quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Carta à ACL - Urda Alice Klueger


Carta à ACL


* Por Urda Alice Klueger


Sertão da Enseada de Brito, 27 de maio de 2018.
 
 
Ilma. Confreira
Maria Tereza Piacentini
Ilmo. Confrade
Apolinário Ternes
Ilmo. Sr. Presidente
Demais confreiras e confrades
 
Prezadas e prezados:
 
 Queria me dirigir, primeiramente, aos noveis imortais dessa Academia, começando por Maria Tereza Piacentini. Recebi seu discurso de posse e o li com prazer e orgulho por ter agora, dentre nós, pessoa que já chega estendendo a mão e que nem consigo imaginar toda a importância que virá a ter nesta minha vida de dúvidas gramaticais. Egressa que sou do tradicional ensino de Português que me deu o inesquecível e amado professor Evaldo Trierweiller, ao longo do Ginásio e do Científico, lá na minha cidade natal de Blumenau, nunca até hoje me atrevi a começar uma frase com pronome oblíquo, por exemplo, a não ser em algum pecadilho de redes sociais, esses lugares onde como que se cria uma nova língua, mas continuo cheia de dúvidas sobre a crase e a colocação pronominal. Maria Tereza me parece alguém a quem eu vou poder me apegar na hora de tais dúvidas, e que imagino que será muito mais do que isso: ombro amigo, pessoa de coração aberto pelo prazer das tantas realizações que ficam tão claras no seu curriculum, “cheia de graça e beleza”, como diria um poeta (alguém já disse tal coisa, com certeza), pois já tive o prazer de conhece-la rapidamente ao vivo e ela me passou a imagem da melhor das energias e simpatia. Bem-vinda, portanto, Maria Tereza, ao meu convívio e ao meu coração.


E sobre Apolinário Ternes, as lembranças antigas! Éramos adolescentes quando nos conhecemos, mas duvido que ele se recorde de mim, pois já teria, ele, dois ou três anos mais do que eu, o que é uma grande diferença nessa altura da vida. Militávamos, ambos, na JEC (Juventude Estudantil Católica) e Apolinário Ternes era já uma liderança, capaz de fascinantes palestras de formação, e que se dava ao trabalho de se abalar da sua Joinville até ao recôndito da paróquia em que eu vivia, no bairro Garcia, em Blumenau, para nos fascinar com as suas falas. Eu, sempre sequiosa de aprender, devo tê-lo incomodado no seu trabalho, vez ou outra, pois escreveu-me uma ou outra carta, usando uma inconfundível caneta Parker e me obsequiando com o terno título de “irmãzinha”. Infelizmente, fomos irremediavelmente separados pelo AI-5, que baniu da vida brasileira coisas como a JEC (sem contar as TANTAS outras), inclusive a possível amizade entre dois adolescentes que se atreviam a participar de grupos onde os jovens podiam se tratar com o título de irmãos. Somente agora Apolinário Ternes volta à cena da minha vida, e quero lhe dar as boas-vindas pela sua posse na ACL.


A todos, quero contar uma coisa que talvez venha a lhes parecer irrelevante e boba, mas que tem mexido muito com a minha movimentação. Acho que o melhor é começar pelo começo.

 No dia 21 de dezembro último eu tive um espaço de autógrafos na Feira do Livro que acontecia em Florianópolis. Chovia MUITO, naquele dia. Voltando da Feira, já um pouco além das nove da noite, a chuva era tamanha e o trânsito era tão grande (considere-se a proximidade do Natal), que dirigir na BR-101 estava sendo uma coisa muito penosa, e que se tornou terrificante quando, num ponto onde a rodovia tinha três pistas e eu me via cercada de caminhões por todos os lados, alguém (que eu não parei para ver quem, claro) me abalroou por trás, deixando marcas profundas no meu carro, mas muito maiores na minha emoção. Desde então, tenho fugido quanto posso de andar pela BR-101 à noite, amedrontada por aquele fato. Que me desculpem e me perdoem pelas minhas ausências. Imagino que acabarei dominando este pânico, mas por enquanto meu medo continua muito grande.

Queria muito ter ido à posse de Maria Tereza e de Apolinário, mas aí houve ainda outro agravante: a saída do meu novo livro, “No tempo da magia”, que ocupou e ainda está ocupando todo o meu tempo e energias.

 Era o que tinha para dizer. Que estejam todos com saúde, paz e criatividade.

Atenciosamente

Urda Alice Klueger
 
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR, autora de vinte e cinco livros (o 25º lançado em maio de 2018), entre os quais os romances “Verde Vale” (dez edições), “No tempo das tangerinas” (12 edições) e “No tempo da Magia”.

 


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