domingo, 26 de agosto de 2018

Editorial - Sabedoria e ceticismo


Sabedoria e ceticismo




O sábio não aceita, a priori, tudo o que lhe dizem e não se deixa levar pelas aparências, para formar determinada opinião, não importa sobre qual matéria. Busca, antes de tudo, informar-se o máximo que pode, sobre certas ideias ou assuntos, analisando todos os seus ângulos e pormenores, para só depois de absolutamente convencido, formar juízo, fundamentado em fatos, não em meras aparências ou conjecturas. Afinal, "nem tudo o que parece ser, de fato é". "Nem tudo o que reluz é ouro", diz conhecido adágio popular. E não é mesmo.


Julgamentos afoitos e precipitados são o caminho mais curto para conduzir o indivíduo ao erro, por melhor preparado que esteja e por maior que seja a sua erudição. A esse propósito, o educador Jiddu Krishnamurti observou: "Ceticismo não é cinismo ou negação sistemática, é o estado da mente que não concorda depressa, que não aceita logo ou toma as coisas como resolvidas. A mente que aceita logo não está buscando a sabedoria, mas simplesmente refúgio".


Há exemplos em profusão, na história do conhecimento humano, de como a tentativa de se refugiar em algum dogma, tido e havido como a máxima expressão da verdade (e que o tempo se encarregou de mostrar que era grosseiramente falso), induziu categorias inteiras aos mais ridículos erros. Por exemplo, antes das pesquisas de Johannes Kepler, ou de Tycho Brahe, ou de Galileo Galilei Galileu, ou de Giordano Bruno, pretensos cientistas davam como "favas contadas" que a Terra era o centro do Universo e que o Sol é que girava ao redor do nosso planeta (o que qualquer criança que esteja fazendo o primário, hoje em dia, sabe que não é verdade). Todavia, negar o geocentrismo deu cadeia (e muitas vezes a fogueira) por "crime de heresia", a um número grande de pessoas, preparadas e responsáveis, tidas, no entanto, como "heréticas".

Os doutores da Igreja, defensores desses dogmas (conclusões de papas, cujo conteúdo tinha que ser aceito como máxima expressão da verdade, sem admitir discussão e contestação, sob o pretexto do "exercício da fé"), atrasaram em séculos a evolução da astronomia, da física e de tantas outras disciplinas científicas. O ceticismo, até muito recentemente, era encarado como fruto de "diabólica ignorância" ou "perversa contestação" ou "satânico orgulho". Outra presunção (esta sem interferência religiosa), e que permaneceu intacta até meados do século retrasado, até que Louis Pasteur comprovasse seu erro, foi a da "geração espontânea" de seres vivos. Ou seja, a do "fenômeno" de algumas espécies de insetos nascerem sem o processo de fecundação da fêmea por parte do macho.

O cientista francês não somente demonstrou o ridículo desse dogma, (provando que apenas "vida pode gerar vida"), como ainda revelou à humanidade a existência de microvida, dos "micróbios" (bactérias e vírus). Contribuiu, dessa maneira, para a cura de doenças até simples, algumas hoje erradicadas do Planeta (como a varíola) e outras em vias de erradicação. Suas pesquisas redundaram na descoberta, no século passado, dos antibióticos. E estes, é redundante ressaltar, são responsáveis por milhões de vidas salvas em todo o mundo.

Dogmáticos ainda existem (e quantos!), que apesar de posturas estapafúrdias, contam com a credibilidade de néscios, incapazes de raciocinar, para os quais a meditação é uma tortura, evitada mediante o refúgio em ideias preconcebidas, posto que visivelmente ridículas. Isso ocorre em política, na economia, nas ciências, nas artes, no jornalismo e principalmente na religião. A diferença é que hoje as fogueiras da Inquisição foram substituídas pela execração pública, contando com a conivência de massas (Shopenhauer chamava-as de "rebanho"), mergulhadas na ignorância.

A busca pela verdade é uma "aventura". Implica em muito esforço e em manter a mente permanentemente ligada, aberta às novidades. Aferrar-se a uma opinião mal analisada, como se fosse questão de honra, é meio caminho para a ignorância e a obscuridade. É abrir mão, sem que se perceba, do exercício do livre arbítrio. Por isso, não se pode deixar de dar razão a Einstein, quando clama; "Tomara que exista algures uma ilha para homens sábios e de boa vontade". A probabilidade é que ela se localize no fundo da mente de cada um de nós. O que precisamos é de esforço, de imaginação e de preparo para descobrir esse fantástico "lugar".

Boa leitura!

O Editor.



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