quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Editorial - Dois grandes impostores


Dois grandes impostores




O sucesso e o fracasso são duas situações relativas, bastante subjetivas, que ocorrem, até com frequência, uma, cinco, dez, mil vezes ou mais ao longo da nossa vida. Não há quem não tenha experimentado algum dia essas duas condições antagônicas (às vezes, até, de forma simultânea, por incrível que possa parecer). Ou seja, que não tenha vibrado intensamente com alguma vitória, não importa a sua natureza, ou lamentado com desolação, uma derrota, que pode até destruir quem não tenha uma estrutura psicológica firme, capaz de absorver os revezes e tocar o barco da própria existência para frente.

Rudyard Kipling classificou ambas de “dois impostores”. Destacou que tanto o fracasso quanto o sucesso, salvo situações extremas, é mera questão de ponto de vista. Ou seja, que quando achamos que fracassamos em alguma empreitada, podemos descobrir, anos depois, que se fôssemos bem-sucedidos, estaríamos entrando em uma roubada. Nesse caso fomos, evidentemente, vencedores, mesmo não nos dando conta na ocasião. Ou que a aparente vitória que conseguimos, não passou de imensa ilusão, quando não de enorme catástrofe. Como se vê, impostores. Ambos são dois impostores!

Ainda assim, as duas são situações com as quais nos confrontamos permanentemente. Corremos a vida toda atrás do sucesso, sem que sequer tenhamos uma visão clara do que ele signifique. E fazemos o possível e o impossível para fugir do fracasso, embora, às vezes, ele seja a nossa redenção. Quando iniciamos um empreendimento, não temos a mínima condição de saber qual será seu resultado. Podemos, quando muito, somente prevê-lo, com razoável (jamais absoluta) margem de acerto.

Machado de Assis, no preâmbulo do seu romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, lembra que Stendhal confessou haver escrito um de seus livros para apenas cem leitores. Qualquer coisa que excedesse essa cifra, seria considerada por ele como inesperado sucesso.

Claro que superou, em muito, esse número. Sentiu-se vitorioso, porque colocou o limite de sua expectativa em um patamar não somente factível, mas que a lógica dizia que era fácil de ser superado. Fracassamos, muitas vezes, em decorrência do exagero. Queremos alcançar o inalcançável e, claro, nos damos mal.

John Steinbeck, no romance “O Inverno dos Descontentes”, garante que o fracasso vem aos poucos, lenta e insidiosamente, e decorre do medo de justamente fracassarmos. Pode ser! Tenho comigo, porém, que tanto o temor exacerbado de fracassar, quanto a confiança irrestrita de vencer, são duas armadilhas, das quais devemos fugir. Tanto o sucesso, quanto o fracasso, dependem das circunstâncias, sempre mutáveis, e da oportunidade, nem sempre percebida com clareza quando aparece (isto, se aparecer, claro).


A melhor estratégia que podemos adotar, face às duas circunstâncias, é não darmos grande importância tanto a um quanto ao outro. É, como recomenda a sabedoria popular, “não dormirmos sobre os louros da vitória” e nem ficarmos no chão, quando ocorrer alguma eventual queda. Afinal, feio não é cair, mas não ter coragem de se levantar. É termos em mente que a vida não é feita de somente um dia e nem de um único episódio. É nos consolarmos, quando viermos a fracassar, com o fato de que pelo menos tentamos. Ou nos conscientizarmos que o sucesso que obtivermos, na maioria das vezes, é como a fumaça, que se perde no ar e não se recupera.


Impostores! Ambos não passam de dois enormes impostores! O maior êxito que poderemos obter é vivermos uma vida plena de experiências, com a máxima intensidade, buscando fazer sempre o que o coração mandar. Essa seria receita infalível para o sucesso? Provavelmente não! Mas também não se trata de fórmula absoluta para o fracasso. E quando formos infelizes em alguma empreitada, seja de que caráter for, que possamos ter a fleuma que o poeta Homero demonstrou, através de um de seus personagens, quando aconselhou: "Sê paciente, alma minha. Já passaste por coisas piores". Porque, sem dúvida, por mais absoluto que for algum sucesso que venhamos a conquistar, sempre poderia ser maior. E por mais completo que tenha sido algum fracasso, o buraco em que nos metemos poderia ser muito mais fundo.


Boa leitura!

O Editor.


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