num mar sem ondas.

De repente
retrocedo nas vias do tempo,
volto a ser menino,
futuro estampado na testa,
todo cheio de promessas
e mil tarefas a cumprir.

De repente
uma lágrima furtiva
trai os meus sentimentos
e grita, indiscreta, ao mundo
meu primeiro fracasso de amor.

De repente
estou numa encruzilhada,
numa estrada que parece reta,
sem saber para onde ir.
Sem placas indicativas,
sem que haja sequer seta
a indicar-me o destino,
o lugar a que quero chegar.

De repente
sinto-me enleado em seus braços
ardendo, me consumindo,
em imensa, avassaladora, voraz
fogueira de volúpia e paixão.
O côncavo enlaçando o convexo,
o êxtase oriundo do sexo
e o repouso da satisfação.

De repente,
vacilante e trôpego,
Atlas beirando a exaustão,
num cansaço profundo
por suportar nos ombros
todo o peso do mundo,
recito o Evangelho,
estou vazio e infecundo.
assumo a idade: estou velho!

De repente
estou no limiar do infinito
e num esforço ingente
solto abafado grito
que ecoa no infinito,
mas ninguém ouve ou sente.
A jornada está cumprida,
estou nos limites da vida
onde cheguei sem notar,
como num piscar de olhos,
lesto (e molesto), tão súbito:
não mais que de repente...

* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk






Relatos literais – Viajar na maionese

* Por Marcelo Sguassábia

Duvido que você conheça alguém que tenha ido até lá e não tenha voltado cheio de histórias fantásticas para contar. Coqueluche do mercado turístico brasileiro e internacional, a chamada Costa da Maionese vem atraindo, com seus deslumbrantes encantos, um número cada vez maior de veranistas mineiros, gaúchos, amazonenses e polinésios.
Nossa equipe de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas decidiu conferir de perto, quilômetro a quilômetro, toda a adrenalina desta espetacular aventura.
Como seria de se prever, durante o percurso o veículo apresentou dirigibilidade comprometida e comportou-se como se estivesse num rinque de patinação. Além da falta de agarre dos pneus e da instabilidade na suspensão, o atrito constante com o creme interferiu na aerodinâmica, efeito que tornou-se mais intenso à medida em que aumentávamos a velocidade. Mas não se impressione: em pouco tempo você se habitua às condições da pista e ganha confiança suficiente para transportar as crianças, a sogra e até um boitatá de porte médio no banco de trás.
O ideal é encarar inteiramente nu o trajeto, dispensando inclusive a sunga, sob pena de engordurar suas peças de roupa a ponto de torná-las imprestáveis. Recomendamos unir o útil ao agradável, permitindo que a oleosidade da maionese tenha efeito de protetor solar na pele.
Sentir-se untado dos pés à cabeça é sem dúvida uma sensação indescritível, talvez só superada pelas cócegas na região axilar. A empreitada é realmente divertida, mas nem tudo é um mar de Hellmann's. Um vidro um pouquinho aberto em uma das janelas pode ser o bastante para a entrada de salmonelas, o que significa parada obrigatória antes do próximo pedágio. E às pressas, à beira do acostamento mesmo - como de fato veio a acontecer com o nosso repórter, que encontra-se até hoje em observação na UTI do Hospital Sacré Couer, sem previsão de alta.
À parte estes poucos e eventuais dissabores, viajar na maionese costuma ser uma deliciosa experiência. Entregue-se ao deleite de observar de perto e fotografar o suco de limão misturando-se às gemas de ovos e aos óleos vegetais, em lustrosa e inesquecível homegeneidade, até dar ponto turístico. O fenômeno lembra, de certa forma e guardadas as devidas proporções, a pororoca amazônica. Passeie despreocupadamente a bordo de facas, garfos, colheres e outros utensílios autopropulsores, em companhia da família, provando de todas as variantes possíveis dessa iguaria culinária: a maionese de casamento, a de Natal e ano novo, a de atum com a manjadíssima rosa feita de pele de tomate e até a vegan, que tem de tudo menos maionese de verdade.
Quanto a opções de hospedagem, fique tranqüilo: ao longo de todo o trajeto espalha-se uma extensa rede hoteleira, com guias e roteiros customizados para os mais diversos gostos e paladares. Aproveite até o último bocado. E lembre-se: uma vez de volta ao ponto de origem, feche bem o pote e conserve-o sob refrigeração, observando o prazo de validade do produto.

• Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: www.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) www.letraeme.blogspot.com (portfólio)






Despedidas


* Por Gustavo do Carmo


Quando completou dez anos de vida uma tradição iniciou-se para Miraela. A cada três anos ela visitava a rodoviária da cidade onde nasceu, no interior do estado do Rio de Janeiro. E o passeio não era nada agradável. Terminava sempre em lágrimas provocadas por tristes despedidas.

O pai foi tentar a sorte em Brasília. Nunca mais deu notícias. Depois, a irmã mais velha foi trabalhar em Belo Horizonte. Aos dezesseis anos abraçou, emocionada, a amiga de infância, que foi morar em Porto Alegre. O primeiro amor partiu com destino a capital, onde embarcaria para estudar nos Estados Unidos. Estava com vinte e dois anos quando viu a mãe ir embora para São Paulo encontrar-se com o novo namorado e, de lá, juntos, voarem para Paris.

A rodoviária deixou de ser o amargo passeio onde Miraela se despedia de pessoas tão queridas em sua vida para se tornar o seu árduo sustento. Trabalhou na bilheteria de uma empresa de ônibus. Durante quarenta anos testemunhou, por inúmeras vezes, as mesmas despedidas que viveu.

Aposentada, já tinha filhos, genros, noras e netos quando embarcou no primeiro ônibus que saiu da rodoviária. Não se despediu de ninguém.

* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores.






Quando me sentires ausente

* Por Marleuza Machado

Não é um epitáfio. Se depender de mim, pretendo que a estrada seja ainda longa. Mas às vezes as moléstias me assustam e percebo o quanto sou vulnerável. Aliás, somos todos. Por outro lado, partir é tão normal quanto chegar. Morrer faz parte da vida, tanto quanto nascer. Lia Luft, colunista da revista Veja, dedicou-se também a este assunto semana passada. Talvez por eu ter estado "perrengue" no decorrer da mesma semana, faltando energia para viver a vida com a alegria que me é peculiar, tenha feito com que eu que aceitasse essas verdades com relativa normalidade. Todo dia morrem células. Algumas se renovam; outras não mais. Alguns dos meus neurônios, se não morreram, tiraram férias ou quem sabe, até mesmo licença-prêmio, pois tentei acioná-los para o exercício da escrita e não me atenderam. Por isso, neste humilde texto poderá haver erros simplórios, que peço, caro amigo leitor, seja condescendente: Sinto-me incapaz de percebê-los.

Por lidar diariamente com a morte (diariamente não é bem o termo; dia sim, dois não), estou criando certa casca de indiferença em relação ao assunto; não dá para assimilar o sofrimento alheio, mas em casos mais dramáticos ainda levo sustos. Tenho me surpreendido, ultimamente, em constatar como a violência impera na periferia e região metropolitana da Capital. Quando prestava serviço num cemitério que é patrimônio histórico da cidade, os cortejos fúnebres tinham até certa pompa. Hoje trabalho no limite do município, área de extrema pobreza, onde, além de bens materiais, o que mais falta à população, com certeza é amor. Como o povo carece de amor! Como as vidas perecem por falta de amor! E como muita gente ainda mata em nome do amor! Não é irônico? Homens, principalmente, usam do sentimento maior, como agente motivador da prática da violência contra suas parceiras, mães de seus filhos.

Dias desses, fazia uma bela tarde, eu observava as fileiras de covas rasas sob um pé de Sucupira com suas flores cor-de-rosa, a balançarem por suave brisa. Tentei buscar palavras doces para uma narrativa que disfarçasse a realidade dura que anotamos diariamente no livro de obituário. Não consegui. A cada dia que passa, a palavra "homicídio" se agiganta no fatídico livro. Hoje, trago na lembrança, a fisionomia de um garotinho, com cerca de dois anos, que na semana passada corria alegremente pelo pátio e entre as fileiras de covas, alheio ao drama vivido pelos familiares, tendo sua mãe, de apenas dezessete anos, estendida numa urna mortuária na sala de velórios, vítima do "amor" ensandecido do pai, sendo que este ainda se encontrava numa gaveta fria de necrotério, após ter dado cabo da própria vida.

Quando me faltam palavras, geralmente é porque estou pobre de sentimentos... ou talvez não esteja conseguindo lidar com as emoções. Por isso me ausento. Há momentos que pedem reflexão e eu, por sentir que tenho certa intimidade com o Criador, tenho me dirigido muito a Ele, tentando obter respostas a respeito das misérias humanas. Quando falta amor, morre um pouco a poesia, a vida perde a cor, a flor perde o perfume, o escritor perde o vocabulário, fica afônico o cantor.

• Poetisa e jornalista


Clóvis Campêlo e Liêdo Maranhão
Foto de Cida Machado/2010
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O meu cabaço

* Por Liêdo Maranhão

Sentado pelas calçadas rolando papo de sexo, a gente checava quem tinha fimose ou quem tinha cabaço.
Albano de Castro, médico, colegada Previdência Social, dizia que o punheteiro não tem fimose. Ele escaramela a rola toda na punheta e ela fica no grau. As cobranças eram grandes! Regras claras e machistas! Comer frango não valia: tirar o cabaço só na xoxotinha. Mentir não tinha jeito. O teste do cordão não permitia trapaça. Um cordão aproximadamente de setenta centímetros, dobrado ao meio; tira medida do pescoço. Prende nos dentes e passa pela cabeça. Se não passar é donzelo!
Magro, o pescoço fino, a cabeça grande o cordão não passava. Só depois de uma bruta blenorragia, aos quatorze anos de idade, saí do vexame! Conta Maria Pereira, alagoana da Laje, que na infância suas amigas faziam o teste do cordão para defender a honra.
O cabaço, eu tirei no Beco do Marroquim, pequena zona do Recife entre a Rua da Penha e a Rua do Rangel. Um correr de casas, parede-meia, de porta e janela. Memória do passado. Hoje, tomado de ambulantes. As edificações de “Rangel Calçados” e “Casa Cabus” destruíram as casinhas. Zona de mulheres baratas, frouxas, decadentes que envelheceram no ofício. De carícias audazes, verdadeiras mestras nas complicadas artes do leito. Os filmes pornôs e as revistas de sacanagens são fichinha.
Vestidas de “peignoir”, muito pintadas para se fazerem mais voluptuosas. A janela aberta, sentadas na sala, como se estivessem em uma vitrine, esperando os clientes para o “michet”...
Um dia bonito, a micharia no bolso para pagar suas carícias; eu entrei no quarto com a mulher. Dia de muita emoção!
Diz Pitigrilli, escritor italiano, autor de “O Cinto de Castidade”, “A Casta Suzana” e “Lições de Amor”, que fuder à noite é para homem casado e caixeirinho de loja.

• Escritor, escultor, cineasta e fotógrafo

quarta-feira, 28 de setembro de 2011







Leia nesta edição:

Editorial – Santa maluquice!.

Coluna De Corpo e Alma – Mara Narciso, crônica “Comentando a Saga de Antônio Dó”.

Coluna Da terra do sol – Marco Albertim, crônica “Os últimos soldados da Guerra Fria”.

Coluna Personalidade e Atitude – Sayonara Lino, poema “Indescritíveis”.

Coluna Porta Aberta – Letícia Nascimento, crônica “Prender”.

Coluna Porta Aberta – Anand Rao, poema “Dançar com o luar”


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Santa maluquice!



Os ideais são (e devem ser sempre) permanentes. Tanto os do indivíduo, quanto os da comunidade em que ele está inserido. São os casos da igualdade, da solidariedade, da fraternidade e da justiça, entre outros, conceitos que, se bem entendidos e, sobretudo, aplicados, transformariam por si sós o Planeta em um lugar aprazível para se viver.

Desde que o homem tomou consciência do que era e de onde estava, acalenta esses ideais. Todavia, entra geração, sai geração, eles continuam mais no plano dos devaneios (se não exclusivamente nele) do que no terreno das ações efetivas. Há, infelizmente, milhões e milhões de pessoas, mundo afora, que nem mesmo divagam a propósito. Levam vidas medíocres, mesquinhas, cinzentas e egoístas, alienadas de tudo o que ocorre ao seu redor.

Tendemos, ao analisar o panorama do nosso tempo, a generalizar e a declarar – sem nos darmos conta da estupidez de uma generalização, notadamente dessa – que os ideais ou estão em declínio ou que, mesmo, se extinguiram. Como podemos saber isso? Afinal, desconhecemos o que os outros pensam. É impossível (creio que felizmente) ler pensamentos.

O austríaco Peter Handke escreveu: "Existe como que uma falta que se instala (em nossa vida). Mas é preciso ter o desejo. O desejo de redenção, de libertação. Se a gente não tem isso, acho que não se pode escrever". Eu diria que não se pode viver. No caso, ele refere-se, especificamente, aos escritores, ou seja, à sua atividade. O raciocínio, todavia, vale para toda e qualquer pessoa.

Mas é necessário ter-se em mente a possibilidade (diria, até, probabilidade) de não conseguirmos alcançar o que tanto desejamos. É quase certo que o resultado desse fracasso é a frustração. E temos que saber como lidar com ela. A maioria não sabe. Eu, provavelmente, não sei. Não posso afirmar o mesmo em relação a você, caro leitor, pois não estou em sua mente. Alguns, possivelmente, saibam. A maioria, porém (pelo menos é o que presumo, baseado na observação), certamente que não.

Temos que entender que não passamos de pequeno elo de imensa corrente surgida quando do aparecimento do primeiro indivíduo inteligente da nossa espécie sobre a Terra e cujo final é impossível de vislumbrar na sucessão de gerações. Pode ser que o ser humano desapareça do Planeta, sem nem mesmo deixar vestígios, em um século, em uma década, em um ano, em um mês ou no final deste dia. Isso talvez não esteja no terreno da probabilidade. Mas, com certeza, está no da possibilidade. Remotíssima? Apenas remota? Imediata? Não sei! É impossível saber.

Tempos atrás, escrevi, em uma crônica: “O homem, neste século, mais especificamente neste início de milênio, parece ter perdido a sua velocidade para cima. Não, evidentemente, no aspecto literal. Afinal, foi nesse período de 105 anos (hoje já é de 111 anos) que desenvolveu um veículo mais pesado do que o ar, hoje um meio de transporte corriqueiro, que lhe possibilitou voar como os pássaros”.

Mais adiante, referindo-me ao atual período, notadamente o que vai da segunda metade do século XX aos dias atuais, observei: “Também foi nele (nesse espaço de tempo citado) que o homem ultrapassou os limites do Planeta e passeou na Lua, deixando impressas no solo lunar as marcas de sua pegada”. Há muitas pessoas, muitas mesmo, que duvidam que as tais aventuras lunares norte-americanas tenham mesmo ocorrido. Garantem que tudo não passou de enorme farsa, da “maior mentira de todos os tempos”. Há, internet afora, inúmeros sites que apresentam argumentos até bastante lógicos para contestar a tal conquista da Lua. São tão convincentes que, quando os leio, chego a balançar em minhas convicções e a duvidar também.

Na sequência da referida crônica, escrevi: “O que (o homem) de fato perdeu foi a noção de ideal. Abriu mão de um sentido mais grandioso para a vida e da tentativa de encontrar uma explicação para a sua origem e destino. Tornou-se ferozmente materialista, escravo da alta tecnologia, em detrimento do desenvolvimento espiritual. Amesquinhou-se. Robotizou-se. Perdeu a rota do seu destino”. Esta minha afirmação peremptória tem um grave defeito: o da generalização. Hoje eu não afirmaria que “o homem perdeu a noção do ideal”. Diria, sim, que “alguns” perderam-na. Quantos? Sei lá! Ninguém sabe. Mas há, ainda, para a nossa felicidade, muitos idealistas que, literalmente, crêem em um mundo ideal.

O poeta Vinícius de Moraes, na letra de uma de suas tantas e memoráveis canções, que coleciono como poemas que de fato são, expressou sua visão de como gostaria (e que ademais todos nós gostaríamos) que o Planeta fosse. Leiam estes versos singelos (além de sensíveis e inteligentes) e digam se vocês não gostariam que as coisas, os relacionamentos, fossem assim.


Ai, quem me dera

Ai, quem me dera terminasse a espera
retornasse o canto simples e sem fim,
e ouvindo o canto se chorasse tanto
que do mundo, o pranto, se estancasse, enfim.

Ai, quem me dera ver morrer a fera,
ver nascer o anjo, ver brotar a flor.
ai, quem me dera uma manhã feliz.
Ai quem me dera uma estação de amor.

Ah, se as pessoas se tornassem boas
e cantassem loas, e tivessem paz,
e pelas ruas se abraçassem nuas
e duas a duas fossem casais.

Ai, quem me dera ao som de madrigais
ver todo mundo para sempre afim,
e a liberdade nunca ser demais,
e não haver mais solidão ruim.

Ai, quem me dera ouvir o nunca mais,
dizer que a vida vai ser sempre assim,
e, finda a espera, ouvir na primavera
alguém chamar por mim.


Leram? Concordaram? Fizeram restrições? Há muita, muitíssima gente que não somente aspira um mundo dessa forma (posto que nenhuma saiba expressar esse desejo com tamanha graça e beleza), mas que também “age” nesse sentido. É verdade que esses abnegados são encarados da mesma forma que o personagem de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha. São tidos e havidos como alienados, como sonhadores, como ingênuos, como inocentes, quando não como rematados malucos. Santa maluquice!

Boa leitura.

O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk






Comentando a Saga de Antônio Dó

* Por Mara Narciso


Foi preciso que Ivana Ferrante alertasse a Unimontes de que o livro de Petrônio Braz Serrano de Pilão Arcado: a Saga de Antônio Dó tinha qualidade, para que ele acontecesse. Saiu a segunda edição (a primeira foi em 2006) e a obra cairá no vestibular. Então, fomos seus felizes leitores para participar do Clube de Leitura Felicidade Patrocínio, na sua 5ª edição. Tivemos a oportunidade de dissecá-lo através das palestras da professora Dona Yvonne Silveira, do professor Márcio Adriano Morais e do próprio autor.
Petrônio Braz, de 83 anos, é jurista e escritor de vasta biografia. Nascido em São Francisco, norte de Minas, ocupou diversos cargos por Minas afora, foi vereador e prefeito da sua cidade, é Imortal da Academia Montesclarense de Letras, publicou 12 livros na área do direito e dois romances (o outro é “Jandaia em tempo de seca”), entre muitas outras coisas.
Na trama temos um escritor erudito que atuou feito repórter e fez um trabalho de garimpo histórico por 23 anos, para dar vida a um cangaceiro de primeira, Antônio Dó. A ficção acontece nos diálogos e na explanação dos sentimentos do sertanejo. Então, por que não aconteceu nada (apenas uma medalha, segundo o autor), com o grande romance? É que aqui no sertão temos a mania de nos sentirmos inferiores.
Antes de o protagonista chegar, o autor explica o ambiente aonde ele aportará. Nascido na Bahia, em Pilão Arcado, e morador da Serra das Araras, - daí o título -, Antônio Dó (na verdade, Antônio Antunes de França), vai de canoa, rio acima, com os pais e irmãos, aos 18 anos para Minas, e lá adquirem terras. Após a morte dos pais, Benedito e Sebastiana, continua criando gado e praticando agricultura para uso próprio. A viúva e vizinha Arcângela vai morar com ele, e outras duas mulheres, Josefina e Francilha também passam pela sua vida, mas não tem filhos. A personalidade do protagonista é exposta de forma surpreendente por Petrônio Braz, e as suas falas são tão reais, que deveriam virar filme.
O autor cose em torno do personagem fatos mundiais, nacionais e locais, contextualizando cada fase da sua vida, para que haja compreensão de como os acontecimentos políticos contribuem na maneira de pensar e agir das autoridades, nas diligências da polícia e na disputa do poder. Tudo acontece à beira do Rio São Francisco, mais precisamente em Pedras de Angicos, depois São Francisco, cidade de gente de sangue quente e muita valentia, onde são contabilizados diversos tiroteios e mortes.
A natureza, personalizada no Rio e no cerrado, é personagem coadjuvante, e na ambientação cheia de lirismo, Petrônio Braz, utilizando-se do vento, sol e lua, prepara o cenário para a ação. O narrador sabe de tudo, o que sente, e o que pensa cada personagem, que são inúmeros, com seus nomes e sobrenomes, especialmente os políticos. Conta a Abolição dos Escravos, Proclamação da República, eleições presidenciais, passagem do Cometa Halley, afundamento do Titanic, Primeira Guerra Mundial, Gripe Espanhola, chegada do futebol ao Brasil, e fatos históricos de 1877 até 1929.
Um vizinho fechou um olho d’água com uma cerca e Antônio Dó fez o mesmo com o outro. Forças políticas contrárias, com a ajuda da polícia, desmantelaram a cerca dele e deixaram a outra. Como destruiu a cerca alheia e reconstruiu a sua, Antônio Dó foi preso e espancado em praça pública, o que o revoltou, tornando-se um fora-da-lei, não sem antes ter seu gado roubado e o irmão assassinado. Formou, junto com jagunços, gente de muita coragem, um bando que despertava admiração e terror na região. Antônio Dó, homem do corpo fechado, tinha suas leis e valores que só ele sabia. Virou um justiceiro, e decidia na bala as pendengas entre inimigos. O autor entra na cabeça dele, e analisa, colocando sentimentos nas suas decisões, os fatos históricos das suas andanças – uma longa caminhada por três estados. Consta que respeitava donzelas, e que fazia a justiça dos fracos contra os poderosos. Acabou duplamente traído.
A obra de 506 páginas mostra vários tipos de linguagem. Há o grupo de intelectuais, com sua linguagem empolada, os políticos com sua linguagem da época e os cangaceiros. A autenticidade da fala dos jagunços é o ponto alto. Os dizeres do sertanejo, com suas palavras antigas, são bastante convincentes. Retiram-se os plurais e colocam-se palavras do começo do século passado, assim os diálogos ficcionais dão uma aula de boa literatura.
Destaco a cena de quando doze soldados, comandados pelo anspeçada Domingos Martins, entram numa fazenda onde havia mais de 40 jagunços no quintal. Eles procuram por Antônio Dó. Entram e saem do local, fingindo não o reconhecerem, devido a pouca força ofensiva que ostentam, e, frios, não demonstram nada. Um deles precisa voltar para buscar água. A tensão conseguida pelo autor é eletrizante, numa espetacular descrição passo a passo, no avançar dos soldados por entre os mal-encarados jagunços, alcançando um suspense de alta voltagem, que termina num suspiro de alívio. Coisa de mestre da linguagem.
Absolvido pelo autor, o próprio nos diz se Antônio Dó foi vilão ou mocinho: “Nem uma nem outra coisa. Vilão se tivesse praticado atos indignos. Não sei! Mocinho se fosse um herói. Creio que não! Fico com a observação de Urbino Viana, que disse que Antônio Dó não era herói e nem bandido, e ao mesmo tempo nos parece ambas as coisas’’.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-






Os últimos soldados da Guerra Fria

* Por Marco Albertim


Dir-se-ia um best-seller com fins meramente comerciais, visto a aura de épico que dele emana. O título é do último livro de Fernando Morais, tão épico quanto a sequência de episódios que marca a narrativa. Sequência recheada com nomes, datas e fatos cuja interpretação o autor deixa por conta do leitor. Bem que o escritor poderia fazer uso de clichês anti-imperialistas; mas optou pela captura da raivosa ideologia de cubanos incrustados em organizações anticastristas, sediadas em Miami.
Aos desavisados, nas primeiras páginas René González é apenas um oficial desertor do Exército cubano; inda que militante do Partido Comunista e veterano da guerra de Angola, junto ao MPLA. Fugira num Antonov, fabricação russa, voando em zigue-zague para driblar a detecção dos radares. Aterrissou na Flórida, informando pelo rádio que “Em Cuba falta luz, falta comida, até a batata e o arroz estão racionados...”
Aos olhos de seu irmão, Roberto, e de sua esposa, Olga, René se tornara um gusano – verme. Irma, a mãe de René, e o operário Esmerejildo, pai de Olga, ambos veteranos comunistas, agora sem saber o que dizer, desolados.
A próxima defecção não seria menos dolorosa, por tratar-se do major das Forças Armadas Revolucionárias, Juan Pablo Roque, 36 anos, dois a mais que René. Fugira para Guantánamo, a base naval norte-americana. “Soy cubano! Estoy desertando! – explica aos recrutas fardados que apontam os fuzis para ele.
Em seguida, Gerardo Hernández dá as costas à carreira diplomática, e deixa Cuba com identidade de porto-riquenho; torna-se Manuel Viramóntez.
Frequentes são as incursões de aviões de pequeno porte, decolados de Miami, ao território de Cuba. Panfletos incitam revoltas anticastristas, ensinam a sabotar as plantações de cana. René é um dos pilotos. Os atentados a bomba são simultâneos. Nos folhetos, diz-se: “A opinião pública internacional precisa saber que é mais seguro fazer turismo na Bósnia-Herzegovina do que em Cuba.” O mentor é José Basulto, chefe da Hermanos al Resgate, e treinado pela CIA. Juan Pablo, àquela altura, deixara-se contratar como piloto de Basulto.
Em 1995, treze cubanos estão na Flórida oriundos de Cuba. Olga, em casa, é procurada por funcionários do Ministério do Interior. “Seu marido não é desertor! Está a serviço do DSE para pôr fim aos atentados contra Cuba.” Os treze falsos desertores formam a Rede Vespa. Tão somente Fidel Castro e uns poucos chefes da cúpula do governo sabem do trabalho deles. Nilo Hernandez e sua mulher, Linda, observam as atividades do grupo terrorista Alpha 66. Ramón Labañino, economista e capitão do Exército, vigia Orlando Bosch, outro chefe das ações terroristas. Os outros cubanos são Fernando González, Alberto Manuel, Ricardo Vilarreal, Remigio Luna, Antonio Guerrero, Alejandro Alonso, Joseph Santos e Amarilys Silvério, todos com identidades trocadas.
Farta munição, fuzis e metralhadoras são apreendidos depois de contrabandeados para Cuba; com base nas informações obtidas pela Rede Vespa. A tensão sobe quando dois Cessnas, no espaço aéreo de Cuba, são destruídos por um MIG pilotado por um cubano. “Está destruído! Pátria ou morte, caralho!” – sentencia o piloto.
José Basulto, a bordo de outro Cessa, tem um surto de riso histérico.
As provocações seguem com explosões em hotéis de Havana. É preso o mercenário Cruz León, salvadorenho de 26 anos; a serviço de Posadas Carriles, terrorista com vasto currículo de atentados, incluindo um avião com 72 pessoas. León é sentenciado ao fuzilamento, mas a pena é comutada para trinta anos de prisão.
Descobertos pelo FBI, são condenados. Alejandro Alonso, os casais Linda-Nilo Hernández e Amarilys-Joseph Santos fazem acordo de delação premiada. Não se tem notícia deles até hoje. Gerardo e René, Ramón Libañino e Tony Guerrero e Fernando Gonzáles já amargam 13 anos de cadeia.
O piloto Juan Pablo Roque está em Cuba, aposentado, posto que fora chamado de volta. Roque casara-se com uma norte-americana, com direito a ruidosa festa; oferecera a autobiografia de “desertor” a uma editora.
O parlamento de Cuba outorgou aos cinco o título de Heróis da República de Cuba.

*Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.






Indescritíveis

* Por Sayonara Lino


Tentei encontrar palavras
Elas não surgiram
Busquei me expressar através de imagens
Não foram suficientes
Traduzir o que sinto agora
Não será mesmo possível
Viver é bom assim
Alguns momentos são indescritíveis

• Jornalista, fotógrafa e colunista do Literário






Prender

* Por Letícia Nascimento

Liberdade na vida é ter um amor pra se prender”. Por muito tempo achei que Fabrício Carpinejar tinha ido longe demais pra colocar essa frase no logo de seu blog. Hoje consigo enxergar uma infinita possibilidade de interpretação sobre essa escravidão doentia. Entre elas, optei pelo amor-próprio.
E posso dizer que agora sou mais feliz por ter noites bem dormidas, madrugadas de risos e danças na companhia de apenas quem me faz bem. Aprendi a conviver comigo e estamos à espera daquele que estiver disposto a nos aceitar.
Confesso que nada foi em vão. Fiz escolhas e ainda colho os frutos. Tento interpretá-los e por vezes demoro a compreendê-los. Chorei com medo da solidão, acreditei em promessas e não percebi que usava ilusões para construir minhas muralhas. Na tempestade se desfizeram e sobrei sem proteção. Busquei abrigo afetivo e tropecei por causa das rejeições. Precisei aceitar o arrependimento, mas não permiti que ele me anulasse.
Resumi parágrafos e sublinhei as lições aprendidas. Apaixonei-me por mim, mas não pelo o que restou e sim pela essência. O que restou ninguém quer, nem eu mesma. Restos de nada servem. Da essência me refaço e daqui pra frente é somente isso que importará.
Uma liberdade conquistada pelo amor ao que sou, ao que conquistei e àquilo que me compõe.




“Quando me estranhar não ataca-me! Acata-me; Atreva-te...” do O Teatro Mágico.

• Letícia Nascimento, 24 anos, é jornalista e mantém o blog www.meumacuruja.blogspot.com


Dançar com o luar

* Por Anand Rao

O olhar
quando descansa
alcança
o luar
e se levanta
numa dança
ímpar
a dois
ou só
o luar é meu par.

* Jornalista, Músico, Escritor e Produtor. Site - www.anandraobr.com

terça-feira, 27 de setembro de 2011







Leia nesta edição:

Editorial – Erudito e eclético.

Coluna À flor da pele – Evelyne Furtado, crônica, “Mares calmos”..

Coluna Observações e Reminiscências – José Calvino de Andrade Lima, crônica, “A presidenta do Brasil na Assembléia Geral das Nações Unidas”.

Coluna Lira de sete cordas – Talis Andrade, poema “Terra mulher”..

Coluna Estante – Lançamento do livro “Fiteiro Cultural”, de José Calvino de Andrade Lima.

Coluna Porta Aberta – Fausto Brignol, conto “A capivara”.


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Erudito e eclético

Os escritores muito eruditos, com conhecimento a fundo de determinadas disciplinas, tendem, via de regra, a pecar pela rigidez. Apegam-se a estilos e temas de sua especialidade e se mostram imperitos, quando não incapazes, de flanar por outras áreas do conhecimento, que não as suas. Pecam, portanto, por falta de ecletismo. Esse não é o caso, todavia, do sul-africano J. M. Coetzee, residente, atualmente, na cidade australiana de Adelaide, onde leciona na universidade local.
Trata-se de um homem de letras que chegou ao topo da atividade que escolheu: a literatura. Consagrou-se, notadamente, como romancista. Seu mais recente best-seller foi “Verão”, que conquistou crítica e público nos principais centros culturais do mundo. Ademais, não precisa provar mais nada para ninguém. Afinal, foi reconhecido, mundialmente, ao obter a mais reputada e cobiçada premiação literária, o Nobel de Literatura de 2003. Foi o quarto escritor nascido na África (e o segundo da África do Sul, a que o precedeu foi Nadine Gordimer, em 1991) a lograr essa façanha.
Antes, já havia protagonizado outro feito quase que do mesmo porte. Havia ganho o disputadíssimo “Booker Prize”, dos Estados Unidos, e em duas oportunidades. O primeiro prêmio foi pelo livro “Life & times of Michael K”, em 1983. E o segundo, 16 anos depois, em 1999, por “Disgrace”. Foi o primeiro escritor a conquistar esse prêmio por duas vezes. Como se vê, não precisa provar mais nada para ninguém.
Interessante é a formação acadêmica de Coetzee. Algumas de suas qualificações não têm nada, absolutamente nada a ver com literatura. Bacharelou-se, por exemplo, em matemática. Entre 1962 e 1965, viveu uma temporada na Inglaterra, quando trabalhou como programador de computadores. Porém, paralelo a essa formação técnica, fez, também, estudos específicos, que o capacitaram a caminhar com segurança e desenvoltura pelo mundo das letras. Para tanto, além de um bacharelato em língua inglesa, doutorou-se, na Universidade do Texas, em Austin, em lingüística dos complexos idiomas de raízes germânicas. Como acadêmico, portanto, o cara é uma fera!
Sua brilhante carreira literária, que desembocou no Nobel de Literatura de 2003, começou em 1974, com o livro “Dusklands”. A ele, seguiram-se outros 20, entre os quais o recentemente lançado no Brasil pela Companhia das Letras, intitulado “Mecanismos internos”. Muitos dos livros de Coetzee já chegaram ao Brasil e podem ser encontrados nas melhores livrarias. São os casos, por exemplo, de “À espera dos bárbaros”, “O cio da terra. Vida e tempo de Michael K”, “A idade do ferro”, “O mestre de Petersburgo”, “Cenas de uma vida”, “Desonra”, “Homem lento” e “Diário de um ano ruim”, entre outros.
“Mecanismos internos” não foi um livro planejado para sê-lo. Coetzee fez, em relação a ele, o que muitos escritores, que são colunistas de jornais e revistas (literários ou não) fazem. Ou seja, reúnem as melhores colunas, que tenham alguma relação umas com as outras, para conferir uma certa unidade temática ao conjunto, e publicam-nas em um e, às vezes, em vários volumes.
Os 21 textos que compõem esse livro foram publicados na prestigiosa “New York Review of Books”, o suplemento literário do jornal “The New York Times”. Quem se baseia, apenas, no currículo de Coetzee, sem se dar o trabalho de ler essa obra, pode ter a impressão (falsa) de se tratar de textos complicados, carregados de erudição, de leitura monótona, para não dizer, chata. Não ocorre nada disso. Aliás, pelo contrário.
O autor, valendo-se de sua longa experiência de professor – função que ainda exerce, agora na Universidade de Adelaide – esbanja didatismo e clareza, sem perder sua melhor característica: a capacidade crítica e o talento de arguto observador, que enxerga determinadas nuances (positivas e/ou negativas) nos textos dos escritores cujas obras passam pelo seu crivo. É, portanto, não somente o romancista consagrado, o ganhador de um Nobel de Literatura, mas também um ensaísta de mão cheia.
Nos 21 ensaios que compõem “Mecanismos internos”, Coetzee avalia a obra principalmente de seus precursores e, em especial, dos contemporâneos, o que lhe dá foros de atualidade. Entre estes, destaco suas análises sobre Walter Benjamim, Nadine Gordimer e Robert Musil. O livro conta com a tradução de Sérgio Flaksman. Recomendo-o aos que amam literatura e que se esmeram em conhecer sua importância e alguns dos seus “segredinhos”.
Um dos aspectos a serem destacados, em “Mecanismos internos”, é a análise que Coetzee faz das traduções. Dá tanta importância a essa questão, que lhe dedica um terço dos textos do livro. E ela é importante mesmo. Ademais, o autor tem capacitação plena para opinar, com propriedade, a respeito. Afinal, entre suas tantas habilidades, está a de tradutor, função que exerce com naturalidade por dominar, com absoluta fluência, três idiomas: inglês, alemão e holandês.
A vantagem da sua erudição mostra-se por inteiro na minúcia de suas pesquisas e na coerência de suas análises. Concordo com Gabriel Innocentini que, em sua análise de “Mecanismos internos”, no site da Revista Bula (WWW.revistabula.com), destaca: “Coetzee lê atentamente com o leitor, levantando hipóteses, investigando por que o escritor em questão fez determinadas escolhas. Primeiro, compreender; depois, julgar. Somente depois de entender de que forma tal efeito foi obtido. Coetzee avalia se uma opção diferente não traria melhores resultados”. Esse é um erudito que não se deixa “fossilizar”. E que, sobretudo, esbanja ecletismo.

Boa leitura.

O Editor.




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Mares calmos

* Por Evelyne Furtado

Viver não é preciso. Navegar, sim. Subverto a ordem e peço licença ao poeta, bem como às possíveis interpretações que os versos receberam, pois quero simplesmente dizer que navego em mares calmos dessa vez.
Uma viagem, para alguns, deve ser planejada, organizada, prevista. Se possível até com a visualização dos pontos turísticos a serem visitados antecipadamente, via internet.
Tudo para que não haja surpresas desagradáveis. Mesmo as agradáveis não são bem vistas. Esses vão e voltam apenas para confirmar o que planejaram. Fico com a impressão de que nem seria necessário ir, mas cada um viaja como quer e pode.
Navegar, aqui, pode ser sinônimo de viajar ou de viver. Já ficou claro, mas reforço e sou redundante. Fazer o que se me repetir parece uma sina?
Continuo falando em viagem e em vida lembrando que para outros vale a emoção do imprevisto. Esses escolhem o destino com os olhos fechados e o dedo sobre o mapa.
A surpresa, boa ou má, começa na ponta do dedo. A esses, desejo muito mais que boa viagem. Desejo-lhes boa sorte.
Uma boa parte viaja sem sair do lugar. Conheço muito bem esses viajantes que percorrem o mundo em páginas, em imagens, em sons, em pensamentos, em sonhos.
Sou viajante de sonho e sou boa nessas viagens. Mas já fui muito mais. Por isso,
hoje escolho uma viagem aqui pertinho.
Imagino um barco sobre as águas mornas da Praia do Forte, que para quem não sabe é uma praia onde o mar é contido pelos arrecifes.
Da proa eu vejo o Forte e a nova Ponte. Lá em cima Natal. No horizonte o mar querendo ultrapassar a barreira de rochas. Chego a ouvir uma sinfonia na insistência do mar e acho tudo lindo, inclusive a coreografia das espumas no cume das grandes ondas represadas.
Em meio à letargia que me toma a bordo penso que o mar também se repete. Também ele vive sua sina, assim como eu.

• Poetisa e cronista de Natal/RN






A presidenta do Brasil na Assembléia-Geral das Nações Unidas

* Por José Calvino de Andrade Lima

“Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seus entorno regional.” - Dilma Rousseff

Em quase meia hora de um discurso incisivo e repleto de recados e reivindicações, no dia 21 de setembro, na sede das Nações Unidas, a presidenta Dilma Rousseff afirmou que há o risco de a crise econômica mundial se transformar numa “grave ruptura política e social”. Ela defendeu enfaticamente a criação do Estado Palestino e afirmou que o Brasil está pronto para integrar, como membro permanente, o Conselho de Segurança da ONU.
Como primeira mulher a discursar na abertura da Assembléia-Geral da ONU, Dilma foi aplaudida, sobretudo, quando reafirmou em seu discurso a posição do País a favor do reconhecimento do Estado palestino.
Através das comunicações radiotelegráficas internacionais e baseado em fontes bibliográficas, me foi possível a elaboração de um trabalho onde em coincidência com o momento atual, em setembro de 1973, as quais eu resumo a origem e Independência de Israel. Para muitos escritores e pensadores, Israel representa o elemento modernista na vida do Oriente Médio, esforçando-se para alcançar o progresso através do racionalismo científico. Em sua história, foi Jerusalém sua capital por três vezes: a primeira de 1.000 AEC até a destruição do Primeiro Templo em 587 (era ela a capital do Reino de David e de seus sucessores); a segunda, de 515 AEC até a destruição do Segundo Templo em 70 DEC;
A terceira, em 1948.
Jerusalém, em todos os outros tempos foi governada por estrangeiros: babilônios, sexto século AEC; gregos no século dois AEC; romanos nos anos 70 a 324 DEC; bizantinos de 324 a 614 e persas (breve período); árabes, de 639 a 1099; cruzados, de 1517 a 1917; ingleses de 1917 a 1948. Entre 1948 e 1967, uma parte da cidade era governada pela Jordânia... Jerusalém é hoje:
- uma cidade aberta;
- uma cidade na qual estão garantidas a liberdade religiosa e a proteção aos lugares santos;
- uma cidade sob a autoridade de um único governo, autóctone e não estrangeiro;
- uma cidade gozando de uma prosperidade que desconheceu por dezenove séculos.
Quando o político e diplomata brasileiro Osvaldo Aranha presidiu entre 1947 e 1948, a Assembléia das Nações Unidas, desrespeitou todas as normas do direito internacional, até afrontar a Carta das Nações, que não lhe permitia inventar países ou estados que logo a seguir passassem a ter direito a voto.
O presidente americano, Barack Obama não estava presente quando Dilma falou. Ele entrou, logo depois dela terminar seu discurso. Ao final, o presidente dos Estados Unidos afirmou na Assembléia-Geral das Nações Unidas que “Há um ano, aqui desta tribuna, eu defendi a criação do Estado palestino. Eu acreditava então, e continuo acreditando que o povo palestino merece ter seu Estado. Mas eu também disse que a paz genuína só pode ser alcançada entre os palestinos e os israelenses por eles mesmos. A paz não virá por meio de declarações e resoluções na ONU. Se fosse tão fácil, já teria sido feito.” O seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, não está garantido? Ou fica difícil, hein?

* Formado em comunicações internacionais, escritor, teatrólogo, poeta, colunista do Literário e rei do Maracatu Barco Virado. Como escritor e poeta, tem trabalhos publicados nos jornais: Diário de Pernambuco, Jornal do Commercio, Folha de Pernambuco e em vários sites... Tem 11 títulos publicados, todas edições esgotadas.






Terra mulher

* Por Talis Andrade


Encosta o ouvido
no morno ventre
da Mãe Terra.
Interpreta os sons
que vêm de suas entranhas:
os mais doloridos lamentos,
as mais recônditas vozes
de conspirações
e conluios malditos.
Se apurares
os endurecidos ouvidos
auscultarás cantos e acalantos.
Se as entranhas da Mãe Terra
abrem-se em tremores,
vertendo cinza e lava,
podem, generosamente,
manar a seiva de inebriantes flores,
e paradisíacos rios de leite e mel.

A terra é mulher. Sempre.
Se queres sentir
o cheiro fresco do verde,
o doce gosto de chuva.
Se teu sexo anseia
arranhar-lhe o ventre,
arando a vida -
se tuas mãos
cavar-lhe o útero
onde a semente
será jogada,
onde a semente
encontrará abrigo.

Sejas amiga. Sejas amigo. Sempre.
Porque quando teu corpo
não mais te servir,
a Terra Mãe te desobrigará
de tão enfadonha
pesada carga.


* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).