Ousado ativista e poeta
sublime
A
República da Irlanda, também conhecida como Irlanda do Sul, cujo
nome oficial é Eire, é um pequeno país insular, que divide a ilha
em que se situa com a homônima Irlanda do Norte (que ainda integra a
Grã-Bretanha). Conquistou sua independência em meados da década de
30 do século XX, após muita luta. Seu povo é sofrido, mas corajoso
e ousado. Obteve, heroicamente, a autonomia com muito sangue. Encarou
longos períodos de escassez de alimentos, de fome mesmo, o que levou
muitos dos seus cidadãos a emigraram, notadamente para os Estados
Unidos.
Todavia,
o que chama a atenção de quem estuda sua rica história e sua
notável cultura, é a riqueza da sua literatura. A República da
Irlanda foi o berço de escritores que hoje são tidos, até, como
mitos, pela qualidade de suas obras. Pode-se citar, sem ter que
pensar muito, nomes dos mais ilustres como James Joyce, Bram Stocker,
Jonathan Swift, Oscar Wilde, George Bernard Shaw, Samuel Beckett,
Seamus Heaney e... William Butler Yeats. Que conjunto de gênios!
Poucos países geraram escritores tão bons, que se comparem a estes.
Destaque-se
que quatro irlandeses já conquistaram o Prêmio Nobel de Literatura,
tomado, embora não consensualmente, como parâmetro de qualidade ao
se analisar homens de letra. Foram eles: William Butler Yeats (1923),
George Bernard Shaw (1925), Samuel Beckett (1969) e Seamus Heaney
(1995). O que faz esse pequeno país propiciar tantos gênios
literários? O clima, certamente, não é, já que é gélido e
nevoento e, portanto, nada inspirador. A paisagem? Nem tanto. Talvez
seja a tradição. Ou... sabe-se lá o quê.
Uma
coisa importante tem que se mencionar a favor dos irlandeses: é o
orgulho que têm, e a valorização que dão aos seus escritores. Em
raros países eles são tão valorizados quanto ali. Isso, claro, é
importante, importantíssimo, por motivar, os que tenham esse
talento, a escrever. E, como vimos, de fato escrevem. E muito bem.
Há
em Dublin, por exemplo, o Museu do Escritor, que reúne objetos
pessoais, esboços, primeiras edições etc. dos mais conhecidos
homens de letras do país. Que diferença de tratamento em relação
ao Brasil, onde quem exerce essa atividade fica (salvo raras
exceções), via de regra, ao deus dará!!!!
Tenho,
em minha biblioteca, livros de todos os irlandeses que citei.
Leio-os, amiúde, e frequentemente faço releituras. Gosto de todos
eles, uns mais outros menos, conforme minhas afinidades. O principal
desses escritores favoritos, todavia, é um poeta. E que poeta! Volta
e meia, “viajo” ao remotíssimo mundo da fantasia, onde tudo é
nobre, belo e ideal, na leitura dos seus poemas. Quem é ele? É
William Butler Yeats. Um gênio, cúmplice das musas!
Além
de poeta, esse homem talentoso foi corajoso ativista político.
Chegou a ser senador, cargo que exerceu com a mesma seriedade e
afinco que dedicou à literatura, em especial à poesia. William
Butler Yeats, que assinava seus textos como W. B. Yeats, nasceu em
Dublin, em 13 de junho de 1865. Morreu longe da pátria, em Menton,
na França, em 28 de janeiro de 1939. Sua obra maravilhosa consiste
de exatos 40 livros, boa parte dos quais traduzida para o português
e lançada no Brasil.
Sua
temática oscilou, ao longo do tempo (como ocorre com a maioria dos
escritores), indo da romântica e fantasiosa do início da carreira
(e é esta a que prefiro, pela beleza e sensibilidade), ao
modernismo, depois dos seus 40 anos. Esta última fase de sua
produção teve nítida influência do “maluco beleza” da
literatura, o rebelde e controvertido poeta norte-americano Ezra
Pound. Foi nessa ocasião que fez da sua arte instrumento de luta
pela independência do seu país.
Foi
o primeiro irlandês a conquistar o Nobel de Literatura, em 1923.
Antecedeu, portanto, em dois anos, seu ilustre conterrâneo, George
Bernard Shaw. Yeats é considerado pelos historiadores como um dos
responsáveis, o principal deles por sinal, pelo renascimento da
literatura irlandesa. Também foi dramaturgo e co-fundador do Abey
Theatre, em Dublin. Em 1902, ajudou a fundar a Dun Emer Press,
editora que publicou as obras de escritores ligados ao renascimento
literário irlandês, recusados pelas demais.
Se
tivesse que escolher um único poema de Yeats e elegê-lo como seu
melhor, eu não conseguiria. Meu gosto oscilaria entre cem e duzentos
deles, todos do mesmíssimo nível, quer pela temática, quer pela
forma. Escolhi, todavia, como amostra para hoje, um dos mais
conhecidos e expressivos que compôs e que, evidentemente, é
belíssimo. É este, abaixo, que ilustra a caráter tudo o que
escrevi a respeito desse poeta.
"Quando
fores velha"
Quando
fores velha, e grisalha, e com sono,
pega
este livro: junto ao fogo, a cabecear,
lê
com calma; e com os olhos de profundas sombras
sonha,
sonha com o teu antigo e suave olhar.
Muitos
amaram-te horas de alegria e graça,
com
amor sincero ou falso amaram-te a beleza;
só
um, amando-te a alma peregrina em ti,
de
teu rosto a mudar amou cada tristeza.
E
curvando junto à grade incandescente,
murmura
com amargura como o amor fugiu
e
caminhou montanha acima, a subir sempre
e
o rosto em multidão de estrelas encobriu.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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