Transgêneros
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Por Mara Narciso
A
curiosidade é atraída pelo título, que também afugenta os que têm
horror aos temas difíceis. Falar dos transgêneros não os torna nem
mais e nem menos frequentes. Não altera a incidência, mas melhora a
existência deles, pois o que mata é a ignorância, a intolerância,
o preconceito. Quem é transgênero não se envergonha de sê-lo, mas
sofre com perseguições e ódios, que lhes fecham o mercado de
trabalho, muitos deles sendo remunerados de maneira aviltante.
O
sexo é determinado geneticamente pelos cromossomas XY e XX que
definem as gônadas, sendo testículos para os homens e ovários para
as mulheres. A presença dessas gônadas determina os anexos útero e
trompas para mulheres e epidídimo e próstata para homens. Tais
acontecimentos embrionários se acompanham de genitália externa
feminina ou masculina. Ao nascer se tem o menino e a menina, que são
registrados com nomes femininos ou masculinos, e, conforme a tradição
social, são vestidos e criados conforme o gênero, fixando-se daí o
sexo psicológico e o sexo social. Na puberdade surgem as
características sexuais secundárias, que reafirmam o sexo social.
Mas essa dualidade é apenas aparente, e o ser e o estar são
múltiplos e variáveis.
A
complexidade do comportamento sexual foge ao simplismo biológico e
religioso, e mesmo que a sociedade queira amarrá-la a crenças e a
preconceitos não consegue alterá-la. As lutas da comunidade LGBT
têm por motivação o exercício da plena cidadania. Uma opinião é
apenas uma opinião, não sendo fator definidor de comportamentos. A
negação, o ódio, as suposições só atormentam essas pessoas,
que, num certo momento das suas existências, chegaram à conclusão
de estar no corpo errado.
O
tema é da alçada da Endocrinologia, que trata dos hormônios e do
intersexo, como genitália ambígua, hermafroditismo e transgêneros.
A transexualidade se caracteriza pela profunda rejeição pelo sexo
anatômico, pois se sente do sexo oposto. Essa identificação surge
na primeira infância e aumenta de intensidade com o passar dos anos.
Tal característica já foi considerada como um hermafroditismo
psíquico. Nenhum tratamento psicológico é capaz de reverter este
sentir. Não existe escolha, a pessoa apenas é, e daí se inicia uma
batalha consigo mesma, até estar certa da sua definição. Então
informa à família. A menina que se sente menino é homem trans, o
menino que se sente menina é mulher trans. Quanto à transição
legal e física para o gênero ao qual se sente pertencer é uma
decisão.
Os
médicos podem não se sentir à vontade para cuidar desses
pacientes, mas nada ganham em abandoná-los, pois precisam de
tratamentos seguros, sejam físicos, sejam psicológicos na busca da
adequação. A família também precisa de suporte psicológico para
se adaptar à nova realidade. Muitas delas não aceitam a transição,
e expulsam o transgênero de casa. Isso não muda a decisão, apenas
amplia a dor por não ser aceito.
A
mudança de documentação é simples, basta uma declaração verbal
e uma ficha limpa na justiça, ocorrendo a troca do nome, mantendo-se
o sobrenome. Não é necessário relatório médico e nem cirurgia.
Após consultas endocrinológicas e psiquiátricas (apenas para
confirmação e questões legais), exames e avaliações gerais e
específicas, tem início o uso de hormônios. Quanto às cirurgias
genitais, nem sempre acontecem. Há perda da fertilidade, a menos que
sejam estocados gametas para uma posterior fertilização. Após a
transição, os transgêneros se sentem mais à vontade, sem o
permanente constrangimento de antes.
O
tema foi assunto do 33º Congresso Brasileiro de Endocrinologia,
assim como de novela, mas não é coisa de moda. O pensar transgênero
não cabe numa lauda, pois é múltiplo, é grande, é complexo.
Sempre existiram pessoas que se sentiam inadequadas num corpo e num
papel social que não eram os seus, com desconforto e busca
infrutífera por uma identidade social. Queiram ou não, os
transgêneros estão à nossa volta, à nossa frente. A melhora da
lei lhes dá direitos, os desobriga à clandestinidade e evita a
perda dos seus diplomas e currículos. Que cada um possa ser o que é,
agindo com respeito, promovendo a tolerância. Ser civilizado é
proteger a diversidade, é aceitar o diferente, é pacificar, é
saber acolher, é conviver melhor.
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Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia
Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico e sócia
efetiva de Academia Montes-Clarense de Letras, todos de Montes Claros
e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
Fazendo um jogo de palavras com o assunto, a questão transcende o gênero... Abraços, Mara.
ResponderExcluirObrigada pela atenção, Marcelo.
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