Sabedoria e ceticismo
O
sábio não aceita, a priori, tudo o que lhe dizem e não se deixa
levar pelas aparências, para formar determinada opinião, não
importa sobre qual matéria. Busca, antes de tudo, informar-se o
máximo que pode, sobre certas ideias ou assuntos, analisando todos
os seus ângulos e pormenores, para só depois de absolutamente
convencido, formar juízo, fundamentado em fatos, não em meras
aparências ou conjecturas. Afinal, "nem tudo o que parece ser,
de fato é". "Nem tudo o que reluz é ouro", diz
conhecido adágio popular. E não é mesmo.
Julgamentos
afoitos e precipitados são o caminho mais curto para conduzir o
indivíduo ao erro, por melhor preparado que esteja e por maior que
seja a sua erudição. A esse propósito, o educador Jiddu
Krishnamurti observou: "Ceticismo não é cinismo ou negação
sistemática, é o estado da mente que não concorda depressa, que
não aceita logo ou toma as coisas como resolvidas. A mente que
aceita logo não está buscando a sabedoria, mas simplesmente
refúgio".
Há
exemplos em profusão, na história do conhecimento humano, de como a
tentativa de se refugiar em algum dogma, tido e havido como a máxima
expressão da verdade (e que o tempo se encarregou de mostrar que era
grosseiramente falso), induziu categorias inteiras aos mais ridículos
erros. Por exemplo, antes das pesquisas de Johannes Kepler, ou de
Tycho Brahe, ou de Galileo Galilei Galileu, ou de Giordano Bruno,
pretensos cientistas davam como "favas contadas" que a
Terra era o centro do Universo e que o Sol é que girava ao redor do
nosso planeta (o que qualquer criança que esteja fazendo o primário,
hoje em dia, sabe que não é verdade). Todavia, negar o geocentrismo
deu cadeia (e muitas vezes a fogueira) por "crime de heresia",
a um número grande de pessoas, preparadas e responsáveis, tidas, no
entanto, como "heréticas".
Os doutores
da Igreja, defensores desses dogmas (conclusões de papas, cujo
conteúdo tinha que ser aceito como máxima expressão da verdade,
sem admitir discussão e contestação, sob o pretexto do "exercício
da fé"), atrasaram em séculos a evolução da astronomia, da
física e de tantas outras disciplinas científicas. O ceticismo, até
muito recentemente, era encarado como fruto de "diabólica
ignorância" ou "perversa contestação" ou "satânico
orgulho". Outra presunção (esta sem interferência religiosa),
e que permaneceu intacta até meados do século retrasado, até que
Louis Pasteur comprovasse seu erro, foi a da "geração
espontânea" de seres vivos. Ou seja, a do "fenômeno"
de algumas espécies de insetos nascerem sem o processo de fecundação
da fêmea por parte do macho.
O cientista
francês não somente demonstrou o ridículo desse dogma, (provando
que apenas "vida pode gerar vida"), como ainda revelou à
humanidade a existência de microvida, dos "micróbios"
(bactérias e vírus). Contribuiu, dessa maneira, para a cura de
doenças até simples, algumas hoje erradicadas do Planeta (como a
varíola) e outras em vias de erradicação. Suas pesquisas
redundaram na descoberta, no século passado, dos antibióticos. E
estes, é redundante ressaltar, são responsáveis por milhões de
vidas salvas em todo o mundo.
Dogmáticos
ainda existem (e quantos!), que apesar de posturas estapafúrdias,
contam com a credibilidade de néscios, incapazes de raciocinar, para
os quais a meditação é uma tortura, evitada mediante o refúgio em
ideias preconcebidas, posto que visivelmente ridículas. Isso ocorre
em política, na economia, nas ciências, nas artes, no jornalismo e
principalmente na religião. A diferença é que hoje as fogueiras da
Inquisição foram substituídas pela execração pública, contando
com a conivência de massas (Shopenhauer chamava-as de "rebanho"),
mergulhadas na ignorância.
A busca
pela verdade é uma "aventura". Implica em muito esforço e
em manter a mente permanentemente ligada, aberta às novidades.
Aferrar-se a uma opinião mal analisada, como se fosse questão de
honra, é meio caminho para a ignorância e a obscuridade. É abrir
mão, sem que se perceba, do exercício do livre arbítrio. Por isso,
não se pode deixar de dar razão a Einstein, quando clama; "Tomara
que exista algures uma ilha para homens sábios e de boa vontade".
A probabilidade é que ela se localize no fundo da mente de cada um
de nós. O que precisamos é de esforço, de imaginação e de
preparo para descobrir esse fantástico "lugar".
Boa
leitura!
O
Editor.
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