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Brasil 2018
*
Por Frei Betto
Já
que tudo indica que Temer permanece à frente do governo até o
último dia do ano, dado que a sua base aliada no Congresso decidiu
obstruir a Justiça, fica a pergunta: a quem eleger para sucedê-lo?
Pesquisas
eleitorais que já tiveram início destacam uma dúzia de prováveis
candidatos. E os eleitores reagem de diferentes formas. Há os que já
decidiram não votar. É a turma do Partido Ninguém Presta. Atitude
meramente emocional. Quem tem nojo de política é governado por quem
não tem. E tudo que os maus políticos querem é que viremos as
costas à política para dar a eles carta branca.
Há
os que votarão no próprio umbigo em defesa de seus interesses
corporativos, como os eleitores da bancada do B: boi, bala, bola,
bancos e Bíblia. Esses escolherão candidatos afinados com o
latifúndio, o desmatamento da Amazônia, o extermínio dos
indígenas, o mercado financeiro, a homofobia, a privatização do
patrimônio público e o Estado mínimo.
Um
contingente de eleitores votará em quem seu mestre mandar. É o
rebanho eleitoral, versão pós-moderna do coronelismo, agora
substituído por padres e pastores, figuras midiáticas e chefes de
organizações criminosas.
Há
ainda o eleitor que se deixará levar pela propaganda eleitoral.
Votará em quem lhe parecer mais simpático, sem sequer conhecer os
projetos políticos do candidato. É aquela empatia olho no olho que
não vê mente, coração e bolsos. E há os que votarão em
candidatos progressistas, ou naqueles que assim se apresentarão nos
palanques, na esperança de resgatar os direitos cassados pela atual
reforma trabalhista e corrigir os desmandos do governo Temer, para
que o país volte a crescer e ampliar seus programas sociais.
Ora,
devemos votar no Brasil que sonhamos para as futuras gerações. Isso
significa priorizar programas e projetos, e não candidatos. Um país
no qual coincidam democracia política e democracia econômica. De
que vale o sufrágio universal se não repartimos o pão? Votar no
Brasil que requer profundas reformas estruturais, como a tributária,
com impostos progressivos; a agrária, com o fim do latifúndio e do
trabalho escravo; a política e a judiciária. Brasil que promova os
direitos das populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas.
Brasil de democracia participativa e no qual o Estado seja o
principal indutor do desenvolvimento, com distribuição de riqueza e
preservação ambiental.
Fora
disso, tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes. Ou pior.
Votar
é importante, mas não suficiente. Porque no Brasil tradicionalmente
nós votamos e o poder econômico elege. Em 2018, porém, será a
primeira eleição para o Congresso e a presidência da República na
qual as empresas não poderão financiar campanhas políticas, como
faziam as que estão denunciadas pela Lava Jato. Isso não significa
que o caixa dois será extinto. Seria muita ingenuidade pensar que
políticos que se lixam para a ética não haverão de encontrar
formas de obter dinheiro ilegal.
Por
isso, é um erro jogar nas eleições todas as fichas da nossa
esperança em um Brasil melhor. O mais importante é investir no
empoderamento popular. Reforçar os movimentos sociais e sindicais,
intensificar o trabalho de formação política e consciência
crítica, dilatar os espaços de pressão, reivindicação e
mobilização. Só conseguiremos mudanças significativas se vierem
de baixo para cima.
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Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou”
(Saraiva), entre outros livros.
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