Em
ritmo de renovação
*
Por Pedro
J. Bondaczuk
A
literatura brasileira – como, ademais, ocorre em tantas outras
atividades, neste país tão promissor – está em constante
renovação. Volta e meia surgem novos escritores no panorama
literário nacional, cheio de idéias novas e sonhando conquistar seu
lugar ao sol. Alguns (raros) logo se impõem e em pouco tempo
tornam-se veteranos. Conquistam um público fiel, posto que quase
sempre restrito. Outros tantos (a maioria), passam como cometas e
após o primeiro livro, nunca mais ouvimos falar deles. O que falta
aos nossos escritores é divulgação.
As
coisas, nesse aspecto, já foram piores, muito piores. Com o advento
da internet e sua consolidação, principalmente com o surgimento das
redes sociais e dos milhões de blogs, novos e promissores canais de
difusão de novidades, de ideias
e, claro, de divulgação de livros estão, agora, à disposição
dos escritores, quer dos veteranos, quer, e em especial, dos
“principiantes” nessa fascinante (e frustrante) atividade
artística.
De
uns tempos para cá, venho tendo acesso – comprando, algumas vezes
ou na maioria dos casos, ganhando suas publicações – a obras de
autores há não muito desconhecidos, e não somente para mim, mas
para o público leitor em geral. Nem todos são inéditos. Alguns têm
várias obras publicadas, mas, por uma razão ou outra, não
repercutiram e não emplacaram. A maioria, porém, é de jovens,
sonhando, reitero, em conquistar seu lugar ao sol.
Encantei-me
com um livro, que li em 2011, da jovem escritora Tatiana
Salem Levy, intitulado,
“A chave de casa”. Aliás, não estive sozinho nesta “paixão à
primeira vista”. Esse romance encantou os jurados do Prêmio São
Paulo de Literatura de 2008, premiando, com justiça, a autora. Essa
mesma obra foi finalista do Jabuti (promoção vitoriosa do Penn
Clube) e classificou-se entre os 51 títulos do Portugal Telecom.
E
quem vem ser, de fato, essa Tatiana Salem Levy, cuja escrita me
impressionou tão intensamente? É uma jovem escritora (nascida em 24
de janeiro de 1979),
tradutora e doutora em Literatura. Antes da publicação de “A
chave da casa” (lançado, primeiro, em Portugal, pela Editora
Cotovia, e só depois pela Record), havia publicado um livro de
não-ficção, “A experiência do fora: Blanchot, Foucault e
Deleuze” (pela Relume Dumará). Publicou, também, “Dois
rios”, “Curupira, Pirapora” e contos
esparsos (estes na revista
“Ficções 11 da Sete Letras),
antes de aventurar-se no romance. Participou
das antologias “Paralelos”
(Agir), “Vinte e cinco mulheres que estão fazendo a nova
literatura brasileira” (Record) e
“Other Carnivals: new stories from Brazil”, junto com Milton
Hatoum. Desde maio de 2014, é colunista do jornal “Valor
Econômico”.
“Tecnicamente”,
Tatiana é portuguesa, pois nasceu em Lisboa. Todavia, considera-se
brasileira, brasileiríssima, já que veio para o Brasil, com os
pais, quando tinha apenas nove meses de idade. Aqui cresceu,
desenvolveu-se, estudou, se formou e se tornou a escritora que é. E
que escritora!
Faz-se
necessário ressaltar que o premiado livro “A chave de casa” é
autobiográfico. Bem, é em termos. Tatiana prefere classificá-lo de
“autoficção”. E o que vem a ser isso? O enredo baseia-se em
fatos reais, da vida da autora, mas entremeado de outros tantos
“episódios” inventados.
Deixemos,
porém, que a própria escritora explique o que isso significa:
“Quando
terminei de escrevê-lo(o livro “A chave de casa”), estava
morando em Paris, por causa do doutorado. Autoficção é um tema
super-recorrente lá, faz parte da teoria literária. Na
autobiografia você estabelece um pacto com o leitor, de que o que
ele está lendo aconteceu. A gente sabe que toda autobiografia, de
certa forma, também é ficcional, porque é um relato, um ponto de
vista. Mas você estabelece esse pacto: vai contar o que aconteceu. A
autoficção mistura realidade com ficção, e tem a questão do
narrador que você não sabe se é o autor, ou não. Fica entre a
ficção e a não ficção — a ideia é explorar isso. Outro dia um
amigo me disse: ‘Deve ter sido um acerto de contas a história com
o seu avô’. Nunca tive um avô. Mal conheci o pai da minha mãe,
de quem eu morria de medo. Fui à Turquia com a minha mãe e a minha
irmã, para outra coisa. Depois, quando estava escrevendo o livro, em
Paris, comprei um pacote baratinho e passei quatro dias em Istambul,
com uma amiga. Nessa viagem peguei muito material para a descrição
dos locais”.
Pois
é, creio que ficou explicado, e muito bem, o que é a tal da
“autoficção”. Outra informação, que considero pertinente e
esclarecedora, é que “A chave de casa” foi escrito não com a
intenção de ser publicado como romance. Na verdade, tratou-se de
sua tese de doutorado em Literatura. E... bingo! Matou não apenas
dois, mas vários coelhos com uma só cajadada: doutorou-se,
conquistou o cobiçado Prêmio São Paulo de Literatura, promovido
pela Secretaria de Estado da Cultura e virou sucesso editorial.
Pelo
exposto, creio que o leitor, agora, entende minha ansiedade pelo
lançamento do romance “Em silêncio” (não tenho certeza se a
Record já o lançou ou não). O release da editora, porém, adianta
o teor do novo livro de Tatiana Salem Levy: gira em torno da “paixão
de dois irmãos por uma francesa”, o que “desperta emoções
antigas, ligadas à infância dos dois”.
A
rigor, a jovem escritora luso-brasileira, aos 39
anos, não pode, mais, ser considerada novata no cenário literário
nacional. Já passou há
tempos
pelo “batismo de fogo” e saiu-se muito bem. Acredito que terá
trajetória ainda
muito mais brilhante
pelo mundo das letras. Assim como ela, há vários outros escritores
novos batalhando por seu espaço, por um lugar ao sol, a respeito dos
quais escreverei oportunamente. Porquanto, para minha satisfação, a
despeito das inúmeras dificuldades que nos deixam malucos e
atarantados (amiúde tenho ressaltado quais são as piores delas),a
literatura brasileira, felizmente, segue em pleno ritmo de renovação.
E que assim prossiga.
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de
Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do
Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções,
foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no
Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios
políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas),
“Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da
Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º
aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53,
página 54. Blog “O Escrevinhador” –
http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Não o que é, mas tem pessoas que "sabem escrever" e acontecem no mundo editorial.
ResponderExcluirFaltou o "sei"...Não sei o que é...
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