terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Literário: Um blog que pensa

LINHA DO TEMPO: 7 anos e nove meses de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Feliz Alma Nova!.

Coluna À flor da pele – Evelyne Furtado, crônica, “Mulher madura”.

Coluna Observações e Reminiscências – José Calvino de Andrade Lima. poema, “Atividade”..

Coluna Do real ao Surreal – Eduardo Oliveira Freire, conto, “Um conto chinês”.

Coluna Clássicos – Leonardo Boff, artigo “No meio do mal-estar mundial há lugar para a alegria”.

Coluna Porta Aberta – Alberto Cohen, poema, “Caro poeta”.

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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
 “Cronos e Narciso” Pedro J. BondaczukContato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal”Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Feliz Alma Nova!

Acabou! The end. C’est fini. É finito. Fim. Mais um ano se foi e se incorpora, em definitivo,ás nossas respectivas biografias. Por favor, no entanto, caros leitores, na verdade incógnitos amigos, não interpretem mal essas palavras iniciais. Não as identifiquem como eventual desabafo, como um suspiro de alívio por um suposto pesadelo que, finalmente, tenha passado. Ate porque, este não é o caso. Se os últimos 365 dias não foram perfeitos, e lembro que perfeição não existe, foram até que dignos de serem recordados, e já a partir desta meia-noite, sobretudo, com saudades. Pelo menos foram para mim.

Afinal, como constatou com suprema pertinência o filósofo espanhol Ortega y Gasset, todos temos nossas próprias circunstâncias. Quando favoráveis, manda o bom senso que as aproveitemos e tentemos melhorá-las. E quando negativas, ou até mesmo trágicas (ás vezes são), é nosso dever como seres que pensam nos opormos a elas e tentarmos extrair qualquer coisa de positivo, por mínima que seja, dessas situações aflitivas.

Sei que muitos (mais uma vez) torcerão o nariz para estas descompromissadas e espontâneas reflexões e não pelo fato delas, eventualmente, não terem nada de aproveitáveis, mas somente porque estão redigidas na primeira pessoa do singular. Ora, ora, ora... Não sei quem inventou que para expressarmos nossas idéias devemos recorrer ao pronome pessoal “nós”. Sei (e assim mesmo, não integralmente) o que penso, quero ou sinto. O mesmo já não posso afirmar em relação a terceiros. Caso escrevesse, pois, na primeira pessoa do plural, ou seja, conjugando o verbo de acordo com o “nós”, estaria, em vez de manifestando humildade, sendo hipócrita. E isso eu não sou. Vai daí...

Mas, retomando a linha inicial de raciocínio, não tenho queixas em relação ao ano que termina. Se me frustrei em vários dos meus projetos (e me frustrei, na verdade, em pouquíssimos), a culpa me cabe com exclusividade e a mais ninguém. Foi porque quis dar passos além da capacidade de alcance das minhas pernas. Porque sonhei alto demais, acima da minha capacidade de tornar o sonhado concreto. Reitero que, apesar de tratar da minha própria experiência, muito do que vier a escrever servirá, certamente, para uma infinidade de pessoas. Nossas vidas não são tão diferentes assim. Se projetos que julguei realizáveis fracassaram, em contrapartida, vários outros, aos quais não dei a menor importância, surpreendentemente deixaram de ser planos para se transformarem em gratíssima realidade. A vida é mesmo assim (ainda bem).

No frigir dos ovos, tenho uma infinidade de motivos de agradecimento e escassas razões para me queixar. A principal gratidão é por terminar mais um ano em pleno gozo de saúde, apesar de estar a menos de três semanas de completar 71 anos de idade. Nunca imaginei chegar a esta etapa da minha vida saudável, física e mentalmente. Querem privilégio maior?! Bem, tive outro que, se não supera este, praticamente se iguala a ele. Refiro-me às amizades (e aqui não distingo as virtuais das presenciais, ambas gratificantes e desejáveis).

Neste ano que chega ao fim, além de conservar centenas (quiçá milhares, não consigo contar todos) de amigos, de quebra conquistei praticamente o mesmo tanto de novos. São pessoas que tenho certeza que me querem bem e às quais dedico reciprocidade. Fazem um bem enorme à auto-estima. Dão-me sensação de segurança, de cumplicidade, de multiplicação do amor, pois amizade é uma forma peculiar de amar e ser amado. Não nomearei nenhum dos tantos amigos que conservei e das centenas e centenas de novos que conquistei, até por não confiar (pelo menos não neste caso) na memória. Posso esquecer algum, dada a imensa quantidade, e dar a impressão ao esquecido de que a amizade que lhe devoto não é tão grande e nem definitiva como dou a entender.           

Por fim, trago uma reflexão para esta passagem de ano, para não perder o hábito. Não é minha, nem é nova, mas continua tão válida como sempre foi. A citação é de um desses tantos homens dos “sete instrumentos”, desses gênios cuja memória e cuja obra jamais morrem, apesar do corpo morrer. Refiro-me ao inglês Gilbert Keith Chesterton, falecido em 14 de junho de 1936, aos 62 anos de idade. Nesse seu relativamente curto tempo de vida, ele foi:  poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, teólogo, filósofo, desenhista e conferencista (ufa!!!). Escrevi, há alguns anos, uma crônica inteira tendo o teor desta sua constatação por tema. Chesterton escreveu, em um de seus tantos e exemplares ensaios: “O objetivo de um ano novo não é que nós deveríamos ter um ano novo. É que nós deveríamos ter uma alma nova”

É exatamente o que pretendo conquistar nos próximos 366 dias (2014 é bissexto). É, por conseqüência, o que desejo às centenas, provavelmente milhares, de amigos, virtuais ou presenciais (não importa) que já tenho e que pretendo conquistar. E não me refiro a uma alma reciclada, ou meramente reformada (o que já seria um ganho imenso), mas a uma virgem, não usada, novinha em folha. Por isso, em vez de um Feliz Ano Novo, prefiro desejar-lhes, tinindo de emoção: FELIZ ALMA NOVA!

Boa leitura.


O Editor

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk,. 
Mulher madura

* Por Evelyne Furtado

Esse texto foi sugerido por uma amiga, mas o escrevo com muita propriedade, pois o tema é meu também, afinal sou uma mulher madura e descasada, como ela. Fique claro que vou discorrer sobre a vida da mulher de quarenta (um pouco mais, um pouco menos).

Há muitas teorias, muitos mitos sobre a mulher madura. Há estereótipos e é aí que a coisa pega. Se a gente se fixar no que dizem as revistas femininas e outras publicações que tratam do assunto superficialmente, sente-se péssima. As comparações para melhor ou pior sempre afetam nossa auto-estima.

O fato é que convivemos com coisas boas e más, como em todas as idades. Quem tem quarenta anos hoje, já teve quinze, vinte e trinta. Em cada fase conviveu com problemas e alegrias. Encontros e desencontros.

Sofri às vésperas dos trinta e mais ainda às portas dos quarenta. Sofrimento inútil. Não havia um perigo na esquina da quarta década, como meus medos avisavam. Vivi preocupações motivadas pelo mito do fim da juventude, como se esta se esvaísse de um dia para outro. Como se nossos encantos sumissem de repente. Nada disso acontece assim, como se fosse maldição.

O culto à juventude não afeta apenas as mulheres, mas a nós atinge com mais crueldade, todavia vivo muitíssimo bem aos quarenta e poucos anos. Sou hoje uma mulher muito melhor do que fui aos vinte, ainda que alguns não achem isso, com base na aparência. Triste engano! Triste para quem pensa assim e não para mim.

Hoje ainda tenho dúvidas e inseguranças, mas já tive muito mais. Se perdi a inocência, não posso culpar a idade. Isso é amadurecimento!

Ah, aí vem mais um mito: o amadurecimento feminino assusta os homens. E daí, cara pálida? Vou fingir ser insegura para ter alguém fraco ao meu lado? Assumo minhas falhas, mas não as que já superei. Hoje sei mais sobre a vida do que sabia ontem. Saberei mais amanhã, se Deus quiser.
Assim, meninas, vamos vivenciando as delícias da maturidade: usufruindo a possibilidade de fazermos coisas que não podíamos fazer antes, usando o charme que a experiência nos concedeu e dispondo da sabedoria adquirida com a vida.

E não nos deixemos enganar: continuamos tão gostosas como antes ou até mais. Resta encontrar alguém especial que reconheça isso. Se acontecer será ótimo, se não, ainda teremos muito a desfrutar.


* Poetisa e cronista de Natal/RN
Atividade

* Por José Calvino


Vocês sabiam?
Quantas vezes
Em que senti
Vontade de copular.
Então ficamos nas camas separados.
“Separados, sim!”
Uma sensação invadiu todo meu corpo,
Devagarinho,
Como quem não quer, querendo.
Abri a porta do quarto (de luz acesa)
Onde ela estava excitada
Percebi que estava me esperando.
Delicadamente notamos:
“Outra vez entramos no clímax extático!”


*Escritor, poeta e teatrólogo pernambucano.


Um conto chinês

* Por Eduardo Oliveira Freire

A história me emocionou por mostrar como a vida é repleta de fatos inesperados ou absurdos. No início, a cena de uma vaca que caiu do céu, matando a noiva do chinês, foi surreal para mim. Mas ao decorrer do filme percebi que o fato não foi tão improvável.

Depois da cena inicial, o enredo mostra a vida solitária de um argentino de meia idade. Ele vivia colecionando notícias absurdas e tem uma loja de ferragem. Não se relacionava bem com as pessoas, vivendo metodicamente seu cotidiano. Um dia, encontrou, por acaso, um chinês que não dizia uma palavra de espanhol. A partir daí, com esse encontro inesperado, começou a enxergar os acontecimentos de outro jeito. O filme é cativante por evidenciar que mesmo com a diferença cultural e do idioma, há sentimentos universais que podem levar a uma comunicação mais abrangente.

Outro ponto que gostaria de abordar  relaciona-se com a leveza com que o filme tratou o absurdo. Antes de a película começar, apareceu uma legenda a dizer que a história era baseada em fatos reais. Realmente, quantos casos inusitados que aparecem e achamos serem inventados, mas não são. A vida e a realidade não são perfeitas.

O personagem argentino não convivia bem com as pessoas, porque desacreditava na sociedade. Achava todos uns “pulhas”. Isso aconteceu devido ao seu passado. Perdeu os pais muito cedo e participou da Guerra das Ilhas das Malvinas, que a partir do olhar do personagem foi absurda. Recordei-me de O Mito De Sísifo (Albert Camus). O homem absurdo tem consciência que a vida não é "certinha", diferente do homem cotidiano. Também, para o homem absurdo, já não se trata de explicar e resolver, mas de experimentar e descrever. Tudo começa pela indiferença lúcida. Ele quer viver o absurdo da vida sem perder tempo de ficar explicando e criando teorias.

O filme nos mostra que apesar das adversidades da vida, há espaço para os bons sentimentos universais e inerentes ao ser humano e mesmo parecendo absurdos, deixe fluir. Quem sabe pode se tornar alguém melhor.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor


No meio do mal-estar mundial há lugar para a alegria

* Por Leonardo Boff

No meio do inegável mal-estar mundial, irrompeu, surpreendentemente,  neste ano, uma figura que nos devolveu esperança, alegria e gosto pela beleza: o papa Francisco. Seu primeiro texto oficial leva como título Exortação pontifícia 'Alegria do Evangelho'. Ele vem perpassado pela alegria, pelas categorias do encontro, da proximidade, da misericórdia, da centralidade dos pobres, da beleza, da “revolução da ternura” e da “mística do viver juntos”.

Tal mensagem faz o contraponto à decepção e ao fracasso face às promessas do projeto da modernidade de trazer bem-estar e felicidade para todos. Na verdade está colocando o futuro da espécie em risco por causa do assalto avassalador que continua fazendo sobre os bens e serviços escassos da Mãe Terra. Bem diz o papa Francisco: “A sociedade técnica multiplicou as possibilidades de prazer, mas tem  grandes dificuldades de engendrar alegria” (Exortação, n.7). Prazer é coisa dos sentidos. Alegria é coisa do coração. E nosso modo de ser é sem coração.

Essa alegria não é de bobos alegres, que o são sem saber por quê. Ela brota de um encontro com uma Pessoa concreta que lhe suscitou entusiasmo, lhe produziu enlevo e simplesmente o fascinou. É a figura de Jesus de Nazaré. Não se trata daquele Cristo coberto de títulos de pompa e glória que a teologia posterior lhe conferiu. Mas é o Jesus do povo simples e pobre, das estradas poeirentas da Palestina, que trazia palavras de frescor e de fascínio. O papa Francisco testemunha o encontro com essa Pessoa.  Foi tão arrebatador que mudou sua vida e lhe criou uma fonte inesgotável de alegria e de beleza. Para ele, evangelizar é refazer esta experiência, e a missão da Igreja é resgatar o frescor e o fascínio pela figura de Jesus. Evita a palavra já feita oficial de “nova evangelização”. Prefere “conversão pastoral” feita de alegria, beleza, fascínio, proximidade, encontro, ternura, amor e misericórdia.

Que diferença com os seus predecessores de séculos! Apresentavam um cristianismo como doutrina, dogma e norma moral. Exigia-se adesão irrestrita e sem qualquer laivo de dúvidas,  pois  gozava das características da infalibilidade.

O papa Francisco entende o cristianismo em outra chave. Não é uma doutrina. É um encontro pessoal com uma Pessoa, com sua causa, com sua luta, com sua capacidade de enfrentar as dificuldades sem fugir delas. Agradam sobremaneira as palavras contidas na Epístola aos Hebreus, na qual se diz que Jesus “passou pelas mesmas provações que nós… que foi cercado de fraqueza… que entre clamores e lágrimas suplicou àquele que o  podia salvar da morte e que não foi atendido em sua angústia”, consoante os estudos de dois grandes sábios nas Escrituras — A. Harnack e R. Bultmann — que dão essa versão no lugar daquela que está na Epístola (“e foi atendido em sua piedade” — eusebeia — em grego, que pode significar, além de piedade, também angústia)…“que teve que aprender a obedecer mediante o sofrimento” (Hebreus 4,15; 5,2.7-8).

Na evangelização tradicional tudo passava pela inteligência intelectual (intellectus fidei) expressa pelo credo e pelo catecismo. Na Exortação, o papa Francisco chega a dizer que “aprisionamos Cristo em esquemas enfadonhos…e assim privamos o cristianismo de sua criatividade”(n.11). Em sua versão, a evangelização passa pela inteligência cordial (intellectus cordis), porque aí têm sua sede o amor, a misericórdia, a ternura e o frescor da Pessoa de Jesus. Ela se expressa pela proximidade, pelo encontro, pelo diálogo e pelo amor. É um cristianismo-casa-aberta para todos, “sem fiscais de doutrina”, e não uma fortaleza fechada e intimidada.

Pois é desse cristianismo que precisamos, capaz de produzir alegria, pois tudo o que nasce verdadeiramente de um encontro profundo e verdadeiro gera a alegria que ninguém pode tirar. É como a alegria dos sul-africanos no sepultamento de Mandela: nascia do fundo do coração e movia todo o corpo.

Falta-nos em nossa cultura mediática e internética esse espaço do encontro, do olho  no olho, de cara a cara, da pele a pele. Para isso temos que realizar “saídas”, palavra sempre repetida pelo papa. “Saída” de nós mesmos para o outro, “saída” para as periferias existenciais (as solidões e os abandonos) “saída” para o universo dos pobres. Essa “saída” é um verdadeiro “Êxodo” que trouxe alegria aos hebreu livres do jugo do faraó.

Nada melhor que lembrar o testemunho de F. Dostoiévski ao “sair” da Casa dos Mortos na Sibéria: “Às vezes, Deus me envia instantes de paz; nestes instantes, amo e sinto que sou amado; foi num desses momentos que compus para mim mesmo um credo, onde tudo é claro e sagrado. Esse credo é muito simples. Ei-lo: creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais humano, de mais perfeito do que o Cristo; e eu o digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se encontra nele, prefiro ficar com Cristo a ficar com a verdade”.

O papa Francisco faria suas estas palavras de Dostoiévski. Não é uma verdade abstrata que preenche a vida, mas o encontro vivo com uma Pessoa, com Jesus, o Nazareno. É a partir dele que a verdade se faz verdade. Se 2014 nos trouxer um pouco desse encontro (chamem-no de Cristo, de o Profundo, o Mistério em nós, de o Sagrado de todo o ser), então teremos cavado uma fonte donde jorra alegria, que é infinitamente melhor do que qualquer prazer induzido pelo consumo.


* Leonardo Boff é teólogo e autor de “Tempo de Transcendência: o ser humano como projeto infinito”, “Cuidar da Terra-Proteger a vida” (Record, 2010) e “A oração de São Francisco”, Vozes (2009 e 2010), entre outros tantos livros de sucesso. Escreveu, com Mark Hathway, “The Tao of Liberation exploring the ecology on transformation”, “Fundamentalismo, terrorismo, religião e paz” (Vozes, 2009). Foi observador na COP-16, realizada recentemente em Cancun, no México.
Caro poeta

* Por Alberto Cohen

Você não vê que seus olhos de
devassar sentimentos
saio periscópios voltados para o
mais fundo da alma,
radiografia de coisas que jazem
bem escondidas
debaixo do faz-de-conta
que maquila tantas vidas?

Quantos anos envidados para
amordaçar lembranças.
acorrentar o passado no porão do
sofrer menos
e, de repente, um poema, abrindo
frestas nas portas,
liberta mil pesadelos, revive
paixões já mortas
que tomam conta da casa, pulam
muros, saem na rua
em busca das esperanças que, que
há muito, foram perdidas,

mas sempre estiveram perrto,
vestidas de alegorias,
cartas, olhares, sorrisos,
álbuns de fotografias.

* Poeta e escritor paraense


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Literário: Um blog que pensa

LINHA DO TEMPO: 7 anos, oito meses e trinta dias de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Era da mobilidade.

Coluna Em Verso e Prosa – Núbia Araujo Nonato do Amaral, crônica “Dos livros”..

Coluna Lira de Sete Cordas – Talis Andrade, poema “O espelho da rainha da Inglaterra”.

Coluna Pássaros da mesma gaiola – Daniel Santos, crônica, “A maior derrota”.

Coluna Porta Aberta – Roberto Corrêa, artigo, “Fim e começo de ano”.

Coluna Porta Aberta – Clóvis Campêlo, crônica “Vamos juntos?”.


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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária” – José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com  
“Aprendizagem pelo Avesso” – Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
 “Cronos e Narciso” – Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal” – Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.



Era da mobilidade

O final de cada ano – pelo menos nesta época atual, caracterizada por um sem número de facilidades proporcionadas pelos avanços tecnológicos – vem sendo marcado, entre outras coisas, pela mobilidade. Multidões, em automóveis – cada vez em maior número, mais velozes e sofisticados (posto que não mais seguros) – se deslocam freneticamente de suas cidades de origem, em direção ao litoral ou ao interior, como se fosse algo obrigatório, enfrentando riscos, desconforto e toda sorte de chateações. Óbvio que não são obrigadas a isso! Mas as pessoas agem como se fossem. Abarrotam rodovias, inseguras, esburacadas e pessimamente sinalizadas, chamarizes de acidentes em sua imensa maioria, como se não houvesse amanhã. Para muitos, não haverá mesmo. Claro que me refiro aos tantos que perdem ou vão perder a vida – por negligência, imperícia ou imprudência, próprias ou de terceiros – em desastres evitáveis, mas que não evitam ou não evitarão.

Mas não são apenas as estradas que ficam superlotadas nessas ocasiões. Observe-se, também, que isso não ocorre apenas em vésperas de Natal e Ano Novo. Repete-se antes de qualquer feriado, principalmente quando ele cai no meio da semana, o que permite que se “enforquem” dois ou três dias úteis de trabalho, para desespero dos patrões. Os aeroportos, inadequados e ultrapassados Brasil afora, superlotam com multidões ansiosas por embarcar para os lugares mais distantes tanto deste país-continente quanto e, sobretudo, para o exterior. Isso não acontecia antes? Bem, depende a que “antes” nos referirmos.

Se a referência for ao ano anterior, ou aos cinco ou dez anteriores, não há muita novidade. A diferença está apenas na quantidade. O contingente desse pessoal que foge de suas cidades como o diabo foge da cruz tão logo apareça oportunidade para tal, sem sequer medir riscos e/ou desconfortos, cresceu muito e tende só a crescer, principalmente em decorrência da melhoria da capacidade econômica de parcela considerável de brasileiros. Contudo, se nos referirmos a vinte, trinta ou mesmo cinqüenta anos atrás, essa mobilidade não deixa de ser espantosa, embora já nos pareça “normal” de tanto que vem sendo repetida.

Não há dúvidas que isso decorre da evolução dos meios de transportes. Esse “nomadismo” contemporâneo desenfreado seria inconcebível, digamos, na década de 30 do século passado. Até porque, antes do governo de Juscelino Kubitschek, o País sequer dispunha de rodovias, nem mesmo das esburacadas e mal sinalizadas de hoje, de que tanto nos queixamos. Tínhamos, apenas, cinco ou seis, se tanto. E no século XIX? Bem, não há o menor registro, em livro algum de escritor da época, de, digamos, “congestionamento” de cavalos nas picadas da Serra do Mar, por exemplo, que demandavam às praias do litoral paulista (nem de qualquer outra, de outras partes muito menos desenvolvidas do País). E nem de carruagens ou tilburis, de famílias mais abastadas, as únicas que poderiam se dar a esse luxo (que não lhes passava nem remotamente pela cabeça, por razões óbvias). Ademais, os banhos de mar nem mesmo eram hábito da esmagadora maioria dos nossos ancestrais.

As viagens para outros países, então, eram extremas raridades. Só eram feitas, salvo uma ou outra exceção, quando indispensáveis, em geral para estudos, ou para negócios, ou para tratamento de saúde em centros mais avançados do exterior. Raros eram os que faziam turismo, como se faz agora. Afinal, o avião sequer havia sido inventado. E quem quisesse conhecer a Europa, os Estados Unidos ou a Ásia, por exemplo, teria que viajar em navios que, mesmo que luxuosos e relativamente seguros (mas não totalmente, pois até a embarcação que “nem Deus poderia afundar”, no caso o Titanic, foi parar no fundo do oceano), eram lentíssimos. Uma viagem de São Paulo a Paris, para citar um caso, que hoje se conta em horas, era contada, na ocasião, em semanas. E, para localidades mais distantes, contava-se, até, em meses.

As seleções de outros continentes, por exemplo, que participaram da primeira Copa do Mundo de Futebol, disputada no Uruguai, em 1930, viajaram para lá de navio. Por isso foram tão poucas as que participaram e muitas delas até desistiram de participar da competição em cima da hora. O mesmo aconteceu com os brasileiros em 1934 e 1938, na Itália e França, respectivamente, que tiveram que viajar, ser não me falha a memória, duas semanas em um transatlântico. Já imaginaram?! Caso os transportes aéreos não evoluíssem como evoluíram, tornando os vôos seguros, confortáveis e rápidos, não tenho dúvidas em afirmar que as Copas do Mundo, as Olimpíadas e todas as outras competições esportivas  internacionais sequer existiriam. Afinal, exigiriam esforço demais por tão pouca coisa.

Fico imaginando como serão os feriados, sobretudo os de finais de ano, digamos, no século XXII (isso, claro, supondo que o mundo sobreviva até lá e que nenhum maluco promova sua aniquilação). Como serão os transportes na virada de 2113 para 2114? Nossos descendentes demandarão praias de qualquer parte do Planeta, como fazemos agora, ou optarão por viagens mais ousadas e infinitamente mais longas, hoje impossíveis, para alhures, para algum  remoto planeta além do Sistema Solar? Isso, hoje, está muito além da imaginação. Assim como nossos hábitos atuais estariam, ressalte-se, para nossos ancestrais, caso ressuscitassem e vissem como nos comportamos hoje. Enfim...

Boa leitura.

O Editor

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.       


Dos livros

* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral

Ganhei três livros e caso veja brilho em meus olhos é sinal de que gostei e muito. Cheirei as folhas como quem procura algo que soe familiar e sim, encontrei: é o cheiro do tempo. Não, não são livros novinhos revestidos daqueles plásticos que grudam nos dedos e nem exalam cheiro de tinta. São livros do sebo virtual. Capturo aqui e ali aromas diferentes de mãos diferentes...

Imagino o encantamento dos olhos que pousaram em cada poesia, em cada estrofe. Talvez uma lágrima ou outra tenha embalado essas velhas páginas. Isso é mágico.

Os livros já contam com o peso da idade, talvez da vicissitude, talvez do descaso, quem sabe. Destino de livro é que nem passarinho: semeia, semeia para um dia, se tiver sorte, parar nas mãos de quem soube esperar.

 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário


O espelho da rainha da Inglaterra

* Por Talis Andrade

Este estranho
jeito de ser
quando a deusa
desce sobre você
Este estranho
jeito de ser
quando você
se toca
frente ao espelho
encantada
pela invertida imagem
que o espelho
guarda

Você
se amando
noutra mulher
que se pareça
com você
se amando
noutro homem
que seja
sua diferença
e semelhança

Este estranho
jeito de ser
quando a deusa
desce sobre você



* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).


A maior derrota

* Por Daniel Santos

  
Encontraram, afinal, o homem nas primeiras horas da manhã; não, com o olhar estupefato de quem passara toda a noite defendendo-se das  feras da floresta, mas com a grave fisionomia de quem muito considerava.

E ele chorava. Chorava quase como um bebê inconsolável, como uma dessas criaturinhas a quem os mais velhos mimam em excesso e, um dia, sem quê nem por quê, descobrem-se dolorosamente iguais aos demais.

Ele sobrevivera nessas condições, arriado de perplexidade, com um tal desencanto que parecia impossível recuperá-lo para a vida útil. Depois, se soube: num de seus estratos mais profundos, alterara-se a identidade.

Nunca negou que chorara por medo às feras, nunca negou que também a possibilidade de morrer o comovera. Mas não fora só isso. Houve um segundo choro e, esse sim, lhe deu a exata compreensão de si.

Assim chorou, ao se perceber inapto para salvar a si mesmo, desprovido dos sentidos e das aptidões que o mínimo animal dali trazia já no nascimento. Chorou a derrota maior, humilhado pela incompetência.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.


Fim e começo de ano

* Por Roberto Corrêa

Quase estamos repetindo os outros finais de ano, em que parece nos esquecemos de tudo e pensamos exclusivamente em viagens, em descansar, usufruindo alguns dias de férias.

Nos casos dos idosos, em cuja lista me incluo, com abençoada satisfação e disposição, a simples recordação das viagens e passeios já nos satisfaz e constatamos que a mocidade é época de absoluta coragem para empreendimentos, como tais de enfrentar distâncias, estradas e aglomerações. Aí temos de nos contentar com as reflexões que são inúmeras, pois com a pequena movimentação a que nos submetemos é inevitável a sobra do tempo para outras ocupações pertinentes.

O problema das reflexões é que a temática nem sempre é de interesse dos leitores, a grande maioria em plena juventude ou maioridade onde as atividades físicas nas omnímodas manifestações e movimentações, prevalecem.

Talvez um balanço das atividades principais concretizadas no decurso do ano ou agora em seu final tenhamos algo de bom de se tornar realidade. Talvez, a discrição ou o perigo de se extravasar em meras possibilidades nos faça entender que a oportunidade de revelação surja naturalmente e não nos precipitemos em nada.

Melhor mesmo é passar a aguardar a passagem do Ano, com suas espetaculares possibilidades que o Novo Ano nos oferecer as tão sonhadas perspectivas, abundantes e plenas de otimismo com a vida de esperança, alegria e felicidade, que a conjunção dos astros nos oferece nesta época festiva.

Adequadas reflexões nos direcionam para o enfoque religioso, pois o início do ano também consistirá na produtividade dos projetos que embalamos no final do ano e chegou o momento de concretizá-los. Evidente que só os esforços pessoais não serão suficientes, pois quase tudo depende de esforços externos que em última análise depende da poderosa Mão Divina.

Dentro do Cristianismo que adotamos nada deixa de ser concretizado sem a permissibilidade Divina, de maneira que o mais adequado para conseguirmos a realização de nossos projetos é orar.

Dentre os diversos tipos de oração podemos “in casu”, optar pela súplica à Divina Misericórdia, no sentido de atendê-la desde que nossas reivindicações estejam de acordo com sua Santíssima Vontade. Feliz ano novo!
  
* Roberto Corrêa é sócio do Instituto dos Advogados de São Paulo, da Academia Campineira de Letras e Artes, do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico, de Campinas, e de clubes cívicos e culturais, também de Campinas. Formou-se pela Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Fez pós-graduação em Direito Civil pela USP e se aposentou como Procurador do Estado. É autor de alguns livros, entre eles "Caminhos da Paz", "Direito Poético", "Vencendo Obstáculos", "Subjugar a Violência”, Breve Catálogo de Cultura e Curiosidades, O Homem Só.


Vamos juntos?

* Por Clóvis Campêlo

Quem ainda ama os Beatles e os Rolling Stones, sabe que Abbey Road foi o último disco gravado pelo Fab Four antes do fim da banda. O disco traz na sua bagagem a responsabilidade de ser considerado um dos melhores do grupo e de estar incluído na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame. Uma glória!

Professor da Universidade de Harvard, Timothy Leary foi expulso da instituição nos anos 70, depois de ter promovido uma experiência coletiva de alunos com o LSD. Libertário, o professor entendia que a droga trazia benefícios terapêuticos e espirituais para quem a utilizava. Amigo pessoal de John Lennon, Leary, ao lado de Bárbara, sua mulher, participou do vídeo “Give Peace a Chance”, protagonizado pelo ex-beatle e Yoko Ono, na cama, onde cantavam o hino de paz e esperança.

Leary faleceu em 1996, tendo a sua cabeça sido separada do corpo e congelada, conforme a sua vontade expressada em vida, e o restante do corpo cremado e transportado pela nave espacial Pegasus para ser jogado no espaço sideral. Tudo isso pago com antecedência, é claro, que o establishment do Tio Sam não brinca em serviço.

No disco Abbey Road, Lennon fez a música “Come Together” para Timothy, baseado no slogan deste na sua campanha para o governo do Estado da Califórnia, em 1969: “Come Together, Join The Party”. Candidato autônomo, longe do arbítrio dos partidos Democratas e Republicanos, Leary não logou êxito e a música terminou sendo incluída na play list do disco famoso.

Consta que McCartney não gostava da canção por conta da frase “shot me” (atire em mim) aparentemente desconexa que Lennon pronunciava nas suas entrelinhas. No jargão dos viciados em heroína (Lennon era um deles) a expressão significava “injete em mim” e Paul achava que isso poderia trazer para o grupo problemas com a justiça e os fãs.

Nada disso, porém, aconteceu. Apesar de não ter sido gravada da maneira que Lennon queria (sem guitarras), a música, que abre o antológico disco, transformou-se em um grande sucesso, sendo gravada posteriormente por gente também famosa como o Aerosmith e Michael Jackson.


* Poeta, jornalista e radialista

domingo, 29 de dezembro de 2013

Literário: Um blog que pensa

LINHA DO TEMPO: 7 anos, oito meses e vinte e nove dias de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Síntese de crônicas sobre amizade

Coluna Ladeira da Memória – Pedro J. Bondaczuk, crônica “Sedução que engana”

Coluna Direto do Arquivo – Marcos Alves, crônica  “Perdas no fim de ano”.

Coluna Clássicos – Rubem Fonseca, conto, “Feliz Ano Novo!”.

Coluna Porta Aberta – Gabi Mello, crônica, “Desejos de Ano Novo”

Coluna Porta Aberta – Rodrigo Capella, crônica “Superando os limites”.


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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com “Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
 “Cronos e Narciso”Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal” Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br



Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk.As portas sempre estarão abertas para a sua participação.