Encontro com a infância
* Por Urariano Mota
Tive um encontro luminoso, luminoso e claro, durante o enterro da tia de um amigo, no cemitério de Santo Amaro, aqui no Recife.
Uma senhora chegou para mim e começou a falar umas coisas que eu não entendia, me abraçou, disse que me conhecia, e eu sem entendê-la, parecia que ela me falava numa língua distante, de sons distantes, que eu desaprendera a falar, mas que ainda assim era íntima, de uma intimidade esquecida por mim.
Então eu lhe fui sincero: “eu não estou entendendo a senhora”. Então ela me esclareceu, e então entendi a sua língua: ela, de óculos escuros, cabeça toda branca, havia me visto na infância, quando eu ainda tinha mãe, quando eu devia ter uns 6 ou 7 anos.
Ali, à sombra de túmulos, ela contou que me dera as primeiras noções de contar com os dedos. E de lá para cá, ainda segundo ela, passei a gostar de matemática.
Isso foi no tempo em que eu morava no beco, em Água Fria. Aquele beco de casinhas apertadas, pequenas, que mais pareciam quartos.
O meu quarto de dormir, hoje, é quase do tamanho da casa onde eu morava.
Comentário dela: "você está muito parecido com você”.
E eu: "como assim?".
E ela: "Está com a mesma cara de quando era criança".
Nome dela: Euzinha. Sobrinha de Dona Zizi.
Euzinha, Zizi. Que apelidos bonitos, que nomes bonitos, com gosto da infância em Água Fria.
• Escritor e jornalista
* Por Urariano Mota
Tive um encontro luminoso, luminoso e claro, durante o enterro da tia de um amigo, no cemitério de Santo Amaro, aqui no Recife.
Uma senhora chegou para mim e começou a falar umas coisas que eu não entendia, me abraçou, disse que me conhecia, e eu sem entendê-la, parecia que ela me falava numa língua distante, de sons distantes, que eu desaprendera a falar, mas que ainda assim era íntima, de uma intimidade esquecida por mim.
Então eu lhe fui sincero: “eu não estou entendendo a senhora”. Então ela me esclareceu, e então entendi a sua língua: ela, de óculos escuros, cabeça toda branca, havia me visto na infância, quando eu ainda tinha mãe, quando eu devia ter uns 6 ou 7 anos.
Ali, à sombra de túmulos, ela contou que me dera as primeiras noções de contar com os dedos. E de lá para cá, ainda segundo ela, passei a gostar de matemática.
Isso foi no tempo em que eu morava no beco, em Água Fria. Aquele beco de casinhas apertadas, pequenas, que mais pareciam quartos.
O meu quarto de dormir, hoje, é quase do tamanho da casa onde eu morava.
Comentário dela: "você está muito parecido com você”.
E eu: "como assim?".
E ela: "Está com a mesma cara de quando era criança".
Nome dela: Euzinha. Sobrinha de Dona Zizi.
Euzinha, Zizi. Que apelidos bonitos, que nomes bonitos, com gosto da infância em Água Fria.
• Escritor e jornalista
Urariano
ResponderExcluirDe emocionar. Você recebeu desta senhora o maior presente de Natal que alguém poderia lhe dar: "você está muito parecido com você". Imagine...Ela nem deve conhecer o Urariano escritor, se conhecesse teria dito isso com muito mais convicção.Lindotexto!Parabéns!
Feliz 2011
Os encontros com o passado são os mais dolorosos, pela saudade, nem sempre boa, que despertam. Ao mesmo tempo em que custa voltar, o que passou teima em não nos abandonar.
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