quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Onze anos, cinco meses e três dias de criação.


Leia nesta edição:


Editorial – Várias realidades

Coluna Ladeira de Memória – Pedro J. Bondaczuk, crônica, “Minha eventual biografia”.

Coluna Contradições e paradoxos – Marcelo Sguassábia, crônica humorística Nome aos carros”.

Coluna Do fantástico ao trivial – Gustavo do Carmo, conto, “Superstição de casamento.

Coluna Porta Aberta – Clarisse da Costa, crônica, “As Reticências de Thata Alves”.

Coluna Porta Aberta – Samuel C. Da Costa, poema, “Anoitece no velho mundo”.


@@@


Livros que recomendo:

Poestiagem – Poesia e metafísica em Wilbett Oliveira” (Fortuna crítica) – Organizado por Abrahão Costa Andrade, com ensaios de Ester Abreu Vieira de Oliveira, Geyme Lechmer Manes, Joel Cardoso, Joelson Souza, Levinélia Barbosa, Karina de Rezende T. Fleury, Pedro J. Bondaczuk e Rodrigo da Costa Araújo – Contato: opcaoeditora@gmail.com

Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com

A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Boneca de pano” - Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Águas de presságio”Sarah de Oliveira Passarella – Contato: contato@hortograph.com.br

Um dia como outro qualquer”Fernando Yanmar Narciso.

A sétima caverna”Harry Wiese – Contato: wiese@ibnet.com.br

Rosa Amarela”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Acariciando esperanças”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Cronos e Narciso” – Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br

Lance Fatal” – Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br




Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Várias realidades


Os que apregoam que são “realistas” na maioria das vezes sequer sabem definir o que seja realidade e muito menos fazer distinção entre esta e sonhos e idealizações. Trata-se de mera máscara para disfarçar o pessimismo com que encaram a vida. E o pessimista, mesmo que não se dê conta, é um doente. Encara tudo e todos sob um prisma negativo, sofre sem necessidade e parece se comprazer com o sofrimento.

O que é o real? O nascimento? Alguém é capaz de determinar por que, entre tantos espermatozóides potencialmente geradores de vida, justamente o que lhe originou foi o que fecundou um óvulo específico?

Ah, a realidade está na morte”, dirão alguns. Por que, então, algumas pessoas morrem, às vezes sem completar um reles dia de vida (ou nem mesmo uma hora sequer), e outras, com doenças incuráveis, chegam a sobreviver por cem anos? Não há “uma realidade”, mas “múltiplas realidades”, dependendo de quem seja o observador.

Há um trecho do romance “Guerra e Paz”, de Leon Tolstoi, ao qual pouca gente atentou, e que serve a caráter para ilustrar a minha tese. Analisemo-lo por partes. O romancista russo escreve: “Uma abelha pousada em uma flor picou uma criança. E a criança tem medo das abelhas e diz que o objetivo delas é picar os homens”. Não lhe passa, claro, pela cabeça que esse é, certamente, o inseto mais útil ao homem que há em toda a natureza. Muito menos sua incrível “organização social”, de nos causar pasmo e inveja. A criança julga a “realidade” pela experiência, única, que teve em relação a esse bichinho: a da ferroada.

Tolstoi prossegue: “O poeta admira a abelha que trabalha no cálice da flor e diz que o objetivo da abelha é recolher o aroma das flores”. Para ele, é. Ninguém o convencerá do contrário. Comprometido com a beleza, o poeta faz dela a sua realidade. Não se dá conta da agressividade do inseto (pois não foi picado por ele) e nem da sua utilidade, já que o mundo em que vive é outro, com valores diversos dos das pessoas tidas como práticas.

E o escritor russo acrescenta: “Um apicultor, notando que a abelha recolhe o pólen e o néctar e os leva para a sua colmeia, diz que o objetivo da abelha é recolher o mel”. Afinal, essa é a sua atividade. Aprendeu a direcionar o trabalho instintivo do inseto em seu próprio benefício. Mas não há consenso nem mesmo entre essa categoria, conforme Tolstoi destaca: “Outro apicultor, tendo estudado de mais perto a vida do enxame, diz que a abelha recolhe o pólen e o néctar para alimentar a larva e criar a rainha, que o seu objetivo é a continuação da espécie”.

Claro que não fez nenhuma descoberta bombástica e transcendental. Limitou-se a constatar o óbvio. Todo ser vivente, animal ou vegetal, objetiva, antes e acima de tudo, por instinto, a sua continuidade (entre os quais, claro, inclui-se o homem). Tolstoi, porém, não para por aí. Afirma: “O botânico nota que ao passar com o pólen da flor dioica para a flor fêmea, a abelha fecunda-a, e vê nisso seu objetivo”. E não está errado, evidentemente.

Mas esta não é a única finalidade da abelha e sequer a principal. Para o pesquisador, porém, é. Como no caso do apicultor, contudo, não há consenso também entre os especialistas desta área. É o que Tolstoi afirma: “Um outro observando a migração das plantas, verifica que a abelha contribui para ela, e pode dizer que tal é o objetivo da abelha”.

Instigante, no entanto, é a conclusão do escritor, com a qual concordo plenamente (daí tomar este trecho do seu célebre romance para ilustrar estas considerações). Tolstoi observa: “Mas o fim último da abelha não se reduz ao primeiro, nem ao segundo, nem ao terceiro dos objetivos que o espírito humano é capaz de descobrir. Quanto mais o espírito humano se eleva na descoberta desses objetivos, mais evidente se torna que o fim último lhe é inacessível”.

Nossos sentidos, notadamente o da visão, nos iludem e, com muita freqüência, nos induzem ao erro. Nem tudo o que vemos é, de fato, o que aparenta. E, não raro, cometemos enormes injustiças ao julgar uma pessoa apenas pela aparência, sem atentar para a sua essência. Se não me falha a memória, foi Saint’Éxupery que afirmou que “só se vê bem com o coração”. Não com o órgão físico em si, é evidente, mas com sentimento, com compreensão e com interesse.

O essencial para a nossa vida – como a fé, a esperança, a bondade e a solidariedade entre outros – é invisível aos olhos. Só identificamos esses valores, que nos caracterizam como pessoas inteligentes, com o nobre instrumento da razão. A mesma realidade é vista de formas diferentes pelas pessoas, dependendo da sua formação, curiosidade, imaginação e criatividade. Constitui-se, portanto, em “várias realidades”. Multiplica-se em progressão geométrica.

Umas pessoas, dão asas à fantasia, vivem nas nuvens e raramente, ou quase nunca têm os pés no chão. Outras, não sabem enxergar além das aparências, do concreto, do cimento e do asfalto e não usufruem do delicioso dom de sonhar. O ideal é a mistura, bem dosada, do real e do ideal.

Idel Becker escreveu: “Duas pessoas olham para fora através da mesma janela: uma vê o pântano e a outra as estrelas”. Uma terceira, porém, a mais sábia, posto que criativa, tem uma visão mais ampla: vislumbra, simultaneamente, tanto o pântano, de águas podres e estagnadas, quanto as estrelas que brilham além, no firmamento. Como, pois, falar de “realidade” e não de “realidades”?!

Boa leitura!

O Editor.



Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Minha eventual biografia

* Por Pedro J. Bondaczuk

A biografia de uma pessoa deve ser escrita (claro, se ela fizer por merecer tal registro) não necessariamente após sua morte, mas quando ela der por concluída a obra a que se propôs a realizar ao longo da vida. Enquanto se mantiver ativa, e produtiva, é prudente que se espere um pouco para biografá-la. Afinal, ela pode, nesse período, realizar algo de extraordinário, que fuja por completo ao comum e convencional. E se a biografia já estiver escrita, deixará, por conseqüência, de captar sua maior realização.

Em novembro de 1992, encerrei meu discurso de posse na Academia Campinense de Letras – onde fiz história, ao me tornar, na oportunidade, o acadêmico mais jovem a ser alçado à condição de “imortal”, nessa casa de notáveis – com uma declaração do ator, escritor, compositor e homem de cultura Mário Lago, que disse, em uma entrevista: “Sou homem do meu tempo. A minha biografia está em aberto”.

Passadas mais de duas décadas, ela permanece nessa condição. Tenho o privilégio de continuar sonhando, agindo, trabalhando e produzindo, em busca do “santo graal”, ou seja, da minha obra-prima, daquela que pode perpetuar meu nome geração após geração. Posso já tê-la produzido, sem que sequer haja me dado conta. Posso, em contrapartida, também jamais produzi-la, o que tornaria vãos todos os meus esforços e ilusões.

Dia desses, veio-me à cabeça uma fantasia insólita, até mesmo meio maluca. A de que, os ilustres colunistas do Literário, essa revista eletrônica diária de Literatura que edito pudessem, vir a escrever minha biografia. Não o fariam de forma coletiva, claro. Cada um escreveria a sua, com seu estilo peculiar e sua forma de me encarar enquanto escritor. Megalomania minha, claro. Porquanto, não seria “uma biografia”. Seriam dezesseis!!!

Esclareço que este texto foi originalmente escrito em 2009. Para se tornar razoavelmente atual, requeria algumas alterações. Sempre que posso, evito de escrever crônicas “datadas”. Tento, sempre que possível, optar pelo conceitual e não pelo factual, exatamente para que o texto se mantenha atual vinte, trinta, cinquenta, cem anos ou mais após ser redigido. Nem sempre isso é possível. Quando é o caso, ou seja, quando me solicitam a publicação de crônicas que sejam “datadas”, faço as devidas adaptações e, assim, elas se tornam atuais. Foi o que aconteceu com este texto que, apenas trago à sua apreciação para atender a pedidos de alguns leitores (e a solicitação destes encaro, sem pestanejar, como ordens). Caso o reproduzisse exatamente como foi originalmente concebido, estaria muito, muitíssimo distante do espírito que o norteou. Daí ter feito as adaptações.

Na crônica, posto que adaptada, menciono diversos colunistas que, por razões que só eles poderiam explicar, deixaram de ser colaboradores do Literário. Uma pena! Dois deles – Seu Pedro e Marco Albertim – infelizmente já faleceram, mas jamais serão esquecidos, tanto por este redator, quanto por muitos e muitos leitores. Deixei de mencionar parte considerável dos atuais colunistas, por não ter imaginado na ocasião o que eles escreveriam a meu respeito (caso, claro, escrevessem algo). Feitos os esclarecimentos, vamos ao texto (adaptado) da tal crônica.
Fiquei imaginando quais seriam as linhas mestras que cada colunista do Literário seguiria em seu livro, biografando este esforçado, posto que obscuro escritor menor. Aliene Coutinho, por exemplo, exsudando ternura e sensibilidade por todos os poros, provavelmente atentaria para a minha condição de poeta. Concentraria sua atenção no meu livro (ineditíssimo!!!!), “O poeta de alma azul”, reconstituindo as circunstâncias e as emoções que inspiraram cada um dos poemas que ele contém.

E o André Falavigna, qual o caminho que escolheria? Sem papas na língua (ou sem frescuras em seus textos), optaria por trazer à baila minhas inúmeras trapalhadas vida afora, que na época em que foram perpetradas (na escola, na faculdade, nas várias redações em que trabalhei) me causaram embaraço, aflição e constrangimento, mas que hoje me provocam, apenas, incontroláveis ataques de gargalhada. Seria um barato essa biografia!

Já na do Daniel Santos, caberiam muito mais episódios e circunstâncias da minha vida do que no livro a meu respeito de qualquer outro, dado seu notável poder de síntese e sua invejável capacidade de observação. Sairia um texto enxuto, preciso, objetivo e sumamente atraente. Muito mais do que as aventuras, fracassos e parcos sucessos que o biografado viveu. Seria um livro generoso e sincero, como, aliás, é esse escritor.

A Celamar Maione seguiria qual linha? Provavelmente, se concentraria em meus amores, tanto nos (raros) bem-sucedidos quanto nos (inúmeros) fracassados. Mostraria, pelo menos, minha vida como ela de fato foi, sem fantasias e sem “dourar a pílula”. Teria, pois, credibilidade e talvez viesse (muito provavelmente viria mesmo) a se constituir em best-seller. Gostaria muito de ler um livro assim a meu respeito.

Já o Eduardo Murta se concentraria no insólito que sempre me acompanhou. Retrataria minha profunda admiração face à vida, às coisas mais simples e comezinhas do cotidiano, sem esconder, no entanto, em seu texto elegante e nobre, indisfarçável compreensão e profunda solidariedade por minhas fraquezas e fragilidades. Seria uma biografia que eu leria comovido, mal contendo lágrimas de emoção. Este escreve bem demais!

O Eduardo Oliveira Freire sintetizaria, em “pílulas”, sumamente inteligentes e precisas, episódios marcantes da minha trajetória de vida em que outros gastariam páginas e mais páginas para narrar. Seria um texto compacto, condensado, concentrado, mas altamente atrativo. Levaria, com certeza, os leitores à reflexão.

E como a Veca, a queridíssima Evelyne Furtado, esquematizaria o seu livro a meu respeito? Certamente com ternura e compreensão. Concentraria sua atenção no meu profundo amor pela vida, pelas pessoas, pela arte e, sobretudo, pela Literatura. Enfatizaria minhas amizades, minhas leituras, minhas viagens e o meu lado “família”. Seria, certamente, um texto poético e belo, que também me despertaria profunda emoção.
Gustavo do Carmo, por seu turno, voltaria sua atenção para os fatos dramáticos que protagonizei e para a maneira surpreendente com que saí das inúmeras enrascadas em que me vi envolvido. Destacaria minha capacidade já nem digo de perdoar os que eventualmente me ofenderam, mas de, simplesmente, esquecer pessoas e fatos negativos, dado meu incorrigível (e às vezes até irresponsável) otimismo.

Marco Albertim, porém, faria uma biografia com um profundo respeito intelectual pela minha obra, a exemplo do que faz, costumeiramente, com artistas injustiçados e muitas vezes esquecidos, como Zé do Carmo, Luiz Gomes, e tantos outros, cujas vidas e obras costuma resgatar, de forma desprendida e generosa, em suas magníficas crônicas. Trata-se de um humanista que sabe dar valor aos méritos alheios. Seria, estou seguro, uma biografia terna, amigável, compreensiva e solidária. Certamente me comoveria também.

E se fosse o Marcelo Sguassábia meu biógrafo? Ah, se fosse ele, não faltaria o bom humor, característica que tanto valorizo. Muito menos faltariam tiradas inteligentes e de bom gosto. Aliás, haveria um esbanjar de criatividade. Pode até ser que não me identificasse com o personagem retratado, mas que iria rir à beça das suas trapalhadas, disso não restam dúvidas.

Seu Pedro, por uma questão de fidelidade profissional (já nem diria corporativismo), como bom jornalista que é, pesquisaria circunstâncias e situações da minha vida que poucas pessoas conhecem. Iria fundo e, certamente, produziria uma biografia densa, profunda, detalhada, sobretudo com conteúdo. Centralizaria seu texto em fatos e não em meras conjeturas e opiniões.

Já a Sayonara Lino centraria seu livro nas minhas atitudes assertivas. Destacaria que, mesmo errando em inúmeras ocasiões, errei, sempre, por excesso de zelo, nunca por falta dele. Mostraria que, mesmo quando tinha que combater moinhos de vento ou dragões botando fogo pelas ventas e, sobretudo, quando cercado de repúdio generalizado e ferrenha e consensual oposição, nunca me omiti. E isso é virtude? Não sei! Só sei que a omissão é o pior dos pecados que um homem pode cometer.

A Risomar Fasanaro, a exemplo de Aliene e de Evelyne, analisaria com inegável ternura meus erros e contradições, dando sempre um desconto a cada um deles, pelo fato de, mesmo nos meus maiores e mais graves equívocos, haver, em meus atos e pensamentos, invariável boa intenção. Retrataria, com certeza, um Pedro humano, de carne e osso, que não assustaria ninguém, mas atrairia de imediato a simpatia geral.

A biografia do Rodrigo Ramazzini focalizaria o meu lado palrador. Sou incorrigível “papagaio”. Aprecio uma boa conversa e seja de que assunto for. Tanto pode ser sobre mulheres (meu tema predileto e recorrente), quanto de futebol, política, sociologia, filosofia e vai por aí afora. Quem quiser conversar comigo, não pode ter pressa. Tem que reservar, no mínimo, cinco horas de papo. O Rodrigo reproduziria, pois, diálogos sem fim, com sua incrível capacidade de captar o que, como e quando as pessoas dizem.

O Talis Andrade, generoso como sempre foi comigo, faria uma biografia épica. Seria um verdadeiro poema, posto que em prosa, focalizando um lado que talvez nunca tive, mas que sempre aspirei ter. Seria outro a centralizar seu livro em minha poesia e em meu eterno comprometimento com o belo e o bom. Seria uma obra imperdível que conservaria à minha cabeceira enquanto vivesse.

E o Urariano Mota, o que escreveria? Faria uma biografia definitiva! Reuniria todos os ingredientes dos outros biógrafos e acrescentaria mais, muito mais. Certamente sua linha mestra seria baseada no meu lado “revolucionário” (diria, “quixotesco”), ou seja, nesse meu desejo maluco e utópico de mudar o mundo, evidentemente para melhor.

Buscaria explicações e justificativas para minhas ações em episódios perdidos na remota infância, quando me vi forçado a aprender português “na marra” (eu, que até os seis anos de idade, só sabia falar russo). Isso ocorreu quando passei dois longos e terríveis anos internado na Santa Casa de São Paulo, sem poder me comunicar com ninguém, por não conhecer uma só palavra do idioma que todos falavam. Só desconfio que essa biografia do Urariano seria generosa demais comigo, embora, certamente, nenhum leitor viesse a perceber, dada a verossimilhança do seu texto.
Como se vê, delirei... me deixei levar pela imaginação... viajei... Pare de sonhar, Pedrão! Faça, antes, por merecer que alguém escreva a sua biografia. Produza alguma obra sensível, humana, útil, que valha a pena ser lida, preservada e difundida. Só assim não lhe faltarão biógrafos.

Quem sabe, dessa maneira, você consiga que alguma dessas pessoas que você tanto estima (mesmo sem, conhecer nenhuma pessoalmente) e que tanto respeita e admira, venha a biografá-lo! E se fizer tudo direitinho, se construir algo de excelente, mas de excelente mesmo, que não seja nada parecido com o que você já fez até hoje, quem sabe, todos os dezesseis ilustres escritores citados venham a escrever sua biografia! Seria a glória, claro!!!

* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk



Nome aos carros

* Por Marcelo Sguassábia

Opala. Na pesquisa apareceu que é uma pedra preciosa. O nome tem uma sonoridade espetacular. Uma coisa nobre.
– É, mas fizemos um levantamento mais cuidadoso de informações e vimos que é considerado um mineraloide. Não chega a ser uma pedra preciosa. E é “a” opala, e não “o” opala. Estamos falando de um carro, não de uma perua. E tem mais: as maiores jazidas de opala do mundo estão na Austrália e no… Piauí!!! Estado sem glamour nenhum, vai desmerecer o lançamento. Esquece, aborta.
 
***
 
Bem, a próxima pauta da reunião de hoje é a escolha do nome do novo modelo Fiat. Selecionamos “Uno”. Que tal?
– Eu gosto, passa uma ideia de ser o primeiro, de estar na dianteira.
– Também achei ótimo, pessoal.
É, né? Mas que falta de malícia de vocês… tá reprovado, pensem outra coisa.
Por que, chefe?
Alguma montadora concorrente vai aparecer com o Due, talvez até o Tre. E com o slogan: “Muito mais do que Uno”. Entenderam ou querem lançar no mercado e daqui a um mês tomar na cabeça?
 
***
 
Meriva! Meriva é bom demais!!!
Tá se achando o Arquimedes, né? Pois pra mim é uma bela de uma porcaria esse nome. Lembra “Deriva”, andar à deriva, entende? Falta de rumo e de dirigibilidade. É o pior nome do mundo pra um carro. Vai encalhar na concessionária e o pessoal de vendas ainda vai tirar uma, chamando o carro de Me Rifa. Nem pensar.
 
***
 
Tipo? Mas o que quer dizer Tipo?
Também fiquei boiando, pra falar a verdade. Tipo o quê?
Tipo é tipo, não tem que ficar explicando, gente. Em italiano ou português, quer dizer a mesma coisa.
Falta qualificação, falta adjetivação, precisa significar alguma coisa. Nominho mais sem personalidade, faça-me o favor. Tem tipo sanguíneo, tipo de arroz, de agulha de crochê, de esparadrapo, sei lá. Mas nem por isso ser de um “tipo” faz alguma coisa ser melhor que outra.
É, a Engenharia também acha o mesmo. Vou pedir mais opções ao Marketing.
 
***
 
Brasília é o nome sugerido. E o que mais agradou, por enquanto.
Sim, pelo fato do projeto do carro ter sido inteiramente desenvolvido no Brasil.
Tá, até entendo, tem a ver. É uma cidade única no mundo e tudo mais.
Então? Vamos bater o martelo?
O meu medo é estourar algum escândalo envolvendo a capital, compreende? O nome da cidade pode ficar marcado por alguma coisa ruim. Já repararam como tem muro em Brasília pichado com “Abaixo a ditadura”? Não, não. Melhor não correr riscos. Você tinha aí um outro nome bom, como é que é mesmo? O nome de uma ilha, se não me engano…
Elba.
Isso. Elba eu gosto.
É, mas eu fico na dúvida. Eu mesmo pensei nesse nome, mas agora estou sendo advogado do diabo. Alguma coisa me diz que um carro com esse nome vai dar problema mais pra frente… e não é problema mecânico.
Bom, sendo assim, de volta à velha máquina de escrever. Vocês vão me desculpar… mas Brasília, definitivamente, não.

* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).



Superstição de casamento

* Por Gustavo do Carmo

Perdeu a vontade de se casar. Não se achava preparado, não queria ficar preso a um relacionamento e vulnerável a uma crise de ciúmes. Na verdade, Renan teve uma crise de insegurança. De medo.

Veridiana era uma mãe para ele. Era a candidata a esposa perfeita. Além de bonita e de corpo escultural, ajudava a revisar os seus contos e roteiros, fazia companhia a ele para assistir aos seus programas de carro e novelas, entendia tudo de futebol e torcia para o mesmo time dele, acompanhava-o nas livrarias, no cinema, no teatro e cozinhava para ele. Também o indicou para trabalhar na produtora de cinema da mãe dela.

Renan ainda tinha ótimas relações com a família da noiva. Todos muito divertidos e atenciosos com ele, seus pais, sua irmã e seu cunhado. E nunca foram preconceituosos com a origem de classe média baixa de Renan.

O casamento de Renan tinha tudo para ser feliz. Por isso, romper o noivado, dizer um não para o padre ou abandonar Veridiana no altar seria, mais que um escândalo, um pecado. Mas Renan perdeu a vontade de se casar. Teve crise de insegurança. De medo.

Para não cometer essa ingratidão, esse desrespeito, Renan foi mais discreto. Fez questão de visitar Veridiana no dia da prova do seu vestido de noiva. Ele acreditava naquela velha superstição de que ver a noiva paramentada antes do casamento dá azar. E queria que desse mesmo.

Soube da prova através da cunhada pré-adolescente, irmã de Veridiana, que desconhecia esta tradição.

Informado, correu até o seu apartamento. Foi naturalmente barrado pela mãe e a tia da noiva. Mas ele as distraiu e foi até o quarto de Veridiana, que ficou indignada com a invasão e lhe alertou que dava azar. Renan respondeu que não acreditava nessa bobagem e disse que ela estava linda com aquele tomara que caia bem decotado branco gelo.

Todos levaram na brincadeira. A mãe de Veridiana perdoou a filha mais nova por dar com a língua nos dentes. Casaram-se. A cerimônia e a festa foram lindas. Tiveram uma filha, chamada Valquíria. Renan se tornou um escritor rico e famoso.

Não dá para dizer que flagrar propositalmente Veridiana vestida de noiva antes do casamento deu sorte. Quando Valdirene, a filha de Valquíria, ia se casar, seu noivo repetiu o gesto de Renan. A avó não impediu o ato do futuro genro da filha, pois acreditava que isso deu sorte a eles. As mulheres da família ouviram um grito de dor.

Veridiana teve um AVC fulminante ao ver a neta morta e ensanguentada, após ser esfaqueada pelo noivo, que tinha acabado de descobrir uma traição de Valdirene. Estava a dias de comemorar bodas de ouro com Renan, que descobriu, no velório duplo, que também foi traído pela esposa de longa data ao ver o amante rico aos prantos sobre o seu caixão e também morrer de enfarte.

Depois de cinquenta anos, Renan confessou ao irmão que perder a vontade de se casar com Veridiana não era um medo, uma fraqueza e muito menos uma crise de insegurança. Era uma convicção. E fazer questão de ver a noiva antes do casamento foi uma vingança sutil.

* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos”.
Bookess - http://www.bookess.com/read/4103-indecisos-entre-outros-contos/ e


PerSe -http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1383616386310
As Reticências de Thata Alves


* Por Clarisse da Costa


A escrita para muitos traz certo prazer indescritível. Digamos que um bem-estar além de proporcionar conhecimento. Ela surge de várias formas. O exemplo forte são as mulheres. Muitas de nós mulheres começam a sua escrita escrevendo em diários. Thata Alves, assim carinhosamente conhecida, teve prazer pela escrita por volta dos dez a doze anos de idade na escola, interpretação de textos e a produção de redações a fascinavam. Mas exercer a escrita foi mais pela necessidade de ter um diálogo necessário com seus pais, pois não havia diálogo sobre sentimentos, ou coisas do gênero. Para ela a escrita foi sempre a prática de expressar o que não tinha como dizer em terapias pelo fato de não poderem pagar um psicólogo.

Hoje, crescida e com opiniões formadas, Thata é uma guerreira negra no mundo literário. Atuante em diversos setores já participou de dezenas de Antologias, Pracarau, Poezine, Poesia na Faixa, Encontro de Utopias, e tantos outros. Mas o auge de seu trabalho nasce em 2017, exatamente em janeiro com a obra Reticências. Esse nome me faz lembrar algumas lacunas em minha vida. O espanto é que foram mil exemplares vendidos. Imagina mil lacunas?! Loucura? Ou tortura? Que seja a vida é cheia de lacunas de fato. A escrita mesmo não tem o seu ponto final e sim reticências. Começo, meio, fim e recomeço.

Thata, para difundir a sua escrita criou objetos poéticos, como pequenos espelhos em formato de bottons, com trechos de suas poesias e cartões postais com parcerias nas ilustrações de Felipe Oliveira. Sempre com a intenção das pessoas poderem ter a possibilidade do consumo deste. Uma mulher como tantas, porém com o olhar sempre à frente sem perder o tempo de vista. Como toda mulher negra sofreu barreiras, e na literatura não é diferente, afinal são apenas 15 mulheres na literatura brasileira, mas nada que tira o seu brilho e vontade de vencer. Costumo dizer que o problema eu já tenho, a manobra é trazer a solução. – diz ela.

* Cronista e artesã em Biguaçu/SC



Anoitece no velho mundo

* Por Samuel C. da Costa


Sou eu desolado
Sozinho à beira do pelágio
Perdido na fossa abissal
Em mim
Devaneando
Com os impossíveis da vida

Dá me
A tua delicada mão
Magnificente consorte minha
E o teu corpo incorpóreo
Por inteiro
Vamos juntos nós perder
Na noite perpetua
Unidos
Apreciar excelsa
Sinfonia noturna

Vem comigo meu anjo negro
Ousamos desafiar
Os deuses e as deusas imortais
Ousamos nos amar
Sob os raios do negro luar


* Poeta em Itajaí/SC.







quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Onze anos, cinco meses e dois dias de criação.


Leia nesta edição:


Editorial – Vida perdida.

Coluna De Corpo e Alma – Mara Narciso, crônica, “Viagem de palavras”

Coluna Verde Vale – Urda Alice Klueger, crônica, “Férias no Sul”.

Coluna Em verso e prosa – Núbia Araujo Nonato do Amaral, poema, “Pressa de viver”..

Coluna Porta Aberta – Antonio Lassance, artigo, “A fórmula do semipresidencialismo”.

Coluna Porta Aberta – Antonio Adriano de Medeiros, poema, “Cabala, um soneto”.

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Livros que recomendo:

Poestiagem – Poesia e metafísica em Wilbett Oliveira” (Fortuna crítica) Organizado por Abrahão Costa Andrade, com ensaios de Ester Abreu Vieira de Oliveira, Geyme Lechmer Manes, Joel Cardoso, Joelson Souza, Levinélia Barbosa, Karina de Rezende T. Fleury, Pedro J. Bondaczuk e Rodrigo da Costa Araújo – Contato: opcaoeditora@gmail.com

Balbúrdia Literária” José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com

A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Boneca de pano” - Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com

Águas de presságio”Sarah de Oliveira Passarella – Contato: contato@hortograph.com.br

Um dia como outro qualquer”Fernando Yanmar Narciso.

A sétima caverna”Harry Wiese – Contato: wiese@ibnet.com.br

Rosa Amarela”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Acariciando esperanças”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br

Cronos e Narciso”Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br

Lance Fatal” Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br




Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.