O que será que tem aqui dentro?
* Por Fernando Yanmar Narciso
“Cada louco com sua mania”, como diria minha avó. Algumas pessoas são viciadas em crack, outras em esportes radicais. Outros em sessões de estrangulamento grupal, ou em tomar leite condensado direto da lata. Bebida, jogos de azar, fast-food, auto-flagelo, leitura dinâmica, etc. Não importa qual seja, se você for humano, certamente tem o seu vício.
Partamos para os meus. É do célebre gentleman John Wayne a frase “Nunca confio em homem que não bebe”. Posta tal cláusula, jamais nos daríamos bem, pois se há coisas que não tolero é gente bêbada e ambiente de bar. Fumar, então, nem se fala. Admito, com certa vergonha, que meus maiores vícios são… Brinquedos.
Até hoje, barbado e com a cara começando a sentir os efeitos da gravidade, não consigo resistir a entrar em lojas de brinquedos. Os designers mais criativos do mundo são os que trabalham no ramo. É inacreditável o que conseguem inventar tendo por base alguns pedaços de plástico e metal.
Uma das melhores coisas é abrir um pacotão de presentes no dia de Natal e se maravilhar. Os olhos brilham, a gente não pára de sorrir. “Era esse mesmo, mamãe! Te amo tanto!” O dia de Natal sempre será um feriado infantil por causa dos presentes. Jesus na manjedoura já foi esquecido há muito, muito tempo. Ah, me lembro com carinho dos meus primeiros anos de vida, quando o Natal ainda era um dia mágico… Passar a noite do dia 24 de dezembro em claro, tendo câimbras no corpo todo pela expectativa da manhã seguinte, pra ir correndo abrir os presentes que nunca fiz por merecer.
Tantos anos, tantos Natais… A primeira lembrança de presentes de Natal vem dos meus três anos. Na época, minha grande paixão eram os tratores. Sabia de cor o nome de todas as marcas. No longínquo ano de 1987, meus pais me deram a Frota Sansão, uma linha composta por uma caçamba, um trator e uma escavadeira que, acredito, funcionavam à pilha, mas nunca os usei como devia. Eles eram enormes, quase do meu tamanho! Outra lembrança natalina inesquecível vem de 89. A família toda estava numa pendura sem tamanho por causa da crise. Mas, como pra criança nada disso tem importância, a coisa que eu mais queria ter no mundo – naquele ano – era o Meu Primeiro Gradiente.
Ele era mais caro que qualquer bicicleta de marchas na época, e meus pais não tinham condição de me dar um. Aí, apareceu minha sempre bondosa e mão-aberta avó – que Ele a tenha…-. Ela deve ter feito alguma loucura, mas conseguiu me dar o bendito do gravador, o presente mais caro das crianças da família. Fiquei fascinado com o aparelho, mas como criança hiperativa/impulsiva não sabe o que faz, alguns dias depois do Natal resolvi enchê-lo de areia pra ver o que acontecia. Foi durante uma brincadeira de tocar e cantar, e depois disso nunca mais funcionou que prestasse, nem depois de ir ao conserto. C’est la vie.
De lá pra cá, lembro-me de quase todos os presentes que achei embaixo da árvore até agora. Os que eu mais gostava de ganhar eram a coleção dos Comandos em Ação e Lego – daí meu fascínio por esses tijolinhos coloridos até hoje.
Em 94, todos os presentes que eu ganhei da família eram dos Comandos. Aqueles bonequinhos que vinham com uma mochila que se apertavam os botõezinhos e isso ou os fazia falar ou sair o som de tiros de metralhadora foram os mais pedidos por mim e meus primos naquele ano. Tive vários bonecos e veículos dos Joes e dos Cobras durante quatro ou cinco anos. Infelizmente, como toda coleção que tive quando criança, tanto o Lego como os Comandos, que eu guardava em sacos de lixo imensos, meus “coleguinhas” de bairro se encarregaram de abusar de minha ingenuidade. Como dizem nos bairros baixos, é “mocando” que se recebe…
Podem rir de mim e fazer piada, mas confesso que simplesmente amo brinquedos. Até hoje estou cercado por eles! Quem entra no meu quarto tem a impressão que fiquei congelado no tempo. À minha direita, minha coleção de bonecos dos Transformers. É, galera. A coqueluche do primeiro filme me acertou com uma pá na cara… À minha esquerda, minha coleção de carrinhos miniatura- escalas 1:32 e 1:24- e de Lego. Como diriam no Alcoólicos Anônimos, “Meu nome é Fernando Narciso, tenho 26 anos e ainda coleciono Lego”, e o resto do grupo responderia como um bando de zumbis “Oooooooi, Fernando”.
Apesar de minha mãe reclamar muito, que eu preciso crescer, parar de gastar dinheiro com essas “besteiras”, acho muito importante manter um pouco da ingenuidade e da altivez infantil quando nos tornamos adultos, para não corrermos o risco de
virarmos esses robozinhos “antenados”, criados pela geração de pais que nasceu na minha mesma década.
É, depois dessa confissão vou continuar sem mulher por tempo indefinido…
* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
* Por Fernando Yanmar Narciso
“Cada louco com sua mania”, como diria minha avó. Algumas pessoas são viciadas em crack, outras em esportes radicais. Outros em sessões de estrangulamento grupal, ou em tomar leite condensado direto da lata. Bebida, jogos de azar, fast-food, auto-flagelo, leitura dinâmica, etc. Não importa qual seja, se você for humano, certamente tem o seu vício.
Partamos para os meus. É do célebre gentleman John Wayne a frase “Nunca confio em homem que não bebe”. Posta tal cláusula, jamais nos daríamos bem, pois se há coisas que não tolero é gente bêbada e ambiente de bar. Fumar, então, nem se fala. Admito, com certa vergonha, que meus maiores vícios são… Brinquedos.
Até hoje, barbado e com a cara começando a sentir os efeitos da gravidade, não consigo resistir a entrar em lojas de brinquedos. Os designers mais criativos do mundo são os que trabalham no ramo. É inacreditável o que conseguem inventar tendo por base alguns pedaços de plástico e metal.
Uma das melhores coisas é abrir um pacotão de presentes no dia de Natal e se maravilhar. Os olhos brilham, a gente não pára de sorrir. “Era esse mesmo, mamãe! Te amo tanto!” O dia de Natal sempre será um feriado infantil por causa dos presentes. Jesus na manjedoura já foi esquecido há muito, muito tempo. Ah, me lembro com carinho dos meus primeiros anos de vida, quando o Natal ainda era um dia mágico… Passar a noite do dia 24 de dezembro em claro, tendo câimbras no corpo todo pela expectativa da manhã seguinte, pra ir correndo abrir os presentes que nunca fiz por merecer.
Tantos anos, tantos Natais… A primeira lembrança de presentes de Natal vem dos meus três anos. Na época, minha grande paixão eram os tratores. Sabia de cor o nome de todas as marcas. No longínquo ano de 1987, meus pais me deram a Frota Sansão, uma linha composta por uma caçamba, um trator e uma escavadeira que, acredito, funcionavam à pilha, mas nunca os usei como devia. Eles eram enormes, quase do meu tamanho! Outra lembrança natalina inesquecível vem de 89. A família toda estava numa pendura sem tamanho por causa da crise. Mas, como pra criança nada disso tem importância, a coisa que eu mais queria ter no mundo – naquele ano – era o Meu Primeiro Gradiente.
Ele era mais caro que qualquer bicicleta de marchas na época, e meus pais não tinham condição de me dar um. Aí, apareceu minha sempre bondosa e mão-aberta avó – que Ele a tenha…-. Ela deve ter feito alguma loucura, mas conseguiu me dar o bendito do gravador, o presente mais caro das crianças da família. Fiquei fascinado com o aparelho, mas como criança hiperativa/impulsiva não sabe o que faz, alguns dias depois do Natal resolvi enchê-lo de areia pra ver o que acontecia. Foi durante uma brincadeira de tocar e cantar, e depois disso nunca mais funcionou que prestasse, nem depois de ir ao conserto. C’est la vie.
De lá pra cá, lembro-me de quase todos os presentes que achei embaixo da árvore até agora. Os que eu mais gostava de ganhar eram a coleção dos Comandos em Ação e Lego – daí meu fascínio por esses tijolinhos coloridos até hoje.
Em 94, todos os presentes que eu ganhei da família eram dos Comandos. Aqueles bonequinhos que vinham com uma mochila que se apertavam os botõezinhos e isso ou os fazia falar ou sair o som de tiros de metralhadora foram os mais pedidos por mim e meus primos naquele ano. Tive vários bonecos e veículos dos Joes e dos Cobras durante quatro ou cinco anos. Infelizmente, como toda coleção que tive quando criança, tanto o Lego como os Comandos, que eu guardava em sacos de lixo imensos, meus “coleguinhas” de bairro se encarregaram de abusar de minha ingenuidade. Como dizem nos bairros baixos, é “mocando” que se recebe…
Podem rir de mim e fazer piada, mas confesso que simplesmente amo brinquedos. Até hoje estou cercado por eles! Quem entra no meu quarto tem a impressão que fiquei congelado no tempo. À minha direita, minha coleção de bonecos dos Transformers. É, galera. A coqueluche do primeiro filme me acertou com uma pá na cara… À minha esquerda, minha coleção de carrinhos miniatura- escalas 1:32 e 1:24- e de Lego. Como diriam no Alcoólicos Anônimos, “Meu nome é Fernando Narciso, tenho 26 anos e ainda coleciono Lego”, e o resto do grupo responderia como um bando de zumbis “Oooooooi, Fernando”.
Apesar de minha mãe reclamar muito, que eu preciso crescer, parar de gastar dinheiro com essas “besteiras”, acho muito importante manter um pouco da ingenuidade e da altivez infantil quando nos tornamos adultos, para não corrermos o risco de
virarmos esses robozinhos “antenados”, criados pela geração de pais que nasceu na minha mesma década.
É, depois dessa confissão vou continuar sem mulher por tempo indefinido…
* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
Risos...Vai sim, porém não deixará de nos divertir com a sua sinceridade.
ResponderExcluirSomente se ela não tiver
ResponderExcluirsenso de humor.
Texto impagável.
Abração Fernando.
Feliz Natal.
Também detesto cigarro, e bebida só ocasionalmente, e pouca. E faço minhas as palavras da Mara: parabéns pela sinceridade. Continue assim, Fernando! Abraços e Feliz Natal!
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