De futebol, política e
cachaça
*
Por Marcos Alves
Apresso-me
em dizer que nem de longe tenho a pretensão de elaborar ensaios
complexos acerca dessas três áreas do conhecimento. Mas é
impossível ficar alheio a essa inesgotável fonte de ideias que
abastece o imaginário de quem vive no Brasil. Portanto, vou direto
ao assunto.
Os deputados querem dobrar os
próprios salários, 91% é quase cem. O que torna a tal
"recuperação" da imagem da câmara uma quimera –
passadas as eleições, mas com os escândalos ainda quentes, a maior
parte do congresso se apressou a legislar em causa própria. A
manobra gerou uma insatisfação enorme, que além dos setores mais
esclarecidos da sociedade parece ter chegado aos porões. ACM Neto
que o diga.
O povo não conhece os
meandros, mas é transparente na Política. Depois do inferno de
Jefferson, Lula colhe os louros do assistencialismo em um país
desigual e corrupto. Não é propriamente surpresa, mas certamente
contraria muitos prognósticos feitos durante o ano. Vai começar o
mandato com aprovação recorde, de mãos dadas com o mercado, mas
com o desgaste das costuras políticas que faz para ter apoio no
congresso.
Em janeiro o presidente terá
que negociar com novos e antigos companheiros de partido. Um deles, o
recém-diplomado deputado federal eleito pelo PT, em Minas, Juvenil
Alves. Investigado por lavagem de dinheiro, sonegação fiscal,
formação de quadrilha e outros crimes que somados renderam mais de
1 bilhão de reais, o advogado chegou a ser preso duas vezes. Na
última segunda-feira conseguiu derrubar uma liminar impetrada pelo
Ministério Público e pôde ser diplomado, o que lhe conferiu a
providencial imunidade parlamentar.
Agora, sonha com a posse em 1º
de janeiro – assim como seus colabores, que não devem ser poucos.
Declarou 415 mil reais como gastos de campanha, mas os promotores do
MP dizem que a conta dá uns 5 milhões, pelo menos. Valor que
justifica os lexotans que aparentava ter ingerido ao adentrar o
Palácio das Artes para receber o batalhado e indigno diploma.
Por falar em batalha e
dignidade, que belo papel fez o Internacional de Porto Alegre! Uma
equipe em que cada integrante deu o máximo em campo. Diante de um
gigante do futebol atual, o Barcelona, dignificou ainda mais o
futebol brasileiro. Domingo, no Japão a disputa pelo título mais
importante desse esporte, depois da Copa do Mundo, reunia de um lado
o Inter e de outro o Barça, time em que joga o maior atleta da
atualidade, nosso Ronaldinho Gaúcho. O Brasil é visto com respeito
quando o assunto é futebol.
Também é bom falar dos
amigos, novos e antigos. Outro dia conheci figura ímpar, escritor,
filósofo e pesquisador, Fernando Massote. O professor nos procurou
para falar do lançamento da segunda edição de seu livro, "A
história pela metade - Cenários de Política Contemporânea",
editado com o apoio do Cefet-MG. Ex-preso político nos anos 60 e 70,
Massote cita acontecimentos do passado para melhorar o foco na
crítica ao que chama de (perdoe alguma imprecisão, professor)
“pensamento único e política de resultados”.
Entre uma cerveja e outra,
Massote lembrou da dureza dos tempos da ditadura, sem esquecer do
lirismo da luta por um mundo melhor. Rimos dos ardis para não ser
reconhecido no caminho até o aeroporto. Contou-nos essa história
durante a visita – na companhia de Caio Bueno e Júlio Azevedo, a
um alambique centenário que fica em Cachoeira do Campo, cidadezinha
que fica entre Belo Horizonte e Ouro Preto. Um prazer raro desfrutar
da companhia e da prosa, enquanto apreciávamos o sabor e aroma
inebriantes do líquido dos tonéis.
Dos amigos mais antigos fica a
lembrança mais recente. Entre uma conversa e outra, suspiro calado,
sinto o tempo passar. Vamos vivendo, apesar de problemas como as
trapaças dos políticos e a péssima campanha do Fluminense em 2006.
Resta o consolo da cachaça - sem a qual o futebol e a política não
sobreviveriam.
-
Marcos Alves é jornalista e diretor de vídeos.
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