sábado, 18 de dezembro de 2010







Natal no cinema

* Por Urda Alice Klueger

(Para Mara Salla)

E então, num dia em que já não sei de que mês era, Papai Noel surgiu na minha vida de forma totalmente inesperada: parecia-se com uma alta e jovem gaúcha[1] que se dizia nascida numa cidade chamada Arvorezinha – pensava ele que eu acreditei! Sei muito bem que ele vem lá do Pólo Norte! Nesse disfarce, Papai Noel disse chamar-se Mara Salla – como há a gente de saber quantos são os disfarces que aquele Ser Encantado usa! Mas já que era assim que ele tinha se apresentado, fiz de conta que acreditei, e então, para facilitar, vou ficar a chamar de Mara Salla àquela representação de Natal que tão magicamente surgira na minha vida! Pois que queria Mara Salla comigo?

Ah! Gente, coisas assim só acontecem em tempo de Natal, mesmo – o que significa que o tempo de Natal é um tempo que pode ser em qualquer dia, desde que a gente queira com muita força e continue acreditando em Papai Noel! Pois tem gente que basta crescer um pouquinho, passar dos dez anos, que já fica achando que Natal e assemelhados não passam de invenção, e acaba perdendo um monte de coisas mágicas na vida! Eu, cá da minha parte, jamais deixei de acreditar – e então, as coisas mágicas sempre continuam acontecendo.

E então Mara Salla primeiro escreveu para mim, e depois, um dia, veio me visitar, e que queria ela? Ela era cineasta, e queria usar um texto meu (que está neste livro[2]), chamado “Por causa do Papai Noel”, para fazer um filme. Como é que a gente não vai concordar com uma coisa assim? Fiquei toda faceira, toda boba com aquela escolha de Papai Noel, e passaram-se tempos, meses, penso que quase dois anos, e um dia fui a um cartório, em Florianópolis, para doar a Mara Salla o direito de escrever um roteiro a partir do meu texto – mas sabe como são estas coisas de Papai Noel, não? São todas mágicas e misteriosas, e como já faz tempo que eu cresci, acabei ficando mais paciente, também, e o tempo que passava não tinha importância para mim – um dia o filme sairia, e decerto seria LINDO!

Outras coisas, porém, saíram antes do filme: Mara Salla mandou seu roteiro para o Ministério da Cultura, e ele concorreu lá entre os melhores roteiros do Brasil, e sabe como é, aquela gente que trabalha com um Ministro com a sensibilidade de um Gilberto Gil não é boba, não – sacou logo que ali tinha o dedo de Papai Noel, e o roteiro de “Por causa de Papai Noel” ganhou o primeiro lugar nacional! Só aquilo já era maravilhoso – mais maravilhoso ainda foi quando o filme começou a ser rodado de verdade, tendo como cenário a pequenina cidade de São Pedro de Alcântara/SC/Brasil, e eu passei quatro dias lá vendo como é que se fazia um filme, e acabei até fazendo uma ponta nele – coisa de nada, dez segundos, mas que me deram o maior cansaço! – e saí de lá convicta que a melhor profissão do mundo era a de escritora, depois de ver o trabalhão que era fazer cinema!

E de novo o tempo passou, e havia muitas coisas a serem feitas no filme, como trilha sonora, animações e essas coisas das quais não manjo nada. Ainda antes do lançamento oficial, o filme já começou a concorrer em festivais e a ganhar prêmios – e todo o mundo pensava que estava a dar prêmios para o filme de uma cineasta chamada Mara Salla, sem nem se tocar que por detrás de tudo havia a presença e a magia de Papai Noel!

Então, no dia 18 de Dezembro de 2006, acabou havendo o lançamento oficial do filme. Foi lá em Florianópolis, e eu fui com a minha amiga Dina, com o meu afilhado Alexander e com a minha prima Mayde. Pensava que era como ir ver um filme qualquer, feito por um cineasta qualquer – na hora, mesmo, não estava me lembrando de que Papai Noel estava por detrás de tudo! E então foi um choque de grandes emoções dentro de mim, quando fui vendo a beleza do filme, e a forma como Papai Noel – quer dizer, Mara Salla – conseguira entender uma coisa que eu achava que só os escritores sabiam, que só eles entendiam – como era possível viver-se, ao mesmo tempo, diversas realidades – já falei com outros escritores, inclusive o Grande Mestre Jorge Amado, que concordaram comigo – de que de repente, dentro da vida real que a gente está vivendo, surgem personagens fictícios vivendo outras realidades, e que eles passam a fazer parte da vida da gente como se gente de verdade fossem. Pois Mara Salla entendera tal coisa e a transportara para o filme (afinal, Papai Noel tudo pode, não?), e conforme via o mesmo, assolou-me tal sensibilidade por conta dele, que já não era possível sobreviver sem chorar – e quando as luzes, afinal, foram acesas, eu me acabei de soluçar nos braços da minha prima Mayde, aconchegantes braços acostumados a carregar crianças e a entender de Natal.

Mara, minha querida, muito obrigada! Eu sempre fico fazendo de conta que não sei que você é Papai Noel de verdade! Mas sei, sim!

E o filme? “Por causa de Papai Noel” continua ganhando prêmios. Sei que neste mês está concorrendo a dois festivais: um em Portugal, e outro em Seul, na Coréia, tendo também ganho um festival em Moscou, na Rússia – sem contar os muitos prêmios que ganhou no Brasil. E alguém ainda vai me dizer que Papai Noel não existe?

* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR

Um comentário:

  1. Urda, com todos esses importantes acontecimentos e apenas agora você vem nos contar sobre esse milagre de Natal?

    ResponderExcluir