sábado, 25 de dezembro de 2010




Prece a Papai-Noel

* Por Edmundo Pacheco

Abraça-me forte meu santo
quero sentir meus ossos estalarem contra seu manto
nesta noite de natal
quero lhe fazer um pedido
um pedido boçal
que só você, Nicolau
com seu imaginário trenó
pode espalhar pelo mundo, como se fosse pó...

Leve a verdade a essa terra
onde os joelhos se gastam diante de cruzes
enquanto risos de escárnio ecoam sob os capuzes...

Leve a verdade aos pobres coitados
que dormem nas portas das suntuosas igrejas
erguidas em louvor à ignorância
e morrem de fome e ânsia...
enquanto sacerdotes sádicos se auto-flagelam, como antes,
com seus chicotes de ouro e diamantes
enquanto exploram os inocentes
em nome de algum deus conivente...
Que gente indecente Nicolau... Que gente indecente...

Abraça-me santo inexistente
quero o fogo de seus olhos ardentes
queimando as almas dos doentes,
dos loucos que criaram o mal e o bem
como instrumento de tortura
pra subjugar toda cultura
e colocar o planeta de joelhos, dizendo amém...

Nicolau...
que seu natal seja maior que o mal
que seu fel
adoce o sal...
vamos ao céu...
tirar das tais virgens
o hímen placêntrico da maldição
de reproduzir vermes sem visão
vamos a Roma
vamos à Galiléia
vamos ao Egito
vamos ao inferno
mas, que neste natal, todos ouçam este grito...

Gritemos!!
gritemos!!!
todos juntos!!
até acordar os defuntos
porque a humanidade só será livre e sã
quando não tiver alma, não for cristã
e nem pagã
Só quando estiver livre da monstruosa idéia milenar
de que foi preciso um deus pra criar
um deus mudo, cego e surdo a quem orar
imaginado por homens maquiavélicos que inventaram o pecar
e compilaram bíblias
e elegeram profetas
e construíram altares, santos e demônios
e formaram essa civilização de patetas
incapazes de ver o óbvio e de pensar

Papai-noel, atenda por favor meu pedido...
vivo nessa imundície perdido
cercado de seres impensantes
que acreditam em milagres, coitados...
Coitados... Coitados...

São Nicolau,
neste natal,
mostre a eles que o único milagre incontestável,
é que somos filhos do imponderável
resultado de milênios de evolução incontrolável
Símios, descendentes de amebas,
que chegaram ao espaço e desvendaram o indesvendável...
Seres maravilhosos, que compreenderam a mecânica das forças universais
mas continuam subjugados como animais
buscando forças invisíveis, milagres e devaneios
que lhes aplaquem o anseio
da consciência da morte...

É isso, Nicolau,
neste natal,
Desejo
que todos vejam
Que nossa espécie teve uma fantástica sorte...
Que milagre poderíamos querer mais?!

* Escritor por devoção, 46 anos, poeta por impulso, jornalista por profissão há 28 anos. Pai da Édile e do Dilee, marido da Sueli, avô da Julia. Três ou quatro livros escritos, nenhum publicado (procura editora, séria, desesperadamente). Perfil? Bom, já foi bóia-fria, catador de batatas, lavador de banheiros, pasteleiro, feirante, churrasqueiro de restaurante beira de estrada, pacoteiro, vendedor de tecidos, derrissador de café, repórter de impresso, pauteiro de TV, assessor de imprensa, revisor, diagramador, editor de texto de TV, funcionário público estadual e municipal, dono de lanchonete, confeccionista, balconista, corretor de imóveis, editor-chefe de telejornal, entre outros... Atualmente vende sanduíche natural na praia de Inajá, onde mora.


Um comentário:

  1. O seu currículo o autoriza a ser amargo. Pareço ser contrária a sua ira, mas compactuo boa parte do seu desalento com a cultura ocidental cristã. Contraditoriamente sigo preceitos cristãos.

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