Dois grandes impostores
O sucesso e
o fracasso são duas situações relativas, bastante subjetivas, que
ocorrem, até com frequência, uma, cinco, dez, mil vezes ou mais ao
longo da nossa vida. Não há quem não tenha experimentado algum dia
essas duas condições antagônicas (às vezes, até, de forma
simultânea, por incrível que possa parecer). Ou seja, que não
tenha vibrado intensamente com alguma vitória, não importa a sua
natureza, ou lamentado com desolação, uma derrota, que pode até
destruir quem não tenha uma estrutura psicológica firme, capaz de
absorver os revezes e tocar o barco da própria existência para
frente.
Rudyard
Kipling classificou ambas de “dois impostores”. Destacou que
tanto o fracasso quanto o sucesso, salvo situações extremas, é
mera questão de ponto de vista. Ou seja, que quando achamos que
fracassamos em alguma empreitada, podemos descobrir, anos depois, que
se fôssemos bem-sucedidos, estaríamos entrando em uma roubada.
Nesse caso fomos, evidentemente, vencedores, mesmo não nos dando
conta na ocasião. Ou que a aparente vitória que conseguimos, não
passou de imensa ilusão, quando não de enorme catástrofe. Como se
vê, impostores. Ambos são dois impostores!
Ainda
assim, as duas são situações com as quais nos confrontamos
permanentemente. Corremos a vida toda atrás do sucesso, sem que
sequer tenhamos uma visão clara do que ele signifique. E fazemos o
possível e o impossível para fugir do fracasso, embora, às vezes,
ele seja a nossa redenção. Quando iniciamos um empreendimento, não
temos a mínima condição de saber qual será seu resultado.
Podemos, quando muito, somente prevê-lo, com razoável (jamais
absoluta) margem de acerto.
Machado de
Assis, no preâmbulo do seu romance “Memórias Póstumas de Brás
Cubas”, lembra que Stendhal confessou haver escrito um de seus
livros para apenas cem leitores. Qualquer coisa que excedesse essa
cifra, seria considerada por ele como inesperado sucesso.
Claro que
superou, em muito, esse número. Sentiu-se vitorioso, porque colocou
o limite de sua expectativa em um patamar não somente factível, mas
que a lógica dizia que era fácil de ser superado. Fracassamos,
muitas vezes, em decorrência do exagero. Queremos alcançar o
inalcançável e, claro, nos damos mal.
John
Steinbeck, no romance “O Inverno dos Descontentes”, garante que o
fracasso vem aos poucos, lenta e insidiosamente, e decorre do medo de
justamente fracassarmos. Pode ser! Tenho comigo, porém, que tanto o
temor exacerbado de fracassar, quanto a confiança irrestrita de
vencer, são duas armadilhas, das quais devemos fugir. Tanto o
sucesso, quanto o fracasso, dependem das circunstâncias, sempre
mutáveis, e da oportunidade, nem sempre percebida com clareza quando
aparece (isto, se aparecer, claro).
A
melhor estratégia que podemos adotar, face às duas circunstâncias,
é não darmos grande importância tanto a um quanto ao outro. É,
como recomenda a sabedoria popular, “não dormirmos sobre os louros
da vitória” e nem ficarmos no chão, quando ocorrer alguma
eventual queda. Afinal, feio não é cair, mas não ter coragem de se
levantar. É termos em mente que a vida não é feita de somente um
dia e nem de um único episódio. É nos consolarmos, quando viermos
a fracassar, com o fato de que pelo menos tentamos. Ou nos
conscientizarmos que o sucesso que obtivermos, na maioria das vezes,
é como a fumaça, que se perde no ar e não se recupera.
Impostores!
Ambos não passam de dois enormes impostores! O maior êxito que
poderemos obter é vivermos uma vida plena de experiências, com a
máxima intensidade, buscando fazer sempre o que o coração mandar.
Essa seria receita infalível para o sucesso? Provavelmente não! Mas
também não se trata de fórmula absoluta para o fracasso. E quando
formos infelizes em alguma empreitada, seja de que caráter for, que
possamos ter a fleuma que o poeta Homero demonstrou, através de um
de seus personagens, quando aconselhou: "Sê paciente, alma
minha. Já passaste por coisas piores". Porque, sem dúvida, por
mais absoluto que for algum sucesso que venhamos a conquistar, sempre
poderia ser maior. E por mais completo que tenha sido algum fracasso,
o buraco em que nos metemos poderia ser muito mais fundo.
Boa
leitura!
O
Editor.
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O sucesso pode ser ilusão, mas o fracasso é dura realidade.
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