Os amores do palhaço
*
Por Leandro Barbieri
“Minha
primeira namorada se chamava Ana... Ana Lúcia... Eu a chamava de
Anette... Soava francês, eu me sentia transando com uma cortesã
parisiense... Fantasia... Anette era linda... Loira... Alta...
Magra... E chata! Muito chata! Se eu estava quieto, é porque estava
bravo. Se estava rindo, é porque não a estava levando a sério...
Em dia ela virou pra mim e disse: “Mussa, você nunca me comprou
flores...” Flores... Desde quando se prova um amor com flores? E
foi justamente o que eu disse... Aí ela respondeu: “ Um amor...
Então você me ama?”... Os olhos dela lacrimejaram de alegria...
Lacrimejaram por causa de uma frase mal-colocada... Na hora eu não
tive coragem de desmentir... Ela me beijou... Transamos... E eu
desapareci... Um mês depois me arrependi... Achei chato, sabe? Aí
mandei as malditas flores... Ela ligou... Eu perguntei: “Gostou das
flores?”... Ela respondeu: “Gostei... Já estão no vaso... E eu
já dei a descarga...”
Minha
segunda namorada foi a Jéssica... Ah, a Jéssica sim era mulher....
Nada de romantismos baratos, nada de cobranças extremas...
Namorávamos sem nos preocupar com nada... Sem discutir relação,
sem fazer planos para o futuro... Enjoei...
E
conheci a Jô... A Jô era artista plástica... Respeitadíssima...
Tinha um ateliê onde fazia umas lombrigas de argila que depois
expunha e vendia... Eu comecei a olhar aquilo e percebi que se um dia
nós casássemos, ela ia encher a minha casa de lombrigas tortas e
marrons... Algumas tinham uns furinhos... Ela chamava aquilo de
“arquenouvoulidades rústicas”. Comentei por alto, assim, em tons
de brincadeira que achava aquelas coisas meio esquisitas... Ela ficou
mal, mas disse que respeitava minha opinião... Isso até eu falar a
palavra “lombriga”... Fui expulso do ateliê com várias delas
sendo atiradas em cima de mim... Depois da Jô decidi ficar
solteiro... Sem flores, sem enjôos e sem lombrigas...
Um
dia estou andando pela universidade, depois de ter dado uma aula de
teoria da comunicação, esbarro numa mulher linda... De presença...
Psicóloga... Coordenadora do curso de psicologia... Paula... Aí eu
entendi que a Ana, a Jéssica e a Jô tinham sido apenas
passatempos... Aquilo sim era amor...”
*
Roteirista, diretor e pesquisador de Telenovelas nacionais. Escreveu
Retrato da Lapa (a primeira novela da TV a Cabo brasileira) e
Umas & Outras (a primeira novela da Internet), as quais também
dirigiu em parceria com Silvia Cabezaolias. Assina o roteiro da
webnovela Alô Alô Mulheres na allTV, onde é diretor do
núcleo de dramaturgia.
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