quarta-feira, 4 de julho de 2018

Dia dos enamorados - Joaquim Moncks


Dia dos enamorados


* Por Joaquim Moncks


Tenho me dedicado muito, no momento, ao estudo da Poética como elemento estético e instrumento de confraternidade, com pouco tempo para a produção de poemas. Brindo à invernia e ao vinho da convivência o poema AFLIÇÕES DO CORPO, de meu livro inédito POESIA DE ALCOVA, iniciado em 2014. Saúdo o eterno Amor dentro de mim com esta reflexão, a qual estava de molho, amadurecendo, durante os últimos quatro anos. Eu quase que esqueço o rabisco no fundo do baú dos escaninhos do corpo e da memória...

Pretendo que o poema seja como o vinho cabernet sauvignon - a minha cepa predileta - num tim-tim efusivo aos meus queridos confrades e amigos.

AFLIÇÕES DO CORPO

A primavera já se despediu de há muito
surge a surpresa das tardias entregas
o desejo espera o gozo sem asperezas
não é somente ele que fala
a linguagem úmida assoma o corpo
outra madrugada de pomos e maçãs
é tardio este sentir que obriga a jogar fora
a camisa prenhe de suor e ânsias
escorre o orvalho de sons, ouvidos e poros.
Sempre há esperança de que o amor venha:
tardia rosa de esperanças empalma espinhos
curte a sua incontrolável diáspora.
Pode-se conservar a emoção das esperas?
E o sono boceja de todo enlevo
artérias e cálice – vinho noviço
o menino acha que não morreu
o amor de amar na solidão propícia
é um autômato saído de dentro do poço
sua armadura em pele e osso pinta o rosto.
A intuição inspira o reverso
e costura o estar vivo ou morto
a esperança de ser ouvido – levado a sério.
Não há como traduzir a doçura
se não pela flor que nasce
cigarra no meio da noite, pedindo vaza
registro dos tormentos e o dia seguinte
sobrevém o estado de graça
sopro de melancolias e ausências
– o eleito para o amar absorve tudo
e a Poesia come sem culpa o rabo do capeta.
Quase sempre o amor é um sino mudo
bota a boca no mundo pede passagem
talvez venha pra minimizar o medo
nenhuma vez o amor foi tão opressor
nunca sabe o condenado qual é o horizonte
sopra-lhe ao nariz e aos ouvidos o silêncio
faz-se cair da cama pra declarar a urgência.
A mensagem aporta telepática hermafrodita
agora talvez possa dormir livre dos notívagos suores
que ainda empapam a fronte e o pudor entre coxas
corre ao adormecer um rio de nádegas suor e sumos
que durmas bem-falante desconhecida e desconexa
o impudico induz ao não-dizer (e a sensação é boa)
e se afasta a caneta – a incorrigível e avara delatora.
Aquele que ama mesmo que não saiba
tem na garganta muda as vozes da ventania.
E fica decretada a libertação sempre pura
das vontades desejos e riscos do querer.


Do livro inédito POESIA DE ALCOVA.


* Poeta e ativista cultural inteiramente dedicado à Poesia e ao Associativismo Literário, desde 1990.


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