terça-feira, 21 de dezembro de 2010




Na sala de estar

* Por Guilherme Sardas



A angústia me catou um ou dois dias depois que meu estômago começou a doer. Ela disse ficarei por um tempo e, notando seus modos sinceros, eu lhe disse tudo bem, pode ficar.
Aceitei a visita como de costume: sua companhia não é agradável, mas, ao menos, seus métodos não são traiçoeiros (e não caio mais no erro daquela estadia em que tentei expulsá-la de tacape na mão).
Há alguns anos, quando a mim se apresentou, ela disse apenas não berre, o barulho me incha, e ponderou que se, ao contrário, eu me silenciasse, ela murcharia e, magra e faminta, logo partiria.
Como de praxe, repetiu: apesar de vir, meu desejo é partir, por isso, peço que aja conforme eu lhe digo, senão, nem que eu queira, você me tira daqui: da sua sala de estar!
Assim, quando lhe flagrei à porta de casa, abri-lhe um sorriso-protocolo, assentei-lhe em boa cadeira e, sem fazer sala, disse fique à vontade e, qualquer desconforto, parta sem avisar.

*Guilherme Sardas é jornalista paulistano e amante da literatura.

2 comentários:

  1. Ótimo texto Guilherme, só não sei se teria esse
    fair play.
    Abraços e Feliz Natal.

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  2. Obrigado Núbia, boas festas pra vc tb! o "fair play" é porque ela, essa visitante um tanto indesejada e imprevisível, também ensina, rs.

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