Eu não entendo as moças do RH
* Por André Luís Rabello
Como
a maioria da população brasileira, não tenho pai rico, nem aquele
avô cheio da grana. Sempre ralei muito. Até aí, tudo bem. O
complicado é a inexplicável entrevista de emprego. Alguns lugares
pedem experiência, mesmo sabendo que o desamparado sujeito tem
apenas 18 anos. Às vezes me pergunto se algum dia eu entenderei a
tal moça do RH, ou as psicólogas empresariais que fazem a, vamos
dizer, triagem de pessoas.
Eu, particularmente, já participei de várias. Lembro da primeira, quando um cara foi limado do emprego porque era gordinho, uma bola. Quando o coitado saiu, a psicóloga rogou. “Olha, eu cortei o fulano porque ele é gordo. E pessoas gordas não gostam de trabalhar”. Pensei com meus botões: “Será verdade?” E o Jô Soares, um verdadeiro workaholic, ele não é gordo? E o publicitário Nizam Guanaes? Será que aquela fórmula 10% inspiração e 90% transpiração é balela de marketeiro? Mas como nunca fui rico, continuei minha busca.
Numa
outra ocasião a moça do RH me fez um monte de perguntas. “Você
gosta de funk?” “Você gosta de churrasco?” “Você bebe
cerveja?” “Assiste ao Big Brother Brasil?” “Lê a revista
Caras?” Lembro que fiquei assustado. Mas respondi que sim,
parafraseando a propaganda ‘eu amo tudo isso’. Depois da
resposta, ela me cortou do processo. Perguntei o motivo a ela. “Isto
tudo é futilidade”, disse uma sorridente moça do RH, com ares de
Lair Ribeiro.
Não
respondi, mas, ao ir à minha casa, de ônibus, um 457 lotado, pensei
em voz alta: “Ora, o funk faz parte da minha cultura, seja bom ou
ruim. Quem é nascido e criado no Rio escuta o samba e o funk desde
criança. Não tem como escapar. Sobre assistir ao BBB, muitos podem
reclamar. Mas este tipo de programa serve, também, para avaliar
comportamentos. Os vencedores já se declararam pobres ou caipiras.
Teve um que ganhou por ter uma aparência bruta, mas um coração
mole, o outro por assumir sua homossexualidade. E em relação a
‘Caras’ ou a beber uma cervejinha...bem, essa eu não entendi.
Pode ser futilidade, mas repararam que o mundo capitalista em que
vivemos necessita desse tipo de bebida? Desse tipo de leitura?”
Quando surgem figuras como Xuxa ou Kelly Key, pode-se observar que o
mercado se movimenta. Rádios, revistas, jornais, enfim, todas as
mídias criam novas tendências, novas culturas, vendem seus
produtos, trabalhadores são contratados, debates são realizados,
ídolos são construídos. O capitalismo é isso.
Eu sei que a moça do RH não sabe disso, talvez até saiba, não sei. Mas eu acho que ela queria que eu respondesse que não, que eu não gostava nadinha daquilo tudo. Eu acho que ela queria contratar um mentiroso. Agora vou embora...Nossa, o que é aquilo?! A moça do RH bebendo uma cervejinha e lendo ‘Chiques e Famosos’!!! Eu não entendo essas moças do RH.
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Jornalista, pós-graduado em comunicação empresarial pela Candido Mendes. Foi assessor de comunicação da Bolsa de Alimentos do Rio de Janeiro, redator da revista BGA News e Supermercado News, especializados em agronegócio.
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