quarta-feira, 22 de dezembro de 2010




Globalização e incursão em outros mundos

* Por Mara Narciso

Quando, inocentemente, a humanidade começou a falar em aldeia global, e tempos depois, em globalização, nem imaginava os graves efeitos colaterais da visita a outros mundos. A internet enfiou coisas do outro lado do planeta dentro das casas de quem não estava pronto para ver os costumes bizarros de outras latitudes.
O que deve pensar um japonês nativo ao ver os efusivos abraços e beijos brasileiros entre pessoas quase desconhecidas? Os contidos orientais ficam incomodados com tanta demonstração de afeto. Outros povos devem considerar atos bárbaros o desmatamento ilegal, as crianças fumando crack nas ruas das grandes cidades, o comportamento das nossas torcidas organizadas, a desfaçatez de boa parte dos nossos políticos, a ação do nosso crime organizado, a nossa sociedade desorganizada, o nosso carnaval, a prostituição infantil, as indumentárias usadas nas praias. E muitas coisas mais podem parecer estranhas.
Os ocidentais não gostaram de saber como as mulheres são tratadas no mundo oriental. Recém-nascidas são abandonadas nas ruas da China para morrer desidratadas. Transeuntes nem olham para elas num mundo em que o filho único é lei, o filho é desejado e a filha é rejeitada. Tantos anos de matança de meninas causaram gerações de homens sem mulheres. Mesmo assim, o valor de mercado não subiu e o homem chinês é autorizado a espancar a sua esposa em público.
O Irã apedrejando mulheres supostamente adúlteras, enforcando homossexuais e dizendo não existir homossexualismo em seu país. Mulheres torturadas que fogem dos seus algozes, têm as orelhas e nariz arrancados. São gestos deploráveis de civilizações diferentes da nossa.
A fome na África é triste, assim como o costume de cortar os braços dos inimigos vencidos, mesmo que sejam crianças. A mutilação genital das mulheres é outra informação importante que o mundo ocidental não compartilhava. Toda a genitália externa feminina, ainda hoje, é extirpada e costurada a frio, em nome da honradez e da honestidade. Na época do acasalamento, sobre as costuras das que não morreram de hemorragia ou de infecção, o marido está autorizado a romper a barreira da forma que for.
Agora, quando o Brasil e o mundo tentam reduzir os crimes de pedofilia, o que vemos? Casamento coletivo de homens adultos com crianças no Oriente Médio, supostamente incentivado pelo governo, afirmado por uns e contestado por outros. Vestidas para casar, imitando o costume ocidental, de maquiagem, vestido branco e salto alto, com seus rostinhos inocentes, meninas de quatro a dez anos são entregues a homens de terno, entre 25 e 30 anos. Os maridos são estimulados a ter relação carnal com elas o mais breve possível, para possuírem seus corpos antes mesmo de menstruarem. Outros contestam, dizendo que são damas-de-honra e nada mais.
Pense nas meninas ingênuas e nas suas infâncias decepadas. Imagine atos libidinosos entre esses homens e elas. Uma criança de quatro anos, sendo forçada a fazer o que não quer, o que não sente. Pense no pavor, na dor e no sangue. As mães dessas meninas, debaixo do chador, as entregam acreditando que fazem uma coisa boa para elas. Atos ignóbeis, e o ocidente calado.
No mundo ocidental, onde países avançados como a Holanda aceitam que seus concidadãos se droguem sob os olhares beneplácitos e cúmplices da sociedade, que os protegem e dão seringas para que não se contaminem com a AIDS, o que podem dizer dos costumes tidos como primitivos, tribais e atrasados?
Os livros sagrados citam casos de homens adultos coabitando com meninas, e isso é tolerado no Oriente Médio. É um hábito arraigado nas profundezas dos costumes, com todo o significado incompreensível para os demais povos. Cada lugar com suas maneiras, mas diante desse insulto, onde ficam os direitos das mulheres, das crianças, de quem não pode se defender? Onde está a Carta das Nações Unidas?
Imagens cruentas são esfregadas na cara, gerando um imenso choque cultural, tanto para lá quanto para cá. Nos casos de atos vis envolvendo crianças, a sensibilidade fala mais alto e protestar é um dever, mesmo sabendo não ser ouvida. A imprensa mundial globalizada emudeceu.

* Médica, jornalista e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”.

2 comentários:

  1. Há incursões que se pudesse deixaria
    passar, tal a minha indignação...mas
    fazendo isso apenas engrossaria a fileira
    dos omissos.
    Ótimo texto.
    Abraços Mara.
    Feliz Natal

    ResponderExcluir
  2. Núbia,
    Estou lendo " A Língua Portuguesa renovada" de Waldir de Pinho Veloso, sobre o acordo ortográfico. Nele, uma expressão de minha mãe, que citei num texto é referida no setor de hífen ("cara-de-meu-Deus-o-que é-isso"?). Descobri também que grafei uma palavra erradamente. Ela sempre foi escrita do modo que escrevi, mas agora é para ter hífen. É para escrever co-habitar. Pode?
    Alguém me escreveu dizendo que pensar dói, - em referência a este texto. Tenho de concordar.
    Obrigada pelo comentário.

    ResponderExcluir