É
um erro muito grande não darmos o devido valor às consideradas
“pequenas coisas”, aparentemente triviais, corriqueiras e banais.
Já vi muita grande obra se perder porque seu autor não atentou para
algum reles “pequeno detalhe”.
Os
investigadores concluíram, por exemplo, que a causa principal do
casco do Titanic não haver resistido ao choque com um iceberg, em
1912, foi o defeito dos arrebites que prendiam as placas de aço que
formavam a sua estrutura. Por causa disso, o transatlântico tido
como invulnerável e impossível de naufragar foi a pique, causando a
morte de mais de 1.500 pessoas. Como se vê, isso ocorreu por não se
dar a importância devida a uma mísera pequena peça, de custo de
alguns poucos centavos de libra, que se fosse levada em consideração,
evitaria a tragédia e um prejuízo de milhões.
Faço,
das coisas triviais que me cercam, matéria-prima das minhas
crônicas. Isto é que dá “sabor” a esse gênero, misto
literatura e jornalismo. Ou seja, sua aparente pouca importância ou
não-importância, como queiram. É dessa desprezada fonte que
extraio satisfações simples, porém cotidianas e praticamente
inesgotáveis.
Por
outro lado, há quem ache que “movimento” e “ação” sejam
sinônimos. Não são! Podemos, perfeitamente, nos movimentar, sem
agir, e vice-versa. Claro que, na maioria das vezes, movimento e ação
andam juntos, mas estão longe de ser a mesma coisa. Às vezes, nos
movimentamos sem sair, sequer, do lugar e sem que isso implique em
qualquer “atitude”, a não ser mero exercício físico.
Por
seu turno, homens brilhantes não raro agem sem fazer um único
movimento: criando ideias que tendem a revolucionar o mundo. Quem
confunde, portanto, os dois conceitos, corre o risco de achar que
está agindo para modificar determinada situação que exija mudança
quando, na verdade, não está fazendo nada de útil ou de prático
para isso. Está, apenas, desperdiçando tempo e energia, ambos
preciosíssimos.
Pergunto
ao leitor: seria errado nutrirmos ilusões, como tenho lido por aí?
Não, se as preservarmos, se as mantivermos intactas durante toda
nossa vida, até o último suspiro. A realidade absoluta, nua e crua,
é por demais feroz. Não há um único ser humano que a resista
integralmente. Reitero o que já escrevi “n” vezes: É como a
luz do sol. Se olharmos, fixamente, por cerca de um minuto ou menos,
diretamente para a estrela que nos ilumina e dá vida, certamente
ficaremos cegos. Sua luz é intensa demais para nossa retina.
São
as ilusões que impulsionam as pessoas e as levam a trabalhar, de sol
a sol, não raro em condições adversas, na doce certeza de que dias
melhores virão. E mesmo que tardem a chegar, ou que não cheguem
nunca, nos mantém ativos e confiantes, certos de que, se o tão
sonhado sucesso ainda não chegou, não tardará a chegar. Não há
quem não se iluda alguma vez com pessoas ou coisas.
Sonhar
alto e lutar pela concretização dos sonhos é sempre compensador,
mesmo que não consigamos concretizar o que sonhamos. Equivocam-se os
que nutrem sentimentos de frustração e de amargura face a eventuais
fracassos. Quem tenta nunca fracassa. Só o omisso, o covarde e o
descrente são verdadeiros fracassados.
A
quem tenta, por exemplo, sempre restará alguma experiência
positiva, alguma melhoria, mesmo que apenas espiritual, dessa
tentativa. É assim que se constroem vidas exemplares, algumas das
quais se configuram em maiúsculas obras de arte. Às vezes, das
cinzas de um sonho não-realizado nasce uma árvore frondosa de
outros, muito maiores, que se concretizam.
Voltando
às trivialidades, constatei que sons e imagens são despertadores,
por excelência, da memória. Costumam nos trazer excelentes
recordações, de paisagens, lugares, situações e, principalmente,
pessoas que nos são (ou foram) caras e das quais as circunstâncias
nos separaram.
Estas
lembranças são preciosas, é verdade, mas não devemos nos apegar
só a elas. Elas devem, isto sim, ser fontes de “acréscimo” de
satisfações. Não podemos parar no tempo e viver do passado, que só
é possível retornar na memória. A atitude mais sábia é renovar
as experiências no presente e fazer dele fonte inesgotável de
afetos e alegrias.
A
memória deve nos servir, apenas, de subsídio, de acréscimo, nunca
de muleta afetiva. Fernando Pessoa inicia assim seu belíssimo poema
“Souvenir”:
“Como
é doce e triste por vezes ouvir
algum
som antigo trazido à memória
e
ver, como em sonhos, algum rosto querido,
trecho
de paisagem, campo, rio ou vale,
lembrança
tão breve, triste e agradável,
algo
que recorde o tempo bom da infância”.
Se
a vida nos confronta com decepções, fracassos e dores, coloca,
igualmente, ao nosso alcance, inúmeras pequenas satisfações, como
frutos maduros de uma árvore. Os melhores, é verdade, estão no
topo e nos exigem um esforço maior para alcançar. Contudo, a maior
quantidade se encontra nos galhos baixos, bem ao alcance das nossas
mãos. Basta que as estendamos e colhamos o máximo de satisfações,
o tanto que desejarmos e ousarmos colher. A vida não se realiza nas
grandes coisas, mas na soma de pequenos detalhes, aos quais devemos
sempre estar atentos.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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