quinta-feira, 31 de maio de 2018

Índice


Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Doze anos, dois meses e dois dias de criação.


Leia nesta edição:


Editorial – Memórias de um idealista.

Coluna Ladeira de Memória – Pedro J. Bondaczuk, poema, “Pastor de saudades”.

Coluna Contradições e paradoxos – Marcelo Sguassábia, crônica humorística Duña profetiza”.

Coluna Do fantástico ao trivial – Gustavo do Carmo, crônica, “Amores platônicos”.

Coluna Porta AbertaInácio Sena, poema, “O olhar”.

Coluna Porta AbertaReivaldo Vinas, poema, “Ansiedade”.


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DESAFIO E PROPOSTA

Meu desafio está atrelado à proposta que tenho a fazer. Explico. Diz-se que a internet dá visibilidade a escritores e facilita negócios. É isso o que quero conferir. Tenho um novo livro, dos mais oportunos para um ano como este, de Copa do Mundo de Futebol. Seu título é: “Copas ganhas e perdidas”. Trata-se de um retrospecto de mundiais disputados pelo Brasil (que disputou todos, por sinal), mas não sob o enfoque do profissional de imprensa que sou, mas de um torcedor. É um livro simultaneamente autobiográfico e histórico, que relata como e onde acompanhei cada Copa do Mundo, de 1950 a 2014, da minha infância até meus atuais 75 anos de idade. Meu desafio é motivar alguma editora a publicá-lo, sem que eu precise ir até ela e nem tenha que contar com algum padrinho, apenas pela internet, e sem que eu tenha que bancar a edição (já que não tenho recursos para tal). Insistirei nesta tentativa até que consiga êxito, todos os dias, sem limite de tempo. Basta que a eventual editora interessada (e espero que alguma se interesse, pois o produto é de qualidade) entre em contato comigo no inbox do Facebook ou pelo e-mail pedrojbk@gmail.com. A proposta e o desafio estão lançados. Acredito que serei bem sucedido!!!

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CITAÇÃO DO DIA:

Crença no futuro 

Qualquer homem que seja incapaz de acreditar no seu próprio futuro está destinado a ser destruído neste campo. Faltando-lhe um amanhã, não terá em que se agarrar e entra em colapso por dentro, afundando cada vez mais, tanto física, quanto espiritualmente.

(Viktor E. Frankl, professor de Neurologia na Universidade de Viena).



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Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.

Editorial - Memórias de um idealista


Memórias de um idealista



O poeta alemão Johan Wolfgang Göethe escreveu que "o importante é ter na vida um alto e definitivo ideal com aptidão e perseverança suficiente para consegui-lo". Objetivos elevados a maioria tem. No entanto, parte considerável das pessoas não conta com talento suficiente para tornar o sonho concreto, mesmo que parcialmente. Outros, embora talentosos, não sabem perseverar. Perdem-se pelo caminho, vencidos pelos obstáculos.

Este não é o caso, porém, do paraibano Celso Furtado, nascido na cidade de Pombal, em 1921, ao qual não faltaram nem aptidão e muito menos perseverança para atingir seus mais elevados ideais. E abundaram os obstáculos.

Guindado à Academia Brasileira de Letras em agosto de 1997, é, hoje um dos brasileiros mais conhecidos e reconhecidos no mundo. Aliás, sua longa carreira transcorreu, por força das circunstâncias (como o golpe militar de 1964 que o levou para o exílio e seu estágio na Comissão Econômica para a América Latina, Cepal, da qual é praticamente cofundador), a maior parte no Exterior.

Em fevereiro de 1997 foi criado, pela Academia de Ciências do Terceiro Mundo, com sede em Trieste, o Prêmio Celso Furtado, conferido a cada dois anos ao melhor trabalho de um cientista do Terceiro Mundo no campo da economia política.

É um reconhecimento mais do que justo a um homem que dedicou a maior parte da vida ao estudo do fenômeno do subdesenvolvimento e, sobretudo, à busca de caminhos para a sua superação. Toda a sua trajetória, como economista, professor, administrador e ministro da Cultura no governo do presidente José Sarney foi nesse sentido.

A editora Paz e Terra lançou em 1997, em três tomos, "Celso Furtado --- Obra Autobiográfica", onde o autor relata sua longa experiência nos cargos e países pelos quais passou, o que se constitui, mais do que uma obra memorialística, num precioso documento de toda uma época na América Latina.

A apresentação da coleção é de Francisco Iglésias, que destaca: "Esses textos têm alto valor como depoimentos para a história administrativa e política, e também para a da ‘inteligentsia’ patrícia. Ademais, valem, para caracterizar com rigor, uma carreira que foi sempre eficiente e lúcida, em compreensão do regional e do nacional, nos planos teórico e prático --- coisa bastante rara na perspectiva brasileira".

O leitor desavisado pode achar que se trata de uma autobiografia convencional, em que se narram fatos estritamente pessoais. Esta, no entanto, resvala mais para o histórico, do que para o biográfico.

Iglésias esclarece: “O memorialismo de Celso Furtado é um marco para melhor compreensão da vida nacional em todos os seus aspectos e aumenta o patrimônio cultural do País neste fim de século em que ele teve relevante papel".

A "Obra Autobiográfica" --- com prefácio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com o qual conviveu por um breve período durante o exílio de ambos no Chile e seu admirador --- está dividida em três tomos, perfazendo mais de mil páginas, escritas em um estilo claro e fluente, sem o uso, mesmo quando se refere aos mais complexos conceitos econômicos, do "economês".

O primeiro volume divide-se em duas partes: "Contos da vida expedicionária" e "Fantasia organizada". Na primeira, revela seus dotes literários --- que aliás lhe valeram a eleição para a Academia Brasileira de Letras.

São histórias escritas em 1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial, em que narra, através de personagens reais (com nomes mudados), a participação brasileira no conflito, nos campos da Itália.

Na introdução, Celso Furtado esclarece: "Os fatos narrados nestes contos são substancialmente verdadeiros. Mas porque são traços gerais, não pertencem a ninguém. Muitos nos encontraremos aí; entretanto, não nos faltará a certeza de que as experiências gerais couberam a todos nós".

Na segunda parte desse primeiro volume, "A Fantasia Organizada", narra as peripécias para a criação da Cepal e, sobretudo, para a sua consolidação, ameaçada que estava a entidade de ser desfeita por interferência dos Estados Unidos. Ressalta, nos textos, sua profunda admiração e respeito intelectual pelo economista argentino Raul Prebish, com o qual estabeleceu sólida amizade.

O tomo II também se divide em duas partes: "Aventuras de um economista brasileiro" (texto escrito em Paris em março de 1972, a pedido da Unesco, para um número comemorativo da publicação "International Social Sciences Journal" e "A fantasia desfeita".

Nesta última, relata as demarches que levaram à criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a qual comandou até que o golpe de 1964 o levasse a partir para o exílio. Traça um perfil bastante realista da região em fins dos anos 50 e início dos 60, no governo do presidente Juscelino Kubitschek.

Detalha o declínio de autoridade do presidente João Goulart, a criação das Ligas Camponesas, o cenário para o golpe de 1964 e a deposição do governador Miguel Arraes.

Finalmente, o tomo III também se divide em duas partes: "Entre inconformismo e reformismo" (texto escrito por solicitação do Banco Mundial para a obra sobre os pioneiros do desenvolvimento em 1987) e "Os ares do mundo", onde relata suas andanças por países como a França, os Estados Unidos, a Venezuela, etc. e seus contatos com personalidades econômicas, políticas, literárias etc.

Trata-se de obra imperdível para quem pretenda conhecer detalhes da história recente do País e sobre (e escrita por) um intelectual reconhecido no plano mundial, por sua intensa atuação em vários órgãos das Nações Unidas, com visão internacional de economia, política e sociologia, mas sem perder a identidade brasileira e sobretudo as raízes nordestinas. Não sei se foi publicada uma outra edição. Caso não tenha sido, vocês, provavelmente, a encontrarão em algum sebo. Vale a pena ler.


Boa leitura!

O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Pastor de saudades - Pedro J. Bondaczuk


Pastor de saudades

* Por Pedro J. Bondaczuk

Colecionador de ilusão,
eu vivo a estocar estrelas
onde nenhum ser pode vê-las:
no âmago da emoção!

Sou poeta, mas de verdade
não passo de um pastor errante
que, em vasto campo verdejante
do tempo, apascenta a saudade.

O que importa é a mensagem
por tudo aquilo que ela é
em termos de luz e coragem,

por seu conteúdo de fé.
O resto é balela. É bobagem.
É inutilidade, até...

(Soneto composto em Campinas, em 9 de abril de 1967).


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

O Duña profetiza - Marcelo Sguassábia


O Duña profetiza


* Por Marcelo Sguassábia


Foram anos e anos de sumiço. Uma ausência que causou desalento e tentativas de suicídio a um número incalculável de discípulos, espalhados pelos quatro cantos do Tocantins.

Mas eis que sem mais aquela surge o Venerável Duña, de carona em um treminhão de cana e anunciando, à sua passagem, a visão profética que teve e que ansiava por partilhar com a humanidade.
À falta de púlpito, o iluminado teve que trepar em um cupinzeiro para fazer sua pregação. O improviso, entretanto, em nada diminuiu a importância da revelação e o tom solone em que foi proferida.
Assim falou a divindade a seus pupilos e às centenas de curiosos que se acotovelavam pelo pasto, estapeando-se por um lugar onde a abençoada visão do Duña pudesse ser melhor apreciada:
Vivemos uma era marcada por perversa inversão de valores. Morais, éticos, religiosos, filosóficos e, porque não dizer, gastrointestinais. Afazeres que, até outro dia mesmo, eram inerentes aos idosos, hoje disseminam-se feito tiririca entre a moçadinha das raves. É disso que trata a revelação que trago, ou melhor, a profecia.
Mais ou menos nesse ponto do sermão, um desafeto de outra seita arremessou, na luzidia testa do mestre, três ovos de sanhaço gorados. O incidente não calou a voz do Predestinado, que prosseguiu com a preleção a despeito da gema fétida pingando de suas grisalhas madeixas.
Vejam que, desde que o mundo é mundo, ficar criando bolor em casa sempre foi o passatempo compulsório da velharada, com seus pijamas e pantufas. E é natural que assim seja, pois suas carcaças carcomidas merecem algum repouso antes da decomposição no campo santo e depois de tanta contribuição ao INSS. No entanto, o que temos observado nos últimos tempos? Filhos e netos desses valorosos heróis, alguns beirando os 50 aninhos, sendo sustentados por eles e pendurados no celular ao longo do dia, da tarde, da noite e da madrugada. Pedindo filet à Chateaubriand delivery e procurando qualquer coisa que renda algum ao fim do mês no Catho online – desde que não seja preciso deixar o conforto do lar. E o que é mais revoltante: trajando os pijamas listrados e pantufas do pateta confiscados à força de seus pais e avós.
Humilhados, tungados e sem ambiente em suas próprias casas, logo ao raiar do dia multidões dessas pobres vítimas saem às ruas para seus campeonatos de damas e bocha, quando homens, ou para tricotar mantinhas para as obras de caridade do Rotary Club, quando mulheres. Fora dessa rotina, uma vez ao mês vão ao banco receber suas aposentadorias e pensões. Quer dizer, iam: seus dependentes cinquentões já descobriram suas senhas eletrônicas e fazem, de casa mesmo, a transferência dos proventos para as próprias contas. Em resumo: quem tinha que estar ralando coça o dia inteiro, e quem merecia coçar tem que sair à rua para encontrar o que fazer. Mesmo não tendo, compreensivelmente, vontade de fazer nada.
Pois anuncio a vocês que, anteontem de tardezinha, dezoito anjos tocadores de trombeta, vindos de Jericó com baldeação em Corozaim, chegaram esbaforidos à minha choupana afirmando que, a continuar tal despropósito, há de cair sobre esse mundo a maldição das maldições. Não tenho ideia do que possa ser feito para evitar a tragédia. Apenas transmito o recado.

* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).

 

Amores platônicos - Gustavo do Carmo


Amores platônicos


* Por Gustavo do Carmo


Na última crônica que eu publiquei no Tudo Cultural, falei da minha preferência, quando era novo, por mulheres mais velhas, para namorar e casar. Com a minha idade avançando, passei a me interessar também pelas mais novas. 
O texto foi ilustrado por três atrizes norte-americanas: Patricia McPherson, Cybill Shepherd e Lynda Carter. As belas mulheres não foram escolhidas por acaso. Elas foram as minhas paixões da infância. Como eram (e ainda são) totalmente inacessíveis para mim, são consideradas como meus amores platônicos.

Eu tinha até falado delas em um parágrafo. Mas achei que estava fugindo do assunto e deletei. Então, falo neste texto de agora.

Pela Patricia eu me “apaixonei” na época da primeira exibição do seriado A Supermáquina, ainda no SBT. Ela fazia a mecânica da fundação que construiu o KITT, o carro robotizado do título da versão dublada da série para o Brasil, e para a qual trabalhava o herói Michael Knight, interpretado pelo David Hasselhoff.  Chamava-se Bonnie e era assim que eu me referia a ela quando, na inocência dos meus seis anos, contava para os meus familiares e coleguinhas.

Cybill Shepherd já era famosa pelo filme em preto e branco A Última Sessão de Cinema quando estrelou o seriado Moonlightning, sobre um casal de detetives que vivia brigando feito gato e rato, mas acabaram apaixonados. O "rato", chamado David, se eu estou lembrado, era vivido pelo Bruce Willis, que foi revelado neste seriado. A "gata", chamada de Maddie, era a Cybill. Também só a chamava pela sua personagem no seriado que, na Globo, ganhou o título de A Gata e o Rato, e era exibido, primeiro às quartas e depois às terças à noite. Posteriormente, passou para os sábados à tarde, chegando a concorrer com A Supermáquina.

Outra já famosa é a Lynda Carter, que era, nada menos que a Mulher Maravilha. O seriado passava na Sessão Aventura, também da Globo, às tardes, mas só fui me interessar pela atriz num seriado chamado Jogo de Damas, exibido à noite. Dessa eu já não lembro o nome da personagem e nem da trama do seriado. Só lembro que ela tinha uma amiga loira.

Patricia, Cybill e Lynda. Ou Bonnie, Maddie e Lynda não foram os meus únicos amores platônicos da infância. Também já fui apaixonado, por exemplo, pela Deborah Bloch, que na época fazia a Ana Machadão da novela Cambalacho, pela Giulia Gam, que foi a Jocasta jovem da novela Mandala, e muitas outras. Até por personagem de desenho animado já fui apaixonado. A Rita, de Piratas do Espaço. Mas quando eu tinha cinco anos.

Amar platonicamente uma atriz ou uma personagem de televisão é normal. Até mesmo para quem já passou dos dez anos. Principalmente para mulheres. Qual mulher (das antigas, claro) não foi apaixonada pelo Tarcísio Meira, por exemplo? O problema é quando o apaixonado é homem e adulto.

Outro problema, principalmente para mim, é que, além das famosas e jornalistas, eu também tive muitos amores platônicos por garotas e mulheres que eu via pessoalmente, como colegas de escola, curso de inglês, natação e faculdades. E muitas delas não gostavam de saber que eu era apaixonado. Algumas até me humilhavam. Culpa da minha incapacidade de conquistar.

Eu não vou listar todas as mulheres reais por quem já me apaixonei. Só digo que o meu amor platônico começa quando eu passo a fantasiar, não uma noite de amor, mas uma convivência rotineira. Só paro quando descubro que a mulher tem filhos, pois quando ela é apenas casada ou tem namorado, ainda mantenho uma esperança dela se separar.

Já evito me apaixonar e, muito menos, demonstrar meu afeto por alguém, pois tenho certeza de que será mais um amor platônico. E não tenho mais idade para isso.


* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos”.
Bookess - http://www.bookess.com/read/4103-indecisos-entre-outros-contos/ e
PerSe -http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1383616386310

O olhar - Inácio Sena


O olhar


* Por Inácio Sena


O olhar é mais que o olho
Está além
Da coisa olhada

Habita entre a retina
E a não suposta
Resposta da mente

O que se sente
Ultrapassa o foco
Num desejo louco
De substanciar-se.


* Poeta amapaense, licenciado em Letras pela Universidade Federal do Amapá, além de documentarista e cineasta.

Ansiedade - Reivaldo Vinas


Ansiedade


* Por Reivaldo Vinas


Beijo as espadas
rezo aos fuzis,
tarde exausta.
Há um calor de estopim
queimando na ponta errada,
um vapor de sal, de gorduras,
que vaza em todas as portas.

A morte não desola os ombros,
o que destrói é a espera,
esse aguardar ansioso
que mina as forças e as almas,
que é o gozo de mil abutres
que espreitam nossa batalha.
Em círculo, no céu, voam
em busca de nossa carne,
tais aves desajeitadas.

O vento bate à porta,
range os dentes, pede entrada.
Mas todos estão fechados
em seus sustos, suas derrotas.
O exército inimigo enfim,
mostra de vez sua cara,
desce as encostas em nuvem
de pérfida cavalgada.

Os morteiros estão prontos,
cospem de vez sua raiva
abrem o inferno das dores,
para o inverno das almas.


* Poeta e jornalista paraense.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Índice


Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Doze anos, dois meses e um dia de criação.


Leia nesta edição:


Editorial – Gênio da dramaturgia.

Coluna De Corpo e Alma – Mara Narciso, crônica, “Uma luneta para o céu”.

Coluna Verde Vale – Urda Alice Klueger, crônica, “Revivendo Blumenau”.

Coluna Em verso e prosa – Núbia Araújo Nonato do Amaral, poema, “Irmã”.

Coluna Porta Aberta – Lisa Alves, poema, “Declarações moribundas”.

Coluna Porta Aberta – Rosana Carneiro, poema, “Entranhados na carne”.

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DESAFIO E PROPOSTA

Meu desafio está atrelado à proposta que tenho a fazer. Explico. Diz-se que a internet dá visibilidade a escritores e facilita negócios. É isso o que quero conferir. Tenho um novo livro, dos mais oportunos para um ano como este, de Copa do Mundo de Futebol. Seu título é: “Copas ganhas e perdidas”. Trata-se de um retrospecto de mundiais disputados pelo Brasil (que disputou todos, por sinal), mas não sob o enfoque do profissional de imprensa que sou, mas de um torcedor. É um livro simultaneamente autobiográfico e histórico, que relata como e onde acompanhei cada Copa do Mundo, de 1950 a 2014, da minha infância até meus atuais 75 anos de idade. Meu desafio é motivar alguma editora a publicá-lo, sem que eu precise ir até ela e nem tenha que contar com algum padrinho, apenas pela internet, e sem que eu tenha que bancar a edição (já que não tenho recursos para tal). Insistirei nesta tentativa até que consiga êxito, todos os dias, sem limite de tempo. Basta que a eventual editora interessada (e espero que alguma se interesse, pois o produto é de qualidade) entre em contato comigo no inbox do Facebook ou pelo e-mail pedrojbk@gmail.com. A proposta e o desafio estão lançados. Acredito que serei bem sucedido!!!

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CITAÇÃO DO DIA:

Critério universal 

O tempo é o critério para medir o movimento de todas as coisas do universo.

(Aristóteles).




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Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.

Editorial - Gênio da dramaturgia


Gênio da dramaturgia


O Prêmio Nobel de Literatura, de uns anos para cá, vem se caracterizando por projetar no cenário literário mundial escritores virtualmente desconhecidos fora de seus países de origem e cujas obras são acessíveis quase que exclusivamente por fechadíssimos círculos acadêmicos. Todavia, embora os responsáveis pela atribuição dessa premiação tenham cometido muitas injustiças, ao não premiar autores notoriamente merecedores, não podem ser acusado de omitir “todos” os grandes nomes do mundo literário, consagrados pelo público e pela crítica.

O Prêmio Nobel de Literatura de 1936, por exemplo, foi atribuído a um dramaturgo genial, ainda hoje considerado o “pai da dramaturgia norte-americana”, homem cuja vida chegou a ser até mais trágica do que as peças que escrevia. Esse autor tinha tamanho talento para escrever tragédias, que chegou a exigir que uma de suas obras mais célebres fossem publicadas, apenas, 25 anos após sua morte. Refiro-me a Eugene O’Neil, sem favor algum, um dos maiores escritores de peças teatrais de todos os tempos.

Vários escritores, atualmente tidos como mitos literários, ganharam projeção internacional somente depois de serem premiados com o Nobel. Posso mencionar, assim de memória, pelo menos duas dezenas deles, como Ernest Hemmingway (1954), Anatole France (1921), Albert Camus (1957), John Steinbeck (1962), Gabriel Garcia Marquez, Pablo Neruda, Rudyard Kipling, William Faulkner, Bernard Shaw, Gabriela Mistral, Henri Sienkiewicz, Sinclair Lewis, André Gide, François Mauriac e vai por aí afora.

Outros grandes mestres das letras, óbvio, poderiam ser incluídos nesta já extensa relação. São todos vastamente conhecidos pelo público e imortalizados por obras que atravessaram gerações, mantiveram a atualidade e seguem encantando leitores mundo afora. Seus méritos, ninguém se atreve a discutir. São consensuais.

Em contrapartida, inúmeros escritores, virtualmente saídos do anonimato para os holofotes da fama, mas que, mesmo após a súbita, porém fugaz notoriedade, caíram no esquecimento, também foram premiados com o Nobel. São os casos, por exemplo, de Giosué Carducci (1906), Ivo Andrii (1961), Karl Gjellerup (1917), Odysseus Alepoudelis (1979), Rudolf Eucken (1908), Franz Silampaa (1939), Haldor Laxness (1955) e Grazia Deledda (1926), entre tantos outros.

O leitor se lembra de qualquer livro desses escritores? Ou de pelo menos haver ouvido algum dia seus nomes? Dificilmente. A resposta mais provável às duas perguntas é: não. E isso não é demérito algum. Não desmerece suas obras, que provavelmente são excelentes, ao ponto de impressionarem aos membros da comissão responsável pela atribuição do Prêmio Nobel de Literatura.

Muitos editores, que têm a tarefa de difundir o que há de mais sofisticado e valioso em termos de produção literária, também jamais ouviram falar dos autores que mencionei ou sequer sabem que eles existiram. Provavelmente, foram mal divulgados. Pouco se falou deles e de seus respectivos livros na época da premiação. Não me perguntem a razão, pois, na verdade, não sei.

O mesmo já não se pode dizer de Eugene O’Neil, nome que, à simples menção, lembra “tragédia”, à qual está associado. Menino criado em colégios internos, com mãe viciada em morfina, um irmão alcoólatra e ele próprio, mais tarde, dado ao vício de beber, teve vida aventurosa e atormentada. Em muitos aspectos chega a lembrar Edgar Allan Poe, embora existam muito mais diferenças do que semelhanças entre ambos.

Ambos se diferenciam, por exemplo, quanto às ligações afetivas. Enquanto o trágico poeta de Boston nutriu doentia fixação pela frágil e macilenta Virgínia Clemm, que conheceu quando a menina tinha apenas 13 anos de idade e que amou extremadamente até que ela morresse, o dramaturgo novaiorquino teve três casamentos, dois dos quais extremamente infelizes e de curta duração. Enquanto Poe mergulhou, sem retorno, no alcoolismo e degradou-se em consequência dele, O’Neill teve forças para reagir ao vício e, após submeter-se a sessões psicanalíticas, tornou-se rigoroso abstêmio.

Enquanto o escritor bostoniano, em sua obra, descambou para o tétrico, o misterioso e o aterrorizante (de maneira insuperável e magistral, reconheça-se), o dramaturgo mergulhou na alma do cidadão comum e foi, provavelmente, o maior crítico da modernidade, com seu artificialismo e sua opressão. Opôs, ao realismo, que execrava, um novo tipo de misticismo, coletivo, de multidões, nunca escondendo, porém, um renitente pessimismo que, aliás, dominou por muitos anos todo o teatro norte-americano.

Provavelmente, a obra de Eugene O’Neill tem tamanha aceitação por ser toda ela elaborada com base em experiências pessoais. Tem, por isso, aquele caráter de autenticidade, de sinceridade, de verossimilhança indispensáveis às obras-primas. O dramaturgo culminou sua produção com a elaboração dessa preciosidade dramática que é “Longa jornada noite adentro”, peça que vetou por 25 anos após sua morte, escrita em 1941. Justificou o veto afirmando que um dos personagens ainda estava vivo. Somente omitiu o fato que este era ele próprio.

A família, no entanto, não respeitou sua determinação. Passados apenas três anos da morte de Eugene O’Neill, a magnífica peça foi publicada e, posteriormente, levada ao palco em Nova York, chegando, pouco tempo depois, ao Brasil, em 1958. Voltarei, com certeza, a tratar desse escritor. Sempre volto quando se trata de gênios em suas respectivas atividades.


Boa leitura!

O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Uma luneta para o céu - Mara Narciso


Uma luneta para o céu


* Por Mara Narciso


Tenho acompanhado o trabalho dos fotógrafos Manoel Freitas e Eduardo Gomes e a particularidade de fotografarem a Lua em todas as suas fases e esplendor, e, colocando horizonte, montanhas e vegetação tornam mais belas suas produções. Isso me fez recordar de uma luneta que pertencia ao meu Tio Tom, Petronilho Narciso Júnior. Meu avô o presenteou, e eu, fã desse tio criativo e cheio de imaginação, seis anos mais velho do que eu, ficava encantada, pedindo-o para dar uma espiada no mundo através das lentes da sua luneta.

Era um canudo branco, com um anel preto na parte de trás, que a fechava. Na parte da frente ficava o lugar de se colocar o olho. A imagem nos aproximava de tudo. Era mágico e eu ficava louquinha, ainda que mal alcançasse o visor sobre o tripé. A casa dos meus avós era na Rua Carlos Pereira, 61, no centro da cidade, perto da Catedral. Bem em frente tinha um poste de luz. Sobre o passeio, Tio Tom colocava a luneta, apontava para algo que lhe despertasse curiosidade e fazia o foco. Quando já estava no ponto deixava a gente ver. Numa emoção em estado puro, eu era capaz de ficar horas envolvida nesse gostoso lazer, desvendando os mistérios daquilo que não era visto a olho nu, mas que, através das lentes mostrava todos os detalhes.

Debaixo do sol forte, Tio Tom escolhia uma direção e palmilhava o espaço, buscando algo interessante. Éramos crianças e nem imaginávamos em bisbilhotar os vizinhos. Naquele tempo quase não tinha prédios em Montes Claros. A intenção era apenas ver de perto algo que estivesse distante, coisas e pessoas na rua. Como a cidade tem vários morros, o horizonte não é tão longe e mirávamos para cima dessas elevações.

A bela Catedral de Nossa Senhora Aparecida, construída entre 1926 e 1950, une os estilos romântico e gótico, cabe 3.000 fieis e tem três torres, sendo a central de 65 metros. No topo dela tem um crucifixo de estrutura metálica, de quatro faces, de vidros azuis e amarelos como vitrais iluminados e, faltava um deles, tinha também raios metálicos irradiando do centro. Sem o aumento, nunca poderíamos imaginar tal detalhamento. Ganhávamos horas de prazer olhando a torre da igreja, seu grandioso telhado, janelas e vitrais.

O tempo era diferente, passava mais devagar. Meu Tio Tom era bom e tinha paciência comigo e com a minha curiosidade. Também foi ele quem me ensinou a andar de bicicleta quando eu tinha sete anos. Ele me emprestou a dele, que era verde, segurou para eu subir, e me empurrou um pouco. Então soltou e eu saí pedalando.

À noitinha nós íamos para a rua, colocávamos a luneta no passeio do outro lado, e ficávamos esperando pela Lua. Em qualquer fase, observávamos as crateras, que, sabemos de cor como são. Afinal a Lua só nos mostra um lado, ainda que tenha, como a Terra movimentos de rotação sobre seu eixo e de translação, seguindo o planeta em volta do Sol.

Quando Tio Tom perdeu o interesse pela sua luneta, ela me foi dada de presente e eu a levei para o apartamento em que morávamos, na Avenida Santos Dumont, perto do Colégio Marista São José. Da janela do meu quarto, no segundo andar, o mundo se descortinava numa maravilhosa festa verde. Havia muitos lotes vagos na década de 1970. Eu tinha 15 anos e Geraldo Macedo, meu colega no Colégio São José foi meu primeiro namorado. Geraldo jogava futebol no time do Colégio e na Associação Desportiva Ateneu de Montes Claros. Podia ver o campo do meu quarto, e a luneta ampliava minha visão. Dava para reconhecer os jogadores no colégio. No dia de treino eu ficava vendo o jogo, que vinha para pertinho de mim. Observar o mundo pela luneta era um tratamento contra o tédio. Eu já gostava de futebol e mais ainda através das lentes, que me levavam para longe, fazendo do longe perto e do impossível algo real e verdadeiro.

As pequenas conquistas costumavam demorar muito para chegar, e por isso traziam um prazer mais durável do que os de hoje, quando tudo é descartado de forma rápida. Não me recordo da minha luneta ter se quebrado e nem de tê-la dado a outra pessoa. Não sei que fim levou, mas as imagens que proporcionava permanecem em mim.


* Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”