Caminhos
e descaminhos do amor
A
palavra "amor", seja em que língua ou dialeto for, é,
certamente, a mais citada, (embora a menos compreendida em seu real
significado), em poemas, romances, novelas, letras de canções, etc.
em todo o mundo, através dos tempos, desde o surgimento das
civilizações, das artes e principalmente da escrita. O termo
sempre se viu cercado de extrema ambiguidade. Dependendo do contexto,
tem sido utilizado, até mesmo, por paradoxal que pareça, para
exprimir seu antônimo, o ódio, sem que aquele que o utiliza com
tanta inadequação sequer se dê conta.
Pois
é este sentimento sublime, mais falado do que praticado; esta
elevada emoção, que todos sentimos algum dia na vida, mas que, por
alguma razão, alguns de nós sufocamos e extinguimos talvez por
entendermos inconscientemente que se trata de manifestação de
fraqueza ou de falta de virilidade; esta essência da divindade, que
deveria nos distinguir das feras broncas; o tema central do excelente
livro "Amor, Caminhos e Descaminhos", do jornalista,
escritor, educador e advogado Rubem Costa, lançado há mais de uma
década..
O
autor admite, a priori, logo no prólogo, tratar-se de enorme desafio
abordar assunto tão complexo (e tão surrado), sem descambar para o
lugar-comum, ou sem enveredar para os mesmos equívocos, não apenas
do populacho pouco instruído, mas pelo qual a maioria dos filósofos,
poetas, romancistas, psicólogos, psiquiatras e outros tantos
estudiosos da alma e do comportamento humano também frequentemente
envereda.
Metodicamente,
de forma clara, organizada e, sobretudo, didática – como compete
ao professor que de fato é – Rubem Costa inicia sua análise
adentrando o complexo campo da semântica. Observa: "...Como
espelho da sociedade que evolui e se transforma no perpassar dos
acontecimentos, as palavras, refletindo a nova fisionomia social, que
repercute na formação do ser individual, exercem papel relevante na
contextura de usos e costumes, plasmando princípios de ética e
moral. Mas, em verdade, ela, a palavra, é uma rua de duas mãos.
Impressiona e deixa-se impressionar pela agitação do grupo".
Destaque-se
que Rubem Costa, aos 99 anos de idade, é um dos mais lúcidos e
profundos intelectuais de Campinas, ilustre e atuante membro da
Academia Campinense de Letras, autor de "Cantigas do Anoitecer"
(poesias) e "Colheita no Tempo" (crônicas). Com 19 anos,
já era redator-secretário do "Diário do Povo".
Desenvolveu marcante carreira no Magistério paulista, como inspetor
de ensino e diretor da V Divisão Regional de Educação do Estado de
São Paulo.
O
autor define, já no próprio título do livro (publicado pela
Editora Átomo de Campinas), as duas vertentes que fundamentam sua
instigante tese. Na primeira parte, aborda os "Caminhos do
Amor". Identifica esse tão pouco entendido sentimento nas suas
mais variadas formas de manifestação. Fala dos santos, dos simples,
dos humildes e dos abnegados. Recorre à Criação, como descrita no
Gênesis da Bíblia, e narra várias experiências pessoais. Entre
estas, relembra os ensinamentos da mãe e conclui que o amor é um
só, embora muitas sejam as formas com que se manifesta.
Na
segunda parte, que intitula "Descaminhos", aponta as
distorções, os males entendidos e os equívocos mais comuns que
cercam essa emoção. Aborda as várias formas de preconceito
(racial, étnico, religioso, etc.), o abandono, a exploração do
próximo e outros tantos perversos comportamentos que envenenam
nossos relacionamentos. É óbvio (e nem é esta minha intenção),
que não irei tirar do leitor o prazer de participar desse régio
banquete de inteligência e sensibilidade, que é a leitura desse
precioso livro.
Destaco,
no entanto, que Rubem Costa consegue façanha que pouquíssimos
escritores alcançam: a de tratar temas, como este, tão delicados,
profundos e de tamanha complexidade, de forma clara, inteligível,
acessível a qualquer pessoa de cultura mediana, sem recorrer (como
muitos autores fazem, de forma pedante e até tola), a jargões das
várias disciplinas enfocadas, já que recorre, sem que o leitor
sequer perceba, a princípios de filosofia, psicologia, teologia,
etologia, antropologia, etc.
Ler
seu texto claro, preciso, correto, medido e coloquial, é como
assistir a uma produtiva aula do brilhante mestre. É banhar a alma e
o intelecto nas águas puras da plena cultura e saber. Trata-se de
livro para ser apreciado, saboreado, "degustado" com
reflexão. É para ser lido com emoção e razão e não como se lê
um jornal, uma revista ou um romance comum e banal, desses que
lançamos mão apenas para "passar o tempo". As lições
de Rubem Costa são para serem estudadas, analisadas, sentidas,
sopesadas, dissecadas, fazendo-se anotações à margem, como
fazemos, por exemplo, com as obras dos clássicos da literatura.
Nas
palavras do último parágrafo do capítulo "A Grande
Descoberta", o autor sintetiza, de forma magistral, a tese que
permeia todo seu precioso livro, ao confessar: "Foi assim que,
aos três anos de idade, sem saber ao certo o significado dos termos,
diante de minha mãe orando, revendo-a, lá na rede, a me beijar a
face, sem me responder, eu descobri o sentido da palavra 'amor'.
Sinônimo perfeito da essência pura: Deus. Amor que perdoa, amor que
guarda, amor que redime, amor que salva: é o nome do 'Senhor'".
O que acrescentar a tal definição?! Só posso aduzir: Amém!!!
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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