sexta-feira, 31 de dezembro de 2010




O Caçador de Pipas

* Por Eduardo Oliveira Freire


Acabei de ler O Caçador de Pipas. O livro é linear e bem amarrado na sua estrutura. Lembrei-me que quando fiz, em 2004, uma oficina de criação literária, a professora ensinou que toda história tem um começo, meio e fim. Nos primeiros capítulos os problemas do personagem são mostrados, no decorrer da história ele tenta resolvê-los e no último capítulo a conclusão, consegue solucioná-los.

O livro é bastante descritivo, produzindo imagens líricas e ao mesmo impactantes. Consegue ser emocionante sem clichês demasiados. Gostei mais dos primeiros capítulos e do último. No meio do enredo, o autor quase escorrega no melodrama, contudo, consegue sair da armadilha. Ultimamente, gosto de ler histórias que os personagens são meramente humanos, podem ir aos extremos: do bem ao do mal. O Caçador de Pipas narra a história de uma pessoa que toda vida não enfrentou os seus problemas e precisa se redimir dos erros do passado. Aborda temas universais como intolerância, preconceito, amizade, amor e redenção. "Esta é uma daquelas histórias inesquecíveis, que permanecem na nossa memória por anos a fio. Por muito tempo, tudo o que eu li me pareceu sem graça. Todos os grandes temas da literatura e da vida são o material com que é tecido esse romance extraordinário: amor, honra, culpa, medo, redenção." - Isabel Allende. Não sei a razão, ao acabar de ler o livro, pensei no Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë). Li ambos em dias chuvosos e frios e me emocionaram bastante por causa da força das duas histórias.

O Caçador de Pipas é um best-seller. Foi lançado em 2003 nos EUA e vendeu dois milhões de cópias. Concordo que o livro é bom, mas será que não há outros elementos que o ajudaram a ser este grande sucesso? A história tem como pano de fundo os conflitos étnicos do Afeganistão, a invasão da Rússia e o regime do Talibã, considerado terrível por violar os direitos humanos. Será que a situação atual não contribuiu para esse sucesso, entre outras coisas, uma divulgação ostensiva da mídia e a dos agentes literários? O escritor nasceu no Afeganistão e mora há muitos anos nos Estados Unidos. Falou dos preconceitos étnicos na sua terra, da invasão violenta da União Soviética, todavia, não comentou do incentivo financeiro que os EUA fizeram para o Bin Laden (líder da Al Qaeda) lutar contra os soviéticos.

Não quero ser um Recalcado Aspirante a Escritor. É incontestável que o autor (KHALED HOUSSEINI) mostra talento. Cada um tem o seu ponto de vista, ninguém pode ter uma visão totalizante de tudo. Gostaria de pegar emprestado, um pouco, o seu dom da escrita e de contar uma boa história. Tenho uma pontinha de inveja, mas nada muito patológico.

Para quem ainda não leu o livro, vale a pena.

* Formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, pós-graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e aspirante a escritor. Blog:
http://cronicas-ideias.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Também gostei muito e acredito que o grande sucesso partiu de um momento histório favorável. O mundo estava ávido por conhecimentos no Oriente Médio. Depois deste, que narra a história de dois homens, parti para a Cidade do Sol, que narra a história de duas mulheres sob o regime do Talibã, ainda mais terrível, também no Afeganistão.

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