Três
domingos
*
Por Emir Sader
Daqui
a três domingos votaremos no primeiro turno para ter de novo um
presidente eleito pelo voto popular. Presidente colocado no governo
sem legitimidade deu totalmente errado. Colocou em prática o
programa derrotado quatro vezes nas eleições e levou o Brasil à
pior crise da sua história.
Na reta final da campanha, as alternativas se afunilam. Quem teria que decolar, já decolou, quem ficou intranscendente, apesar da exposição prolongada na internet, não tem mais chance.
Depois de um longo processo de construção de candidaturas, as alternativas foram se estreitando, até se concentrar em duas possibilidades reais. A polarização petistas/tucanos foi desfeita, não pela sua superação por alguma "terceira via" - representada por Marina Silva ou por Ciro Gomes ou por Alvaro Dias -, mas pela liquidação dos tucanos como alternativa.
A
autocrítica de Tasso Jereissati, ainda que tardia, revela certo grau
de consciência das posições suicidas dos tucanos, ao questionar a
vitória eleitoral da Dilma em 2014 e em apoiar o golpe e o governo
Temer, que surgiu dele.
O
governo Temer colocou a nova linha divisória para o pais: ou o seu
projeto de restauração neoliberal ou a retomada do modelo mais
virtuoso que o Brasil já teve, o de desenvolvimento econômico com
distribuição de renda, representado pelo Lula. Não são duas
propostas, duas promessas: são duas realidades, vividas pelos
brasileiros em carne e osso.
Porém,
o estrondoso fracasso do governo Temer faz com que o candidato que
mais diretamente deveria representá-lo, o do seu ministro da
Economia, tenha 1% de votos. Esse lugar foi ocupado pelo Bolsonaro
que, reconhecendo a centralidade do tema da política econômica,
aderiu ao projeto neoliberal, mesmo com seus desastrosos resultados.
Ele representa assim, mesmo que de forma sinuosa, a continuidade do
governo Temer.
Não
há outras alternativas. As candidaturas de Ciro Gomes, Marina Silva,
Guilherme Boulos, apesar da intensa exposição na internet, não
decolaram. Com índices variados, conforme as pesquisas, não
puderam, nem de longe se comparar com a candidatura do Lula e,
segundo as mais recentes pesquisas, com a do Haddad, depois que ele
foi apontado como o candidato do Lula.
Na
encruzilhada final, assim, a realidade se impõe aos desejos
individuais. A política se impõe como arte da realidade, arte do
possível. Lula se impôs como a personificação de um projeto que
deu certo e que permanece na memoria dos brasileiros. O que ele ou
seu ex-ministro de educação dizem, não são intenções, mas
refletem experiências concretas de governo, aprovadas pelo povo
sucessivamente nas eleições presidenciais.
O
primeiro turno vai, assim, assumindo ares de segundo turno, com um
afunilamento das alternativas, que não se dá entre propostas
extremistas, como alguns querem afirmar. Porque se Bolsonaro se
assume como proposta radical de direita, Haddad representa uma
coalizão ampla, que propõe uma retomada de um modelo que deu certo,
de que o Lula concluiu seu segundo mandato com 87% de apoio.
Outubro
se revela assim um mês decisivo para o futuro do Brasil em toda a
primeira metade do século e, em parte, também da América Latina.
Duas grandes alternativas se enfrentam: a da continuação do
neoliberalismo, acompanhada de posições extremistas no plano dos
valores, e a do antineoliberalismo. O Brasil não sairá o mesmo ao
final da mais profunda e prolongada crise da sua historia.
Três
domingos nos separam dessa definição fundamental.
*Emir
Sader é sociólogo, cientista político e colunista do Brasil 247,
entre outros espaços da internet.
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