sexta-feira, 31 de dezembro de 2010




Fim de ano

* Por Fabiana Bórgia


Estou com os sentimentos dilatados. Penso no que fiz, no que não fiz, no que tenho que fazer. Quem eu deixei, quem me deixou, para onde eu vou. A gente nunca tem respostas, apenas perguntas. E uma das grandes certezas é saber com quem contar ao longo deste processo chamado VIDA. Só isso, já vale por tudo.

Não sei se é sazonal, mas final de ano me desperta sentimentos latentes. Eu me apaixono nos finais de ano. Ouço dez mil vezes a mesma música. Não refresco os pensamentos. Deve ser o mal do verão, que enlouquece o coração e alucina minha mente.
Final do ano faz com que eu me perca e me ache ao mesmo tempo. Traz de volta o passado, dá novo sentido ao meu presente e me confere promessas de futuro, mesmo que sejam ilusões.
Faz com que eu escute Renato Russo, Cazuza, Tim, como em tempos passados.
Traz de volta minhas histórias de adolescente. Sensação de primeiro amor, como se fosse o último.
Fim de ano me deixa mais próxima ao céu. E ao mesmo tempo, eu sinto o chão. Eu flutuo, e ao mesmo tempo me afogo.
Final de ano renasce a criança que habita em mim. E eu escrevo.


Eu escrevo

O que eu sei é muito pouco.
Escrevo alguns impulsos, algumas incertezas, poucas vivências.
Na verdade, escrevo o que eu não sei, "na esperança de".
Escrevo o que procuro sem saber.
Escrevo para não me perder.
Ou para encontrar parte de mim: o que já não sou.
Escrevo para tentar achar explicação para a inexatidão da vida.
Para resgatar o tempo.
As lembranças esquecidas.
Escrevo para buscar meus tempos de menina, quando eu ainda não havia sofrido.
Escrevo para reencontrar a pureza, aquela que a gente ama de forma implícita.
Escrevo para voltar a um tempo que não existe.
Escrevo para ser criança de colo.
Escrevo apenas para sentir.
Escrevo para retomar o passado como presente.
Fazer futuro de algo inexistente.
Escrevo para escrever de novo.
E de novo.
E outra vez.
Até recriar.
Escrevo para tornar o impossível possível por míseros instantes.
Como se fosse possível sobreviver à própria morte.
Escrevo para trazer de volta os que se foram e os que estão vivos.
Escrevo para congelar neste espaço nada estático o que eu chamo de lembrança.
Escrevo para continuar... existindo.
Eu estou: aqui.

• Escritora por vocação e advogada por formação. Paulista por natureza e carioca por estado de espírito. Engenheira de sonhos: alguém em eterna construção. Autora do livro “Traços de Personalidade”

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