A moléstia da indiferença
* Por Pedro J. Bondaczuk
As pessoas dinâmicas, ativas, inteligentes e que sabem qual é o seu papel na vida, e mais do que isso, que procuram exercê-lo com talento e entusiasmo, têm sempre alguma causa (em geral muitas) que abraçam e buscam executar.
É certo que muitas vezes equivocam-se (todos estamos sujeitos a equívocos), mas têm coragem de admitir seus erros, mudar seus rumos e assumir posições, mesmo que se trate de “remar contra a maré”. Nunca se omitem, em circunstância alguma, porque se importam com os outros, mesmo que seja para os odiar. Quando amam alguém ou alguma coisa, tornam-se irresistíveis, fortes e, virtualmente, invencíveis.
No outro extremo há aquelas pessoas que classifico de “invertebradas”. São as que não têm causas pelas quais lutar, ideais a defender, caminhos a percorrer e vivem num marasmo estonteante, adorando o próprio umbigo, agindo como se fossem o centro do mundo, sem deveres e nem tarefas.
Para estas, tanto importa que chova ou faça sol. Não tem importância se imperem a justiça e a solidariedade no mundo ou se prevaleça a lei das selvas, a do mais forte subjugando o mais fraco. Não amam e nem odeiam. Não fazem o bem nem o mal. Não beneficiam e nem prejudicam. Não fazem nada, pois não acreditam no que quer que seja. São indiferentes.
Assumem esta postura covarde e negativa por se recusarem a refletir. São, em geral, pessoas criadas em lares em que nunca houve falta de nada. Mimadas, desde crianças, tiveram todos os desejos e fantasias satisfeitos. Mal-educadas, não tiveram que lutar pelo pão que comem, pela roupa que vestem ou pela casa em que moram.
Há muitas pessoas assim, mundo afora, vegetando como parasitas, ocupando o espaço de um outro alguém que poderia ser mais útil e produtivo, limitando-se a contribuir para a superpopulação do mundo, sem a contrapartida da produção do que quer que seja: produtos, idéias, sentimentos, valores etc. Conheço muita gente assim e não sei se tenho pena ou desprezo por elas.
Mesmo que aparentem “vender” saúde, são doentes. Não necessariamente do corpo, mas da alma. Se essa “doença” tem cura ou não, não sei. Temo que não. Mas essa é a pior das enfermidades que pode acometer qualquer pessoa. Quem padece desse mal, pouco se lhe dá que alguém o ame ou deixe de amar. Em nada se importa com críticas ou até com o ódio alheio. Não tem uma espinha dorsal que lhe permita ficar de pé e caminhar com as próprias pernas, rumo a algum objetivo, mesmo que pífio ou equivocado. É ou não é um invertebrado moral? Sem dúvida!
Fénelon constatou, num de seus tantos escritos: “Entre todas as moléstias da alma, a mais grave é a indiferença”. E esse teólogo católico, poeta e escritor francês, cujo nome de batismo era François de Salignac de La Mothe, tinha conhecimento de causa para chegar a essa conclusão. Tratava-se de um rebelde em seu tempo. Suas idéias liberais sobre política e educação eram contrárias às da Igreja e do Estado daquela época.
Defendia, antes e acima de tudo, os fracos e oprimidos. Propunha que todas as pessoas, fossem quais fossem suas condições econômicas e sua classe social, tivessem todo o direito à educação universal e de qualidade, único caminho, no seu entender (e no meu) para seu progresso e dignidade. Fénelon, contudo, sempre esbarrou na barreira (às vezes intransponível) do comodismo, do “laissez-faire” e, principalmente, da perversa e olímpica indiferença dos poderosos e dos imbecis.
Portanto, leitor amigo, ame com toda a sua alma, mesmo que esse amor venha a lhe trazer sofrimentos (e muitas vezes trará, com certeza). Abrace uma causa, posto que esta lhe pareça ínfima ou, então, grande demais para ser bem-sucedida. Trace um ideal em seu caminho e persiga-o sem-cessar, embora tudo venha a indicar que se trate de algo irrealizável e superior às suas forças. E, sobretudo, se importe: com a família, com os amigos, com os estranhos, com seu bairro, sua cidade, seu país, com o mundo.
Isso é viver! É participar, amar, odiar, se alegrar, decepcionar-se, cair, levantar e prosseguir. Tenha garra! Tenha sangue nas veias! Tenha uma espinha dorsal que o sustente e mantenha ereto, quando todos estiverem de joelhos!
Livre-se do egoísmo idiota, do tédio dos desocupados, da descrença dos imbecis, da lamúria dos fracassados e, sobretudo, dessa terrível moléstia do espírito, que pode ser incurável e arruinar por completo a sua vida: a indiferença!
*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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* Por Pedro J. Bondaczuk
As pessoas dinâmicas, ativas, inteligentes e que sabem qual é o seu papel na vida, e mais do que isso, que procuram exercê-lo com talento e entusiasmo, têm sempre alguma causa (em geral muitas) que abraçam e buscam executar.
É certo que muitas vezes equivocam-se (todos estamos sujeitos a equívocos), mas têm coragem de admitir seus erros, mudar seus rumos e assumir posições, mesmo que se trate de “remar contra a maré”. Nunca se omitem, em circunstância alguma, porque se importam com os outros, mesmo que seja para os odiar. Quando amam alguém ou alguma coisa, tornam-se irresistíveis, fortes e, virtualmente, invencíveis.
No outro extremo há aquelas pessoas que classifico de “invertebradas”. São as que não têm causas pelas quais lutar, ideais a defender, caminhos a percorrer e vivem num marasmo estonteante, adorando o próprio umbigo, agindo como se fossem o centro do mundo, sem deveres e nem tarefas.
Para estas, tanto importa que chova ou faça sol. Não tem importância se imperem a justiça e a solidariedade no mundo ou se prevaleça a lei das selvas, a do mais forte subjugando o mais fraco. Não amam e nem odeiam. Não fazem o bem nem o mal. Não beneficiam e nem prejudicam. Não fazem nada, pois não acreditam no que quer que seja. São indiferentes.
Assumem esta postura covarde e negativa por se recusarem a refletir. São, em geral, pessoas criadas em lares em que nunca houve falta de nada. Mimadas, desde crianças, tiveram todos os desejos e fantasias satisfeitos. Mal-educadas, não tiveram que lutar pelo pão que comem, pela roupa que vestem ou pela casa em que moram.
Há muitas pessoas assim, mundo afora, vegetando como parasitas, ocupando o espaço de um outro alguém que poderia ser mais útil e produtivo, limitando-se a contribuir para a superpopulação do mundo, sem a contrapartida da produção do que quer que seja: produtos, idéias, sentimentos, valores etc. Conheço muita gente assim e não sei se tenho pena ou desprezo por elas.
Mesmo que aparentem “vender” saúde, são doentes. Não necessariamente do corpo, mas da alma. Se essa “doença” tem cura ou não, não sei. Temo que não. Mas essa é a pior das enfermidades que pode acometer qualquer pessoa. Quem padece desse mal, pouco se lhe dá que alguém o ame ou deixe de amar. Em nada se importa com críticas ou até com o ódio alheio. Não tem uma espinha dorsal que lhe permita ficar de pé e caminhar com as próprias pernas, rumo a algum objetivo, mesmo que pífio ou equivocado. É ou não é um invertebrado moral? Sem dúvida!
Fénelon constatou, num de seus tantos escritos: “Entre todas as moléstias da alma, a mais grave é a indiferença”. E esse teólogo católico, poeta e escritor francês, cujo nome de batismo era François de Salignac de La Mothe, tinha conhecimento de causa para chegar a essa conclusão. Tratava-se de um rebelde em seu tempo. Suas idéias liberais sobre política e educação eram contrárias às da Igreja e do Estado daquela época.
Defendia, antes e acima de tudo, os fracos e oprimidos. Propunha que todas as pessoas, fossem quais fossem suas condições econômicas e sua classe social, tivessem todo o direito à educação universal e de qualidade, único caminho, no seu entender (e no meu) para seu progresso e dignidade. Fénelon, contudo, sempre esbarrou na barreira (às vezes intransponível) do comodismo, do “laissez-faire” e, principalmente, da perversa e olímpica indiferença dos poderosos e dos imbecis.
Portanto, leitor amigo, ame com toda a sua alma, mesmo que esse amor venha a lhe trazer sofrimentos (e muitas vezes trará, com certeza). Abrace uma causa, posto que esta lhe pareça ínfima ou, então, grande demais para ser bem-sucedida. Trace um ideal em seu caminho e persiga-o sem-cessar, embora tudo venha a indicar que se trate de algo irrealizável e superior às suas forças. E, sobretudo, se importe: com a família, com os amigos, com os estranhos, com seu bairro, sua cidade, seu país, com o mundo.
Isso é viver! É participar, amar, odiar, se alegrar, decepcionar-se, cair, levantar e prosseguir. Tenha garra! Tenha sangue nas veias! Tenha uma espinha dorsal que o sustente e mantenha ereto, quando todos estiverem de joelhos!
Livre-se do egoísmo idiota, do tédio dos desocupados, da descrença dos imbecis, da lamúria dos fracassados e, sobretudo, dessa terrível moléstia do espírito, que pode ser incurável e arruinar por completo a sua vida: a indiferença!
*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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Presente de Natal
Dê às pessoas que ama e admira o melhor dos presentes neste Natal: presenteie com livros. Dessa forma, você será lembrado não apenas o ano todo, mas por toda a vida.
Com o que presentear:
Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.
Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.
Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
Beleza de texto, Pedro.
ResponderExcluirConheço muitos que tem atitudes de indiferença em relação as pessoas inteligentes e sensatas que sabem (viver) o que querem.
Parabéns!
Abração do,
José Calvino
RecifeOlinda
Lindo texto, Pedrão!
ResponderExcluirAquele abraço!
E que assim seja Pedro, amém.
ResponderExcluirBeijos
Falou bem e sacudiu meio mundo de pessoas. O tema foi abordado com a contumaz abrangência, e brindou boa parte das possibilidades.
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