E
se o candidato que você detesta ganhar a
eleição?
*
Por Frei Betto
Praticar
a democracia não é nada fácil. Uma roda de amigos conversava sobre
preferências eleitorais. Fiz a pergunta: E se Bolsonaro for eleito
presidente? Houve repúdio geral: “Saio do país”, disse um;
“Ditadura de novo, nem pensar!”, reagiu outro. Um terceiro
surpreendeu a todos ao declarar que talvez vote nele.
E
se Lula for candidato e ganhar? Novas reações de apoio e rejeição.
“Nenhum governo fez tanto para o povo brasileiro como o PT”;
“Seria legitimar a corrupção”, falou outro.
O fato é que lidamos mal com a democracia. Exceto quando seus ventos sopram a favor de nossos interesses. Se o candidato que odeio for eleito cubro a democracia de maldições. Malditos eleitores que não sabem votar! Com certeza as urnas foram manipuladas! Ah, quem dera um novo golpe derrube o eleito!
Porém, se o candidato de minha
preferência for eleito presidente da República, viva o povo
brasileiro! Afinal, predominou o bom senso! Os oportunistas foram
derrotados!
“Tudo
em um Estado democrático deve ser um meio para atingir a democracia,
mas a única coisa que não pode, nunca, tornar-se um meio é a
própria democracia. Uma concepção meramente instrumental da
democracia é a negação, cedo ou tarde, de uma sociedade
democrática. Quem se vale da democracia para alcançar os próprios
objetivos políticos acabará, em um momento ou outro, sufocando-a”,
escreveu Norberto Bobbio (Entre duas Repúblicas - as origens da
democracia italiana, Brasília/São Paulo, editora UnB/Imprensa
Oficial de São Paulo, 2001).
É
equivocado, nas eleições deste ano, centrar o foco apenas em
candidatos a presidente. Qualquer um que for eleito terá que se
submeter às decisões do Congresso Nacional. Por isso é de suma
importância votar bem para eleger deputados federais e senadores.
Renovar o parlamento. Evitar que sejam eleitos ou reeleitos
candidatos lobistas, interessados apenas em defender interesses
corporativos, em geral por meios escusos.
Na
roda de amigos todos concordamos que é preciso pôr fim à carreira
política daqueles que sempre defenderam os privilégios da minoria
contra os direitos da maioria.
Pelo nosso voto podemos fechar as portas do Congresso Nacional aos corruptos, oportunistas e nepotistas. O Brasil merece sair do atraso, ampliar suas políticas de proteção social, aumentar os recursos na saúde e na educação, reduzir drasticamente a desigualdade social, fonte da violência que assola o país.
Menos
cadeias e mais escolas. Menos agrotóxicos e mais agricultura
orgânica. Menos veículos particulares e mais transportes coletivos.
Menos especulação financeira e mais produtividade. Menos
criminalização dos movimentos sociais e mais respeito à
diversidade.Menos maracutaias e mais transparência. Menos
autocracia e mais democracia.
Vote no projeto Brasil. E eleja
quem é capaz de aglutinar forças sociais capaz de torná-lo
realidade.
*
Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou”
(Saraiva), entre outros livros.
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