sexta-feira, 31 de março de 2017

Literário: Um blog que pensa

(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Onze anos e quatro dias de criação.

Leia nesta edição:

Editorial – Biblioteca virtual

Coluna Contrastes e Confrontos – Urariano Mota, crônica, “O livro de Ñasaindy Barrett de Araujo, a filha de Soledad Barrett”.

Coluna Do Real ao surreal – Eduardo Oliveira Freire, conto, “Senhor austero”.

Coluna Clássicos – Cora Coralina, poema, “Aninha e suas pedras”.

Coluna Porta Aberta – Sônia Valério da Costa, poema, “Eu sou”.

Coluna Porta Aberta – Karina Monteiro, crônica, “Meu verdadeiro desejo...”.

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Livros que recomendo:

“Poestiagem – Poesia e metafísica em Wilbett Oliveira” (Fortuna crítica) – Organizado por Abrahão Costa Andrade, com ensaios de Ester Abreu Vieira de Oliveira, Geyme Lechmer Manes, Joel Cardoso, Joelson Souza, Levinélia Barbosa, Karina de Rezende T. Fleury, Pedro J. Bondaczuk e Rodrigo da Costa Araújo – Contato: opcaoeditora@gmail.com  
“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Boneca de pano” -  Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Águas de presságio”Sarah de Oliveira Passarella – Contato: contato@hortograph.com.br
“Um dia como outro qualquer”Fernando Yanmar Narciso.
“A sétima caverna”Harry Wiese – Contato:  wiese@ibnet.com.br
“Rosa Amarela”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br
“Acariciando esperanças” Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br   
“Cronos e Narciso”Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal” – Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br




Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


  
Biblioteca virtual


A era da informática vem contribuindo decisivamente para a racionalização da vida urbana, fazendo, por exemplo, sem esforço, aquilo que as autoridades vêm tentando fazer (sem grande sucesso, através dos inconvenientes, mas necessários, rodízios): tirar centenas de milhares de veículos motorizados das ruas, objetivando combater vários tipos de poluição (atmosférica, sonora, visual etc.). Como? Através das chamadas "cidades virtuais".

O cidadão já pode, se quiser, realizar operações do cotidiano, como pagar e receber contas, fazer depósitos e saques em bancos, comprar produtos em supermercados e lojas  etc., sem sair de casapelo computador, celular ou tablete. Quando John Naisbitt previu, no livro "Megatendências", a possibilidade das residências se transformarem em extensões das grandes empresas e corporações, muitos viram na previsão novo exercício furado de "futurologia". Hoje, milhões e milhões de pessoas, mundo afora, trabalham em suas casas, com computadores próprios ou bancados pelos seus empregadores. Como se vê, o futuro já chegou e não nos espantamos com ele!

Todavia, a mim, que sou um leitor compulsivo e obsessivo (ambos simultaneamente), o que mais me fascina, nessas “cidades virtuais” que percorro, diariamente, há mais de vinte anos, são as suas bibliotecas. Obras raras, às quais pensei que jamais teria acesso – o que me causava, sem dúvida, imensa frustração e despeito – estão agora ao meu dispor, sem que eu precise sequer despender um único centavo (a não ser a taxa mensal do Virtua e, claro, a conta de luz). Fora o fato que não tenho que sair de casa para me dar esse prazer intelectual e esse privilégio cultural.

Com toda a despesa que eu possa ter com meu computador, sai, portanto, evidentemente, muito mais barato valer-me das bibliotecas virtuais, do que adquirir esses livros, não importa onde que, ademais, precisaria encontrar em sebos e/ou livrarias. Muitos, no entanto, estão, há anos, esgotados e não foram reimpressos há já décadas.

Em uma das minhas férias, por exemplo, pude ler, nas tantas “bibliotecas virtuais” que visito, cujos links estão entre os meus sites favoritos, os dois únicos romances de Machado de Assis que não possuo: “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”. Procedi, em relação a eles, como tenho feito em relação às outras tantas obras que possuo em minha razoavelmente bem sortida (de mais de quatro mil volumes), mas caótica biblioteca. Ou seja, elaborei as respectivas fichas de leitura (que faço questão de serem manuais, naquela minha letrinha miúda e exótica), anotando os trechos que considero fundamentais dessas obras-primas do “Bruxo do Cosme Velho”, como Machadão chegou a ser chamado na intimidade.

É verdade que a leitura na telinha do computador, ou do tablete, é mais cansativa do que em papel. Com o tempo, porém, a gente se acostuma. Para quem não se acostumar de maneira alguma, existe o recurso de gastar pacote e meio de sulfite e imprimir os livros que queira ler. Apesar dos pesares, prefiro o método novo. Ou seja, leio-os na tela do computador (ou do tablete) por achar que me concentro mais e sequer sobrecarrego a memória da máquina.

Quando quiser reler qualquer coisa, basta fazer o link da biblioteca virtual em que o tal livro estiver disponível, de forma rápida e direta, mais cômoda, até, do que ter que me levantar da minha cadeira e procurar determinado volume nas minhas abarrotadas e bagunçadas estantes. Essa procura seria demorada demais. Afinal, não tenho uma bibliotecária que ponha ordem nessa imensa mixórdia.

Nas estantes da minha biblioteca misturam-se, de forma aleatória e ilógica, tratados de filosofia com romances; poesia com livros de antropologia; ensaios com sociologia e o diabo a quatro. Não raro, em minhas pesquisas, chego a gastar um dia inteiro à procura de um determinado volume que, por obra e graça (mais graça, convenhamos) do tinhoso, geralmente está no lugar mais inacessível possível de determinada estante.
  
Já na biblioteca virtual isso não acontece. Basta acessar o índice dos livros disponíveis, dar um clique no mouse sobre o seu título e imediatamente o texto está sob os meus olhos. Outro livro que li, e com o qual me deliciei, em uma das férias foi “Brasil, país do futuro”, de Stefan Zweig. Abrindo um parêntese, garanto que não conheço abordagem mais lúcida, de nenhum escritor brasileiro, sobre o nosso povo, a nossa história e nossas potencialidades, do que as desse austríaco que se apaixonou perdidamente por nosso país. Pena que na atual geração poucas pessoas tenham lido essa obra, que recomendo, com entusiasmo, aos meus pacientes leitores.

Uma das maiores invenções de todos os tempos, que nós, pessoas modernas, não valorizamos devidamente, dada a facilidade de obtê-la (nem sempre foi assim, pelo contrário) é o livro. Ele permite o acúmulo de sabedoria, de experiências e de emoções de indivíduos especiais e possibilita o acesso a elas de gerações e mais gerações, por séculos e mais séculos (às vezes milênios) afora, após a morte destes. Agora, nesta incrível era da informática e, sobretudo, da internet, seu acesso tornou-se mais fácil ainda.

É verdade que o número de livros disponíveis nas várias bibliotecas virtuais que se multiplicam, internet afora, ainda é relativamente pequeno (creio que menos de 1%) em relação à quantidade de títulos lançados anualmente pelas editoras, em todo o Planeta, orçada, de forma bastante conservadora, em torno de 60 milhões. Ainda assim, quem ler “apenas” essas obras, e com a devida atenção e capacidade de apreensão, terá, certamente, cultura acima, muitíssimo acima da média. Que mundo fascinante a informática nos descortina!

Boa leitura!

O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk


O livro de Ñasaindy Barrett de Araújo, a filha de Soledad Barrett


* Por Urariano Mota


Quando maio chegar, o Brasil vai conhecer a poesia da filha de Soledad Barrett, a guerrilheira assassinada no Recife sob a ditadura Médici. Lançado pela Editora Mondrongo, o livro de Ñasaindy Barrett de Araújo tem um nome que sugere a difícil luta da dignidade todos os dias: “Do que foi pra ser Agora”. Para ele, pude escrever a apresentação que divulgo a seguir.

Poesia e Vida,

Chamo a atenção do leitor para o caráter estético e político do livro “Do que foi pra ser Agora”.

Primeiro, porque é impossível não falar que sua autora Ñasaindy Barrett de Araújo é a única filha de Soledad Barrett. Filha amada pela guerreira de quatro povos, como a chamava o grande poeta Mario Benedetti. E acrescento: o caráter literário e político do livro se dá não só pelas condições de vida e morte da guerreira paraguaia, assassinada pela ditadura no Recife. Mas pela própria vida de sua filha poetisa.

Ñasaindy nasceu em Cuba, por força da militância política dos pais, Soledad Barrett Viedma, paraguaia, e José Maria Ferreira de Araújo, brasileiro, engajados na luta contra a ditadura militar na América do Sul. Ambos foram assassinados pela repressão no Brasil. Ele em 1970, em São Paulo após ser preso e torturado. E ela em 1973, no Recife, delatada pelo companheiro, o militante infiltrado, Cabo Anselmo.

No primeiro registro civil da autora, ela se chamava Ñasaindy Sosa del Sol, dos sobrenomes que seus pais usavam naqueles dias. Eram regras de segurança na época. E assim, Ñasaindy Sosa del Sol foi chamada durante a primeira infância. Chegou ao Brasil em 1980, com 11 anos de idade. E viveu entre o choque das diferenças culturais e políticas, mais as dificuldades encontradas por não ter documentos até os 26 anos de idade.

Entendam. Esse curto recorte biográfico é necessário, porque a poesia é mais que o poema, sempre. A vida foi presenteada a Ñasaindy como um destino inescapável, como um fruto complexo da sua genética, personalidade e formação. Pois Ñasaindy Barrett de Araújo é a filha do tempo, dos anos mais difíceis da ditadura. E de tal modo, que fazem a poetisa se perguntar numa poética irônica, numa pergunta que é também de todo jovem destes dias:

“E o chip, dentro de nós.
Quem foi que implantou?
O que me faz sonhar?
O que me faz chorar?”

Assim posto, chegamos à hora da poesia pelos poemas, somente pelos poemas, se tal arbitrariedade é possível. Mas tentemos a proeza. Tento e fico a meio caminho, porque a poesia de Ñasaindy nos fala:

“Os homens ainda amam
mesmo na angústia e na dor”.

Não é verdade? Pois de quanta dor, impureza e anormalidade se faz o mais límpido lírio dos campos? E se queremos ficar no reino do poético porque poético só poético, acompanhem a poesia linda, madura e fina que há nestes versos

“Percorre induzida a borboleta seu percurso.
Encontra-se pousando em uma hortênsia azul”.

E não resisto, ao fim, de comparar uma sensibilidade poética que descende em linha direta do que li antes, quando pesquisava sobre a heroína de quatro povos, que recriei em meu livro “Soledad no Recife”. Acompanhem este documento, estes versos escritos por Soledad Barrett:

“Madre, no te apenes si no vuelvo
me encontrarás en cada muchacha de pueblo
de este pueblo, de aquel, de aquel otro
del más acá, del más allá
talvez cruce los mares, las sierras
las cárceles, los cielos
pero, Madre, yo te aseguro,
que sí me encontrarás!

A primeira vez em que li o belo e último poema de Soledad Barrett, escrevi: “Agora vocês entendem a estética que é uma ética e uma profecia em um só poema. A vida que veio depois mostrou esse poema como uma canção de despedida”. Fui precipitado. A canção de Soledad que se tornou impossível de ser desenvolvida, ressurge no livro de sua filha. De modo particular, podemos dizer que existe uma alma semelhante à estética de Soledad na poesia de Ñãsaindy. Olhem estes versos do livro e o que suas linhas lembram:

“Entre todas as gentes,
sei que tenho um irmão.
E é porque sinto suas dores,
que mesmo sem ter olhos alegres,
mesmo sem ver a verdade ausente
sei que a luz está presente”.

Enfim, “Do que foi pra ser agora” é mais que um livro. Ele é um acontecimento de importância social, uma ordem da vida e renascimento. Como tão bem está escrito em uma de suas páginas: “A chuva caiu tão bela quanto foi a sua espera”. Assim é o livro da filha de Soledad Barrett. Na poesia ela alcançou o próprio nome: Ñasaindy Barrett de Araújo, poeta. Toda a gente do Brasil tem que conhecer.

* Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici, “Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus”, “Dicionário amoroso de Recife” e “A mais longa juventude”.  Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros




Senhor austero


* Por Eduardo Oliveira Freire


Dizia que só consumia comida de verdade: arroz, feijão e carne. Considerava frutas e doces uma frescura. Sua aparência era austera.

Um dia, soube que seu filho e nora morreram. No enterro, só foi falar com os netos. Convidou-os para passear. Os netos ficaram receosos, achavam o avô chato.

Mas gostaram. O avô conhecia lugares muito interessantes. De repente, viram uma confeitaria e pediram, com olhares famintos, para entrar. O senhor tentou resistir, porém cedeu.

As crianças comeram biscoitos, tortas e sorvetes. Ele assistiu a tudo sobriamente. A neta mais nova lhe ofereceu um pedaço de torta de morango. Disse que não queria, ela insistiu. Provou e algo tomou conta dele. Começou a comer as guloseimas com os netos, que não mais o viam como um avô severo, mas como um amigo.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


Aninha e suas pedras

* Por Cora Coralina


Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.


*  Pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, poetisa e contista.
Eu sou


* Por Sônia Valério da Costa


Sou a expressão feminina da mulher.
Sou a inocência infantil da criança.
Sou a criança que mesmo já sendo mulher,
ainda carrega a faceirice de quando criança.

Sou o amor que inspira o romance.
Sou a paixão que compõe a poesia.
Sou a expressão poética do romance,
numa trama que expressa minha nostalgia.

Ainda sou meu passado infantil,
que conserva a inocência do eu criança,
acrescenta a experiência do eu mulher,
Mas sempre mostra o lado criança.

Hoje inspiro palavras em minha mente,
para oxigenar  pensamentos do meu passado,
alimentar criações textuais para meu presente,
e acumular sabedoria para um futuro de fato.

Ontem fui criança; hoje mulher.
Amanhã expressarei a sabedoria como mulher,
somada com a sabedoria de quando criança.


* Bibliotecária.
Meu verdadeiro desejo...


* Por Karina Monteiro


Desejo uma Feliz Páscoa para todos! Porém, isso vai muito além dos dizeres tradicionais. Realmente desejo que neste dia, independente da religião ou filosofia, seja feita uma reflexão sobre o renascimento de cada um, a análise de como é possível melhorar como pessoa. Não superar a ninguém, apenas superar a si mesmo.

É muito bom trocar ovos de chocolate, presentes, ter uma mesa de almoço cheia, viajar, enfim aproveitar o feriado. Porém, nada disso será válido se não houver a busca da reforma interior e a reflexão sobre o verdadeiro sentido da Páscoa.

É importante não deixar que o modismo e o materialismo coloquem tudo a perder. Um exemplo é o próprio Natal, em que o comércio fatura alto. Sendo assim, quem faz a Páscoa, o Natal, o Dia das Mães, dos Namorados, ou qualquer que seja a comemoração, somos nós mesmos. Não digo para não aproveitar, mas é importante também viver a verdade de cada um desses momentos.

Enfim, olhe para o seu “eu” velho e observe como pode ser uma nova pessoa. É hora de renascer das cinzas, esquecer o passado, fazer a sua revolução e evolução pessoal. Diga Adeus ao que não te faz bem, ao que não te engrandece. Deixe de lado os velhos medos, os antigos hábitos, os pensamentos negativos ou ultrapassados. Lembre-se: a nossa vida começa nos pensamentos. No que você anda pensando?

Renove a sua fé, mas uma fé sem fanatismos, sem preconceitos, uma fé que mova montanhas e não apenas faça ficar parado no mundo próprio. No fim das contas, todas as crenças levam para um mesmo caminho: a paz e o amor.  Viva uma  fé que não explore, mas que doe mais a quem precisa, seja uma necessidade de ajuda, de pão ou de carinho. Talvez seja necessário apenas um sorriso para mudar o dia de alguém.

Renascer é difícil, pois os costumes não nos permitem aceitar o novo. Por isso, mudar é um exercício e um desafio. Abra o coração e deixe que a nova vida entre. Abra as portas de si mesmo. Não tenha medo de ser diferente. Tenha medo de nunca mudar. A mudança é o começo da melhoria. Viva a sua vida, mas a veja com outros olhos. Transforme-se!

Deus nos deu o presente da existência, nos deu os dons para trabalharmos, apesar de nossas dificuldades ou limitações. Explore o que há de melhor em você. Renove-se!

Ninguém está dizendo que é fácil. Todos sabem que não é simples, mas inspire-se na Páscoa para dar o primeiro passo. Um pequeno ato por dia e um novo caminho será traçado. Lembre-se que um bom hábito pode ser conquistado com a repetição de atitudes. Comece fazendo algo diferente hoje, insista e isso poderá tornar-se permanente. Ficar parado é que não adianta.

Sei que nada muda de uma hora para a outra. Mas meu intuito com esse texto não é fazer uma transformação num piscar de olhos. Porém, gostaria de iniciar uma pequena mudança. No fim, com o tempo, a transformação chega. Ah, se chega!

Celebre a renovação. O que está esperando?

* Jornalista e poetisa.


quinta-feira, 30 de março de 2017

Literário: Um blog que pensa

(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)

LINHA DO TEMPO: Onze anos e três dias de criação.

Leia nesta edição:

Editorial – Espelho do narcisismo.

Coluna Ladeira de Memória – Pedro J. Bondaczuk, poema, “Poema da dúvida”.

Coluna Contradições e paradoxos – Marcelo Sguassábia, conto, “You have a new message”.

Coluna Do fantástico ao trivial – Gustavo do Carmo, conto, “Obrigado, papai”.

Coluna Porta Aberta – Viegas Fernandes da Costa, artigo, “Como é triste viver no século 19!”.

Coluna Porta Aberta – Urânia Munzanzu, poema, “Baobá”.

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Livros que recomendo:

“Poestiagem – Poesia e metafísica em Wilbett Oliveira” (Fortuna crítica) – Organizado por Abrahão Costa Andrade, com ensaios de Ester Abreu Vieira de Oliveira, Geyme Lechmer Manes, Joel Cardoso, Joelson Souza, Levinélia Barbosa, Karina de Rezende T. Fleury, Pedro J. Bondaczuk e Rodrigo da Costa Araújo – Contato: opcaoeditora@gmail.com  
“Balbúrdia Literária” José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Boneca de pano” -  Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Águas de presságio”Sarah de Oliveira Passarella – Contato: contato@hortograph.com.br
“Um dia como outro qualquer”Fernando Yanmar Narciso.
“A sétima caverna”Harry Wiese – Contato:  wiese@ibnet.com.br
“Rosa Amarela”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br
“Acariciando esperanças”Francisco Fernandes de Araujo – Contato: contato@elo3digital.com.br   
“Cronos e Narciso”Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal” – Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br




Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.



Espelho do narcisismo


A vaidade é uma característica inerente ao ser humano. Não há quem não a tenha, consciente ou inconsciente, posto que em intensidades variáveis. Alguns, levam-na a extremos (com ou sem razão). Outros, aparentam não serem nem um pouco vaidosos, contudo, ficariam surpresos se vasculhassem seu íntimo e trouxessem à tona o que não ousam revelar a ninguém. Na devida proporção, já escrevi certa feita, a vaidade sequer chega a se constituir em defeito. O problema (como em tudo na vida) está no exagero. E este é muito mais comum do que se pensa.

No duro, no duro, somos mais do que meramente vaidosos em relação à nossa aparência, nossas virtudes, nossas obras e nossas conquistas. Somos, em certa medida, narcisistas. Não nos cansamos de admirar nossa figura no espelho da mente e nos apaixonamos por ela. Alguns levam a paixão a extremos. Outros aparentam não serem nem um pouco narcisistas, mas ficariam surpresos se vasculhassem o seu íntimo e trouxessem à tona o que não revelam a ninguém. Esta oração é semelhante a outra, mais acima, mas foi repetida não por engano, mas de propósito. Afinal, da vaidade saudável para o narcisismo insano basta um simples passo.

Todos, sem exceção, bem no fundo do subconsciente, nos julgamos os mais belos (mesmo que sejamos mais feios do que a mãe da peste e rivalizemos, em feiúra, com Frankenstein ou com Quasimodo), mais sábios (embora sejamos mais tapados que as toupeiras) e mais virtuosos (a despeito de termos mais vícios que Nero e Messalina juntos) do mundo.

Muitos, a esta altura, estarão reagindo à minha afirmação de modos bastante diferentes. Alguns se limitarão a dizer, a si mesmos: “não sou assim”. No íntimo, porém, terão plena convicção de que de fato são. Outros torcerão o nariz e afirmarão, com empáfia e arrogância: “este sujeito é uma besta! Só escreve bobagens” (referindo-se a mim, claro). São aqueles aos quais a carapuça serve direitinho, sem necessitar do mínimo ajuste. Raros admitirão que tenho razão.

Há narcisismo e narcisismo. Ou seja, essa paixão incontrolável por si mesmo varia de intensidade e de formas de manifestação. Até os que parecem mais despojados e com baixa (ou aparentemente nula) auto-estima, são, no fundo, no fundo, narcisistas. Aliás, estes o são, na maioria dos casos, em grau superlativo. Levam seu narcisismo ao paroxismo. Apenas manifestam-no, todavia, de forma negativa, como disfarce.
 
Algumas pessoas de real valor, que tiveram acesso às melhores universidades e receberam todos os tipos de oportunidades na vida (que a maioria jamais pôde, sequer, sonhar), se omitem da responsabilidade de darem sua retribuição e contribuírem, assim, para construir um mundo melhor, sob pretextos esdrúxulos e covardes.

A maioria lesa, com isso, a sociedade, que lhes proporcionou meios para que estudassem, já que se forma, salvo raras exceções, em escolas superiores públicas, ou seja, sustentadas por impostos cobrados, indiferentemente, de pobres (que, proporcionalmente, pagam mais) e ricos.

Há quem prefira, após a diplomação, vender cachorro-quente nas ruas de Nova York, do que ser médico, advogado, engenheiro, professor etc. no país que lhe proporcionou esses meios de ascensão. O interessante é que, quem age assim, se utiliza de razões públicas para tentar justificar emoções privadas. São, contudo, omissos, com todas as letras, meros parasitas que vivem às custas alheias, irremissíveis narcisistas.

Afirmam que é impossível melhorar o mundo e que os que acreditam no poder da vontade humana para o sucesso dessa tarefa, são alienados, malucos, meros idealistas, tentando dar sentido pejorativo a essa nobre palavra.

Apregoam, aos quatro ventos, como se sua afirmação fosse um dogma e que contrariá-lo, portanto, se constitui em suprema heresia, que por mais que se esforce, o homem não passa mesmo de animal, subjugado a irresistíveis instintos como o sexo, a agressividade, a cobiça e vai por aí afora.

Argumentam que quem manda de fato no mundo é o “mercado”, alçado quase à categoria de uma divindade, onipotente e onipresente (no que não deixam de ter razão). Que a violência jamais poderá ser sequer contida, quanto mais eliminada. Que as drogas vieram para ficar, dada a fragilidade psicológica de quem recorre a esse meio de fuga da realidade. Que a vida, por ser única, é para ser gozada e “quem pode mais chora menos”.

São, na verdade, narcisistas, que se utilizam do sentimento de impotência como pretexto para a omissão e, principalmente, para justificar seu imenso egoísmo. Sem que se apercebam, fazem, apenas, da pretensa impotência, o mais perfeito espelho que reflete por inteiro e sem omitir o mínimo detalhe seu monumental narcisismo. A Literatura tratou, e segue tratando, extensamente da vaidade, em seus variados aspectos. É extensíssima a bibliografia sobre o tema. Proponho-me a abordar esse aspecto oportunamente, dada sua extensão e complexidade. Por hoje... paro por aqui.  


Boa leitura!

O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk   


Poema da dúvida


* Por Pedro J. Bondaczuk


Anjo ou demônio?
Ormuz ou Harimã?
O Bem ou o Mal?
Luz ou treva?
Vida ou Morte?
Paz ou tormenta?

Diga, amada,
quem é você,
que me conduz
a cytereas paragens
e ao atro Hades
das inquietações?!

Você, de duas faces,
que me convoca à ceia
magna dos deuses
e me oferece no altar
em holocausto às pagãs
entidades do mal?!

Você, fonte de dúvidas,
que me faz vislumbrar
o fabuloso Jardim do Éden
mas me abandona no Saara
da aterradora solidão?!

Indecifrável Esfinge, desafiadora,
misteriosa Gioconda, irônica,
inspirada Beatriz, juvenil,
cruel Lucrécia Bórgia, sanguinária,
avarenta Cleópatra, volúvel,
minha força, minha fraqueza,
que me desperta a animalidade,
mas acalma as carnais paixões,
quem é você?!

Emulação ou êmula?
Conquista ou ideal?
Miragem ou real?
Anjo ou Demônio?
O Bem ou o Mal?

(Poema composto em Campinas, em 13 de outubro de 1977).

* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk




You have a new message

* Por Marcelo Sguassábia


Um quarto de lexotan, um quase nada, se você mastigar a calma vem na hora - como uma fada invadindo a sala entre tules e incensos. Eu disse, dei a dica, ela no fundo ignora cem por cento do que falo. Lá está, com seus dois olhos que nem piscam, vidrados no monitor do notebook e dando o comando de atualizar página a cada quarenta segundos. Ainda se esperasse algum resultado de biópsia, mas não. Era a ansiedade sem causa aparente, a mim e a quem mais chegasse e não soubesse o que exatamente ela aguardava. E dá-lhe doze emails do groupon, cinco das lojas americanas e suas black, blue, white and pink fridays. Adidas e sua coleção da nova temporada, o mundos é dos nets mas poderia ser dos pets, uma ninhada de beagles nessa campanha. Ela se ajeita na cadeira, respira fundo, faz um alongamento de cervical e fecha os lindos olhos muito mais meus que dela. E a mais certa de todas as verdades do mundo é que se trava agora um duelo entre seus lados - um ansiando para que a mensagem chegue e o envelopinho pisque e outro que desejaria tudo menos a angústia de abri-lo e deparar-se com a crueza cortante do que já adivinhava. Aquilo que não queria ver, se chegasse, mas que acabaria com a morte lenta dessa espera, esse desacontecer fatal. Definitivamente o Criador não desenhou suas criaturas para a paciência.

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Leve três pares de sapatênis por 199,90. Assine a petição do Greenpeace pelo Santuário das Baleias do Atlântico Sul, shoptime, peixe urbano, tecnomídia, bradesco previdência. Alterna agora entre o "verificar emails" e o F5 do teclado, para variar um pouco. Olha pra mim um instante, vai. Que seja só de soslaio, mas dá um fiozinho de atenção e dormirei nas nuvens. Saiba do aflito que viro vendo a aflição sua. Agora ela cabeceia, começa a "pescar", rendida ao cansaço vão. Desperta com o apito da ronda noturna, limpa os óculos redondos. Parece estar rezando, mas será? Um milhão de caixas de bombons suíços em troca de cinco minutos dos seus pensamentos. Ser feliz pode ser simples: deixa que seja minha essa mensagem que não vem.

* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).



Obrigado, papai



* Por Gustavo do Carmo


Tirou notas baixas o ano inteiro. Comportou-se muito mal durante o período letivo. Pedrinho acabou ficando em recuperação. Seus pais exigiam que ele passasse de ano. Recebia bolsa parcial para estudar porque o seu pai estava achando o colégio particular muito caro.  

Veio o dia da prova. O professor, daqueles de cabelo comprido, barba até o peito, muito magro, olhos azuis, que só vestia vermelho e andava de saia e chinelos, escreveu no quadro:

“Fazer uma dissertação sobre o Golpe de Estado que o Brasil sofreu este ano”.

Revoltado, ele questionou o professor:

— Professor, que golpe de estado sofremos este ano?
— Você passou o ano inteiro brincando, na molecagem e nem viu ou leu os jornais, né?
— Jornais realmente eu não li, professor! Estão todos corrompidos pela esquerda. Eu conversei foi muito com o meu avô, que viveu no regime militar.

O professor bateu forte na mesa e gritou!

— Então o viés golpista está no sangue! Você apoia o golpe!

Mais indignado ainda, Pedrinho repetiu o gesto do professor e também bateu na mesa, gritando:

— Não houve golpe nenhum! O que houve foi um processo democrático de impeachment, motivado pela má administração da PresidentE (ele enalteceu a letra E no final) da República e não presidenta como vocês jumentos gostam de falar! Ela cometeu crime de responsabilidade fiscal! Vocês da esquerda que fizeram uma manobra para preservar os falsos direitos políticos dela! Para que ela possa voltar como senadora ou ministra em uma eventual eleição antecipada que vocês estão tramando para derrubar o vice-presidente, que foi eleito democraticamente junto com ela! Vocês esquerdistas estão doutrinando as escolas! Por isso que eu não estudei nada este ano! Preferi, sim, ficar na molecagem da internet, da televisão culta a esse lixo de inversão de valores que vocês estão ensinando! Só sexo, drogas, vadiagem, vitimização excessiva, luta de classes, raças e opções sexuais na mídia! O verdadeiro golpe quem deu foi o PT! E eu quero mais é que tenha um novo regime militar, para botar ordem nesse país governado por ladrões, como aquele barbudo salafrário, que é quem está tramando para voltar ao poder! Se não fosse o impeachment o Brasil viraria uma Venezuela e, quiçá, uma Cuba! Eu prefiro levar zero e repetir de ano a sofrer lavagem cerebral de um método comunista de ensino!

Logo foi vaiado por todos os seus colegas!

— Chega! Você está expulso dessa escola!
— Ótimo! Obrigado!

Pedrinho saiu da sala, batendo a porta, ao som de risos e vaias dos seus colegas. Chegou em casa e comunicou aos pais que repetiu de ano porque não queria fazer redação defendendo governo socialista. Levou imediatamente uma surra do pai, que falou depois: 

— Seu burro! Imbecil! Onde é que você vai estudar agora? Todas as escolas estão assim! Você vai crescer sem estudar para ficar igual ao ex-presidente ladrão e a ex-presidenta incompetenta? Tem que ser político! Eu já falei mil vezes! Mas você não vai ficar sem estudar! Vai para uma escola pública, sim! Onde vai viver em greve, motivada por esse mesmo tipo de professor! Vai estudar durante o verão, sem ar condicionado, para repor as aulas que ficaram suspensas durante a greve!

O pai de Pedrinho ficou uma semana sem falar com ele. Voltou a falar somente no Natal, quando, de cabeça fria, se desculpou, o elogiou, não pela sua posição política, mas pela sua argumentação, e deu o notebook de presente que ele pediu. Na semana seguinte, o matriculou no Colégio Militar, a pedido do próprio filho, que voltou uma série, mas nunca mais repetiu de ano.

Tornou-se militar, casou-se e teve dois filhos. Pedro e os meninos viraram políticos de extrema-direita e foram ridicularizados pela mídia vermelha. Mesmo assim, dizia orgulhoso:

— Obrigado, papai!


* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos”.
 Bookess - http://www.bookess.com/read/4103-indecisos-entre-outros-contos/ e
PerSe -http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1383616386310
Seu  blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores