Por
isso eu sou pessimista
*
Por Gustavo do Carmo
Quando o médico do CTI falou para a minha irmã que a minha mãe estava com infecção urinária, saí do centro intensivo (depois de ter me recuperado de um quase desmaio), atravessei o longo corredor do hospital e fui chorar copiosamente no banco próximo à janela.
Uma
enfermeira percebeu que eu estava aos prantos, soluçando, e se
aproximou de mim para me consolar, perguntando o que houve. Devia
estar imaginando que a minha mãe tivesse morrido. Mas falei que ela
estava “apenas” com uma infecção urinária. Só que eu também
estava arrasado por ela ter perdido a memória, pois dois dias antes
ela estava ótima de cabeça.
A
funcionária disse que ela ia ficar bem. E realmente ficou. Da
infecção. Ainda está desorientada e falando coisas sem nexo. Foi
então que eu esclareci que quando sou pessimista as coisas dão
certo para mim. A enfermeira até perguntou: “Então é uma
estratégia que você usa?” Confirmei com a cabeça.
Se
eu estivesse acreditando que a minha mãe iria melhorar, talvez ela
morreria. Quando fico sabendo que alguma pessoa querida sofreu um
acidente ou está com uma doença grave, prefiro não dizer que ela
vai melhorar. Fico em silêncio, pois não posso mandar energia
negativa para os outros porque fica chato, né?
Por
isso eu sou pessimista. Quando penso numa coisa boa, dá tudo errado.
Um jogo de futebol, por exemplo. Se eu acho que o Flamengo e o
Botafogo vão ganhar, eles perdem. Na Copa do Mundo estava confiante
que o Brasil iria ser hexa com o Tite. Caiu nas quartas-de-final. E
logo diante da Bélgica, um país sem muita tradição no futebol.
Na
escola eu também sofria com isso. Achava que tinha feito uma prova
ótima. Tirava nota quatro ou cinco. Na faculdade, pensava ter
escrito um texto ótimo. Mas o recebia de volta, cheio de comentários
corretivos. No final de cada semestre, aí já entrava com o meu
pessimismo, esperava a reprovação. Mas eu passava. Raspando, é
verdade.
O
que mais me incomoda é nos sentimentos por uma mulher. Toda vez que
eu me imagino namorando alguém e ela frequentando a minha casa,
convivendo com a minha família, descubro que a moça está noiva,
vai casar ou está grávida.
O
problema é que quando eu tenho pensamentos negativos, seja com a
saúde de alguém querido, no futebol ou com uma mulher, as coisas
também costumam dar errado, pois só os meus medos se realizam.
Mesmo assim, continuo sendo pessimista.
*
Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração.
Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de
São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos”.
Bookess
- http://www.bookess.com/read/4103-indecisos-entre-outros-contos/ e
PerSe
-http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1383616386310
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