terça-feira, 31 de julho de 2018

Nicarágua - Emanuel Medeiros Vieira


Nicarágua



* Por Emanuel Medeiros Vieira



O que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção,
e o maior bem é pequeno;
que toda vida é sonho
e, os sonhos, sonhos são.”
(Pedro Calderón de la Barca) – 1600-1681)


Clóvis Rossi lembra que Fidel Castro declamou um trecho de peça de Pedro Calderón de la Barca nos festejos dos 50 anos do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), depois transformado em OMC.

E o citado jornalista, falando da situação tenebrosa da Nicarágua, observa: “Ah, velho Fidel, que triste ver que os sonhos que sonharam parcelas significativas dos jovens latino-americanos tenham sido soterrados por ditaduras”.

Em 1979, todos os democratas apoiaram a Revolução Sandinista que derrubou a sangrenta ditadura de Somoza.

A atual e violenta repressão do “sandinista” (?) Daniel Ortega – que mudou de lado e optou por matar o seu próprio povo –, deixou ao menos 351 mortos em três meses de levante popular.

Os estudantes chamam Ortega de novo Somoza.

Ele – traidor da revolução – aliou-se “à fatia mais reacionária e corrupta da elite nicaraguense”.

A Conferência Episcopal nicaraguense convocou um jejum de “explícito conteúdo político”.

Os bispos dizem que será “um ato de desagravo pelas profanações realizadas estes últimos meses contra Deus” (alusão à tremenda repressão às manifestações – em geral pacíficas – contra o tiranete).

Informa-se que o PT está apoiando a repressão do novo Somoza chamado Daniel Ortega.

Custo a acreditar que um partido dito dos trabalhadores apoie regime tão brutal.

O PSOL tem se manifestado abertamente contra a repressão do novo ditador.

O secretário de Relações Internacionais da sigla, Israel Dutra, afirmou que Ortega “está se tornando o Assad centro-americano”.

Os democratas de todo o mundo devem unir-se em favor do povo da Nicarágua que está sendo literalmente massacrado.

Nenhum homem é uma ilha.

(Brasília, julho de 2018)


* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros. Foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura de 2018.







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