sexta-feira, 24 de dezembro de 2010




Ceia de Natal

* Por Eduardo Oliveira Freire

APARTAMENTO 101

Antônio só está de cueca sentado na poltrona. Bebe cerveja e assiste a TV. O telefone toca várias vezes, não atende. Sempre fica triste nesta época, lembra das pessoas queridas que já se foram. A campainha toca, é Marinalda:
– Vem passar o Natal lá em casa, seu Antônio, tem tanta coisa...
– Tudo bem, vou me aprontar.
– Se demorar muito, volto aqui e o carrego pelas orelhas.

APARTAMENTO 202

Marinalda mora com o filho, que é muito frágil de saúde. Ela sempre inventa festas para animar o menino. É só ela e ele. Marinalda não fala de seu passado: "vivo o agora, isso me basta". No dia do Natal faz uma ceia bem bonita, a casa já está toda enfeitada. Resolve convidar os vizinhos de mais afinidade e que não tenham viajado. O seu filho fica animado, quer saber o que vai ganhar do Papai Noel. – Calma!! Você vai adorar, Luca.

APARTAMENTO 303

Laura está na praia. Olha fixamente o mar. Sente-se um bloco de amargura e deseja se dissolver na imensidão do mar. Começa a andar. Esbarra num homem, que só reconhece segundos depois.
– Você é o meu vizinho?
– Sim, moro no 501. Sou o Pedro.
– Pois é, não o reconheci de primeira, quase não o vejo. Moro no 303.
– Sei. Eu trabalho muito...
– Pois é... nossa vida é agitada hoje em dia.
– Laura, esse é o seu nome, né?
– Sim. Hoje vou passar o Natal com a Marinalda do 102.
– Legal!
–E você?
– Na minha casa, sozinho.
– Passa com a gente!!
– Não fui convidado.
– Não tem problema.
Laura liga pelo celular para Marinalda, que disse que seria ótimo recebê-lo. Pedro rapidamente compra duas garrafas de vinho e um pote de sorvete.

APARTAMENTO 501

Pedro não pára em casa e não possui vínculo com ninguém. Devido à profissão, matador de aluguel, é tão discreto que se torna quase imperceptível. "Vou me mudar outra vez mesmo, não terá problema algum de eu ir à ceia. Nunca mais verei estas pessoas, inclusive Laura...".

NA CEIA DE NATAL

No início, todos estão tímidos, mas depois a conversa fica animada. Sorriam espontaneamente, fazem até brincadeiras. Luca se emociona com o presente que a mãe lhe dá: um computador. – Esse Natal foi o melhor de todos!!

Os vizinhos proseiam até o dia clarear.

* Formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, pós-graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e aspirante a escritor. Blog: http://cronicas-ideias.blogspot.com/

2 comentários:

  1. Só mesmo no Natal pessoas desconhecidas podem entrecruzar seus caminhos em torno de uma mesa de comida.

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  2. Clima especial. Sensação ao ler. =)

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